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ANEXO XV. Resultados SPSS

Cartograma 13. Mapa de Portugal

Fonte: www.google.com/images, consultado a 22 de novembro de 2012

Como foi possível compreender no subcapítulo anterior (População e movimentos migratórios), ao longo dos anos, Portugal sofreu mudanças consideráveis em termos populacionais, com os nascimentos e as mortes que foram ocorrendo, mas também com

os diferentes movimentos migratórios. Isso originou mudanças ao nível do território, o seu povoamento, bem como a dedicação a diferentes atividades que alteram a geografia do País.

Nos anos 50, e como foi já possível analisar, Portugal era um País rural, a sua atividade económica era a agricultura, os seus residentes alimentavam-se dos produtos que cultivavam na terra, todo o território tinha características marcadamente rurais. Não havia, para além de Lisboa e Porto, grandes cidades, com características de metrópole, mas sim vilas grandes e “os centros urbanos eram áreas minúsculas num espaço tomado e gerido pela população agrícola.” (Portela, 1997, p. 1).

Nos anos 60, porém, aquelas características de ruralidade, sobretudo, as que dizem respeito à dedicação do território à agricultura, começam a sentir os efeitos da urbanização. E, na primeira metade dos anos 70, a superfície semeada anualmente no Continente já baixara 23% e, na década de 80 esta quebra é bem mais evidente, de cerca de 45% (Baptista, 1996, p. 53). No entanto, este decréscimo de zona cultivada, não implica que se assista a um desaparecimento do território rural, aliás, as áreas rurais representam cerca de “85% do território nacional e 32% da população do Continente, 99,6 % do território e 93 % da população da Região Autónoma dos Açores e 81,4 % do território e 34,4 % da população da Região Autónoma da Madeira” (CE, 2008, p. 1), constituindo igualmente uma reserva riquíssima de recursos naturais, ambientais e culturais8.

Depreende-se, então, que o conceito de rural, mais do que limites geográficos, é uma forma de vida, contemplando uma panóplia de características económicas, sociais e culturais. Nas palavras de Fidalgo (1999) “As aldeias não eram somente um local de residência e de trabalho, mas uma maneira de nascer, viver e morrer, solidificada ao longo de séculos, incompatível com os tempos modernos.” (Fidalgo, 1999, p. 93).

A CEE considerava mesmo que com a existência de pequenos negócios, indústrias, comércio e serviços, viver no meio rural passou a ser uma opção cada vez mais contemplada, aliás funciona mesmo como uma zona de equilíbrio ecológico e um espaço privilegiado para o relaxamento e lazer (CEE, 1988, p. 15). Uma vez que é possível ter acesso a água canalizada, saneamento básico, eletricidade, telefone, telemóvel, carro e computador, a vida nos campos urbanizou-se, assistindo-se, na opinião de Fidalgo (1999), a uma uniformização de modos de vida e de valores entre as cidades e as serras (Fidalgo, 1999, p. 92), mudam-se modos de fazer, mas também de pensar, as ideologias

rígidas do passado dão lugar a novas formas de ver o mundo e o rural, bem como de o vivenciar.

1.1.2.2. População e movimentos migratórios

Ao longo das três décadas sobre as quais se faz o estudo (1950, 1970 e 1990) foram várias a alterações em termos de população do território nacional, quer em termos de emigração, imigração e movimentos migratórios, mas também em relação à taxa de natalidade, mortalidade e de envelhecimento.

A partir de 1950 (com maior incidência na década de 60), assiste-se ao aumento do êxodo rural e, ao mesmo tempo, da emigração da população portuguesa para outros países da Europa (França, Luxemburgo, Bélgica e Suíça). Aliás, em 1960, o número de emigrantes ascendia aos 32.318, sendo mais de 20.000 os residentes no Continente, e mais de 9.000 os residentes no Norte do País9. O que motivou estes movimentos migratórios foi, sobretudo, a procura de melhores condições de trabalho. Em termos políticos, Portugal vivia num Estado ditatorial, no qual a maior parte da população tinha condições de vida precárias.

Iniciando a análise pelos valores mais globais da população portuguesa ao longo das últimas décadas, apresentam-se as tabelas com os indicadores das taxas de natalidade e de mortalidade, esperança de vida à nascença, indicadores de envelhecimento e percentagem de jovens e de idosos. Será realizada uma sucinta análise a cada uma das tabelas, no entanto, de referir que na maior parte dos indicadores não foi possível encontrar valores para a década de 50, pelo que se considera a de 60 como representativa daquela.

A taxa bruta de natalidade/mortalidade é o valor que permite calcular o número de crianças que nascem/morrem anualmente por cada mil habitantes, numa determinada área. As duas taxas têm sofrido decréscimos relativamente constantes ao longo dos anos, tendo atingido as taxas mais baixas em 2011. Esta situação é mais visível para a taxa bruta de natalidade (Tabela 1) cujo valor mais elevado foi precisamente em 1960 (e, depreende-se daqui que, em 1950, tenha sido de cerca de 28%/29%), tendo diminuido, mais ou menos, 4 valores percentuais em todos os inícios de década. As condições de

vida dos casais (elevadas taxas de desemprego, casamento tardio, aumento do número de divórcios, entre outras), mas também um conhecimento mais aprofundado de métodos contracetivos, a pressão que a vida profissional foi impondo ao longo dos anos, podem justificar estes valores da taxa de natalidade.

No que diz respeito à taxa bruta de mortalidade (Tabela 1), pode afirmar-se que não sofreu mudanças tão acentuadas, situando-se, regra geral, entre os 9% e os 10%. Este valor é fortemente afetado pela longevidade da população, perdendo a sensibilidade para acompanhamento demográfico. Aliás, em Portugal, o índice do envelhecimento, a esperança média de vida e o número de indivíduos com 65 anos ou mais têm tido valores cada vez mais elevados, o que poderá provocar uma estabilidade desta taxa.

Tabela 1. Taxa bruta de mortalidade e de natalidade, em Portugal (%) Anos Taxa bruta de mortalidade Taxa bruta de natalidade

1960 10,7 24,1 1970 10,7 20,8 1980 9,7 16,2 1990 10,3 11,7 2000 10,3 11,7 2011 9,7 9,2

Fonte: www.pordata.pt, consultado a 20 de novembro de 2012

A esperança média de vida (Tabela 2) é definida como o número médio de anos que um indivíduo pode esperar viver desde o momento em que nasce, se ao longo da sua vida se mantiverem as condições de mortalidade observadas no ano em que nasceu. Este indicador tem sofrido constantes aumentos ao longo dos anos; em 1960, situava-se nos 60 (homens) e nos 66 (mulheres) anos e a partir daí tem crescido quatro anos por década. Mais uma vez, poder-se-á depreender deste valor que, em 1950, a esperança média de vida apresentava uma idade mais baixa, a rondar os 56/57 anos.

Para o aumento da esperança média de vida contribuem fatores como a melhoria da assistência médica, acesso a medicamentos, melhores condições hospitalares, aumento da investigação na área da saúde (desenvolvimentos científicos); melhoria na alimentação; melhoria das condições de higiene, sanitárias e de habitação; melhoria das condições de trabalho; alargamento dos sistemas de protecção social, entre outros.

Tabela 2. Esperança de vida à nascença: total e por sexo

Anos Total Sexo

Masculino Feminino 1960 X 60,7 66,4 1970 67,1 64,0 70,3 1980 71,1 67,8 74,8 1990 74,1 70,6 77,5 2000 76,4 72,9 79,9 2010 79,5 76,4 82,3

Fonte: www.pordata.pt, consultado a 20 de novembro de 2012

O índice de envelhecimento (Tabela 3) dá a conhecer a relação entre a população idosa e a população jovem, definida habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com 65 ou mais anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos. Os valores do índice de envelhecimento ao longo dos anos mostram que a população com 65 ou mais anos tem sofrido aumentos quase exponenciais, sobretudo entre 1991 e 2001, mas também, se bem que de modo menos drástico, entre 2001 e 2011.

Tabela 3. Índice de envelhecimento, segundo os Censos (%) Anos Índice de envelhecimento

1970 34,0 1981 44,9 1991 68,1 2001 102,2 2011 127,8

Fonte: www.pordata.pt, consultado a 20 de novembro de 2012

Os Cartogramas 4 e 5 permitem comprovar o que se afirmou relativamente ao índice de envelhecimento, para 2011. Para além da população idosa ser mais elevada que a população jovem, as diferenças em termos de território são também evidentes, com as zonas do litoral mais povoadas com jovens, e as zonas do interior (rurais) a serem habitadas mais por idosos.

O êxodo rural e movimentos (e/i)migratórios poderão, igualmente, ajudar a analisar a estrutura da população portuguesa ao longo de meados do século XX, início do século XXI. Pretende-se, assim, conhecer de que forma a quantidade de população que entra e sai do País, e que realiza os movimentos pendulares rural-urbano, ou que reside em cada um dos meios (rural e urbano) se tem comportado ao longo dos anos.

Por saldo natural, entende-se a diferença entre os nados vivos (taxa bruta de natalidade) e os nados mortos (taxa bruta de mortalidade), em determinado período. O saldo migratório é a diferença entre a imigração e a emigração numa determinada região durante o ano. No Gráfico 3, verifica-se que os saldos natural e migratório sofreram bastantes oscilações entre 1960 e 1990, mas atingiram um pico nesse último ano, mantendo-se até 2011 quase inalterados (mas com tendência a seguir a continuidade da linha, no sentido de aumentar no caso do saldo migratório, e de diminuir no caso do saldo natural).

A linha do saldo migratório indica que o número de emigrantes tem aumentado visivelmente, e que tem sido maior do que o número de imigrantes. A linha do saldo natural indica que o número de nados mortos está bastante próximo do número de nados vivos.

Gráfico 3. Contributo dos saldos natural e migratório para a variação populacional anual (%)

Fonte: www.pordata.pt, consultado a 20 de novembro de 2012

A tradição de emigração não é recente, como refere Portela (1997), já desde antes de 1986 se verificava uma tendência no povo português para emigrar, sobretudo para

outros países da Europa (Portela, 1997, p. 2) mas, a partir dos anos 80 assiste-se à conjugação de fortes movimentos emigratórios e imigratórios, sobretudo imigrantes vindos de países africanos e do Brasil (Portela, 1997, p. 5). A tendência das saídas de cidadãos portugueses para outros países pode ser verificada através do Tabela 4 e do

Gráfico 4.

Tabela 4. Emigrantes: total e por tipo (1960-2000)

Anos Emigrantes Total Emigrante permanente Emigrante temporário 1960 32.318 x X 1970 66.360 x x 1980 25.207 18.071 7.136 1992 39.322 22.324 16.998 2000 21.333 4.692 16.641

Fonte: http://www.pordata.pt/, consultado a 20 de novembro de 2012

Gráfico 4. População de nacionalidade portuguesa que já residiu no estrangeiro

As maiores comunidades imigrantes residentes em Portugal são a brasileira (cerca de 28%), a cabo-verdiana (aproximadamente 10%), comunidade ucraniana (com 9%), e a comunidade angolana (com cerca de 7%). É também importante referir que o número de residentes chineses aumentou de 2.176 em 2001 para 11.458 em 2011 (INE, 2012b, p. 29).

Mas não foi só para outros países da Europa que os portugueses procuraram sair. Os fortes movimentos dos meios rurais para os urbanos (êxodo rural) são uma forte evidência da procura de mudança, de outras condições de vida. A Tabela 5 mostra o crescimento das populações urbana, semi-urbana e rural, entre 1911 e 1981.

Tabela 5. Crescimento da população urbana, semi-urbana e rural, 1911 a 1981 (números índices e evolução

percentual)

1911 1940 1960 1981

N.I. % N.I. % N.I. % N.I. %

Pop. rural 100 76.4 121.1 71.4 128.3 65.7 122.9 56.9

Pop. semi-urbana 100 9.2 158.7 11.2 188.4 11.6 239.8 13.3

Pop. urbana 100 15.6 164.3 19.8 216.5 22.7 313.9 29.7

Pop. total 100 100 129.6 100 149.1 100 165.0 100

Nota: Em 1911 e 1940, por deficiência da fonte, o total não coincide com a soma das parcelas. Fonte: INE, Recenseamentos da População.

Concentrado a atenção nos valores das décadas em estudo (ou aproximadas), verifica-se que, em 1960, a população rural era de 65,7%, percentagem que diminui para 56,9% na década de 80. Já a população urbana assistiu também a um crescimento de 22,7%, em 1960, que se manteve na década de 80, com 29,7%. De facto, entre os anos 60 e 70, o fenómeno do movimento da população rural para os centros industrializados foi bastante difundido, o que originou o rápido crescimento desses centros (CEE, 1988, p. 23).

Na Tabela 6, podem confirmar-se estes valores. Enquanto a taxa de crescimento da população rural é de 0,3% entre 1940 e 1960, a população urbana apresenta uma taxa de crescimento de 1,4% na mesma altura. E, entre 1960 e 1981, as taxas de crescimento da população rural chegam a ser negativas (-0,2%), enquanto as do meio urbano são de 1,8%. No entanto, a percentagem de população rural, em 1981, continuava a representar mais de metade da população portuguesa (57%) e a urbana era de 30% (Peixoto, 1987, p. 107).

Tabela 6. Taxas de crescimento médias anuais da PU, PSU e PR (%) – 1911 a 1981 1911-40 40-60 60-81 40-50 50-60 60-70 70-81 1911-81 PR 0.7 0.3 -0.2 0.3 PSU 1.6 0.9 1.2 1.3 PU 1.7 1.4 1.8 0.9 1.8 1.4 2.2 1.7 PT 0.9 0.7 0.5 1.0 0.4 -0.3 1.2 0.7

Fonte: INE, Recenseamentos da População. Dados de 1950: INE, Anuário Estatístico de 1971

O caráter constante que estes valores assumem, pode permitir concluir que, após 1981, ainda que com algumas alterações, as regiões rurais (sobretudo as mais periféricas) continuaram a ver a sua população residente decrescer e a optar por residir nos meios urbanos, onde têm acesso a bens e serviços de forma mais facilitada. É o que o relatório da CEE (1988), The Future of Rural Society, confirma, “[…] although emigration from the areas themselves has stopped, intra-regional migratory movements towards small urban centres have, at the same time, led to the constitution of subpoles of economic activity, while fewer and fewer people are living in the countryside proper.” (CEE, 1988, p. 6). Ou seja, os residentes do meio rural procuram melhores acessos a trabalho, educação, saúde, e outro tipo de serviços, e, por essa razão, procuram as cidades para viver, o que origina o despovoamento e a falta de vontade de investir nas zonas rurais.

Não obstante, na década de 90, início do século XXI, começa a assistir-se em Portugal ao movimento inverso. Conscientes dos benefícios de residir no meio rural (qualidade de vida, ambiente menos poluído, rendas mais baratas, locais mais sossegados até para constituir família, acesso facilitado aos grandes centros através da rede de transportes melhorada), as populações dos grandes centros procuram o campo para viver, é o início das movimentações da urbe para o meio rural. Este fenómeno motivou a diversificação das economias rurais e a criação de emprego através de iniciativas empreendedoras, fenómeno que se manteve na primeira década do século XXI e que se prevê assim se mantenha ao longo de todo o século, sobretudo porque mais investimento de fundos comunitários tem sido desviado dos meios urbanos para a promoção do rural (CEE, 1988, p. 23), o que motiva, por sua vez, os movimentos pendulares cidade-campo, como se pode verificar no Cartograma 14.

São os residentes da Grande Lisboa, Península de Setúbal, Grande Porto, e Baixo Mondego que mais realizam os movimentos pendulares. Só na Grande Lisboa entram,

diariamente, 197.328 pessoas, regra geral, para trabalhar ou estudar; e saem 53.729. No Grande Porto entram todos os dias cerca de 90.276 pessoas pelos mesmos motivos. No que diz respeito à Península de Setúbal, o movimento é inverso, saem 124.448 pessoas que procuram, sobretudo, a Grande Lisboa.