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ANEXO XV. Resultados SPSS

Cartograma 14. Percentagem da população que sai da região, 2011

Fonte: INE (2012b, p. 34)

Considerando os dados dos movimentos pendulares, Covas e Covas (2012) são da opinião que “o neo-rural rurbanus é um homem itinerante, pendular, “experienciando” momentos especiais, mas, também, cada vez mais dedicado, experimentado e conhecedor dos segredos do mundo natural-rural, cujas fronteiras deseja alargar.” (Covas & Covas, 2012, p. 122).

Será, de seguida, feita uma abordagem aos indicadores de escolarização e das atividades económicas de Portugal.

1.1.2.3. Escolarização e atividades económicas

Já foi possível fazer um retrato do número de pessoas que concluíram os estudos secundário e superior, em Portugal, em 2011 (Cartogramas 8 e 9). No entanto, para uma análise mais detalhada ao longo dos anos, bem como para se compreender de que forma se justifica a mudança verificada no País em termos de principais atividades económicas, prossegue-se agora para a caraterização em termos de escolarização da população ao longo das décadas de 1950, 1970 e 1990.

O Gráfico 5 permite visualizar a evolução da escolarização dos cidadãos portugueses entre 1961 e 2010. Verifica-se que o 1º ciclo do ensino básico (entre a 1ª e a 4ª classes) tem mantido valores constantes ao longo dos anos, ao contrário de todos os outros níveis de ensino (excetuando-se o superior), que tiveram um aumento acentuado, atingindo um pico no final da década de 90.

Gráfico 5. Taxa real de escolarização em Portugal

Fonte: http://www.pordata.pt/, consultado a 22 de novembro de 2012

A escola, que nas décadas de 50/70 era considerada um luxo, acessível maioritariamente a homens e das classes mais altas da sociedade, iniciou a sua massificação a partir de meados da década de 70, para o que contribuíram a necessidade de adaptação do Portugal agrícola a um Portugal de serviços (Gráfico 6),

mas também os aumentos legislados da escolaridade obrigatória, desde 1986 que era o 9º ano (3º ciclo) (Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro), mas, a partir de 2009 consagrou-se a universalidade da educação pré-escolar para as crianças a partir dos 5 anos de idade e da escolaridade obrigatória para as crianças e jovens que se encontram em idade escolar até ao 12º ano (ensino secundário) (Lei n.º 85/2009, de 27 de Agosto).

Gráfico 6. Taxa de emprego por ramo de atividade e sexo, 2011

Fonte: INE (2012b, p. 52)

Como se referiu, Portugal é, atualmente, um País cuja principal ocupação profissional dos seus residentes é o comércio e os serviços, o que tem implicações também na forma como são selecionadas as áreas no ensino superior, uma vez que este é um nível de ensino cada vez mais frequentado e concluído pela população portuguesa, tendo aumentado de 49.065 indivíduos em 1961, para 49.375 em 1971, 284.075 em 1991, e 1.244.742, em 2011, como se pode confirmar pela Tabela 7.

Tabela 7. População residente com 15 e mais anos, segundo os Censos, com o ensino superior completo:

total e por sexo - Portugal

Fonte: http://www.pordata.pt/, consultado a 22 de novembro de 2012

A par com a tendência do aumento do número de população que terminou os estudos superiores e da mudança nas áreas profissionais dos portugueses, as escolhas dos cursos superiores espelham estas recentes realidades: cursos como saúde, engenharias, ciências da educação são as três áreas dominantes das escolhas. Enquanto a agricultura, silvicultura e pescas apresentam valores bastante reduzidos.

Gráfico 7. População com ensino superior por área de estudo e sexo, 2011

Fonte: INE (2012b, p. 47)

Os grandes polos universitários situam-se em cidades de também maior dimensão: Porto e Lisboa, Coimbra, Aveiro, Braga, entre outros. Significa isso que, em termos de crescimento empresarial e de escolha de profissão, quem efetuou a mudança por motivos de frequência universitária, salvo algumas exceções, dificilmente volta à terra de origem. Este facto tem mais impacto quando a terra que se deixa para trás pertence ao mundo rural. Assim,

Se nós formos ver onde é que está localizada a agricultura empresarial, competitiva, aquela que nos permite competir com os países do norte e do centro europeu, nós vemos que essa agricultura está localizada nas margens das cidades, está à volta de Évora, está à volta de Beja, está à volta de Lisboa, Norte de Lisboa, está à volta das cidades. Claro que no mundo rural mais remoto ou mais periférico também existe agricultura, mas essa agricultura é mais tradicional, de mais pequena dimensão, mais vocacionada para os produtos designados de qualidade. Ela também existe, mas o seu futuro talvez não seja tão promissor.10 (Elisabete Figueiredo).

Ou seja, de facto, os campos não foram totalmente abandonados, ainda persiste quem queira cultivar a terra, aliás, está a voltar a vontade de residir no rural e de apostar

numa atividade agrícola, mas não com os mesmos contornos que apresentam nas zonas mais próximas das cidades.

Gráfico 8. População empregada: total e por sector de atividade económica - Portugal

Fonte: http://www.pordata.pt/, consultado a 22 de novembro de 2012

A indústria portuguesa é pouco representativa, o que tem interferência quer nas licenciaturas frequentadas, quer no ordenamento do território e mesmo nas atividades profissionais desenvolvidas. Assim, em termos de licenciaturas, pode ver-se pelo Gráfico

7 que têm um número bastante reduzido de conclusões; em termos de território, as

grandes empresas deslocam-se para as zonas rurais; e, em relação às atividades profissionais, multiplicam-se pequenas empresas de origem local que, de acordo com Boaventura de Sousa Santos (1987) originam “a ruralização da indústria; o uso extensivo do espaço; a desconcentração da produção”, e a emergência de fenómenos como a rurbanização e da peri-urbanização (Santos, 1987, p. 8).

É importante que as políticas locais e nacionais se dediquem ao desenvolvimento regional e rural, através de programas específicos, como a criação de Associações de Desenvolvimento Local, mas sem se desvirtuarem as áreas rurais isso já se verifica mais complicado. Como diz Portela (1997),

Em pouco mais de uma década, o agricultor apostado em sobreviver teve de passar a vestir o fato curto e apertado do burocrata. Teve de se tornar tele-ouvinte atento e bem informado, leitor de

regulamentos, apresentador de projectos (estes têm de ser tidos como viáveis), gestor de pilhas de papéis e impressos, especialista em relações públicas (lidar com o INGA, o IFADAP, a banca é preciso), e um recebedor de subsídios. (Portela, 1997, p. 19).

O agricultor deixou de ser apenas um cultivador da terra e tratador de animais, da mesma forma que a terra deixou de ter também esses como únicos propósitos. “As aldeias não mais terão a sua base económica na agricultura, mas sim no teletrabalho. Daí que os novos aldeões não sejam agricultores, que também poderão ser, mas sobretudo pessoas que desenvolvem o seu trabalho numa economia global assente nas comunicações em rede.” (Fidalgo, 1999, p. 96).

Aliás, as telecomunicações são um aspeto central nas transformações que têm vindo a ocorrer. São uma ligação fundamental entre os meios rurais e os grandes centros de atividade económica e cultural (CEE, 1988, p. 11). Com o acesso a vias de transporte (auto-estradas e Itinerários Principais), o meio rural não só passa a ser um local que se procura para o lazer, mas também para o desempenho de uma atividade profissional quer no próprio meio, quer a distância, nas cidades.

1.2.CARACTERIZAÇÃO SOCIO-HISTÓRICA DA FAMÍLIA

Uma investigação que tem como pressuposto o estudo da utilização de novos

media por três gerações residentes em meio rural necessita caracterizar diferentes

âmbitos, como o meio rural (já descrito anteriormente), a família (da qual será a ocupação neste espaço), o trabalho e a escola e o lazer. Quando se pretende perceber que usos se fazem dos media, essa análise deverá ser realizada nas diferentes dimensões (família, trabalho/escola e lazer) mas, para além disso, quando se estudam as gerações, a família tem grande importância.

Estudar a família encerra em si diferentes vertentes, algumas das quais, pelo facto de não terem influência na investigação, não serão abordadas, mas muitas outras serão tratadas. Assim, este subcapítulo procurará dar a conhecer uma definição de família, as perspetivas clássicas e contemporâneas da noção de família, as mudanças nas formas familiares que ocorreram ao longo das três décadas em estudo (1950, 1970 e 1990) e a caracterização das famílias no meio rural.

1.2.1. Definição de família e das ligações entre os seus membros

A forma como a família é vivenciada e analisada foi sofrendo alterações, mais ou menos profundas, ao longo dos anos. No entanto, a família “continua a ser um termo polissémico e cobre um leque de conteúdos que diferem consoante as circunstâncias do discurso e dos países.” (Burguière, Klapisch-Zuber, Segalen, & Zonabend, 1999 [1986], p. 33). Assim, alguns autores (Bengtson, 2001; Goodman, 1983; Mitchell, 2006; Singly, 2011) que se dedicaram ao estudo da família concordam que, apesar de a família encerrar em si diversas formas há aspetos incluídos na sua definição que demonstram ser muito semelhantes.

Dimensões como a ligação entre os membros, a partilha de uma história comum entre esses mesmos membros, a interação e a intergeracionalidade, a participação e a partilha são apenas algumas que se devem ter em consideração quando se estuda a família e tudo o que envolve o conceito. Para Erickson e Hogan (1972), associado ao conceito de família surge o de comportamento e efeito, ou seja, de acordo com os

autores, os comportamentos de um membro dentro da família afetam todos os outros membros (Erickson & Hogan, 1972) e, na mesma linha de pensamento, Napier e Whitaker (1978) consideram que a família é mesmo mais do que a soma das suas partes (os indivíduos que a integram) (Napier & Whitaker, 1978).

A família, é por isso, “an intricate phenomenon, involving family boundaries, rules, decisions making, independence, control, roles, and communication, among other components.” (Goodman, 1983, p. 409). É ainda, e na opinião de Bengtson (2001) um processo, no qual interagem todos os seus membros; os comportamentos devem, por isso, ser entendidos no seu conjunto, quase como um efeito de ação-reação; servindo não apenas como unidade estrutural, mas mais como um conjunto de indivíduos que se apoiam mutuamente e às necessidades de cada um (Bengtson, 2001, p. 3), o que implica ainda que seja analisada como “a criação de um quadro de vida onde cada um possa desenvolver-se ao mesmo tempo em que participa de uma obra comum”. (Singly, 2011, p. 9).

O facto de a família ser considerada como um processo, espaço de interações constantes entre os seus membros, implica que a família é uma construção social e é ainda um espaço privilegiado de construção social da realidade (Saraceno, 1997, p. 12), onde ocorre a socialização primária, na infância (Luckmann & Berger, 2010 [1966], p. 138). É, por isso, "a microsocial group within a macrosocial context, a collection of individuals with a shared history who interact within everchanging social contexts across ever-increasing time and space.” (Bengtson & Allen, 1993, p. 470).

Ao longo dos anos ocorreram grandes transformações na sociedade portuguesa que influenciaram fortemente a forma de entender e vivenciar a família. Muitas dessas mudanças resultaram em oportunidades, mas, igualmente, no aumento das necessidades de relacionamento em mais de duas gerações, aliás, se se verificar a pirâmide etária portuguesa ao longo dos anos, pode compreender-se, que muitas dessas oportunidades decorrem do aumento da esperança média de vida, que influencia o inter-relacionamento entre avós e netos, por exemplo (Bengtson, 2001, p. 5).

Gráfico 9. Pirâmide etária da população em Portugal – 1950-2005

Fonte:

http://www.projectos.te.pt/projectos_te/escolar_10_ano/geografia/transparencias/transp_02.pdf, consultado a 22 de novembro de 2012

Para além do aumento da esperança média de vida, da possibilidade das gerações terem mais momentos de interação, outros fatores contribuíram para que a família da sociedade portuguesa visse a sua estrutura alterada. O casamento civil, o divórcio, a adoção, a união de facto e o casamento homossexual são fenómenos sociais que contribuíram decisivamente para a forma como os membros de determinadas famílias interagem entre si, como se consideram e como vão vivenciar as famílias do futuro.

Analisando cada um destes fenómenos, o casamento, na sociedade portuguesa, divide-se em duas formas essenciais, o casamento civil e o casamento religioso. Este trabalho considera o casamento civil, pelo que qualquer referência feita a casamento deve sempre entender-se como sendo ao civil e não ao religioso. Posto isto, o casamento tem um longo passado, consta de alguns documentos dos séculos XII e XIII que já no início da monarquia eram frequentes duas formas de casamento: os celebrados pela Igreja e os de pública fama, ou seja, as uniões que derivavam de serem em público consideradas como tal (Gama, 1881, p. 129), análogas às designadas uniões de facto da atualidade.

Apesar da existência de algumas formas de casamento, a legislação do casamento civil foi realizada apenas na 1ª República, em 1910, na mesma altura que o divórcio (Torres, 1996, p. 31). Desde então, têm sido várias as perspetivas das famílias em

relação a essas duas formas, algo que pode ser melhor compreendido através de estatísticas. A Tabela 8 apresenta os números de casamentos e divórcios desde 1960 até 2011.

Tabela 8. Casamentos e divórcios em Portugal, entre 1960 e 2011 Anos Casamentos Divórcios

1960 69.457 749 1970 81.461 509 1980 72.164 5.843 1990 71.654 9.216 2000 63.752 19.104 2011 36.035 26.751

Fonte: www.pordata.pt, consultado a 22 de novembro de 2012

No casamento, “o amor conjugal passou, de pretexto fundamental […] a alimento sem o qual este deixa de sobreviver de forma satisfatória” (Torres, 2001, p. 3), deixando de existir, em Portugal (pelo menos de forma aceitável e visível) situações de casamento por compra ou por troca da mulher por um dote. Relativamente aos números da Tabela

8, verifica-se que, ao longo dos anos, o número de casamentos tem diminuído, talvez

proporcionado pela legislação que protege as pessoas que vivem em comunhão de habitação, mesa e leito (união de facto) há mais de dois anos (Lei n.º 135/99, de 28 de agosto). Em situação oposta encontra-se o divórcio, cujos valores não param de aumentar desde 1960, que pode ser justificado também pela simplificação do divórcio por mútuo consentimento, em 2007. Em relação ao casamento, há ainda a mencionar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo (Lei n.º 9/2010, de 31 de Maio), que passou a ser possível, em Portugal, a partir de 2010, tendo registado valores de cerca de 580 uniões celebradas até ao final de 2011.

Considerando agora o alargamento da família (casal) através dos filhos, o Código Civil português regulamentou, em 1966, a adoção (Decreto-Lei n.º 47344/66, de 25 de Novembro) e, mais tarde, de uma forma mais assumida, na reforma de 1977 (Decreto-Lei n.º 496/77, de 25 de Novembro). Considera-se que estas alterações produziram efeitos também na maneira de percecionar os filhos, a procriação e a impossibilidade de o fazer. Estão contempladas na legislação portuguesa três tipos de adoção: a plena, a restrita e a internacional. Na primeira, a criança adotada perde qualquer ligação com a família de sangue; na adoção restrita, a criança mantém os direitos e deveres em relação à sua família biológica (apelidos, herança, entre outros); e, na adoção internacional a opção de

adotar passa por ser uma criança de outro país11. No Gráfico 10 pode verificar-se a evolução do número de adoções realizadas em Portugal, tendo em consideração a adoção plena e a restrita, bem como a conversão do primeiro tipo no segundo.

Gráfico 10. Processos findos de adoção - Portugal

Fonte: http://www.pordata.pt/, consultado a 22 de novembro de 2012

Verifica-se que o número de processos de adoção plenos é significativamente mais elevado do que o das outras duas modalidades em análise. Para além disso, a partir de 2003 houve um aumento significativo do número de processos finalizados de adoção plena. Este indicador poderá estar relacionado com as pressões do mercado de trabalho que as mulheres sentem e pela decisão de ter filhos cada vez mais tarde, o que torna a gravidez mais complicada para a mulher.

Pode, então, concluir-se, após a análise de algumas das transformações ao nível da família, que esta está num processo de contínuo desenvolvimento, quer legislativo, quer social. A família vai sofrendo mudanças em alguns aspetos da sua organização, mas que não implicam o risco da sua existência, estando, eventualmente, em processo ainda mais aprofundado de mudança formas de organização da família como a patriarcal ou a nuclear. Aliás, o exemplo da integração/domesticação dos novos media no espaço familiar e entre os membros da família (quer para comunicarem entre si, quer para partilharem o mesmo espaço em casa) obriga a uma adaptação e reestruturação para que continue a funcionar (Goodman, 1983, p. 414).

11 https://www.portaldocidadao.pt/PORTAL/pt/Dossiers/DOS_1+++planear+uma+crianca.htm?passo=4, consultado a 22 de

1.2.2. Perspetivas clássicas e contemporâneas

De entre as perspetivas existentes em relação ao que foi e ao que é a família, as alterações que sofreu ao longo dos anos e quais as funções que lhe são atribuídas, podem distinguir-se duas principais: a que marcou um período clássico e a que se poderá considerar contemporânea. Pelo menos, assim será realizada a distinção durante a análise que se fará neste ponto.

Ariès (1962, 1973), Durkheim (1963), Goode (1970), Lévi-Strauss (1967), Parsons e Bales (1956), e apenas para citar alguns, são autores que se dedicaram ao estudo da família ou de fenómenos relacionados com essa instituição (como a infância, no caso de Phillipe Ariès, ou as culturas indígenas em Claude Lévi-Strauss).

Associado às mudanças que ocorreram na família e à forma como os seus membros vivenciam o núcleo familiar, está a importância atribuída à escola e ao trabalho. Foi possível no subcapítulo anterior referir as mudanças ocorridas em termos de escolarização e das atividades profissionais, com a entrada da mulher no mercado de trabalho, sobretudo, a partir da Revolução Industrial (meados do século XVIII, início do século XIX), foi necessário que também as mulheres contribuíssem para a economia familiar, o que originou a deslocação da família para o exterior do espaço casa, para as fábricas e escritórios (Adams, 2010, p. 500).

No início do século XIX, a família assumia características patriarcais, as regras do pai e do marido era dominantes, e assumia mesmo o caráter de representante da família perante a sociedade. São famílias “estáveis, permanentes, monogâmicas, residencialmente imóveis e felizes.” No entanto, apenas eram estáveis porque o divórcio não era legalmente permitido, mas os maridos iam muitas vezes trabalhar para longe, e não eram felizes, uma vez que essa não era a prioridade quando se decidia manter um casamento (Adams, 2010, p. 500).

Lévi-Strauss (1986) considera que, já desde o século V a. C., se poderia considerar a existência da modalidade de família conjugal, sendo mesmo a mais difundida a nível mundial (Lévi-Strauss, 1986, p. 14). E Durkheim (1975) afirma que a família conjugal atingiu o seu auge na família nuclear conjugal (Durkheim, 1975). No entanto, várias hipóteses têm sido levantadas no que diz respeito às mutações que a organização familiar sofreu, desde a mudança das famílias extensas (dão primazia à instituição) em nucleares (dão primazia à emoção); passando pela hipótese que refere que a moderna família nuclear enquanto instituição está em crise (sobretudo devido às elevadas taxas de

divórcio, também discutidas anteriormente); até ao surgimento de teorias que defendem uma grande heterogeneidade de formas familiares e, finalmente, à hipótese do aumento da importância dos laços multigeracionais (motivado pelo aumento da esperança média de vida) (Bengtson, 2001, pp. 1-2).

Para Ariès (1962), a família nuclear era o centro da vida familiar, mas, ao mesmo tempo, o individualismo começava a ser fomentado na Europa e nos Estados Unidos, altura em que os membros das famílias passam cada vez mais tempo fechados nos seus quartos. De facto, diz o autor (1962), “The progress of the concept of the family followed the progress of private life, of domesticity. For a long time the conditions of everyday life did not allow the essential withdrawal by the household from the outside world.” (Ariès, 1962, p. 375).

Em meados do século XX, assiste-se a uma procura constante de emprego, e uma vez que a integração das mulheres no mercado de trabalho era algo já bastante natural, andar de cidade em cidade à procura de emprego para o “chefe de família” já não era simples, era preciso agora considerar a escolha da mulher, a família deixou de estar concentrada no marido/pai, para se concentrar na atividade profissional da esposa/mãe (quando existia) e na escola do(s) filho(s) (Adams, 2010, p. 501).

Entre o fim do século XIX e os anos 1960, Singly (2011) considera que se vive a família da primeira modernidade, caracterizada por no centro dos interesses da família se situarem as relações de intimidade e a sua qualidade, e a preservação do espaço privado, verificando-se uma separação efetiva entre o que é do foro público e do privado, separação que regula as relações intrafamiliares (Singly, 2011, pp. 12, 21-22).

Não obstante, até 1970 predominaram as teorias sobre a família baseadas no patriarcado, modernização e funcionalismo evolucionário (as mulheres servem para procriar e educar os seus filhos) e, a partir do final do século XX, as teorias passam a