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Direito de Autor sobre a obra cinematográfica depois de cessar o Direito de

No documento A PENHORABILIDADE DO DIREITO DE AUTOR (páginas 69-78)

CAPÍTULO II - PENHORABILIDADE DO DIREITO DE AUTOR DA OBRA

3. Procedimentos para a Penhora

3.3. Direito de Autor sobre a obra cinematográfica depois de cessar o Direito de

Pode ainda verificar-se a circunstância de no fim de caducar o Direito de Exploração do produtor ou terceiro, o direito regressa à pessoa do autor originário (realizador, argumentista, autor dos diálogos, e banda musical). Quando isto acontece o autor originário pode voltar a transmitir esse direito, sendo que tem de fazer menção disso mesmo no registo. O mesmo acontece quando o exequente pretende penhorar esse mesmo direito, ou seja, ele tem de registar esse mesmo fato. Está aqui inerente a obrigatoriedade do registo prevista no art.º 32º, nº1 alínea c) do Regulamento de Registo das Obras Cinematográficas.

Regressando o direito ao seu autor originário, o exequente pode livremente penhorar aquele direito ou os rendimentos dele proveniente, como se tratasse de uma simples penhora de créditos, que seguirá os mesmo trâmites descritos no ponto 3.1, ou seja, o autor será notificado que corre uma execução sobre ele.

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CONCLUSÕES

Obra cinematográfica corresponde à criação intelectual expressa por um conjunto de combinações de palavras, música, sons, textos escritos e imagens em movimento, fixada em qualquer suporte, destinada prioritariamente à distribuição e exibição em salas de cinema, bem como a sua comunicação pública por qualquer meio ou forma, por fio ou sem fio.

Os Direitos de Autor estão subdivididos em direitos patrimoniais e direitos morais. Os direitos morais são imprescritíveis, enquanto os direitos patrimoniais caducam 70 anos após a morte do criador intelectual.

A obra cinematográfica é composta por vários autores, desde logo o realizador, o autor do argumento, o autor dos diálogos e da banda musical, nos termos do art.º 22º, nº 1 CDADC, assim como o produtor (art.º 126º do mesmo preceito legal) a quem a lei (art.º 125º CDADC) atribui a faculdade de exercer o Direito de Exploração económica,

O Direito de Exploração atribuído ao produtor, consiste na faculdade de produzir e publicitar a obra nas salas de cinema assumindo as responsabilidades técnicas e financeiras, sendo que os rendimentos que daí advirem serão distribuídos pelos autores como rendimentos resultantes dos seus direitos patrimoniais. Logo quando o direito patrimonial é cedido pelos autores ao produtor, será a ele (produtor) que terá de ser penhorado o crédito de um deles.

Não obstante esse facto, os Direitos de Autor são direitos objeto de penhora na medida em que estão na esfera jurídica do seu titular ou, estando na esfera de pessoa diversa, sobre eles possuam um direito.

Concretamente é objeto de penhora o direito de crédito resultante da transmissão do direito patrimonial da obra onde o executado/autor tem um direito patrimonial a receber pela cedência do seu direito ao produtor que pode ter sido recebido na sua totalidade de uma só vez, ou pode o autor receber através de prestações periódicas.

É também objeto de penhora o direito da exploração económica da obra cinematográfica transmitido pelo Autor hipótese que permite a penhora dos rendimentos oriundos da exploração económica da obra e/ou a penhora do Direito de Exploração económica propriamente dito, caso que levanta mais divergências relativamente aos prejuízos que daí poderão resultar, contudo desde que haja a autorização dos titulares dos direitos de autor essa circunstância é possível. Esta situação é propícia a alguma

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discussão na medida em que penhorando-se o Direito de Exploração propriamente dito, entregando a outra pessoa coletiva o direito de produzir a obra cinematográfica, o Direito de Autor pode sofrer danos, nomeadamente em termos de venda ou valor cinematográfico. No caso do contrato de edição, a Lei diz-nos que a produtora escolhida pelo autor não pode ceder a sua posição contratual a um terceiro sem prévio consentimento do autor da obra. Isto porque os direitos e obrigações resultantes do

contrato de edição possuem uma natureza intuitu personae. Estas regras aplicam-se

subsidiariamente aos contratos de produção da obra cinematográfica. O que significa que mesmo que o exequente pretenda executar o Direito de Exploração propriamente dito, não será possível, pois o mesmo requer a autorização do autor da obra e, à partida, essa autorização não será adquirida devido aos prejuízos que poderão daí advir. Mas pode acontecer que o autor da obra autorize essa transmissão, e aí já se poderá realizar a penhora.

Por fim o Direito de Autor sobre a obra cinematográfica depois de cessar o Direito de Exploração também é alvo de penhora na medida em que voltando à esfera jurídica do autor, nada impede a que seja objeto de penhora.

A penhora do Direito de Exploração económica da obra cinematográfica ou de algum Direito de Autor está obrigatoriamente sujeita a registo nos termos do art.º 32º, nº1 alínea c) do Decreto- Lei nº 227/2006, de 15 de Novembro.

Relativamente às obras inéditas verifica-se uma impenhorabilidade, pois se o autor não a divulgou é porque não queria que fosse conhecida. Contudo quando o autor tiver revelado por atos inequívocos o propósito de divulgar a sua obra, aí já se poderá proceder à sua penhora, até porque não será lógico preceder à construção de uma obra cinematográfica para depois não a divulgar. Nesta situação existe uma renúncia tácita ao inédito, a qual deixa de justificar a impenhorabilidade.

Verificamos que a determinação da parte penhorável dos vencimentos, salários e pensões, passou a ter como referência o valor do salário mínimo nacional. Contudo, a par dos rendimentos daquelas proveniências, são parcialmente impenhoráveis os rendimentos provenientes de “prestações de natureza semelhante” a vencimentos e salários, sem que se conheça jurisprudência que, até agora, tenha identificado em que consistem as referidas prestações; considera a doutrina que se tratará de rendimentos provenientes do trabalho, em sentido lato (em que se incluem as prestações de serviços), desde que delas dependa a subsistência do executado.

O artigo 824º CPC (e atualmente 738º CPC) retrata bens que são parcialmente penhoráveis ou, por outro lado, bens parcialmente impenhoráveis, como será o caso do salário, pois se fossemos a penhorar totalmente o salário de um executado ele ficaria

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numa situação deficitária e com nenhumas condições de sobrevivência, e não é isso que se pretende.

Nesta ordem de ideias, a lei estipulou certos limites de penhorabilidade. São, assim, impenhoráveis dois terços dos vencimentos, salários ou qualquer remuneração semelhante, nos termos do artigo 824º, nº 1 a) CPC (atual 738º, nº 1 CPC). Como limite mínimo de impenhorabilidade, o montante equivalente a um salário mínimo nacional, o que corresponderá a 485 euros mensais.

Para procedermos à penhora de um direito de crédito resultante da transmissão do direito patrimonial da obra, como se trata de uma penhora de créditos, mas cujo direito patrimonial se encontra na esfera jurídica de outra pessoa devido a este ter sido transferido pelo autor a uma terceira pessoa, deve-se proceder à notificação do terceiro, a quem foi cedido o direito patrimonial, para em 10 dias vir declarar se o direito patrimonial do autor lhe pertence. Se o devedor nada disser ou afirmar a existência do crédito, dá-se força ao título executivo e penhora-se. Se o devedor vier dizer que o crédito não existe, nos termos do artigo 858º CPC (atual artigo 775º CPC), o exequente e o executado serão notificados para se pronunciarem no prazo de 10 dias.

Para procedermos à penhora dos rendimentos que advêm do Direito de Exploração económica pertencente à figura do produtor, que analogicamente se compara a uma penhora normal de um crédito, o devedor deverá ser notificado de que o crédito fica à ordem do Agente de Execução.

No caso de se querer penhorar o Direito de Exploração propriamente dito, se o autor autorizar a transmissão do Direito de Exploração, será concedido ao exequente para que o explore e o exequente possa reaver o seu crédito. O terceiro é notificado para

vir dizer se o direito lhe pertence. Se ele disser queo direito patrimonial não lhe pertence

ou simplesmente não se pronunciar, a execução prossegue, penhora-se e converte-se o registo da penhora em definitivo.

Quando se pretender penhorar um Direito de Autor sobre a obra cinematográfica depois de cessar o Direito de Exploração que normalmente se encontrava no poder do produtor, como ele regressa à disponibilidade jurídica do seu autor originário, basta proceder ao registo da penhora, seguindo-se os mesmos trâmites da penhora de créditos.

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- Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 29 de Abril de 2010, processo n.º 3501/05.0TBOER.L1.S1.

- Parecer técnico da Provedoria da Justiça, Fiscalidade. Execuções fiscais. Penhora de

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