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A PENHORABILIDADE DO DIREITO DE AUTOR

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A PENHORABILIDADE DO DIREITO DE AUTOR

NA OBRA CINEMATOGRÁFICA

Andreia Sofia Castro Ribeiro

Orientadora: Professora Doutora Lurdes Mesquita Coorientador: Mestre Pedro Dias Venâncio

Dissertação apresentada ao Instituto Politécnico do Cávado e do Ave para obtenção do Grau de Mestre em Solicitadoria – Agência de Execução

2015

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A PENHORABILIDADE DO DIREITO DE AUTOR

NA OBRA CINEMATOGRÁFICA

Andreia Sofia Castro Ribeiro

Orientadora: Professora Doutora Lurdes Mesquita Coorientador: Mestre Pedro Dias Venâncio

2015

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I

RESUMO

O Direito de Autor protege a criação intelectual e, do mesmo modo, protege a obra cinematográfica.

A obra cinematográfica caracteriza-se pelo conjunto de obras do realizador, do autor do argumento e dos diálogos, e da banda musical, conforme os artigos 2º, nº 1 alínea f) e 22º, nº 1 do Código de Direito de Autor e Direitos Conexos.

O Direito de Autor subdivide-se em direitos patrimoniais e direitos pessoais.

Apenas os direitos patrimoniais são passíveis de sofrer alteração de titular.

A obra intelectual, enquanto coisa incorpórea, é objeto de transmissão. E como objeto de transmissão ela é possível de ser penhorada apenas no conteúdo patrimonial.

E esta questão não é pacífica pela doutrina no Ordenamento Jurídico Português, pois sendo os direitos morais intransmissíveis a utilização que se faça do conteúdo patrimonial pode colidir com estes direitos morais. Embora a penhora incida apenas sobre o conteúdo patrimonial, ela pode ser condicionada pelo exercício dos direitos morais.

A questão de máxima importância prende-se no facto de, não havendo mais nada a penhorar, poder-se ou não penhorar o Direito de Exploração do Direito de Autor quando ele esteja na pessoa do criador e/ou quando esteja na pessoa de um terceiro.

Outro problema que a obra cinematográfica suscita, prende-se com o facto de, sendo possível penhorar, em que medida é que vamos penhorar, pois verifica-se vários direitos de autor inseridos numa só obra.

Ou seja, sobre a “obra cinematográfica” reconhecem-se vários autores e, além disso, integrados na obra cinematográfica reconhece-se a possibilidade de coexistirem várias obras suscetíveis de utilização autónoma, sobre os quais existem direitos de autor, com conteúdos patrimoniais e morais, distintos do que incide sobre a obra cinematográfica como um todo.

Palavras-chave: Direitos de autor, Obra cinematográfica, Penhora, Penhorabilidade.

(5)

______________________________________________________________________________

II

ABSTRACT

Copyright law protects intellectual creation, and protects the cinematographic work likewise.

The cinematographic work is characterized by the collection of works of the director, the author of the script and the dialogues and the band's music as stated in articles 2, paragraph 1, point f) and 22, paragraph 1 of the Code of Copyright and Related Rights.

Copyright law is divided into property rights and personal rights. Only the property rights are likely to undergo a change of holder.

Being an incorporeal thing the intellectual work is object of transmission. And as object of transmission it is possible to be seized only in the equity content. And this issue is contested by the doctrine in the Portuguese legal system because if moral rights are not transferable, the use that is made of the equity content may collide with these moral rights. Although the attachment applies only to the equity content it can be conditioned by the exercise of moral rights.

The issue of utmost importance relates to the fact that existing nothing else to be seized, it may or may not pledge the right to exploit the copyright in person when it is in the creator and / or when the person is a third one.

Another issue that cinematographic work raises is relates to the fact that if it is possible to pledge, to what extent shall we pledge, because there are several copyright inserted in only one piece.

It is acknowledged de existence of various authors in what concerns the cinematographic work and, moreover, it is recognized the possibility of coexisting various products suitable for autonomous use integrated into the cinematographic work about who copyright, with equity and moral content, other than that that focus on cinematographic work as a whole.

Keywords: Copyright law, Cinematographic work, Attachment, Garnishment

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III

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, que sempre me incentivaram para fazer mais e melhor, e estiveram sempre do meu lado para tudo o que eu necessitasse. Sei que para eles é tão importante, como para mim, ultrapassar esta etapa da minha vida académica.

Sempre me ensinaram a lutar por aquilo que ambicionava, elucidando-me que nada cai do céu e tudo se obtém através do esforço e do trabalho árduo.

Sem eles eu não teria conseguido chegar a este patamar e, por isso, é para eles que eu dedico todo este trabalho. Nunca lhes vou conseguir agradecer tudo o que fizeram por mim.

São uns pais maravilhosos, que fazem tudo pelos filhos e apesar das nossas brigas sei que eles só querem o melhor para mim. Espero um dia poder retribuir pelo menos um terço daquilo que fizeram e continuam a fazer por mim e, do mesmo modo, poder corresponder às expectativas que eles depositaram em mim.

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______________________________________________________________________________

IV

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer, em primeiro lugar e como não poderia deixar de ser, aos meus pais, pois é graças a eles que todo este trabalho foi possível. Agradecer-lhes também pelo amor, carinho e dedicação que têm demonstrado ao longo da vida. Do mesmo modo o apoio da minha família que foi extremamente motivador. E, finalmente, ao meu namorado, pelo apoio incondicional, otimismo, insistência e suporte em todos os momentos.

Agradecer também a orientação fornecida pela minha orientadora, a Professora Doutora Maria de Lurdes Mesquita, e ao meu coorientador, Mestre Pedro Dias Venâncio.

Sem eles não saberia orientar-me neste trabalho, sendo eles os principais guias desta obra, sem os quais perderia todo o caminho até aqui percorrido.

Ao Instituto Politécnico do Cávado e do Ave por me proporcionar a possibilidade de obtenção do grau de mestre, assim como aos seus serviços administrativos e académicos pela compreensão e auxílio nas questões suscitadas.

Do mesmo modo agradecer aos meus amigos pelo incentivo e estímulo que me foram dando ao longo desta fase, nunca me fazendo desistir quando tudo parecia desabar e desmoronar. Alguns deles ajudaram-me ativamente em questões de pesquisa bibliotecária e técnicas computorizadas. Sem o apoio psicológico deles não teria conseguido.

É nos momentos de grande aflição que se encontram os bons amigos, amigos esses que devem permanecer por toda a vida. Durante esta fase, tive vários motivos que me queriam fazer desistir deste projeto, mas com o apoio deles isso não foi sequer admitido.

A todos, o meu sincero obrigado.

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V

ABREVIATURAS

Art.º - Artigo

CB – Convenção de Berna CC – Código Civil

CDADC – Código de Direitos de Autor e Direitos Conexos Cf. – Conferir

CPC – Código Processo Civil

CRP – Constituição da República Portuguesa C.R.Predial – Código do Registo Predial

IGAC - Inspeção Geral das Atividades Culturais N.º - Número

Op. cit. - opus citatum – obra citada P. – Página

Pe – Por exemplo

SECTP - Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses SPA – Sociedade Portuguesa de Autores

Ss. – Seguintes

TRLPI - Texto Refundido de la Ley de Propiedad Intelectual

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VI

ÍNDICE GERAL

RESUMO ... I ABSTRACT ... II DEDICATÓRIA ...III AGRADECIMENTOS ... IV ABREVIATURAS ... V ÍNDICE GERAL ... VI

INTRODUÇÃO ... 1

CAPÍTULO I - DIREITO DE AUTOR NA OBRA CINEMATOGRÁFICA ... 3

1. O Direito de Autor ... 3

2. Objeto do Direito de Autor ... 5

3. Sujeito do Direito de Autor... 9

3.1. Obra coletiva e obra feita em colaboração ...14

3. 2. Obra adaptada ...20

4. Conteúdo do Direito de Autor: Direitos Patrimoniais e Direitos Morais ...21

4.1. Direitos Patrimoniais ...23

4.1.1. Duração ...25

4.1.2. Direito de Exploração Económica ...27

4.2. Os Direitos Morais ...29

4.2.1. Direito ao inédito ...33

4.2.2. Direito ao nome ...34

4.2.3. Direito à paternidade ...35

4.2.4. Direito à integridade da obra ...36

4.2.5. Direito de modificação ...37

4.2.6. Direito de Retirada ...39

5. Publicidade e Registo ...40

CAPÍTULO II - PENHORABILIDADE DO DIREITO DE AUTOR DA OBRA CINEMATOGRÁFICA ...44

1. Objeto da Penhora ...44

1.1. Considerações Introdutórias...44

1.2. Delimitação do objeto da penhora do Direito de Autor...45

1.3. Objeto da Penhora no caso do Direito de Autor da Obra Cinematográfica ...50

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VII 1.3.1. Direito de crédito resultante da transmissão do direito patrimonial da

obra………. 51

1.3.2. Direito da exploração da obra cinematográfica transmitido pelo Autor ....52

1.3.3. Direito de Autor sobre a obra cinematográfica depois de cessar o Direito de Exploração ...54

2. Limites de Penhorabilidade ...54

3. Procedimentos para a Penhora ...56

3.1. Direito de crédito resultante da transmissão do direito patrimonial da obra 56 3.2. Direito da exploração da obra cinematográfica transmitido pelo Autor ...57

3.3. Direito de Autor sobre a obra cinematográfica depois de cessar o Direito de Exploração ...58

CONCLUSÕES ...59

BIBLIOGRAFIA ...62

PÁGINAS DE INTERNET ...66

JURISPRUDÊNCIA ...67

(11)

______________________________________________________________________________

VIII

“A obra intelectual é considerada um bem jurídico e o Direito de Autor tem a finalidade de garantir ao seu titular a exclusividade da exploração de todas as vantagens económicas que a utilização da obra possa proporcionar.”

OLIVEIRA ASCENSÃO

(12)

1

INTRODUÇÃO

A atividade inteligente e intelectual do homem gera em ultima ratio o aparecimento de novos bens na sociedade. Sendo os Direitos de Autor na figura da Obra Cinematográfica e a sua penhorabilidade o tema central desta dissertação, iremos dividir o trabalho em duas partes. Na primeira parte trataremos sobretudo da parte geral dos Direitos de Autor, em específico sobre a Obra Cinematográfica, onde analisaremos as suas características.

Quando falamos em Direitos de Autor, falamos em criação intelectual. Sem a criação intelectual, não existe obra e sem obra não existe o Direito de Autor. São consideradas obras, apenas as criações intelectuais originais, exteriorizadas do domínio literário, científico e artístico, tal como refere os artigos 1º e 2º do CDADC. Nesta medida, a criação intelectual geradora de uma obra, oferece ao seu criador o estatuto de autor, que reúne um conjunto de consequências jurídicas, desde logo o reconhecimento do Direito de Autor.

A possibilidade de apropriação das coisas incorpóreas, concebidas como bens economicamente úteis e, por isso, como coisas comerciáveis impõe o reconhecimento da possibilidade de celebrar negócios jurídicos que as tenham como objeto. As obras são bens culturais. Distinguem-se dos outros bens por serem incorpóreos, mas têm também uma existência objetiva, como todos os bens. Visto que as obras intelectuais, enquanto coisas incorpóreas, são passíveis de existir em múltiplos lugares ao mesmo tempo (os autores1 falam na sua ubiquidade) o conteúdo patrimonial divide-se em distintas faculdades suscetíveis de transmissão, permanente ou temporária, para diferentes titulares. Assim, o conteúdo patrimonial pode também dividir-se entre diferentes titulares, e portanto ser também penhorável parcelarmente, individualmente.

O conteúdo do Direito de Autor divide-se entre faculdades patrimoniais e faculdades morais. Só as primeiras são transmissíveis e logo penhoráveis, mas ainda assim, por vezes os direitos morais podem prevalecer sobre o direito de penhora de determinadas utilizações patrimoniais.

O autor da obra intelectual poderá transmiti-la a quem quiser, onerar o seu direito patrimonial, ou limitar-se a permitir o uso de determinadas faculdades que o integram.

1 VICENTE, Dário Moura, A Tutela Internacional da Propriedade Intelectual, Almedina, Coimbra, 2008 p. 15;

MENEZES LEITÃO, Luís Manuel Teles de, Direito de Autor, Almedina, Coimbra, 2011, p. 12.

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2 Face a isto, e como se pode facilmente perceber, à obra intelectual está obrigatoriamente subjacente um Direito de Autor, direito este que, tal como pode ser onerado ou alienável, também poderá ser objeto de penhora por parte de um credor.

A obra cinematográfica levanta várias questões interessantes quanto ao seu conteúdo patrimonial. Desde logo porque a obra cinematográfica pode ser uma obra compósita (art.º 20.º e 23.º CDADC), no sentido em que integra outras obras que são individualizáveis e, portanto, suscetíveis de utilizações autónomas (argumento, banda sonora, etc.). Por outro lado, a obra cinematográfica é uma obra em colaboração tendo a sua autoria atribuída em conjunto a várias pessoas (art.º 22.º n.º 1, 16.º n.º 1 e 17.º n.º 1 CDADC), mas em que a sua exploração económica pode ser originariamente atribuída a uma terceira pessoa que não é autor – o produtor (art.º 124.º e ss CDADC).

Na segunda parte deste trabalho, iremos falar em concreto sobre a possibilidade de penhora das faculdades patrimoniais da Obra Cinematográfica.

Se assim se verificar, como se poderá penhorar o Direito de Autor de um devedor se ele “divide” aquele direito com outras pessoas? Onde começa e onde acaba o Direito de Autor? Até que ponto esse direito é penhorável e em que circunstâncias o pode ser.

São estas algumas das questões que procuraremos explicar e solucionar.

Primeiramente, iremos fazer uma breve introdução histórica sobre o artigo 47º do Código de Direitos de Autor e Direitos Conexos. Iremos, ainda, comparar algumas diferenças existentes entre o Sistema Judicial Português e o Sistema Judicial Espanhol.

Veremos, no essencial, quatro objetos possíveis de penhora, sendo eles, o direito patrimonial quando esteja na pessoa do autor da obra; quando o autor tenha apenas direito a um rendimento pela cedência do Direito de Exploração a um terceiro; quando se pretenda executar o próprio Direito de Exploração e quando o direito patrimonial regressa à titularidade do autor originário. Assim como, analisaremos os respetivos procedimentos para a penhora.

A presente dissertação vai ser redigida de acordo com o novo acordo ortográfico, conforme a Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011, publicada no Diário da República, 1.ª série, n.º 17, de 25 de janeiro de 2011.

De referir que, a Lei n.º 41/2013, de 26 de Junho, entrou em vigor no decurso da realização da dissertação e veio atualizar o Código de Processo Civil, motivo pelo qual ainda faremos menção à versão anterior.

(14)

3

CAPÍTULO I - DIREITO DE AUTOR NA OBRA CINEMATOGRÁFICA

1. O Direito de Autor

Atualmente, o Direito de Autor tem consagração constitucional no artigo 42º da CRP que dispõe nos seus dois parágrafos o seguinte:

“ 1. É livre a criação intelectual, artística e científica.

2. Esta liberdade compreende o direito à invenção, produção e divulgação da obra científica, literária ou artística, incluindo a proteção legal dos Direitos de Autor.”

Esta disposição deve ser interpretada de acordo com a Declaração Universal dos direitos do Homem, que no seu art.º 27º, nº 2, reconhece que “todos têm direito à proteção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria”.

Mas nem todas as obras merecem a tutela do CDADC, somente as que são criativas, que trazem algo de novo, expresso através da personalidade do seu autor.2

A proteção constitucional do Direito de Autor, para GOMES CANOTILHO, tem um duplo significado. O primeiro surge no sentido em que o produto da criação cultural é considerado como propriedade espiritual do autor. O segundo no sentido em que a liberdade de criação cultural protege, nas vestes de direito de comunicação fundamental, todas as formas de mediação comunicativa. O autor descobre assim uma dupla dimensão da liberdade autoral, num primeiro plano, a liberdade de criação intelectual e num segundo a liberdade de utilização das obras literárias, artísticas e científicas, tuteladas através da concessão de vários direitos de exclusivo, unificados num tronco jurídico básico3.

A regulamentação deste direito está prevista no Código dos Direitos de Autor e Direitos Conexos, bem como em legislação avulsa, legislação internacional e também em muita legislação comunitária.

Quando se fala em Direitos de Autor, falamos em criação intelectual. Sem a criação intelectual, não existe obra e sem obra não existe o Direito de Autor. Nesta medida, a criação intelectual geradora de uma obra, dá ao seu criador/autor, o papel e o estatuto de autor, que reúne um conjunto de consequências jurídicas, desde logo o reconhecimento do Direito de Autor.

2 Neste sentido, Acórdão nº 8864/2008-5 do Tribunal da Relação de Lisboa, de 16‐12‐2008 in www.dgsi.pt.

3 GOMES CANOTILHO, José Joaquim, Estudos sobre direitos fundamentais, Coimbra, Coimbra Editora, 2004, p. 222.

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4 O Direito de Autor é por isso em termos gerais, um direito subjetivo. Para BAPTISTA MACHADO, este direito subjetivo consiste em faculdades ou poderes ou até mesmo numa posição de privilégio que o indivíduo detém face a outros, privilégios esses que, por aplicação das regras de direito objetivo4, são atribuídos a uma determinada pessoa, quando se encontrem verificados certos factos jurídicos previstos naquelas mesmas normas. Este autor dentro do direito subjetivo faz distinção entre os direitos de domínio e os direitos de crédito.

“Entre os direitos de domínio contamos o direito sobre coisas materiais ou direito de propriedade, o direito sobre a empresa como universalidade e como organização dinâmica e os chamados direitos de propriedade intelectual (Direito de Autor sobre a obra e direito de propriedade industrial: direito de patente, direito à marca, etc.). Trata-se de direitos absolutos tutelados contra a intromissão de um qualquer terceiro que impeça ou perturbe o exercício dos poderes que constituem o respetivo conteúdo. Pelo que respeita ao direito sobre bens imateriais (direitos de propriedade literária, artística e cientifica, bem como direitos de propriedade industrial), trata-se de direitos de monopólio ou de exclusivo: o titular pode excluir qualquer terceiro da exploração da obra ou do invento.

Em contraposição aos direitos absolutos, acabados de referir, temos os direitos de crédito, que são direitos relativos. O direito de crédito confere ao seu titular o poder, juridicamente tutelado, de exigir de outrem (o devedor) uma determinada conduta, positiva (um fazer) ou negativa (um não fazer: omitir e tolerar). [...] Os direitos de crédito dizem-se relativos, por serem poderes jurídicos que apenas existem em relação a determinada ou determinadas pessoas (os devedores), pelo que não podem, em princípio pelo menos, ser violados por terceiros” 5.

Os Direitos de Autor enquadram-se dentro desta classificação no âmbito do direito de domínio.

A proteção das obras noutro país diferente daquele onde a obra foi criada está assegurada por um conjunto de convenções internacionais, das quais se destacam a Convenção de Berna para a proteção de obras literárias e artísticas de 1886 a que Portugal aderiu em 1978, e a Convenção Universal sobre o Direito de Autor de 1952, a que Portugal aderiu em 1979.

De entre os princípios gerais destacam-se o princípio do tratamento nacional – os autores das obras protegidas gozam, em todos os outros países, da mesma proteção que

4 O direito objetivo, também chamado de direito positivo, é aquele que é estabelecido pelo Estado, é o direito em vigor, o direito como regra que deve ser respeitada por todos os cidadãos.

5 MACHADO, Baptista, Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, Almedina, 2007, p. 88 e 89.

Segundo este mesmo autor “Para Jhering, o direito subjetivo é um interesse juridicamente protegido. Mas já para Larenz, este direito é aquilo que os outros estão obrigados a conceder à pessoa.”

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5 os nacionais desses países, e o da proteção mínima, segundo o qual os estados contratantes devem conceder às obras provenientes de outros estados contratantes proteção segundo o direito exclusivo de tradução, de representação pública, de radiodifusão, de reprodução sob qualquer forma e de adaptação.

Destaca-se também a Convenção de Estocolmo de 1967 que institui a Organização Mundial de Propriedade Intelectual, organismo responsável pelos principais acordos e convenções internacionais em matéria de propriedade intelectual e industrial, onde Portugal participa em 1975.

De forma muito ingénua, o que entendemos por Direitos de Autor corresponde aos direitos que decorrem da criação intelectual geradora de uma obra, direitos estes que resultam e incidem sobre essa obra. A criação intelectual vem prevista no art.º 1303º CC, e desta forma é um direito expressamente consagrado, ao qual pode ser aplicado as disposições daquele código quando se harmonizem.

Essa criação é também caracterizada pelo saber-fazer. E esse saber-fazer “goza de economicidade e individualidade próprias para poder ser considerado coisa. Nessa medida, não se resume a uma mera atividade de comunicação. O conjunto de informações que o compõem tem um valor económico autónomo. Por isso pode ser coisa, por isso pode ser objeto de relações jurídicas”6.

O mesmo autor, DIAS PEREIRA, defende que “por um lado, o saber-fazer é concebido como possível objeto de relações jurídicas, considerando que se trata de uma coisa que, por sua natureza, não é insuscetível de apropriação individual nem está no domínio público. Nessa medida, permite que o saber-fazer constitua objeto de direitos privados. Por outro lado, esses atos não serão ilícitos se tiverem sido autorizados, por contrato ou por lei, ou seja, a prática desses atos poderá ser lícita, pelo que não haverá lugar à concorrência desleal”7.

2. Objeto do Direito de Autor

“O Homem, à semelhança de Deus, cria”8. Esta criação recebe a tutela do Direito de Autor. O Direito de Autor é uma forma de propriedade intelectual destinada a proteger, em exclusividade, obras artísticas geradas por pessoas humanas no exercício da liberdade de criação cultural.9 “Porque corresponde a uma actividade particularmente

6 PEREIRA, Alexandre Dias, Arte, Tecnologia e Propriedade Intelectual, Revista da Ordem dos Advogados, Ano 62, II, 2002, p. 3.

7 Idem, ibidem.

8 OLIVEIRA ASCENSÃO, José de, Direito de Autor e Direitos Conexos, Coimbra Editora, 1992, p. 11.

9 PEREIRA, Alexandre Dias, Direito de Autor e Acesso Reservado, in As telecomunicações e o Direito na sociedade de informação, p. 266.

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6 nobre, a tutela conferida pelo Direito de Autor é a mais extensa e a mais apetecida de todas as tutelas, dentro dos direitos intelectuais”10.

“O Homem, à semelhança do animal, imita”11. A capacidade criativa é limitada, logo grande parte da cultura de consumo é imitada. O Direito de Autor apenas se constitui com a criação literária e artística e não as meras imitações. Aliás, a repressão da imitação poderá fazer-se por recurso a vários ramos de Direito, como a concorrência desleal. Só entra, porém, no domínio do Direito de Autor quando o objecto da imitação for uma verdadeira obra literária ou artística12.

Por isso, o objecto do Direito de Autor compreende caracteristicas essenciais, sumariamente, podemos afirmar com Maria Victória Rocha que a “obra” objeto do Direito de Autor é aquela que contém quatro elementos13. Em primeiro lugar, tem de ser uma

“criação”, no sentido em que apenas é objeto de Direito de Autor aquela obra que resulta de uma qualquer atividade humana específica. Em segundo lugar, tem de ser uma criação “inteletual” (ou do “espírito”14), não se protegendo aquelas obras que resultam de mera atividade manual sem qualquer atividade inteletual que intervenha na sua criação (por exemplo, os meros trabalhos de reprodução). Em terceiro lugar, a obra deve conter um elemento de “originalidade”, ser em algum modo diferente e individualizável. O que não significa que tenha de ser nova na sua totalidade, pode ter por ponto de partida uma obra anterior, mas tem de lhe acrescentar algo de diferente e inovador15 de forma a ter uma individualidade própria digna de proteção legal (como é o caso das obras derivadas previstas no artigo 3º CDADC, e das obras compósitas previstas no artigo 20º CDADC).

De todo o modo, este elemento de originalidade será o elemento de “imputação subjetiva”

da obra a determinado autor, aquilo que identifica aquela obra inequivocadamente com

10 OLIVEIRA ASCENSÃO, op. cit., p. 11.

11 Idem, ibidem.

12 Idem, ibidem.

13 Maria Victória Rocha diz-nos que da noção do artigo 1º, nº 1 do CDADC «podemos retirar quatro elementos que nos ajudam na concretização do conceito: em primeiro lugar, há-de ser uma criação humana;

em segundo lugar, esta criação deve ser uma criação do espírito; em terceiro lugar, deve ter assumido uma forma de expressão, i. e., teve que ser de algum modo expressa; em quarto lugar, deve ser subjetivamente imputável ao seu autor, dito de outro modo, a obra deve ser original», in A originalidade como requisito de proteção pelo Direito de Autor, Verbo Jurídico, 2003, p. 26 (publicado eletronicamente em www.verbojuridico.net).

14 Alguns autores contestam a expressão “criações intelectuais” preferindo o termo “criações do espírito”.

Nesse sentido, OLIVEIRA ASCENSÃO embora admita a «identidade entre criações intelectuais e criações do espírito», entendendo o Direito de Autor como “Direito da Cultura” e, logo, daquilo que «só se capta pelo espírito», parece pugnar pela designação “criações do espírito” como aquela que é mais adequada para designar o objeto do Direito de Autor, op. cit. p. 57 e 58. No mesmo sentido, Maria Victória Rocha, refere «a expressão “criação intelectual” não nos parece a melhor, pois pode sugerir que a obra do espírito se dirige exclusivamente à inteligência, o que seia um sentido demasiado restritivo. Preferimos a expressão “criação do espírito”. Todavia, as duas expressões devem considerar-se equivalentes», op. cit., p. 26.

15 O conceito de novidade relevante para o Direito de Autor é a novidade subjetiva – originalidade – e não tanto a novidade objetiva – carácter distintivo – próprio da propriedade industrial. Nesse sentido, entre outros, José de Oliveira Ascensão, op. cit., p. 99 e 100.

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7

“aquele” autor16. E, finalmente, a obra tem de ser “exteriorizada”, ou seja, a proteção legal depende da materialização da obra, e não necessariamente da sua divulgação ou distribuição, não basta a “ideia” da criaçao, é necessário que o autor transponha essa

“ideia” para um suporte susceptível de ser apreendido pelos sentidos.17

“Antes de mais, toda a obra relevante para Direitos de Autor, terá obrigatoriamente de ser uma obra humana. Uma forma natural, por mais bela que seja e por mais que esteticamente possa ser apreciada, não é obra literária ou artística. Um quadro pintado por um animal, um ferro retorcido encontrado nos destroços de um avião ou formas caprichosas moldadas pela neve, por mais sugestivos que sejam, não são obras humanas, e não podem pois usufruir da protecçao do Direito de Autor.”18

A partir do momento em que exista uma intervenção humana, de cariz original, já é passível de ser considerada como obra inteletual.

De facto, exige-se sempre que haja uma criação. “Criação essa que é imposta por lei (artigo 1º). A criação tem de ser obrigatoriamente exteriorizada. Uma ideia, mesmo que corresponda a uma criação intelectual, se não for exteriorizada por qualquer forma, não será objeto do Direito de Autor. A obra que permanece no foro íntimo do autor não beneficia de proteção, apenas a adquirindo no momento em que se revela aos outros.

Apenas nesse momento é que surge a proteção autoral, que assim apenas pode incidir sobre criações intelectuais exteriorizadas.”19

Um novo elemento, que não constava no quadro de referências objetivas da comunidade, não se apresentava como óbvio nem se reduz a uma aplicação unívoca de critérios pré-estabelecidos, foi introduzido por um acto criativo. Este é o fundamento do Direito de Autor.

“A tutela da criação faz-se pela outorga de um exclusivo. A atividade de exploração económica da obra, que de outro modo seria livre, passa a ficar reservada para o titular. Deste modo se visa compensar o autor pelo contributo criativo trazido à sociedade. Todo o direito intelectual é assim acompanhado da consequência negativa de coartar a fluidez na comunicação social, fazendo surgir barreiras e multiplicando as reivindicações.”20

O Direito de Autor não está dependente da sua “divulgação, publicação, utilização ou exploração” (artigo 1º, nº 3 “ género, forma de expressão, mérito, modo de

16 ROCHA, Maria vitória, op. cit., p. 27. A nível internacional, entre outros, destacamos José Carlos Erdozaín- Lopez, El concepto de originalidade en el derecho de autor, Pe. I: Revista de propiedad intelectual, nº 3, 1999, p. 55 a 94.

17 VENÂNCIO, Pedro Dias, O Direito Especial do Fabricante de Bases de Dados. Não publicada, Tese de Mestrado, Escola de Direito, Universidade Católica Portuguesa, Porto, 2007, p. 33 e 34.

18 Idem, op. cit., p. 57.

19 MENEZES LEITÃO, Luís Manuel Teles de, Direito de Autor, Almedina, Coimbra, 2011, p. 71.

20 OLIVEIRA ASCENSÃO, op. cit., p. 12.

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8 comunicação e objetivo” (artigo 2º, nº 1) ou de “registo, depósito ou qualquer outra formalidade” (artigo 12º).

O Direito de Autor protege formas originais de expressão literária ou artística, qualquer que seja o seu mérito ou finalidade. Constitui-se pelo simples facto de criação da obra, como se pode retirar da análise dos artigos 1º e 12º do CDADC.

Encontra-se exteriorizado o quadro que o pintor completou mas não mostrou a ninguém, ou até mesmo a poesia que está fechada na gaveta. O que falta não é a exteriorização, é a comunicação. Mas não é só a obra que surge com a exteriorização. É o próprio Direito de Autor, que não está dependente da divulgação.21

Esta é uma das maiores forças do Direito de Autor. Como o Direito de Autor resulta do simples facto da criação, logo que ocorra, mesmo desconhecida de toda a gente, a titularidade está assegurada.

O Direito de Autor nasce com a criação da obra e não com o registo do mesmo direito. Resulta daqui, desde logo, que o registo não pode ter um genérico constitutivo, na medida em que não exige as formalidades de depósito legal, exigido para outras categorias de obras.

A vantagem deste sistema é a de que o autor não tem de dar a conhecer a obra para em contrapartida receber o reconhecimento do direito.

Tradicionalmente, exige-se a individualidade como requisito da obra. Isto quer dizer que, sendo a obra uma criação personalizada, em toda a obra deverá estar estampada a marca do seu autor.

Dos EUA vem o slogan pragmático - “tudo o que é digno de ser copiado é digno de ser protegido”. No seguimento desta ideia, o Direito de Autor não existe para repreender a imitação, mas para premiar a criatividade22. Por isso, é um direito tão significativo.

A proteção é a contrapartida de se ter contribuído para a vida cultural com algo que não estava, até então, ao alcance da sociedade.

A obra literária ou artística pertence ao mundo da cultura. Capta-se através da alma. Um animal não entente a natureza de uma obra literária ou artística. A componente cultural é de grande relevo, não se deixando absorver por apreensões comercialistas ou egocêntricas.

O artigo 2º, nº 1 f) do CDADC faz incluir no objeto de proteção pelo Direito de Autor as obras cinematográficas, televisivas, fonográficas, videográficas e radiofónicas23.

21 Idem, Ibidem, p. 88.

22 OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito Autorial, 2ª edição, Rio de Janeiro: Renovar, 1997, p. 51 e 52.

23 MENEZES LEITÃO, op. cit., p. 84.

(20)

9 É manifesto que a obra cinematográfica - o filme difundido - é uma obra nova e distinta do argumento, banda sonora, etc24.

O artigo 2º g) da Lei de Arte Cinematográfica e do Audiovisual - Lei 55/2012, de 6 de Setembro que revogou a Lei 42/2004, de 18 de Agosto Lei 42/2004, de 18 de Agosto - apresenta como definição de obra cinematográfica “as criações intelectuais expressas por um conjunto de combinações de palavras, música, sons, textos escritos e imagens em movimento, fixadas em qualquer suporte, destinadas prioritariamente à distribuição e exibição em salas de cinema, bem como a sua comunicação pública por qualquer meio ou forma, por fio ou sem fio”. E esta é a definição de obra cinematográfica relevante para o Direito de Autor.

3. Sujeito do Direito de Autor

O Direito de Autor enquanto resultado do ato criativo, tem um titular, que se manifesta na pessoa do criador intelectual da obra, a não ser que tal regra seja afastada pela lei, nos termos do artigo 27º do CDADC. O Direito de Autor é por isso atribuído ao criador intelectual, não àquele que de fato não terminou a obra intelectual, mas apenas ao sujeito que a criou definitivamente de princípio ao fim e a colocou ao conhecimento de todos.

Existem diferentes conceitos do que é a obra e isso determina diferentes regras quanto à titularidade do respetivo Direito de Autor.

Na Alemanha, este princípio é absoluto: o direito é atribuído sempre e só ao criador intelectual. Não se passa assim em Portugal, como veremos, mas nem por isso deixa de ser importante que assinalemos à partida a tendencial coincidência entre o criador intelectual e o titular do Direito de Autor.25

O modelo americano, relativamente ao caso concreto da obra cinematográfica, considera como autor o respetivo produtor, já o modelo europeu atribui a autoria ao realizador e aos autores das diversas contribuições para o filme.26

“Ao produtor cabe selecionar o que fixar e tomar a iniciativa de o fazer, desencadeando todos os contactos com os agentes necessários para o efeito (autores de obras protegidas, artistas que as executem ou outros quando não estão em causa obras a fixar), reunir os meios técnicos, incluindo equipamentos e meios humanos, planear a atividade de fixação, dirigi‐la e executá‐la, e custear todo este processo produtivo. Depois há que fabricar e distribuir os suportes materiais, e embora estas duas fases do negócio

24 OLIVEIRA ASCENSÃO, op. cit., p. 82.

25 OLIVEIRA ASCENSÃO, op. cit., p. 107.

26 MENEZES LEITÃO, op. cit., p. 84.

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10 possam ser ainda realizadas pelo Produtor, podem igualmente não o ser sem que isso descaracterize esta figura.”27

Diferente é o conceito de produtor para efeitos de direitos conexos que, na senda de Oliveira Ascensão28, entende que o objeto do direito do produtor é “o conteúdo fixado no fonograma ou do videograma, os sons e/ou as imagens como registadas pelo seu produtor, o que não deixa de ser um bem diferente e em nada confundível com a obra que, se for o caso, aí se encontra fixada. Efetivamente, uma coisa é a obra que pode ser objeto de várias interpretações artísticas (ainda que com a mesma instrumentação, ou num mesmo local com os mesmos elementos cenográficos), outra coisa é aquele resultado da gravação, aquela fixação, não no sentido do seu suporte material, mas no sentido de sequência de sons e/ou imagens concretas que são depois difundidas/recebidas repetidamente de uma determinada maneira.”

A Convenção de Berna deixa a questão da titularidade às legislações nacionais e consequentemente teremos diferentes soluções quanto à titularidade. A CB prevê no seu artigo 14-bis, 2 a), que “a determinação dos titulares de Direito de Autor sobre a obra cinematográfica fica reservada à legislação do país em que a proteção é reclamada”.

Segundo MOURA VICENTE29, “Nas situações internacionais, as regras convencionais prevalecem, atento o primado do Direito Internacional Convencional (consagrado nomeadamente nas Constituições alemã, francesa e portuguesa), sobre as regras internas em matéria de Direito de Autor.”

Isto, porém, defende o mesmo autor, com duas importantes limitações que são importantes referir.

“Por um lado, mesmo no tocante às situações internacionais, prevê-se na Convenção de Berna a primazia das regras de política internas e dos regimes nacionais mais favoráveis ao autor estrangeiro. Assim, as disposições convencionais não prejudicam o direito do Governo de cada país da União de “permitir, vigiar ou proibir, por medidas legais ou de política interna, a circulação, representação e exposição de qualquer obra ou reprodução em relação às quais a autoridade competente devesse exercer esse direito” (artigo 17º da CB), nem a “reivindicação de disposições mais amplas que possam ser concedidas pela legislação de um país da União” (artigo 19º da CB).”

Assim, se a lei do país para o qual a proteção da obra literária ou artística for reclamada, estabelecer uma duração mais longa para o Direito de Autor, será esta a

27 SEBASTIÃO, Mafalda, O Direito do Produtor, tese de Mestrado, Faculdade de Direito, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2009, p. 11 e 12.

28 OLIVEIRA ASCENSÃO, op. cit., p. 568.

29 VICENTE, Dário Moura, A Tutela Internacional da Propriedade Intelectual, Almedina, Coimbra, 2008, p.

105 e 106.

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11 aplicável, desde que a mesma não exceda a duração fixada pela lei do país de origem (artigo 7º, nº 8 da CB).30

A lei portuguesa, seguindo o modelo europeu, considera como co-autores dessa obra o realizador, o autor do argumento, o autor dos diálogos quando se trate de pessoa diferente do argumentista, e o criador da banda musical, conforme o artigo 22º, nº 1, sendo que, quando se trate de adaptação de obra não composta expressamente para o cinema são também considerados co-autores os autores da adaptação e dos diálogos (se os houver), nos termos do nº 2 do mesmo preceito legal. De referir que os outros criadores que não sejam considerados co-autores mantêm os seus direitos sobre a parte da obra que seja incorporada com a sua autorização (artigos 20º e 23º).

Se este direito é atribuído ao criador intelectual da obra, tal atribuição resulta de um ato simples e puro de atribuição ou necessita de algo mais para esse efeito? Parece que a atribuição do Direito de Autor, necessita para ser eficaz, de um ato de reconhecimento,31 este sim um ato de reconhecimento puro e simples que não implica um registo, um depósito ou uma qualquer outra formalidade.

A determinação do autor pressupõe sempre uma identificação. Essa identificação pode fazer-se de qualquer modo, conforme o artigo 28º. O autor pode identificar-se por um nome, iniciais, pseudónimo ou qualquer outro sinal convencional. Resulta daqui outra presunção, nos termos do artigo 27º, nº 2 que manda considerar-se como autor aquele que tiver sido indicado como tal na obra. No mesmo sentido, a Convenção de Berna no seu artigo 15º, nº 1.

“Este reconhecimento do Direito de Autor não é prejudicado mesmo nos casos em que a obra é subsidiada. Mesmo aqui, aquela pessoa singular ou coletiva que subsidia ou que de outra forma financie de forma total ou em parte uma obra, isto é, que colabore na sua preparação, conclusão, divulgação ou publicação, não adquiriu por esse facto qualquer direito sobre ela, nos termos do artigo 13º do CDADC. Haverá no entanto exceções, quando exista convenção escrita em contrário (como é o caso, por exemplo, do contrato de publicação ou de edição)”.32

A interrogação sobre a identidade do titular originário do Direito de Autor surge, à primeira vista, como um exercício inútil, visto que a resposta natural e verdadeira parece surgir óbvia: o Direito de Autor pertence, pelo menos originariamente, àquele que cria a

30 Assim entendeu o Tribunal de Grande Instance de Paris, na sentença proferida em 9 de Dezembro de 1992, relativa ao caso Société Frances Scott Fitzgerald Smith Trust c. Société Editions l’Age d’Homme et autres, RIDA, 1993, nº 158, p. 279 e seguintes.

31 O reconhecimento do Direito de Autor é feito independentemente de registo, de depósito ou qualquer outra formalidade. É o que dispõe o artigo 12º do CDADC. Significa isto que o reconhecimento dos Direitos de Autor, não necessita de um ato formal próprio ou especifico para produzir os seus efeitos, ao contrário por exemplo do reconhecimento da propriedade industrial (artigo 7º, nº 1 do Código da Propriedade Industrial).

32COSTA, Adalberto, Direito da Propriedade Industrial e Autoral: O Direito de Autor, in Regis Consultorum – Publicações Editoriais, Lda.

(23)

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12 obra intelectual (ou seja o “criador intelectual da obra”33). Do passo seguinte, tudo se sintetizaria nesta fórmula simples: autor é o criador “intelectual” da obra (investido também na titularidade originária do direito). E esta representa a norma universal conforme a Convenção de Berna.34

No entanto, a atribuição da titularidade do Direito de Autor não é assim tão simples nem linear, ou seja, não conhece apenas uma única determinação. A lei atribui exceções, como é o caso dos trabalhos jornalísticos, em que a titularidade do Direito de Autor é determinada por força do que se encontrar acordado, no respetivo contrato assinado por ambas as partes, nos termos do artigo 14º, nº 1 do CDADC, sem prejuízo do regime próprio previsto nos artigos 173º a 175º do CDADC.35

Se do contrato nada mencionar ou especificar quanto à determinação da titularidade do Direito de Autor daquelas obras, a lei presume que a titularidade desse direito pertence ao seu criador intelectual, nos termos do 14º, nº 2 do CDADC.

Contudo, se dessa mesma obra não constar o nome da pessoa que a criou, a lei estabelece outra presunção, presume que o Direito de Autor pertence ou fica a pertencer à entidade por conta da qual a pessoa criou a obra.

Mesmo neste caso, em que a lei presume que o Direito de Autor pertence àquele para quem a obra foi realizada, o criador intelectual da mesma tem o direito de exigir uma remuneração ajustada e uma remuneração especial, conforme o artigo 14º, nº 4 do referido diploma. A remuneração ajustada é adquirida independentemente do facto de a obra ser divulgada ou publicada, ou seja, o autor cria a obra e mesmo que a obra fique guardada numa gaveta, ele tem direito a uma remuneração. A remuneração especial, é obtida quando a criação intelectual transmonte o desempenho da função ou da tarefa que lhe estava confiada e/ou quando da obra vierem a fazer-se utilização diferente mais vantajosa ou dela advirem-se vantagens que não estavam incluídas ou não são tidas em conta na remuneração ajustada, o que significa que, sempre que haja um lucro, uma vantagem económica ou não, o criador da obra tem sempre direito a uma remuneração especial pois foi graças a ele que o titular do Direito de Autor (neste caso, para quem a obra foi realizada) obteve um maior e significativo desempenho.36

Nestes casos especiais de determinação da titularidade do Direito de Autor, em que este direito não pertença ao criador intelectual mas sim a uma entidade para a qual tenha sido criada a obra, esta só poderá ser utilizada para os fins que constam do contrato, limitando-se, por isso, a utilização do Direito de Autor, limitação esta que deve

33 Cf. artigo 11º do CDADC.

34 SÁ E MELLO, Alberto de, Contrato de Direito de Autor: A autonomia contratual na formação do Direito de Autor, Coimbra, Almedina, 2008, p. 45.

35 COSTA, Adalberto, op. cit.

36 COSTA, Adalberto, op. cit.

(24)

13 aliás, resultar do próprio contrato assinado entre as partes. Sendo certo que a lei presume que apenas se transmite a essa entidade a titularidade dos direitos patrimoniais que estejam de acordo com os fins da encomenda (nos termos do artigo 15º do CDADC), oque significa que os demais direitos morais e patrimoniais que não conflituem com os transmitidos a essa entidade continuam a pertencer ao criador intelectual.

“As limitações ao Direito de Autor vão mais longe. Qualquer modificação introduzida na obra, só pode realizar-se desde que o seu autor/criador intelectual dê o seu acordo de forma escrita, e sempre nos termos em que esse acordo é dado37. Por seu lado, o criador da obra, está impedido de fazer uma utilização da obra que cause prejuízo à obtenção dos seus fins, ou seja, o criador intelectual da obra, não pode dar um uso à obra por si criada que desvirtue os fins para os quais ela foi produzida, percebendo-se aqui, que estamos perante uma situação de subordinação do criador intelectual a outrem, pelas formas previstas no artigo 14º do CDADC, ou seja, nos casos em que a obra é feita por encomenda ou por conta de outrem38.”39

Na obra por encomenda, o comitente tem a disponibilidade da obra encomendada, mas não tem a possibilidade de se fazer passar por criador intelectual dela. Aqui, esta em causa a hipótese de alguém ceder originariamente as suas obras.

Há de notar, no entanto, que a obra cinematográfica constitui muitas vezes uma obra derivada, uma vez que é extremamente frequente a cinematização de outras categorias de obras como os romances, as biografias, as obras de banda desenhada, as peças de teatro, as óperas, e os jogos de computador. “Pode até acontecer que a obra cinematográfica derive de outra obra cinematográfica, como acontece com as sequels (continuação de um filme), prequels (estória anterior ao filme), spin-offs (desenvolvimento de personagens acessórias ou de certas partes específicas de um filme), ou reboot (refilmagem do mesmo filme). Neste caso, naturalmente que os direitos que são atribuídos sobre a obra cinematográfica não prejudicam os direitos existentes sobre a obra original”40.

37 Quando aqui se fala em acordo, queremos significar que as partes devam ter escrito as suas vontades em documento escrito que dá ou declara concordância, ou no contrato que eventualmente exista.

38 Uma obra é feita por encomenda ou por conta de outrem, quando não resulta da vontade exclusiva e genuína do seu autor. O autor realiza ou cria a obra porque alguém lho pediu e não porque ele a entendeu produzir. Estamos portanto perante situações em que o autor age em função de um pedido que lhe foi feito, por uma encomenda, ou porque alguém lhe ofereceu um preço para por sua conta lhe realizar uma obra.

39 COSTA, Adalberto, op. cit.

40 MENEZES LEITÃO, op. cit., p. 115.

(25)

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14 3.1. Obra coletiva e obra feita em colaboração

Ainda no que diz respeito à atribuição do Direito de Autor, podemos caracterizar as obras como obra feita em colaboração ou obra coletiva, que podem divergir relativamente ao(s) seu(s) sujeito(s).

Obra feita em colaboração é aquela que resulta da criação de uma pluralidade de pessoas independentemente da forma e da natureza da colaboração, nos termos do artigo 17º, nº 1 do CDADC. Entende-se que resulta do ato criativo de uma pluralidade de pessoas. Só com a existência desses atos criativos se pode dizer que a obra existe, porque existiram atos criativos plurais que a fizeram nascer.

Neste caso, o Direito de Autor da obra feita em colaboração irá pertencer a todos aqueles que contribuíram com o seu ato criativo para a realização da dita obra, sendo o exercício deste direito feito segundo as regras da compropriedade41, presumindo-se, por força da lei, que as partes indivisas dos autores é sempre em partes iguais, salvo havendo estipulação ou acordo escrito em contrário.42

Já a obra coletiva, é aquela que resulta da organização efetuada por uma entidade singular ou coletiva e que é divulgada ou publicada em seu nome, nos termos do artigo 16º, nº 1 b). Não se deve entender aqui que a obra resulta de um ato de organização. Não é isso! Não é isso, porque este ato de organização não cria nem tem em si mesmo nada de intelectualmente criativo que contribua para a realização da obra.

Deve-se, sim, entender que, a obra resulta de um conjunto de atos criativos realizados por um conjunto de pessoas que fizeram convergir cada um dos seus atos criativos para a criação e o nascimento da obra, cabendo a cada um dos intervenientes uma parte maior ou menor na realização ou no resultado final da obra.

Quando a obra intelectual resulta da contribuição criativa dos vários indivíduos e se ache originariamente prevista, então deve considerar-se que a obra foi realizada em colaboração.43

No entanto, “se a obra feita em colaboração for divulgada ou publicada apenas em nome de algum ou alguns dos colaboradores, presume-se, na falta de designação explícita dos demais em qualquer parte da obra, que os não designados cederam os seus direitos àquele ou àqueles em nome de quem a divulgação ou publicação é feita”, nos termos do art.º 17º, nº 3. Temos aqui uma presunção de cessão de direitos de autor, a qual pode, no entanto, ser naturalmente elidida por prova em contrário (art.º 350º, nº 2 CC).

41 Cf. artigo 1403º e ss. do CC.

42 COSTA, Adalberto, op. cit.

43 COSTA, Adalberto, op. cit.

(26)

15 FRANCISCO REBELLO não é defensor desta opinião. Ele entende que não existe aqui nenhuma presunção de cessão, mas apenas uma mera regra sobre o exercício efetivo, da qual não resulta qualquer mudança de titularidade. O autor seria assim representado por quem publica ou divulga mas, à semelhança do que sucede no art.º 30º, poderia a todo o tempo revelar a sua identidade.44

Efetivamente, se o autor de uma peça de teatro ou de uma composição musical deixar espaço para a improvisação dos atores ou dos músicos, os mesmos não são meramente considerados como titulares de direitos conexos, sendo-os antes como verdadeiros autores, uma vez que não se limitam a executar uma obra preexistente, eles vão mais além, eles colaboram com o autor na obra final, ainda que em termos aleatórios, resultante da sua improvisação.45

“Quando a obra feita em colaboração é divulgada ou publicada, apenas em nome de algum ou de alguns dos colaboradores, a lei presume, faltando a designação dos demais colaboradores, que os colaboradores não designados, cederam os seus direitos àquele ou àqueles em nome de quem a divulgação ou publicação está a ser feita. Deve aqui esclarecer-se, que os colaboradores na realização da obra, são apenas aqueles que participaram com a sua criação intelectual na feitura da obra, na sua criação e realização, e não já participaram nos Direitos de Autor, aqueles que apenas se limitaram a auxiliar o autor ou autores da obra, porque estes não gozam nem podem gozar de titularidade dos Direitos de Autor.”46

Surge, então, uma dúvida. Poderão os autores da obra feita em colaboração ter direitos de autor individuais? A resposta não é tão simples como parece ser à primeira vista. Na verdade, a lei permite a qualquer um dos autores da obra poder, se assim o entender, solicitar a divulgação, a publicação, a exploração ou a modificação da obra em que colaborou ativamente com o seu ato criativo. No entanto, os demais diversos autores, podem não concordar com alguma dessa circunstância, entrando, assim, numa situação de conflito.

Quando assim aconteça, em caso de divergência de juízos, esta será resolvida segundo as regras da boa-fé47, nos termos do artigo 18º, nº 1 do CDADC. Não obstante esta circunstância, a qualquer um dos autores, é permitido exercer de forma individual e pessoalmente os direitos respeitantes à sua contribuição pessoal na realização da obra.

Esta possibilidade é apenas permitida quando a contribuição pessoal possa, ou seja, discriminada, conforme o nº 2 do mesmo preceito legal.

44 REBELLO, Luiz Francisco, Código do Direito de Autor e Direitos Conexos, 3ª edição, Lisboa, Âncora, 2002, p. 61.

45 MENEZES LEITÃO, op. cit., p. 110.

46 COSTA, Adalberto, op. cit.

47 Cf. artigos 334º a 340º do CC.

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