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Objeto da Penhora no caso do Direito de Autor da Obra Cinematográfica

No documento A PENHORABILIDADE DO DIREITO DE AUTOR (páginas 61-65)

CAPÍTULO II - PENHORABILIDADE DO DIREITO DE AUTOR DA OBRA

1. Objeto da Penhora

1.3. Objeto da Penhora no caso do Direito de Autor da Obra Cinematográfica

Chegados aqui, concluímos que, sobre a obra cinematográfica incide um Direito de Autor constituído por faculdades morais e patrimoniais, sendo que os patrimoniais (e apenas estes) podem ser alvo de penhora no caso de incumprimento de uma obrigação a que o(s) autor(es) esteja(m) obrigados ao seu cumprimento e que, eventualmente, nada

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pode ter a ver com obrigações jurídicas relacionadas com os direitos da obra cinematográfica dos autores em questão.

Por maioria de razão, serão penhoráveis os rendimentos contratualmente acordados no âmbito de contratos de exploração da obra independentemente da forma da sua determinação ou da periodicidade do seu pagamento. Isto é diferente da penhora do direito patrimonial de autor, por exemplo, no caso do contrato de representação, através do qual o autor de uma obra autoriza um empresário à sua representação cénica, a retribuição poderá revestir qualquer das modalidades a que se refere o artigo 110º do CDADC: o pagamento de uma quantia fixa ou o pagamento de uma percentagem ou de uma quantia fixa sobre a receita de cada espetáculo ou por qualquer outra forma

estabelecida no contrato.133

É nesta fase da dissertação que, iremos fazer referência aos bens jurídicos que serão considerados como objeto de penhora, pois como já referimos acima, podemos estar perante uma penhora de créditos, por assim dizer, ou pela penhora de um direito propriamente dito. Dependendo do objeto em análise, os trâmites para a sua execução serão diferentes.

1.3.1. Direito de crédito resultante da transmissão do direito patrimonial da obra

Neste caso específico, estamos perante uma penhora de um direito de crédito, em que o titular de um Direito de Autor tem o direito a uma retribuição/rendimento pela cedência do seu direito patrimonial a um terceiro.

A penhora dos rendimentos provenientes da autorização para utilização da obra

por terceiro – diremos agora que o Direito de Autor, enquanto direito exclusivo à

exploração económica da obra, seja por si próprio, seja autorizando a sua utilização por terceiros, mediante retribuição, é um direito de carácter não relacional, que incide sobre a coisa incorpórea que é a “obra” e que a sua penhora deverá ser feita por notificação ao

seu titular, com comunicação prévia ao registo134.

De acordo com o artigo 842º, nº 1 CPC (atual 758º do CPC), a penhora abrange as partes integrantes e os frutos naturais ou civis (artigo 212º, nº 2 CC) do bem penhorado.

É o caso da retribuição aos autores da obra cinematográfica por parte do produtor, que é quem detém o direito de exclusivo e de exploração económica da referida obra.

133 Idem, p. 61.

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 Prestação única

Se o Autor recebeu o seu direito através de uma única prestação, pela cedência do seu direito a um terceiro a que normalmente corresponderá a figura do produtor, esta caiu de uma só vez na sua espera jurídica. Por um lado, se o Autor ainda não usufruiu,

em todo ou em parte, dessa retribuição, ainda tem pecúnias desse direito, será

penhorado o valor da dívida.

Mas se, por outro lado, o Autor já usufruiu desses rendimentos, então não há nada a fazer e a dívida não poderá ser cobrada através da penhora do Direito de Autor. Se por alguma circunstância se encontrar outras possibilidades do exequente reaver o seu crédito, o agente de execução procurará penhorar essas possibilidades. Caso contrário, o exequente não terá forma de reaver o ser crédito.

 Prestações Periódicas

Se a retribuição que deriva do Direito de Autor se realiza através de prestações periódicas, estas caem na sua esfera jurídica num determinado período de tempo, acordado entre o autor e o produtor, e o devedor já possui rendimentos que podem ser sujeitos a penhora. A penhora será feita nos mesmos trâmites da penhora de rendimentos, obedecendo aos limites impostos pelo art.º 824º do CPC (atual 738º CPC), que mais à frente faremos reflexão.

1.3.2. Direito da exploração da obra cinematográfica transmitido pelo Autor

Pode acontecer a circunstância de o titular do Direito de Autor ter transmitido o seu direito, na sua totalidade ou apenas uma parte a um terceiro, que normalmente é a figura do produtor, possibilidade conferida pelo artigo 40º do CDADC.

A situação que aqui apresentamos, consiste na hipótese de ser o próprio produtor o executado, que na circunstância de não ter outros bens suscetíveis de penhora, o Agente de Execução seja obrigado a executar o Direito de Exploração propriamente dito ou os rendimentos provenientes do mesmo.

Penhorando-se os rendimentos provenientes da exploração do produtor, trata-se de uma mera penhora de créditos e não se levanta nenhum problema.

Contudo, o credor pode querer penhorar o Direito de Exploração propriamente dito porque o produtor não se esforça o suficiente para obter rendimentos para pagar a divida exequenda, ou simplesmente porque o credor acha que sendo ele ou outra pessoa da sua confiança a produzir a obra obterá mais rapidamente o seu crédito. O problema surge na circunstância de que penhorando-se o Direito de Exploração propriamente dito, entregando a outra pessoa coletiva o direito de produzir a obra cinematográfica, o Direito

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de Autor pode sofrer danos, nomeadamente em termos de venda ou valor cinematográfico, pois não é a mesma coisa a obra ser produzida pela DreamWorks ou por outra entidade produtiva de menor destaque.

Mas será que o Ordenamento Jurídico Português permite esta conjuntura? A legislação expressamente nada diz a este respeito da obra cinematográfica e a doutrina, sobre este caso específico, não se tem pronunciado. Apenas no caso do contrato de

edição, Menezes Leitão135 e Oliveira Ascensão136 defende que a produtora escolhida pelo

autor não pode ceder a sua posição contratual a um terceiro sem prévio consentimento do(s) autor(es) da obra. Isto deve-se ao fato de os direitos e obrigações resultantes do

contrato de edição possuírem uma natureza intuitu personae. As características principais

da figura intuitu personae manifestam-se pela circunstância de as obrigações que decorrem do contrato serem rigorosamente pessoais dos contratantes e estes últimos

não as poderem transmitir. O artigo 100º, nº 1 do CDADC diz isso mesmo, ou seja, o

editor não pode transmitir para outrem os direitos emergentes do contrato de edição, sem consentimento do autor, seja a título gratuito ou oneroso.

Estas são as regras para o contrato de edição, conduto diz-nos o artigo 139º, nº 1 CDADC que se aplica subsidiariamente o regime dos contratos de edição ao regime dos contratos de produção da obra cinematográfica. Isto parece significar que, mesmo que o exequente pretenda executar o Direito de Exploração propriamente dito devido à

natureza intuitu personae, não será possível, pois o mesmo requer a autorização do autor

da obra e, à partida, essa autorização não será adquirida devido aos prejuízos que mencionamos acima de que o autor pode ser sujeito.

Não obstante, pode acontecer que o autor da obra por algum motivo autorize essa transmissão, se chegar à conclusão que não terá qualquer tipo de prejuízos ou se por eventualidade estava a sofrer prejuízos com aquela produtora e a sua transmissão até constituirá uma mais-valia para si. Nesse caso, e desde que haja a autorização de todos os autores da obra cinematográfica, a transmissão pode ocorrer e consequentemente poderá penhorar-se o Direito de Exploração propriamente dito.

135MENEZES LEITÃO, op. cit., p. 206. 136OLIVEIRA ASCENSÃO, op. cit., p. 454.

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1.3.3. Direito de Autor sobre a obra cinematográfica depois de cessar o Direito de Exploração

Neste caso o Direito de Exploração, cedido pelo autor ao produtor durante 25

anos, conforme o art.º 125º e 128º, nº2137 ambos do CDADC, volta à propriedade do

legítimo autor primário. Nesta circunstância, não se constata nenhum impedimento face à penhorabilidade do Direito de Autor. O exequente pode penhorar o Direito de Autor que se encontra novamente na esfera jurídica do autor e tendo capacidade para transmitir ou vender esse direito a um terceiro para que o explore, ou explorá-lo ele próprio, de modo a conseguir obter rendimentos do Direito de Autor, pois é certo que o Direito de Autor propriamente dito não é relevante para o exequente, o que ele pretende é fazer valer aquele direito para que dos rendimentos provenientes possa, desse modo, reaver e saldar o seu crédito.

No documento A PENHORABILIDADE DO DIREITO DE AUTOR (páginas 61-65)