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Os Direitos Morais

No documento A PENHORABILIDADE DO DIREITO DE AUTOR (páginas 40-51)

CAPÍTULO I - DIREITO DE AUTOR NA OBRA CINEMATOGRÁFICA

4. Conteúdo do Direito de Autor: Direitos Patrimoniais e Direitos Morais

4.2. Os Direitos Morais

No direito chamado autorial, fala-se quanto ao seu conteúdo, de “direitos morais

ou de “direitos pessoais”. Vamos analisar, com base no Código dos Direitos de Autor e

dos Direitos Conexos, o que se pode entender por direitos morais, seguindo o seu regime legal.

“O direito moral é o direito que é originado e que portanto nasce da relação entre o ato de criação e o seu criador. Este direito é um direito pessoal que tem a sua origem no reconhecimento que fazemos de que a obra é um prolongamento da personalidade do criador, prolongamento que é constituído por um vínculo entre o autor e a obra por si criada.”81

O direito pessoal de autor nasce com a exteriorização segundo expressão formal criativa da obra intelectual e permanece intransmissível na esfera jurídica do autor - criador, nos termos expressos da lei no artigo 56º, nº 2, simplesmente porque é a este que se reconhece legitimidade para a defesa dos interesses que liga à preservação da obra, como bem jurídico que se destaca da personalidade precisamente com a sua

formalização.82

O direito pessoal é um direito subjetivo que visa a defesa da “personalidade do

autor refletida na obra literária ou artística”83, do “laço pessoal”84, da “relação umbilical”85

entre a obra e o seu criador.

“Os direitos morais (ou de natureza pessoal) acompanham toda a vida do autor e traduzem-se nomeadamente pela possibilidade que o autor tem de vitaliciamente poder exercer o direito de reivindicar a paternidade da sua obra, bem como de assegurar ou procurar assegurar a genuinidade e a integridade da mesma, opondo-se se for caso disso

à sua destruição, mutilação, deformação ou qualquer outra modificação.”86

De um modo geral, o autor pode opor-se a qualquer ato que desvirtue a obra e possa afetar a sua honra e reputação. Além disso, os direitos morais do autor são inalienáveis.

81 COSTA, Adalberto, op. cit.

82 SÁ E MELLO, op. cit., p. 103.

83 ALMEIDA, Geraldo, O direito pessoal de autor no Código de Direitos de Autor e Direitos Conexos, Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Manuel Gomes da Silva, FDUL, Coimbra Editora, 2001, p.1079.

84 PEREIRA, Alexandre Dias, op. cit., p. 463 e 480.

85 ALMEIDA, Geraldo, op. cit., p. 1094. 86 COSTA, Adalberto, op. cit.

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Surge, entretanto uma dúvida. O direito permanecerá na pessoa do autor no caso de obra feita por encomenda ou por conta de outrem, em que o Direito de Autor sobre a mesma seja atribuído ao comitente, nos termos do art.º 14º, nº 1?

A resposta parece ser negativa no sentido em que o criador intelectual admite que o seu nome não conste dela (art.º 14º, nº 3). Para além disso, o criador intelectual não tem o direito de defender a integridade da obra, uma vez que apenas o comitente pode decidir a sua configuração final. Da mesma forma parece não poder exercer os direitos de inédito, de retirada ou de modificação, o que nos leva a concluir que o mesmo não se

torna titular do direito pessoal de autor.87

Em sentido contrário, MACEDO VITORINO, interpreta o art.º 14º, nº 1 como uma

forma de alienação do direito, considerando que o criador intelectual permanece como

titular desses direitos88. Não nos podemos esquecer do limite legal à utilização da obra

(art.º 15º), ou seja, ela apenas pode ser utilizada para os fins a que se propôs, não podendo do mesmo modo ser modificada quando essa modificação prejudique o fim para o qual foi produzida.

Vejamos, se no contrato de encomenda de obra intelectual o Direito de Autor for atribuído ao comitente terá de se considerar este como titular do direito pessoal de autor.

Uma vez atribuído o direito pessoal de autor, ele é inalienável, nos termos do art.º 56º, nº 2, não sendo sequer admitida a alienação de qualquer dos poderes que o integram (art.º 42º). Em consequência, em caso de alienação por ato entre vivos do

Direito de Autor, o adquirente não se torna titular do direito pessoal de autor89.

Este direito é imprescritível, perpetuando-se, após a morte do autor. Direito esse que será exercido pelos seus sucessores, na sua morte, enquanto a obra não cair no domínio público (art.º 57º, nº1).

Quando a obra já tiver caído no domínio público compete então ao Estado, através do Ministério da Cultura, exercer a defesa e a integridade da obra, nos termos do art.º 57º, nº 2.

Daqui podemos tirar uma conclusão. Se a obra já estava no domínio público, nos casos em que o direito patrimonial se pode extinguir logo em vida do autor, os sucessores nada adquirem, porque o art.º 57º, nº 1 determina que os direitos pessoais

dos herdeiros não se estendem a obras no domínio público90.

87 OLIVEIRA ASCENSÃO, op. cit., p. 195.

88 MACEDO VITORINO, op. cit., p. 87.

89 MENEZES LEITÃO, op. cit., p. 117.

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O herdeiro tem faculdades de defesa de momentos éticos ligados à personalidade do autor da sucessão. A ele cabe antes de mais uma posição pessoal, como substituto

do de cuius na posição por este ocupada na sociedade.

Significa isto, que o direito moral do autor, é um direito que não pode ser cedido seja a que título for, não pode ser renunciado, pode ser reclamado a todo o tempo e sem prazo e por último, vale mesmo para depois da morte do seu titular.

É um direito perpétuo, mas poderia pensar-se que o direito só se mantinha enquanto subsistissem direitos patrimoniais, ainda que na titularidade de outrem. Não é assim. Mesmo que os direitos patrimoniais caduquem, o direito pessoal mantém-se.

Assim pode não haver direitos patrimoniais, e haver direito pessoal.

O Direito de Autor, delimitado nos termos expostos, é exercido pelo autor da obra. Uma questão pertinente tem a ver com o exercício do direito moral quando ressalta a sua particularidade de perpetuidade, ou seja, quando se coloca a hipótese de o autor ter falecido. Como será exercido este direito moral?

Por morte do autor, e enquanto a obra não cair no domínio público, o exercício do direito moral cabe às pessoas que por força da lei sucessória, vão suceder ao autor

falecido, assumindo a posição de defensores da obra.91

Pode acontecer de a obra já ter caído no domínio público, nos termos do artigo 38º do CDADC, nomeadamente no que diz respeito à sua genuinidade e integridade e nesse caso irá competir ao Estado, o exercício do Direito de Exploração através do Ministério da Cultura.

Dentro desta circunstância, temos ainda de observar uma situação muito particular e sensível que se manifesta na possibilidade de o autor originário da obra falecer e os seus sucessores nada fizerem para proteger a autenticidade ou a dignidade cultural da obra. Acontecendo esta hipótese e a obra ainda não tendo caído no domínio público, o Ministério da Cultura pode chamar a si a defesa dos direitos morais da obra, concretamente quanto à sua autenticidade ou dignidade cultural, sendo certo que esta possibilidade apenas se verifica no caso de os sucessores, sendo devidamente

notificados, abdicarem de exercer o direito que lhes assiste.92

A inalienabilidade é outra manifestação do carácter pessoal destes direitos. O que este preceito proíbe é a própria cessão dos direitos, de modo a que o titular originário deles fique despojado. Ou seja, fica excluída a transferência desses direitos a terceiros, mas não uma licença que permita a um terceiro uma intervenção que não exclua a

91 Para o efeito é de v. os artigos, 2024º a 2074º, 2079º a 2096º, 2131º a 2138º, 2139º a 2146º, 2147 a 2148º, 2152º a 2155º, 2156º a 2178º, 2179º a 2187º, todos do CC.

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atuação do próprio autor. Pode assim, o autor consentir numa intervenção de terceiro no exercício destes direitos.

Da mesma forma, não pode o autor renunciar ao seu direito pessoal em relação a uma obra. Contudo, admite-se renúncias limitadas, em relação a uma determinada manifestação. Assim, o autor pode renunciar a exercer em determinada hipótese o direito

à integridade da obra93.

Relativamente à imprescritibilidade, os direitos pessoais não prescrevem, por mais prolongada no tempo que seja a sua violação e o seu não exercício. A todo o momento se pode fazer cessar um estado que atinja pessoalmente o autor, por mais omisso que ele tenha sido. Mas se o autor se acomodou com um fato violador do seu direito, não poderá, anos depois, vir exigir a cessação do mesmo.

No âmbito dos direitos morais, surge um problema que se traduz especificamente na questão de atribuição do direito pessoal nas obras coletivas. Sobre este assunto Oliveira de Ascensão defende: “a empresa é o verdadeiro titular do Direito de Autor. E titular originário: é ficcioso pretender uma transferência de direitos, dos criadores intelectuais para essa empresa. A obra coletiva é uma unidade e sobre essa só há Direito

de Autor da empresa, embora a empresa não seja um criador intelectual”94.

Conclui, porém: “Mas a empresa não tem direitos pessoais. Estes (…) tutelam a

pessoa do criador da obra intelectual. Seriam deslocados em relação a uma empresa”95.

Segundo este raciocínio, o direito pessoal cabe apenas ao criador intelectual que for também originário. Qualquer outra entidade não tem o direito pessoal, mesmo quando

lhe couber a titularidade originária.96

Contudo, «O direito moral dos colaboradores sobre a sua contribuição (na obra coletiva) poderia ameaçar a situação dos direitos na obra coletiva. Mas a jurisprudência decidiu que este tem o seu limite natural na “necessária harmonização da obra na sua totalidade”»97.

Na obra cinematográfica, todos os autores têm um direito pessoal sobre a obra, na parte em que contribuíram. O argumentista tem um direito moral sobre o argumento, a banda musical tem um direito moral sobre a música, etc. Mais abaixo esta especificidade será mais aprofundada.

93 OLIVEIRA ASCENSÃO, op. cit., p. 193 e 194.

94 OLIVEIRA ASCENSÃO, op. cit., p. 126 e 127.

95 OLIVEIRA ASCENSÃO, op. cit., p. 127.

96 OLIVEIRA ASCENSÃO, op. cit., p. 196.

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4.2.1. Direito ao inédito

Diz respeito à liberdade de criação que se caracteriza como um direito fundamental, previsto no artigo 42º, nº 1 da CRP. Não se trata de um Direito de Autor, uma vez que antes da criação não há ainda obra, e só esta é objeto do Direito de Autor.

Com a criação, surge o Direito de Autor. E o autor tem o direito pessoal de dar a conhecer ou não a sua obra. É uma derivação básica da tutela da personalidade. Ninguém é obrigado a publicar os versos que escreveu quando estava triste, bêbado ou deprimido.

Assim, “é lícito ao pintor que não goste do seu quadro não o divulgar, ou ao

compositor manter o seu soneto em segredo. Se alguém abusivamente os divulgar, o autor pode exigir a apreensão de todos os exemplares, assim como a aplicação das

sanções que a lei prevê”.98

O autor ao divulgar ou publicar a sua obra está a auto-responsabilizar-se perante o público, situação que lhe poderá trazer consequências para toda a sua vida. Assim sendo, e como não poderia deixar de ser, só a ele cabe a decisão de quebrar o inédito e

divulgar uma obra, a criação é sua, logo não pode ser obrigado a divulgar a obra.99

Este direito é por vezes, confundido ou comparado com o direito de publicação, que representaria a outra face do direito ao inédito. Contra a corrente que identifica o

direito ao inédito e o direito de divulgação, GERALDO ALMEIDA100, defende que o “direito ao

inédito é um direito pessoal, ao passo que o direito de divulgação é um direito de

natureza patrimonial.”. Também FRANCISCO REBELLO101, considera esta identificação

errada.

O direito ao inédito encontra-se pressuposto no art.º 6º ao estabelecer o requisito de a publicação da obra ter que ser realizada com o consentimento do autor e a sua divulgação ser efetuada licitamente.

Este direito cabe apenas ao criador intelectual e não se estende aos adquirentes sucessivos do autor, nem ao titular originário se este não for o titular originário. Em

sentido contrário, FRANCISCO REBELLO102 defende que o direito ao inédito não cabe

exclusivamente ao criador intelectual, estende‐se aos sucessores do autor, a quem cabe

o exercício dos direitos morais após a morte do autor e até à queda da obra no domínio público, e também ao comitente no caso das obras encomendadas ou executadas por

98 OLIVEIRA ASCENSÃO, op. cit., p. 170.

99 ALMEIDA, Geraldo, op. cit., p. 1095 e 1099.

100 ALMEIDA, Geraldo, op. cit, p. 1095.

101 REBELLO, Francisco, op. cit., p. 159.

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conta de outrem. Segundo o autor, a estes cabe a decisão sobre a utilização das obras do autor ainda não divulgadas ou publicadas.

Os sucessores do Direito de Autor, entre vivos ou mortis causa, “têm o direito de

publicar ou não publicar a obra, mas esse direito é um direito patrimonial, que surge

como condição para a exploração dos direitos, e não um direito pessoal”103.

A violação do inédito é sancionada no artigo 195º, nº 2 alínea a) como usurpação. No caso de obra realizada sob encomenda ou por conta de outrem, em que o Direito de Autor seja atribuído ao comitente (art.º 14º) será naturalmente ele o titular do direito ao inédito, podendo decidir se e quando deve quebrar o inédito. Da mesma forma, se o criador intelectual proceder à alienação do seu Direito de Autor sobre a obra (art.º 44º), naturalmente que o direito ao inédito passa a competir ao adquirente. Só após a morte do criador intelectual, o direito de inédito passa a competir aos seus sucessores,

que poderão livremente decidir efetuar ou não a publicação da obra (art.º 70º, nº 1).104

FRANCISCO REBELLO é do entendimento que não será lícito aos sucessores proceder à publicação ou divulgação da obra que o próprio autor tenha pretendido manter inédita.105

No caso da obra Cinematográfica, como ela só se encontra concluída, depois de se estabelecer a versão definitiva (artigo 130º do CDADC), ou seja, depois de “juntos” todos os direitos de autor nela existentes, somos do entendimento que o direito ao inédito fique agora na titularidade do produtor, já que é a ele que compete o Direito de Exploração económica da obra, como vimos anteriormente.

4.2.2. Direito ao nome

O direito ao nome é um direito de personalidade e não um direito do autor.

Direito pessoal do autor é apenas o direito à menção da designação (art.º 76º, nº 1 a) do CDADC). Supõe-se uma obra concreta e reclama-se que na utilização dela o nome do autor seja indicado.

Este direito refere-se ao facto de o autor da obra ter, nessa qualidade, o seu nome, pseudónimo ou sinal convencional indicado ou anunciado na utilização da obra.

Tutela em primeira linha interesses morais, muito embora o autor o possa utilizar com o propósito de publicidade ou qualquer outro. Manifesta-se, mais gritantemente, em

caso de utilização da obra por terceiros.106

103 FERRI, apud OLIVEIRA ASCENSÃO, op. cit., p. 171.

104 MENEZES LEITÃO, op. cit., p. 148 e 149.

105 FRANSCISCO REBELLO, op. cit., p. 160.

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A violação do direito ao nome é prevista por lei com uma contra-ordenação pelo artigo 205º, nº 2.

O exercício deste direito pode ser afastado através de convenção entre as partes ou pela própria natureza da utilização. Seria um pouco incompreensível, por exemplo, que o indivíduo que compôs o fundo musical de um anúncio de televisão exigisse que do anúncio constasse também a indicação do seu nome.

O direito à menção do nome pode ser igualmente exercido em termos negativos, podendo o autor recusar que o seu nome conste da obra, quando ela tenha sido licitamente modificada por terceiros, em termos que a desvirtuem e o autor já não a considere como sua criação original. Essa situação encontra-se expressamente prevista no art.º 60º, nº 3, em relação à obra arquitetónica.

No caso de obra feita sob encomenda, o fato de o nome do criador da obra não aparecer mencionado nesta constitui presunção de que o Direito de Autor é atribuído ao comitente (art.º 14º, nº 3).

No caso da obra em colaboração, o fato de ela ser publicada apenas em nome de algum ou alguns colaboradores constitui presunção de que os outros lhes cederam os respetivos direitos (art.º 17º, nº 3).

Na obra cinematográfica, como os autores transferiram os seus direitos para a pessoa do produtor (artigos 127º e 128º do CDADC), é a este que cabe o direito ao nome (artigo 126º, nº 2 do CDADC). Não obstante, os autores e co-autores da obra têm o direito de exigir que os seus nomes sejam identificados na projeção do filme assim como a sua contribuição para o mesmo (artigo 134º, nº 1 do CDADC), aliás como já é prática corrente.

4.2.3. Direito à paternidade

A nossa lei, na generalidade, refere-se a este direito como no “direito a reivindicar a paternidade da obra” (artigos 9º, nº 3 e 56º, nº 1).

Este direito é exercido perante situações em que a autoria não é conhecida, ou é contestada ou se encontra a ser abusivamente invocada por outrem. Nessas situações, tem naturalmente o autor direito a que a autoria lhe seja reconhecida, cessando concomitantemente a contestação ou invocação abusiva de terceiro.

É possível também nas situações em que a autoria do autor é desconhecida como, por exemplo, no caso de o autor publicar a obra anonimamente ou sob pseudónimo (art.º 30º, nº 1). Neste caso, dá-se sempre ao autor a possibilidade de a todo o tempo revelar a sua identidade e a autoria da obra (art.º 30º, nº 2).

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Relativamente à obra feita sob encomenda ou por conta de outrem, em que o Direito de Autor seja atribuído ao comitente (art.º 14º, nº 3), ou no caso de obra feita em colaboração, em que o Direito de Autor seja atribuído apenas a alguns dos colaboradores (art.º 17º, nº 3), o criador intelectual não terá direito a reivindicar a paternidade da obra, em desconformidade com o que foi convencionado, uma vez que os direitos de autor

sobre a mesma não lhe foram atribuídos.107

OLIVEIRA ASCENSÃO, defende que o criador intelectual não pode despojar-se do seu direito em benefício de um não criador intelectual, uma vez que tal violaria o

interesse público no conhecimento da autoria da obra.108

Este direito está diretamente associado à ação de reivindicação (artigo 2279º CC) em que a causa de pedir é o Direito de Autor e o pedido será a cessação da utilização abusiva. Pode acontecer, porém, o autor, mesmo depois de o seu direito ser reconhecido pelo opositor, consentir na continuação da utilização pela outra parte, mas com a devida indicação da autoria.

A reivindicação do direito à paternidade da obra tem uma componente negativa, que é a faculdade de repudiar a autoria das obras, que sejam indevidamente atribuídas ao autor. A lei prevê expressamente esta possibilidade no art.º 60º, nº 3.

A pretensão do autor, dada a prevalência das razões pessoais, será vitoriosa, muito embora fique obrigado à indeminização de perdas e danos em benefício daquele com quem contratou.

A violação intencional deste direito corresponde ao crime de contrafação (artigo

196º), porque alguém utiliza obra alheia como criação própria.109

Relativamente à obra cinematográfica, o direito à paternidade corresponderá à entidade do produtor, já que a ele foram transferidos os direitos de autor. Contudo, se este proceder de forma indigente, os autores podem arrogar-se titulares desses direitos.

4.2.4. Direito à integridade da obra

Este direito acompanha o autor da obra durante toda a sua vida, tendo este o direito de assegurar a genuinidade e integridade desta, podendo opor-se à sua destruição, a toda e qualquer mutilação, deformação ou modificação, bem como e de um modo geral, opor-se a todo e qualquer ato que desvirtue a obra e possa afetar a honra e reputação do autor, nos termos dos artigos 9º, nº 3 e 56º, nº 1.

107 MENEZES LEITÃO, op. cit., p. 152.

108 OLIVEIRA ASCENSÃO, op. cit., p. 111 e 112.

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Falamos em atos que agridam a obra ou o próprio autor, e em primeiro lugar, atos que destruam a obra.

Não estamos perante todas e quaisquer modificações, mas apenas aquelas que prejudiquem a obra ou atinjam a honra ou a reputação do autor, essas sim são consideradas violações da integridade da obra.

O autor não poderá invocar o direito à integridade da obra em casos em que não esteja em causa a sua reputação ou honra, ou em que a obra não possa sair prejudicada. A lei quer evitar oposições conduzidas pelo autor unicamente com o intuito de extorquir dos utentes um pagamento suplementar, e evita-o pelo estabelecimento de um critério ético, destinado a excluir todo o arbítrio.

O direito de integridade da obra pretende evitar que esta possa ser mutilada, transformada ou genericamente modificada por terceiro, mesmo que a modificação seja de ordem a melhorar o original ou permitir o seu melhor aproveitamento comercial.

Este direito é um direito do autor da obra que é inalienável, irrenunciável e imprescritível, nos termos do artigo 56º, nº 1 e 2 do CDADC.

É do interesse do produtor, relativamente à obra Cinematográfica, manter a integridade da obra, direito pessoal que foi transmitido pelos autores da obra. Quando este direito do produtor caduca, o Direito de Autor regressa para a titularidade plena dos autores originais.

4.2.5. Direito de modificação

“Um aspeto particularmente interessante quanto ao exercício dos direitos morais,

é o da divulgação da obra “ne varietur”, ou seja, “ para que nada seja mudado”.

Assim, no caso de o autor da obra, a ter revisto no todo ou em parte e ter feito a sua divulgação ou publicação (mesmo através de autorização prévia), esta obra não poderá nunca mais ser reproduzida pelos seus sucessores ou por terceiros em qualquer

uma das versões anteriores da obra.”110

O direito de modificação não se pode transferir em consequência da cessão total,

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