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Direito comparado

No documento Sucessão no direito homoafetivo (páginas 41-46)

O direito comparado servirá de guia para que haja uma visão de como os países comportam-se diante dos relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo. Sabe-se que o direito não é igual em todos os cantos do mundo, cada país possui suas próprias leis e seus devidos tratamentos.

Ao adentrar no estudo do referido instituto precisa-se de entendimento de como os doutrinadores o dividem. Vale-se especialmente de Vecchiatti (2008, p. 568) ao prevenir que os países dividem-se em três grandes blocos, os de “extrema repressão, os intermediários e os de modelo expandido.”

Países de extrema repressão são aqueles que não permitem de modo algum que homossexuais tenham uma relação de afeto, exemplificado pelos países islâmicos (VECCHIATTI, 2008).

Os países classificados como intermediários, que não proíbem o relacionamento afetivo entre pessoas do mesmo sexo, mas também não regulamentam em dispositivos legais tais envolvimentos, países estes guiados pelo princípio da não-discriminação, aqui se inclui o Brasil. (VECCHIATTI, 2008).

Por fim, classificam-se como países de modelo expandido os que não consideram a homossexualidade um ato ilícito e desse modo regulamentam os envolvimentos afetivos

mantidos entre pessoas do mesmo sexo, servindo como exemplo a França, Holanda, Canadá e Espanha (VECCHIATTI, 2008).

Conforme as ponderações de Dias (2011a), a Holanda foi o primeiro país a permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo no ano de 2001, e a Argentina seguiu o exemplo em 2010 autorizando-o também, passando a ser, o único país da América Latina a permitir o casamento.

De acordo com Marianna Chaves (2011), os seguintes países tecem algumas considerações legislativas acerca dos relacionamentos homoafetivos: Alemanha, Andorra, Argentina25, Colômbia, Croácia, Dinamarca, Eslovênia, Califórnia, Colorado, Distrito de Colúmbia, Havaí, Maíne, Nova Jersey, Nevada, Oregon, Vermont, Washington, Wisconsin, Finlândia, França, Groelândia, Holanda, Hungria, EUA, Islândia, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Reino Unido, República Tcheca, Suécia, Suíça e Uruguai.

Para não soar substancial, se tecerá alguns comentários que sejam relevantes para o presente estudo acerca dos países mencionados acima.

A Alemanha adotou uma legislação abordando vários aspectos dos relacionamentos homoafetivos, dentre eles, destaca-se sobre o suporte no que se refere à dissolução da sociedade conjugal e à guarda dos filhos. Já Andorra permite em sua legislação desde o ano de 2005 que as uniões homoafetivas sejam reconhecidas, ou seja, podem ser registradas. (CHAVES, 2011).

Conforme Chaves (2011), na Colômbia o tratamento foi bem mais amplo. Em janeiro de 2009 o seu Tribunal outorgou os mesmos direitos aplicados aos heterossexuais, para os homossexuais, sem nenhuma espécie de distinção e discriminação. Anteriormente, em 2003 a Croácia já havia concedido os mesmos direitos aos homossexuais.

A Dinamarca se portou diferentemente, como explora Chaves (2011, p. 50):

25 É importante frisar conforme destaca Chaves (2011) que na Argentina, as uniões entre pessoas do mesmo sexo

só é reconhecida em Buenos Aires, Rio Negro e Villa Carlos Paz, sendo o primeiro país da América Latina a reconhecer o casamento civil entre tais relacionamentos.

No ano de 1989 a Dinamarca se tornou um pioneiro no campo do direito das famílias ao ser o primeiro país a introduzir normativa que versasse sobre as uniões homoafetivas. A Lei 372, de 7 de Junho conhecida como Danish Registered Partener-ship Act for some-sex couples, que na versão original de 1989 trazia os mesmos direitos e obrigações que o casamento, excetuando-se alguns pontos, como: o direito a casar-se em uma Igreja estatal e o direito a adoção conjunta ou guarda conjunta.

Desde 2006, a Eslovênia possui um tratamento acerca dos relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo um tanto quanto precária, pois somente trata de forma muito defasada as relações patrimoniais, obrigação alimentar e alguns direitos sucessórios (CHAVES, 2011).

Em 2005, a Califórnia promulgou uma lei que ampliava o direito dos parceiros. Em Julho de 2009, o Colorado fez um esquema diferente para tratar os relacionamentos homoafetivos, como bem destaca Chaves (2011, p 52):

[...] esquema denominado de acordo de beneficiários [pois os direitos eram aplicados de forma limitada], como tomar decisões relativas ao funeral do parceiro, receber pensão por morte, herança sem a existência de um testamento. A lei também vale para a compra de bens imóveis, decisões médicas e certos benefícios como seguro de vida e pagamentos de planos de previdência privada.

Em abril de 2006, o Distrito de Colúmbia garantiu que todos os parceiros domésticos teriam os mesmos direitos reconhecidos em sua relação, de forma igualitária aqueles concedidos aos cônjuges e estendidos da mesma maneira as relações homoafetivas (CHAVES, 2011).

O Havaí adotou a forma dos beneficiários recíprocos para o tratamento dos relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo. Já Maíne, em Julho de 2004, passou a permitir que se registrassem as parcerias domésticas, conforme aduz Chaves (2011).

Em dezembro de 2006 o Estado de Nova Jersey como bem sedimenta Chaves (2011,

p. 54) “passou a figurar no rol dos Estados onde os Direitos dos casais homossexuais são

análogos e equivalentes aos direitos dos cônjuges.”

A lei de Oregon abrange os benefícios relacionados com direitos de herança; custódia e criação de filhos; declaração fiscal conjunta; possibilidade de o parceiro ser beneficiário de seguro de saúde; possibilidade de seguro de automóvel e casa conjunto; visitação em hospitais e outros direitos. Entretanto, os direitos da esfera federal não são atingidos, como, por exemplo, a Seguridade Social.

Nesta vertente, a partir de 1999, Vermont declarou que os relacionamentos homossexuais teriam as mesmas vantagens dos heterossexuais. Em julho de 2007, Washington regulamentou as parcerias domésticas registradas. Coube a Wisconsin desde 2009, também ter suas parcerias domésticas legalizadas. Em 2002 na Finlândia, entrava em vigor a Lei que possibilitava registrar as parcerias civis (CHAVES, 2011).

A partir de 1999, na França, permitiu-se que pessoas de mesmo ou diversos sexos, maiores de idade, perfeitamente pactuarem sobre como iriam organizar suas vidas, através de um contrato solene. Em 1994, a Groenlândia adotou a parceria registrada, assim como em 1996 foi a vez da Islândia adotá-la, seguida da Holanda em 1997 e do Luxemburgo em 2004, destaca Chaves (2011).

A Hungria foi mais além quando adotou a parceria registrada, pois como destaca Chaves (2011, p. 58):

A parceria registrada pode terminar por morte de um dos parceiros, pela via judicial ou pode-se, ainda, recorrer ao notariado, o que garante um procedimento mais celebre e flexível, opção não existente para se pôr termo a um casamento. No caso de morte, o parceiro possui os mesmos direitos sucessórios que o cônjuge supérstite.

Em 2006, o México legitimou a sociedade de convivência como bem referenda Chaves (2011, p. 60), pois ocorria “quando duas pessoas físicas, com capacidade jurídica plena, decidem viver em um lugar comum, com intuito de permanência e ajuda mutua.”

Em 1993, segundo Chaves (2011), a Noruega editou uma Lei que possibilitava que duas pessoas do mesmo sexo poderiam registrar sua parceria, porém uma delas deveria ser norueguês e residir no país e ambos maiores de idade e não terem nenhum parentesco entre si.

A Nova Zelândia adotou dois tratamentos aos referidos relacionamentos, o primeiro veio tratando sobre os direitos destinados a propriedade e obrigações e o segundo abordava o direito sucessório que seria análogo ao dos cônjuges (CHAVES, 2011).

De acordo com Chaves (2011), o Reino Unido em 2004 regulamentou a parceria civil entre os homossexuais surtindo os mesmos efeitos do casamento, porém sem fazer nenhuma equiparação a ambos os institutos.

Em 1995 entrava em vigor na Suécia a Lei de Parceria Registrada, já aprovada em 2006 na República Tcheca e em 2007, em vigor na Suíça (CHAVES, 2011).

Assinala-se através de Chaves (2011, p. 63) que no Uruguai:

No final do ano de 2007 a lei foi promulgada pelo Presidente da República, Tabaré Vasquez, e entrou em vigor na primeira semana de 2008, passando a regular os direitos e obrigações daqueles que estejam juntos, ininterruptamente, por mais de cinco anos, sejam homo ou heterossexuais. A lei versa sobre regime e divisão de bens (em caso de dissolução), direitos sucessórios, direito à pensão por falecimento e outras disposições previdenciárias. Assim, o Uruguai se tornou o primeiro país latino-americano a ter uma normativa de regulamentação das uniões homoafetivas, de âmbito nacional.

Mostra-se outro ponto relevante que em Israel não é reconhecida a união entre pessoas do mesmo sexo e muito menos nunca se criou legislação para beneficiar tais relações, pois é um país governado pela religião ortodoxa.

Como se viu nesse item, vários países são adeptos a algum tipo de tratamento no tocante aos relacionamentos envolvendo pessoas do mesmo sexo. Apesar de não tutelarem a respeito de todos os direitos, ao menos, já consagram alguns, como o reconhecimento do casamento homossexual. Sem dúvida, o ideal seria que todos os países estivessem classificados como adeptos do modelo expandido. Assim, um tratamento justo e igualitário se estenderia a todos sem nenhuma espécie de discriminação.

Claro fica que, o tema não se esgota por aqui, outras questões mais polêmicas ainda precisam ser sanadas como é o caso da sucessão hereditária entre pessoas do mesmo sexo e isto será abordado no capítulo seguinte.

3 RELAÇÕES HOMOAFETIVAS E DIREITO SUCESSÓRIO

Percorreu-se durante o trabalho sobre como a sociedade vê a homossexualidade e principalmente no que diz respeito ao respaldo jurisdicional. Denota-se a constante discriminação por sua orientação sexual por ser considerada uma anomalia. Desse modo, os legisladores rejeitaram a concessão de direitos aos homossexuais por receio de seus eleitores e inseridos em uma sociedade preconceituosa e heterossexista, se distanciaram do Estado que se diz Democrático de Direito e laico.

Mostrou-se também toda a base histórica dos relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, passando da união ao casamento e de suas possibilidades de reconhecerem tais institutos aos homossexuais, além de terem a oportunidade de escolherem de como viverão essa união e disponibilizada a possibilidade de sua dissolução, ou seja, trilhou-se toda uma lógica de envolvimento entre tais pessoas para chegar-se ao fim, através do rompimento do vinculo afetivo pelo falecimento de uma das partes.

O presente capítulo possui o condão de discutir a respeito da legitimidade e consequentemente da possibilidade dos companheiros(as) envolvidos em um relacionamento homoafetivo de poderem ou não serem partes em uma sucessão de direitos quando do rompimento de tal relacionamento por causas naturais.

Além do mais, far-se-á uma análise jurisprudencial sobre tais direitos envolvendo os homossexuais para que se demonstre a base de como o judiciário brasileiro se porta perante tais acontecimentos. Outrossim, começa-se o presente estudo com o esclarecimento acerca da sucessão como um instituto geral para que assim se faça uma análise do mesmo relacionada aos envolvimentos entre pessoas do mesmo sexo. É o que expõe a seguir.

No documento Sucessão no direito homoafetivo (páginas 41-46)

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