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Capítulo 2 Políticas de Atração de Investimentos: O Brasil

2.2 O Brasil e a regulamentação em IEDs

2.2.3 Direito Integracional e Internacional

2.2.3.2 Direito Internacional

Um importante aspecto relacionado com os IEDs, e obviamente intrinsecamente ligado com a sua natureza (afinal os IEDs consistem em uma relação internacional entre pessoas e países) é a grande influência do Direito Internacional. Porém, ao que parece, no Brasil a influência é mínima, já que pelo que se observa, em questões que afetem sua capacidade de decisão em política econômica, não existem acordos internacionais vigentes e nenhuma vinculação à regras internacionais no tocante a IEDs.

Outro fator relevante nasce da análise do cenário internacional corrente. Dado o fracasso em negociações coletivas e por isso, possivelmente instituidoras de normas e regramentos mais gerais, como é o caso, por exemplo, dos fracassos de negociações no âmbito da OMC, ou o fracasso da ALCA, os países desenvolvidos têm optado por normatizar suas relações econômicas com outros países, através de regramentos mais específicos, representados pelos acordos bilaterais. Nesse ponto, parece ser uma tendência geral dos países desenvolvidos se desviarem de negociações multilaterais dando preferência para aquelas bilaterais.

Em IEDs a realidade não é diferente. Os BITs, ou acordos bilaterais de investimento têm se tornado a maneira mais utilizada de se celebrar um acordo sobre investimentos. Segundo a Unctad (2004), haviam, no mundo, cerca de 2.316 BITs celebrados até o fim de 2003.

E, dentro desse total, o Brasil assinou 14 Acordos de Promoção e Proteção de Investimentos. Levando-se em consideração a posição do Brasil, como grande receptor de IEDs, esse número é irrelevante. Mas, mudando-se o foco da análise, esse dado passa a ser relevante a partir do momento em que se verifica que nenhum desses acordos está em vigor.

Seis desses BITs, negociados com o Chile, França, Alemanha, Portugal, Reino Unido e Suíça, não obtiveram aprovação no Congresso Nacional e por isso não foram ratificados. O principal motivo elencado pelo legislativo como justificativa para a negativa de aprovação se deu

com base no princípio da igualdade de tratamento entre investidor nacional e investidor estrangeiro. Nesse sentido, a previsão, sempre presente nos BITs, de solução de controvérsias entre investidor estrangeiro e Estado receptor do investimento se dando em âmbitos internacionais de arbitragem (principalmente ICSID), seria contra a Constituição, pois ofereceria vantagens aos investidores estrangeiros não extensíveis aos nacionais111.

Os outros oito BITs, negociados com Bélgica, Cuba, Dinamarca, Finlândia, Itália, Holanda, Coréia do Sul e Venezuela nem chegaram a ser enviados ao congresso para aprovação. Desde 1999 o Brasil não assinou nenhum novo BIT.

Isso é importante porque mostra o pouco interesse da política nacional em relação a esse tipo de acordo112. Mostra também que ainda existem dúvidas acerca dos benefícios trazidos com esse tipo de acordo bilateral liberalizante, no tocante à recepção de IEDs, já que o Brasil, mesmo sem fazer parte de nenhum BIT que esteja em vigor113, é um dos maiores receptores mundiais de IEDs.

Outro importante indicativo são os tratados contra bi-tributação. O Brasil possui 22 tratados desse tipo devidamente ratificados, concluídos com: Alemanha (Dec n°. 76.988/76), Argentina (Dec n°. 87.976/82); Áustria (Dec. 78.107/76); Bélgica (Dec. 72.542/73); Canadá (Dec. n°. 92.318/86); China (Dec n°. 762/93); Coréia do Sul (Dec n°. 354/91); Dinamarca (Dec n°. 75.106/74); Equador (Dec n°. 95.717/88); Espanha (Dec n°. 76.975/76); Filipinas (Dec n°. 241/91); Finlândia (Dec n°. 2.465/98); França (Dec n°. 70.506/72); Holanda (Dec n°. 355/91); Hungria (Dec n°. 53/91); Índia (Dec n°. 510/92); Itália (Dec n°.

111 Nesse sentido: Stern (2003); sítio do ICSID na internet: www.worldbank.org/icsid/

112 Verifica-se em alguns caso uma verdadeira aversão à eventual influência normativa externa

no direito nacional.

113 Na realidade existe um tratado de investimentos em vigor. É o acordo de garantia de

investimentos com os Estados Unidos, incorporado no Brasil pelo Decreto Presidencial nº 57.943, de 10 de março de 1966.

85.985/81); Japão (Dec n°. 81.194/78); Luxemburgo (Dec n°. 85.450/80); Noruega (Dec n°. 86.710/81); República Tcheca (Dec n°. 43/91); Suécia (Dec n°. 77.053/76).

Em nível multilateral, pode-se dizer que o único acordo que eventualmente surtiria algum efeito sobre o Brasil, já que é Estado- membro da Organização Mundial do Comércio, seria o TRIMs (

Trade

Related Investment Measures

), acordo multilateral da OMC que busca a eliminação das restrições ao comércio e a facilitação da entrada de capital estrangeiro, conforme a ótica liberal da OMC (SILVEIRA, 2002). Porém, esse acordo ainda não produz efeitos, e, ao que parece, pode nunca produzir, já que as negociações na OMC estão engessadas pela questão dos subsídios agrícolas.

Além do que, conforme salienta Silveira (2002, p. 194):

“Verifica-se que o acordo TRIMs por ora contempla apenas os interesses e objetivos individuais das nações desenvolvidas. Ao deixar de condenar as práticas abusivas das empresas transnacionais, mas simultaneamente vedando a adoção das medidas que as evitam pelos países hospedeiros, o TRIMs acaba refletindo de forma exclusiva os interesses unilaterais dos exportadores de capital”.

Além disso, salienta-se (SAIE, 2002) que o Brasil não é parte em outros acordos internacionais com influência sobre os IEDs, seja direta ou indireta. Seriam eles: a) BIT com os EUA; b) Acordo contra bi-tributação com os Estados Unidos; c) Convenção Interamericana contra a Corrupção; d) Convenção de Nova Iorque sobre Reconhecimento e Cumprimento de Laudos Arbitrais Estrangeiros.

Não se pode deixar de lembrar que o Brasil também não é parte da Convenção de Washington, que criou o ICSID (

International Centre for

Settlement of Investments Dispute).

Esse organismo, ligado ao Banco Mundial, é o foro arbitral internacional que tem se tornado a vedete na solução de disputas entre Estados e investidores estrangeiros. Conforme

já discutido, a vinculação ao Protocolo de Buenos Aires submeteria o Brasil a esse organismo.

Assim, resta saber quais são as tendências da política econômica brasileira (da política como um todo), pois não se observa nenhuma vinculação nacional direta com os regramentos internacionais sobre o tema. Importante é salientar que apesar da vinculação brasileira com as chamadas “metas do FMI”, que provocaram mudanças significativas na política econômica, isso parece, ainda, pouco interferir nas tendências nacionais de regramentos sobre investimentos, do contrário, era de se esperar que o Brasil já fosse parte do ICSID.