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2.2 O Estatuto da Criança e do Adolescente – Doutrina da Proteção

2.2.1 Direitos fundamentais assegurados à criança: art 227 da CF/88

Se CF/88 assegura todos os direitos supratrabalhados, não há dúvida de que os bebês, filhos das mães presidiárias, estão incluídos na proteção integral, em cumprimento às normas constitucionais e legais de proteção à amamentação.

Como já mencionado anteriormente, o art. 227 da CF/88 versa sobre a tutela da criança e do adolescente, eis que dispõe que os direitos dos menores são deveres do Estado, da família e da sociedade, ou seja, o referido artigo define a tutela da infância e da juventude como um dever de todos.

Cumpre destacar, mais uma vez, a necessidade de haver harmonização entre os interesses da criança e do adolescente, bem como parceria entre o Estado, a família e a sociedade, os quais precisam ser considerados na totalidade da dinâmica do processo de cumprimento dos dispositivos constitucionais e legais quanto aos direitos fundamentais. Nesse cenário, a CF/88 enfatiza de forma priorizada a defesa dos direitos humanos, de maneira que é possível perceber o extenso rol de direitos fundamentais inseridos na Lei Maior, onde estão compreendidos os direitos civis, políticos e sociais.

As lições de Martha de Toledo Machado aduzem que

[…] em relação aos direitos fundamentais de crianças e adolescentes, a Constituição de 1988 superou a dicotomia entre estas “classes” de direitos fundamentais, conformando-os estruturalmente de maneira toda particular e diversa daquela pela qual vêm conformados os direitos fundamentais dos adultos, visando atingir efetivamente proteção mais abrangente aos primeiros. E essa superação deu-se justamente por conformar direitos fundamentais de crianças e adolescentes da mesma maneira, qual seja, fazendo com que produzam essencialmente obrigações de natureza comissiva, e não meramente omissiva, consubstanciadas no dever de asseguramento pelo mundo adulto (Estado, Sociedade e Família) dos direitos de crianças e adolescentes a que se refere o caput do art. 227. (apud TCHORBADJAN, 2014).

Entre os diretos fundamentais da criança e do adolescente, o direito à vida é considerado o maior de todos, uma vez que sem a existência de tal direito todos os demais tornam-se inúteis.

Ao lado do direito à vida tem-se o direito à saúde, também assegurado pela Carta Magna, haja vista sua imensa importância, uma vez que não se restringe apenas a cuidados médicos, indo muito além, como ensina Amin (2010, p.33):

A garantia de saúde não envolve apenas cuidados médicos. A saúde pela alimentação é uma realidade necessária. Para prevenir doenças decorrentes da desnutrição, por carência de algum nutriente, e que hoje são grandes males da infância, é necessária uma alimentação adequada. Se a família não apresenta condições de alimentar adequadamente os infantes, cabe ao poder público elaborar políticas sociais executáveis através dos programas garantidores.

Observa-se a existência de políticas públicas e sociais voltadas à alimentação escolar, confirmando o que preceitua o art. 6º da CF/88, de que é dever do Estado realizar a prestação de materiais que exerçam de forma adequada ações voltadas ao atendimento das necessidades básicas das crianças e dos adolescentes.

Importante aludir também, o direito à liberdade como um dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, o qual passa a constituir um dos direitos fundamentais da personalidade, sendo assegurado pela CF/88 e pelo ECA.

O ECA, em seu art. 18, apresenta ainda as hipóteses que podem abalar a dignidade das crianças e dos adolescentes, causados principalmente por fatores externos e negativos:

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

O zelo pela dignidade dos seres em formação possui um significado muito amplo, cujo valor é absoluto e restrito, especialmente ao se reconhecer que se trata de um princípio basilar da vida. Constitui-se, portanto, em um princípio infestável, pois inclui não só os direitos à vida, à saúde, à liberdade, mas também à inviolabilidade da integridade física, moral e psíquica das crianças e adolescentes, “abrangendo a conservação da imagem, identidade, autonomia, valores, ideias de espaço e objetos sociais” (MEDEIROS, 2011).

Tudo isso leva a crer que o respeito é fundamental para o desenvolvimento da criança e do adolescente, haja vista que a partir do tratamento que ela recebe por parte dos adultos poderá desencadear atitudes violentas no futuro.

Para corroborar o exposto são pertinentes as lições de Amin (2010, p. 48) quando refere que:

[…] uma das manifestações mais evidentes de ofensa ao direito ao respeito consiste na prática da violência doméstica, que se manifesta sob modalidades de agressão física, sexual, psicológica ou em razão da negligência, que, como já afirmamos, está presente em todas as classes sociais, sem distinção, e ocorre de forma intensa como resultado do abuso do poder disciplinador dos adultos, sejam eles pais, padrastos, responsáveis, que transformam a criança e o adolescente em meros objetos, com consequente violação de seus direitos fundamentais, em especial o direito ao respeito como ser humano em desenvolvimento.

O entendimento sobre o respeito devido às crianças e aos adolescentes refere-se à proteção integral apregoada pelo ECA, ou seja, não é apenas zelar por sua integridade física e psíquica, mas levar em consideração aspectos pertinentes à sua personalidade, à sua integridade física, moral, identidade pessoal, respeito à honra, enfim, assegurar que crianças e adolescentes não sejam submetidos à situações que diminuam a sua condição de ser humano (MEDEIROS, 2011).

“A trilogia liberdade-respeito-dignidade é o cerne da doutrina da proteção integral, espírito e meta do ECA [...]”, não se podendo negar que são elementos

fundamentais garantidores da dignidade e que fazem parte da estrutura do ECA (MEDEIROS, 2011).

Não se pode deixar de mencionar, enfim, que o respeito à dignidade da pessoa humana, especificamente das crianças e adolescentes, estende-se aos bebês das mães presidiárias, pois em nada diferem dos demais, sendo dever do Estado, da sociedade e da família protegê-los. O ECA reconhece aos bebês, independente da condição penal da mãe, o direito de permanecer com suas mães, mantendo vínculos de afetividade e afinidade.

Esses vínculos são pressupostos basilares e estruturantes do bem estar das crianças e adolescentes, necessários para o seu desenvolvimento e atendimento integral às suas necessidades, mesmo que a mãe esteja cerceada da sua liberdade e se encontre encarcerada.