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CAPÍTULO 1 – DIREITO E DIREITO PENAL: o caso que estudamos

1. Direito

1.4. Direto Penal Parte Especial

A fim de discorrermos sobre a Parte Especial do Código Penal Brasileiro, adotamos os autores, Dower (2005); Gonçalves (2011a e 2011b) e Masson (2011), por conta de suas atividades acadêmicas e, os dois últimos, também por suas atuações como, Promotores de Justiça Penal.

Trataremos, inicialmente, e de modo breve, de três pontos importantes: o crime com dolo, o crime preterdoloso e a possibilidade de legítima defesa. Dois desses tópicos mencionados guardam estreita relação com o processo que investigamos, o crime doloso foi aquele que levou o réu ao julgamento e a legítima defesa foi a alegação dos defensores do réu. O Prof. Dower (2005) nos explicou que um crime pode ser doloso ou culposo de acordo com o Código Penal art. 18, I. Nosso interesse é pelo crime doloso, aquele quando ―o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo‘. Portanto, o dolo é a vontade de executar um fato que a lei tem como crime, ou o agente assume conscientemente o risco pelo resultado do delito‖ (DOWER, 2005, p. 128). Quando o resultado de uma ação ―vai além do desejado pelo agente‖, ou seja, quando as circunstâncias evidenciam que o ator não quis o resultado obtido e nem assumiu nenhum risco de produzi-lo, isto é, ele não teve a intenção de matar alguém, apenas empurrou esse alguém para longe dele, mas ao fazê-lo o sujeito passivo cai e bate a cabeça, o que lhe causa a morte, nesse caso, há o crime preterdoloso, art. 129 § 3.º do Código Penal, que prevê reclusão de quatro a doze anos (DOWER, 2005, p. 130). Nesse acontecimento, o resultado produzido é maior do que o esperado, então, o dolo e a culpa são combinados; o ―dolo‖ equivalendo à conduta ―antecedente‖, ou seja, a intenção de empurrar alguém e a ―culpa no consequente‖, no resultado que é a morte daquele que foi empurrado (DOWER, 2005, p. 131).

A possibilidade de legítima defesa se dá, por exemplo, quando um vigia que teme por sua vida mata um ladrão que invade um local que ele protege; nesse caso, o Código Penal entende que ―‘[...] em legítima defesa – diz o art. 25 do CP – quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão atual ou iminente, a direito seu ou de outrem’‖

(DOWER, 2005, p. 136). Seus requisitos são:

―Moderação no emprego dos meios de defesa, ou seja, exige-se o uso moderado de meios necessários. Se com um tiro imobiliza a vítima, não pode o agente exceder com diversos tiros. Tudo está em função da intensidade da agressão e, quando o agente age com imoderação, sujeita-se às penas do excesso doloso.[...]

1- Agressão injusta e atual ou iminente, ou seja, a agressão deve ser contra o direito e deve se dar no momento em que a ofensa está se realizando. [...] 2- Agressão a direito próprio ou alheio, como mostra a nossa motivação‖ (DOWER, 2005, p. 137)45.

O autor explica dois pontos: (a) que a legítima defesa só pode ser admissível se há real e iminente perigo no momento da agressão, qualquer ação antes da agressão ou depois dela, ou mesmo, sem perigo iminente, não pode ser considerada legítima defesa e (b) que na ausência de qualquer um dos requisitos citados não se pode pensar em legítima defesa, na verdade, o fato será considerado criminoso.

Uma última reflexão desta parte recai sobre quando o ator age sob o domínio da emoção e da paixão seguidas de privação do pleno entendimento, nesse caso, a lei não exclui a imputabilidade, mas analisadas as circunstâncias o Juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. (DOWER, 2005, p. 142)46.

Na próxima seção trataremos Dos Crimes Contra a Pessoa, especificamente, do capítulo I – Dos Crimes Contra a Vida.

1.4.1. Direito Penal – Dos Crimes Contra a Pessoa

Nesta seção trataremos Dos Crimes Contra a Pessoa com um olhar especial ao capítulo I- Dos Crimes Contra a Vida.

Nessa ―Parte Especial do Código Penal são definidos os crimes que atingem a pessoa em seus principais valores físicos ou morais (vida, integridade física, honra, liberdade etc.)‖ (GONÇALVES, 2011a, p. 69). O Promotor Gonçalves (2011a) destacou que na maioria dos casos a ―vítima é a pessoa humana (física)‖ (p. 69).

45 Importante ponto no processo estudado, já que os defensores do réu alegaram legítima defesa, entretanto, as provas geradas pela necropsia foram contundentes quanto aos excessos e a violência sofrida pela vítima.

46 Durante o julgamento a defesa tentou demonstrar que o réu foi motivado por provocação por parte da vítima que estava usando o celular para se comunicar com outras pessoas do sexo masculino o que teria gerado um forte ciúme no réu cegando-o e provocando a discussão que terminou com agressões físicas fatais.

O título, Dos Crimes Contra a Pessoa, é dividido em seis capítulos de acordo com o bem jurídico afetado pelo comportamento criminoso, porém, na próxima parte deste texto, só trataremos do capítulo I - Dos Crimes Contra a Vida.

1.4.2. Parte Especial- Dos Crimes Contra a Vida

Nesta subseção discorreremos sobre o bem jurídico mais valioso do ser humano, a vida, tanto é assim que, segundo Gonçalves (2011a), na Parte Especial do Código Penal o homicídio é o primeiro crime previsto (p. 71).

Em Gonçalves (2011a, p. 71 e 2011b, p. 11) lemos que esse capítulo versa sobre os seguintes crimes:

a) Homicídio;

b) Auxílio, induzimento ou instigação ao suicídio; c) Infanticídio;

d) Aborto.

Nosso interesse é pelo item (a) homicídio, assim, não trataremos dos demais crimes. ―Os crimes previstos nesse capítulo, à exceção da modalidade culposa de homicídio, são julgados pelo Tribunal do Júri, na medida em que o art 5º, XXXVIII, d, da Constituição Federal, confere ao Tribunal Popular competência para julgar os crimes dolosos contra a vida‖ (GONÇALVES, 2011a, p. 71). O crime de homicídio é apurado mediante ―ação pública incondicionada, sendo a iniciativa da ação exclusiva do Ministério Público‖ (GONÇALVES, 2011a, p. 84). A partir do recebimento da denúncia, o Mistério Público, representado pelo Juiz, analisa se há subsídios suficientes, se há provas da ocorrência do crime, para que a denúncia seja aceita e encaminhada a julgamento.

O homicídio pode ser doloso ou culposo, se for doloso ele subdivide-se em três modalidades: (1) simples (art. 121, caput); (2) privilegiado (art. 121, § 1º) e (3) qualificado (art. 121, § 2º) (GONÇALVES, 2011a, p. 72 e 2011b, p. 11).

O conceito de homicídio simples envolve a ―eliminação da vida humana extra uterina provocada por outra pessoa‖ (GONÇALVES, 2011a, p. 72 e 2011b, p. 11). Desse modo, o sujeito passivo, aquele que sofre a ação, pode ser qualquer ser humano vivo após o nascimento, isto é, que não esteja no interior do útero materno, e o sujeito ativo, o que pratica a ação criminosa, também pode ser qualquer ser humano vivo e, nesse caso específico, desde

que tenha infringido o art. 121, caput- matar alguém. Segundo Gonçalves (2011b), o ―homicídio admite coautoria e participação [...] [cada participante] responde pelo mesmo crime‖ (p. 12, grifo nosso).

No homicídio privilegiado, art. 121, § 1º, se ―o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço‖ (GONÇALVES, 2011b, p. 17). Nessa modalidade, estamos discutindo os possíveis privilégios do acusado de crime de homicídio, o que equivale a dizer que em certas condições, com provas irrefutáveis, o Júri pode votar e o Juiz pode reduzir a sentença do réu com base no Código Penal vigente.

Quanto aos meios de execução, Gonçalves (2011a) destaca que a ―conduta típica ‗matar‘ admite qualquer meio de execução (disparos de arma de fogo, facadas, atropelamento, emprego de fogo, asfixia etc)‖ (p. 72) sendo que a ―consumação‖ do homicídio se dá ―no momento em que a vítima morre‖ (GONÇALVES, 2011a, p. 76 e 2011b, p. 15). A fim de demonstrar a materialidade da ação de matar alguém, ou seja, do homicídio, realiza-se o exame necroscópico pelo médico legista, que, além de atestar o fato da morte, determinará sua causa.

O homicídio qualificado, art. 121, § 2º, determina que:

―Se o homicídio é cometido:

I-mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II-por motivo fútil;

III- Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

IV-à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recuso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;

V- para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;

Pena – reclusão, de doze a trinta anos‖ (GONÇALVES, 2011b, p. 19). Conforme veremos na próxima parte deste capítulo, na sentença do processo que investigamos o réu foi condenado por infração do art. 121, § 2º, inc. I, III e IV, isto é, art. 121, por matar alguém, no caso a vítima foi sua antiga cônjuge; parágrafo 2º - homicídio qualificado; as espécies qualificadoras são as contidas nos incisos: I – ―motivo torpe‖ (CP, art. 121, § 2º), o que, segundo Gonçalves (2011b), ―são consideradas de caráter subjetivo, porque se referem à motivação do agente‖ (p. 19), sendo destacado pelo Promotor Gonçalves (2011b) que o ―ciúme não é considerado sentimento vil‖ (p. 21), e sim ―um sentimento normal nos seres humanos, não sendo considerado torpe‖ (2011a, p. 95); III – com ―emprego de meio

cruel‖ (CP, art. 121, § 2º) e IV – mediante ―recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido‖ (CP, art. 121, § 2º), essas já ―são de caráter objetivo, porque [estão] ligadas aos meios e modos de execução‖, segundo (GONÇALVES, 2011b, p. 19, grifo nosso).

Vimos neste capítulo como as ações do réu foram previstas, interpretadas e julgadas conforme (CRFB, 1988) e o Código Penal Brasileiro (1940).

Na próxima e última seção deste capítulo, veremos as circunstâncias que envolveram o caso antes e durante as ações criminosas e, ainda, as consequências legais do homicídio por meio de uma citação da sentença proferida pelo Juiz ao final dos três dias de Julgamento.