• Nenhum resultado encontrado

Neste capítulo discutiremos os resultados relacionando-os com os principais pontos apresentados no capítulo dois de nossa Fundamentação Teórica, tais como: Linguística Aplicada com percurso Transdisciplinar, Linguística de Corpus, Linguística Forense e posicionamento. Para tanto, organizamos esta parte da tese em dois momentos, no primeiro, faremos essa relação da teoria com os resultados revelados no corpus de estudo, (CELF_ID_01_a), e, no segundo momento, discorreremos os desdobramentos possíveis.

Os dados revelados a partir do corpus indicaram, em seu conjunto, que: em resposta à primeira questão de pesquisa, as duas classes gramaticais (ADV*mente) e (ADJ) fizeram usos de posicionamento nas seguintes categorias: atitude, avaliativa, epistêmica, geralmente, honestamente, possibilidade / talvez; realmente e facilidade / dificuldade; e, em relação à segunda questão de pesquisa, há diferenças linguísticas nos usos de posicionamento por função processual: a) acusar; b) defender e; c) julgar. A relevância desses achados foi que eles nos permitiram evidenciar e estudar as representações linguísticas usadas pelos atores no momento em que estavam sendo ouvidos em oitivas processuais. A importância principal é que esses usos oriundos do mundo real e, totalmente, desprovidos de qualquer intenção de pertencerem a nenhuma pesquisa, nos possibilitou entender as características da linguagem usada no ambiente forense, especificamente, no processo estudado e na atividade de oitivas processuais. Nesse momento de um processo, as testemunhas materializam suas impressões sobre a ocorrência que se julga explicitando seus sentimentos, suas opiniões, suas atitudes, suas escalas de valores o que sabem ou não e como souberam de qualquer detalhe sobre os acontecimentos. Estudar essa linguagem é desvendar esses processos de representação linguística.

Além disso, os resultados demonstraram que o posicionamento é um bom caminho para desvendarmos a linguagem das oitivas processuais. Entretanto, como vimos no início deste trabalho, há uma grande lacuna nesse tipo de estudos específico. Embora tenhamos verificado que a quantidade de estudos do posicionamento não é pequena, por exemplo, Berman, Ragnarsdóttir e Strömqvist (2002); Precht (2003); Fortanet-Gómez (2004); Du Bois (2007); Adams e Quintana-Toledo (2013); González (2014); Biber e Finegan (1988); Biber et al (1999); Biber (2004); Biber (2006a); Biber (2006b) e Biber e Gray (2012), até o momento da publicação deste trabalho, nenhum deles investigou o uso de posicionamento como o fizemos nesta pesquisa. As diferenças entre o que encontramos em nossa revisão da bibliografia e nossa pesquisa foram: no idioma Português há poucos estudos de

posicionamento guiados, exclusivamente, pelo trabalho de Biber e colaboradores; não encontramos nenhum estudo em qualquer idioma que investigasse o posicionamento em oitivas processuais de um Processo Penal e, por fim, a metodologia que elaboramos para essa pesquisa foi inovadora e fundamentada na Linguística de Corpus. Diante disso, acreditamos que contribuímos para diminuir a lacuna existente de trabalhos nessa linha.

A fim de conquistar os objetivos pretendidos neste estudo a pesquisa lidou com mais de uma disciplina que estiveram em sinergia o tempo todo. O Direito contribuiu com a fundamentação teórica dessa área e, principalmente, o Direito Penal, ofertou o corpus que estudamos. A partir da Linguística de Corpus, que foi nossa base fundamental, compilamos nosso corpus de estudo, adotamos a ferramenta PALVRAS para etiquetar o corpus estudado e edificamos a metodologia que usamos nesta pesquisa. A Linguística Forense proporcionou o olhar motivador para está pesquisa e guiou os trabalhos pela ponte entre o Direito e a Linguagem desse campo. A problemática surgiu em todas essas esferas, simultaneamente, e foi iluminada por todas. Por fim, os conhecimentos gerados por este estudo poderão ser aplicados em todas essas áreas, minimamente, de modo pedagógico.

Conforme discorremos no capítulo dois, a Linguística Aplicada está ampliando seu olhar para além das questões pedagógicas do ensino de idiomas, atualmente, ela também considera outras demandas sociais em suas investigações. Naturalmente, as pesquisas que trilhem por esse caminho perceberão que ele exige interação com outras áreas do conhecimento, esse é o fazer da LA interdisciplinar. Conforme Damianovic (2005), citada na nossa fundamentação teórica, a LA iniciou uma articulação dialógica com ―múltiplos domínios do saber‖ que, semelhante a ela, se preocupavam com a linguagem e, assim, deu um salto científico significativo (p. 186). O caráter inter ou transdisciplinar da LA entrou em pauta e muitas pesquisas se voltaram para estudos da linguagem que pudessem revelar os processos pelos quais a linguagem se estrutura para manter as relações de poder social, por exemplo. O trabalho do linguista aplicado configura-se em um importante conhecimento que permite ao homem um novo olhar sobre essas relações de domínio mediadas pela linguagem. Nessa linha de raciocínio Coulthard e Coulthard (2004), concordam que a linguagem é um dos instrumentos presentes nessa relação de poder sendo, para eles, um dos pontos que devem fazer parte das preocupações do linguista que investiga a linguagem do mundo real. Nesse sentido, consideramos que a LA transdisciplinar seja mais apropriada a esse tipo de investigação, já que o conhecimento não fica aprisionado em compartimentos disciplinares, mas estão em movimento entre as disciplinas gerando novos conhecimentos para todos os níveis de Realidade, conforme Nicolescu (1999 e 2011). Nesta pesquisa todos esses níveis de

Realidade estiveram em sinergia com trocas de conhecimento, lidando com questões do mundo real e enriquecendo o resultado final, assim, o caráter do percurso percorrido nesta pesquisa foi transdisciplinar. A relevância disso para nossos dados foi que tivemos maior compreensão do assunto que estudamos impactando em nossa análise que, para Biber e colaboradores, deve considerar o contexto de uso, assim, o conhecimento adquirido nessa sinergia com as esferas envolvidas contribuiu para nossa análise dos dados. Diante disso, entendemos que pesquisas em LA que trilhem por um percurso transdisciplinar e as que sejam, plenamente, transdisciplinares possam contribuir para o desenvolvimento dos estudos linguísticos que vão além das questões pedagógicas.

Outro aspecto levantado no capítulo dois foi em relação aos princípios e ocupação da Linguística de Corpus. Vimos que a Linguística de Corpus dedica-se a coletar, compilar e analisar um corpo de material linguístico de linguagem natural oriunda de ambiente real, eletronicamente, tratado e analisado, ou seja, um corpus de estudo da linguagem que se almeja estudar coletado, tratado e analisado, criteriosamente, com o auxílio do computador. Nesse campo de investigação há dois conceitos principais: a) uma abordagem empirista e b) a linguagem vista como um sistema probabilístico, ambos foram considerados em nossos dados. O primeiro princípio, abordagem empirista, por ter coletado um corpus proveniente da linguagem natural, produzida pelo homem, isto é, o corpus de estudo foi oriundo das falas extraídas das oitivas processuais de um Processo Penal que julgava uma violência doméstica homicida valorizando, assim, as evidências de usos linguísticos. O segundo princípio, sistema probabilístico, entendendo que os traços linguístico não ocorrem de modo aleatório e que a linguagem forma padrões que apresentam regularidades que são estáveis em momentos distintos, isto é, a linguagem pode se revelar semelhante em corpus diferente. Neste estudo consideramos esse princípio em dois pontos: primeiro, ao adotarmos a ferramenta, PALAVRAS, que foi usada para etiquetar o corpus de estudo, gramaticalmente. A estrutura dessa ferramenta considera o sistema probabilístico em suas análises mediadas por corpora linguísticos que podem ocorrer de modo semelhante em outros corpora e, portanto, podem ser destacados a partir dos corpora de base da ferramenta o que permite a etiquetagem gramatical do corpus de estudo, em segundo lugar, por que a probabilidade de semelhanças de usos foi investigada no nosso corpus de estudo a partir das classes gramaticais e dos usos de posicionamento por função e categoria de posicionamento. Para tanto, desenvolvemos uma metodologia própria que foi descrita no capítulo de Metodologia.

A partir da Linguística de Corpus, outro aspecto foi considerado, o estudo do posicionamento assim como proposto por Biber e colaboradores (1999; 2006a e 2006b). O