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Disciplinas que auxiliam na organização das ações em sala de aula

Analisando o gráfico, percebemos que a única disciplina de cunho específico, que foi apontada nessa questão, foi a Matemática Básica22. Com isso, reafirma-se a pouca relação que existe entre a Matemática do Ensino Superior e a Matemática que é ensinada na Educação Básica.

Lembrando que o curso de Licenciatura em Matemática visa a formar professores para a Educação Básica, reafirmamos a necessidade de criar um elo entre os conteúdos que serão ensinados na Educação Básica e os que são estudados no curso de formação. A partir disso, o futuro professor poderá ter clara a ideia de que a Matemática não é segmentada, conforme estudamos durante toda nossa formação, mas é um conjunto de conhecimentos, onde um conceito relaciona-se a vários outros, criando uma teia complexa e rica em termos de conjunto de conhecimento social. Entendemos que isso não implica apenas aprender a Matemática que será ensinada, mas também compreender a relação entre os conteúdos.

Um exemplo claro desta relação está na disciplina de Cálculo, que inicia seu ensino com funções. Na atual organização do currículo de Matemática na Educação Básica, as funções são ensinadas no Ensino Médio. No entanto, quando trabalhamos com funções bijetoras, estamos, na verdade, trabalhando com uma ideia muito semelhante à correspondência um-a-um que é trabalhada nos anos iniciais.

Imbernón (2011) ainda destaca que:

É preciso desenvolver novas práticas alternativas baseadas na verdadeira autonomia e colegialidade como mecanismos da participação democrática da profissão que permitam vislumbrar novas formas de entender a profissão, revelar o currículo oculto das estruturas educativas e descobrir outras maneiras de ver a profissão docente, o conhecimento profissional necessário, a escola e sua organização educativa (IMBERNÓN, 2011, p. 43).

No tocante às demais disciplinas listadas, percebemos que praticamente todas são de cunho pedagógico, com parte da carga horária destinada às atividades práticas - tanto de observação como de inserção escolar -,evidenciando, desse modo, a importância que os futuros professores dão às atividades práticas na escola, pois é nesse momento que muitos deles têm a oportunidade de vivenciar o contexto escolar com um olhar diferente daquele que possuíam enquanto pertenciam ao grupo dos discentes da Educação Básica.

22 Esta disciplina tem como objetivo compreender os conceitos básicos da Matemática elementar, dando ênfase

ao enfoque lógico das demonstrações e da solução de problemas, visando à construção do alicerce para a compreensão das demais disciplinas que fazem parte do currículo. Os conteúdos trabalhados nessa disciplina são voltados para a Educação Básica.

Na última questão desse eixo, buscamos entender se os colaboradores sentiam-se preparados, caso fosse necessário, para desenvolver a atividade docente nos anos iniciais. As respostas estão organizadas no gráfico 04.

Gráfico 4 – Sentimento de preparação para ensinar nos anos iniciais.

Fonte: Dados da pesquisa.

Conforme apontado pelos dados apresentados no gráfico, a maioria dos colaboradores não se sente preparada para atuar nos anos iniciais por acreditar que o trabalho nessa etapa de escolarização necessita de uma preparação que eles não tiveram em seu curso de formação inicial.

Temos a clareza de que a formação do licenciado em Matemática não tem como objetivo que ele atue nos anos iniciais, mas, em tese, poder-se-ia supor que, sendo formado em Matemática, estaria preparado para ensinar o conteúdo em qualquer nível, o que não se mostra como verdadeiro. A resposta a essa questão está associada ao reconhecimento de que, para ensinar Matemática, não basta dominar técnicas e algoritmos, é necessário conhecer as particularidades do grupo o qual desejamos ensinar, além de dominar conhecimentos que vão muito além do conhecimento puramente matemático.

Sobre essa questão, a colaboradora Flávia afirma que:

Não. Acredito não ter base suficiente para isto. Por exemplo: não saberia explicar porque na divisão em que o numerador é menor que o denominador, a gente coloca um zero no numerador e no quociente um "0,".

0 1 2 3 4 5 Sim Não

2

5

Sei explicar o algoritmo, mas não o porquê, e considero isso fundamental para sanar as dificuldades que os estudantes "empurram" de um ano para o outro. Saber isso, no início, iria ajudá-los. Citei o caso da divisão, mas vale para outras coisas básicas, como na subtração, o ‘pedir emprestado’, por exemplo... (Flávia).

A preocupação da colaboradora Flávia centra-se em preparar o aluno para que ele entenda que a Matemática vai além de apenas operações, é uma área de conhecimento que tem um aparato conceitual que sustenta a sua existência. A partir da sua afirmação, fica claro que a colaboradora, embora tenha vivenciado o curso de Licenciatura em Matemática, não se sente preparada para o ensino conceitual dessa disciplina.

Esse reconhecimento de que o curso de formação inicial não proporcionou um ensino que permitisse ao futuro professor compreender a parte conceitual da sua área de atuação trará implicações não somente para os anos iniciais, mas também para os demais anos da Educação Básica, uma vez que a alfabetização matemática acontece durante toda a vida escolar do aluno.

Finalizamos esse eixo, ressaltando que, embora o futuro professor de Matemática vivencie um curso de graduação que exige domínio de muitas demonstrações e comprovações dos conhecimentos específicos, ele, ao pensar em um modo de como organizar o ensino para o aluno da Educação Básica, não consegue fazer as conexões com disciplinas que não sejam as pedagógicas. Na maioria das vezes, o futuro professor ―reaprende a matemática básica‖, pois a sua formação, centrada no domínio de algoritmos, não permite que ele entenda a base conceitual dessa disciplina. Neste sentido, pergunta-se: qual a função das outras disciplinas do curso? Não estamos defendendo a exclusão delas da matriz curricular. Muito pelo contrário, acreditamos que elas são importantes, pois são decorrentes do processo lógico-histórico da construção da Matemática e tornam-se um legado cultural importante que deve ser apropriado pelo futuro professor de Matemática. O que questionamos é a forma de abordagem e organização do ensino dessas disciplinas. Essa forma de abordagem faz com que os licenciandos só consigam identificar que estão aprendendo matemática para ensinar na Educação Básica quando se deparam com as disciplinas que discutem questões metodológicas.

Assim, acreditamos que ainda é necessário pensar no perfil profissional que as instituições desejam formar, levando em consideração as atribuições e as demandas que serão postas para esse futuro professor no exercício da profissão.

O esquema, a seguir, sintetiza as questões abordadas nesse eixo, bem como o objetivo específico que pretendemos alcançar a partir dessa ação.

Esquema 12 – Questões abordadas no eixo I.

Fonte: Esquematização do autor.

Formação de professores