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O discurso econômico em torno do meio ambiente: entre a economia verde e a economia ecológica

Biodiversidade Economia

D) A visão da autonomia cultural: a partir da crítica ao conceito de biodiversidade enquanto construção hegemônica, esta abordagem tem

3.2.2 O discurso econômico em torno do meio ambiente: entre a economia verde e a economia ecológica

A grande variedade de benefícios fornecidos pela natureza ao homem são considerados, de maneira geral, bens públicos não- negociáveis, e, portanto, não são computados no campo econômico. Embora os recursos naturais e os ecossistemas que os fornecem estejam na base das atividades econômicas e da qualidade de vida do ser humano, a organização econômica, de maneira geral, não enfatiza o caráter de dependência desta relação. Lutzenberger (2012) explica que no, pensamento econômico tradicional, o fluxo circular e fechado do dinheiro aciona um fluxo aberto, unidirecional de materiais, entre dois infinitos. De um lado, parte-se do princípio de que há um estoque infinito de recursos e, de outro lado, pressupõe-se que a existência de um “buraco sem fundo” onde seja possível lançar os resíduos indefinidamente. O desenho abaixo ilustra esta afirmação:

Figura 6. Fluxo do Pensamento Econômico Tradicional

Fonte: LUTZENBERGER, 2012. p. 70.

Em que pese o reconhecimento de que determinados recursos, tais como o petróleo, são finitos, a economia tradicional parte do pressuposto de que tais recursos sempre poderão ser substituídos em razão do avanço da ciência e da tecnologia. Já no que diz respeito à disposição de resíduos, também se acredita que a tecnologia deverá ser capaz de encontrar uma solução para o seu descarte. Lutzenberger (2012, p. 71) afirma que “[...] o economista, portanto, que em geral de técnica e ciência nada entende, poderá limitar sua atenção àquele primeiro fluxo, esse sim fechado, e o fluxo do dinheiro, que é o que impulsiona o fluxo linear dos recursos”. Para Georgescu-Roegen (2008, p. 68) esse é um reflexo do apego incondicional da economia ao dogma mecanicista, pois assimila o processo econômico a um modelo mecânico rígido, o qual, por seu turno, é regido por um princípio de conservação e uma lei de maximização.

Essa forma de abordagem das questões ambientais fez com que, desde o final da primeira revolução industrial, a sociedade ocidental não tivesse dúvidas quanto às suas metas econômicas. O seu propósito consiste em criar riqueza, e, portanto, este progresso deve ser medido pelo tamanho da renda nacional, juntamente com a base de capital ou riqueza com a qual se geral tal renda. As economias apresentam exitos quando a

riqueza e a renda crescem, gerando maior consumo, e, por conseguinte, melhores níveis de vida. Assim, passa-se a ideia de que quanto maior for o crescimento econômico61, melhor nível de vida terá a maioria das

pessoas (JACOBS, 1995, 417). De modo geral, tais ideias são tomadas como auto evidentes. Contudo, essa visão de sucesso econômico ignora as questões vinculadas ao meio ambiente. Para (Lutzenberger, 2012) este é um modelo desvinculado da realidade da vida, pois se contrapõe às leis do funcionamento dos sistemas vivos.

Desde o fim da década de 1960, um grupo significativo de economistas passou a dedicar-se às questões ambientais, buscando um redimensionamento do tratamento econômico tradicional. O aparato teórico que fundamenta, principalmente, as técnicas de valoração (tema importante para a problemática em torno da biodiversidade), fundamenta- se na teoria econômica ambiental neoclássica62 e dá suporte para a

denominada economia ambiental, bem como para a economia verde. Não obstante, também há uma nova abordagem em torno do tema defendida pelo que se convencionou denominar de economia ecológica. Não há unanimidade quanto às classificações ora apresentadas, não sendo difícil encontrar autores que utilizam o termo economia ambiental ou verde para designar a totalidade dessas perspectivas, inclusive a ecológica. Contudo, não se pode deixar de considerar que há profundas diferenças conceituais e metodológicas entre ambas63.

Assim, este item irá fazer uma explanação resumida sobre as três perspectivas pelos seguintes motivos: a) a economia ambiental neoclássica e a economia verde caracterizam o status quo da problemática, sendo as abordagens encontradas na maior parte dos

61 Torna-se importante destacar que crescimento econômico e desenvolvimento não devem ser entendidos como sinônimos. Daly (1996, p. 28) explica que o crescimento deve ser compreendido enquanto aumento quantitativo, enquanto o desenvolvimento significa uma melhora qualitativa. “Crescimento é ter mais. Desenvolvimento é ter algo substancialmente melhor, mais correto e mais eficiente.” (LEITE, 2015, p. 204)

62 O termo “economia ambiental neoclássica” é utilizado por Montibeller-Filho (2008) na obra intitulada O mito do Desenvolvimento Sustentável”.

63 Toda a terminologia adotada nesta parte da pesquisa (economia ambiental, economia verde e economia ecológica) não encontra necessariamente um consenso na forma de nominação e classificação, bem como na inclusão de determinados autores dentro de cada perspectiva. A variabilidade de teorias e métodos da economia relativa à questão ambiental é demonstrada por Alier (1998) na obra La economía ecológica como ecologia humana.

documentos internacionais existentes sobre o tema, bem como tais perspectivas são as que mais aproximam o meio ambiente dos DPIs; b) a economia ecológica fornece críticas relevantes não apenas para a economia tradicional, como também para o papel que a técnica e a inovação (e, por via indireta, os DPIs) podem ter diante dos problemas ambientais.

Considerando tais premissas, passa-se, inicialmente, à abordagem da economia ambiental neoclássica. Esta perspectiva avalia que os problemas ambientais devem ser analisados a partir do pressuposto de que o meio ambiente é limitado, independentemente da eficiência tecnológica existente para a sua apropriação (DERANI, 1997). Por outro lado, o mercado é incapaz de satisfazer as demandas dos seres humanos sem causar danos ao meio ambiente. Os agentes econômicos geram distorções graves ao visarem o lucro, a maximização das utilidades e ao ignorarem os benefícios que são derivados da exploração dos recursos naturais e os custos sociais de tais atividades. Nesse contexto, o valor do meio ambiente é desconsiderado no mundo econômico (MONTERO, 2011) e essa ausência de valoração econômica contribui para o a degradação ambiental.

Essa percepção econômica da questão ambiental baseia-se no pressuposto de que o esgotamento dos recursos naturais decorre de dois fatores importantes: a) o crescente consumo dos recursos naturais, os quais são entendidos como bens livres; e b) os efeitos negativos imprevistos das transações humanas. Derani (1997, p. 107) explica que esses fatores culminam no seguinte problema: como “[...] equacionar o problema da escassez dos recursos naturais e da melhoria da qualidade de vida, mantendo o processo produtivo”? No intuito de solucionar tal problemática, a economia ambiental neoclássica64 procura incorporar o

meio ambiente ao mercado. Isso é buscado por meio da internalização das externalidades ambientais, no sentido de orientar o processo produtivo a fazer um uso racional dos recursos naturais. O conceito de externalidades ou efeitos externos foi elaborado para referir as questões condizentes com

64 Montibeller-Filho (2008, p. 92) expõe que o conteúdo básico da economia ambiental neoclássica é composto dos seguintes elementos: valoração monetária dos bens e serviços ambientais; internalização das externalidades; proposição do poluidor pagador; direitos de propriedade; valor econômico total dos bens e serviços ambientais; método da valoração contingencial; análise benefício/custo ambiental.

os custos sociais da produção econômica. Uma externalidade surge sempre que a produção ou consumo de um bem ou serviço apresenta efeitos paralelos para os consumidores ou produtores, os quais não são contabilizados nos preços de mercado, gerando falhas de mercado. Nesse teor, Aragão (1997, p. 33) explica:

A denominação efeitos externos ao mercado é compreensível, porque se trata de transferência de bens ou prestação de serviços fora dos mecanismos do mercado. São transferências por meios não económicos na medida em que não lhes corresponde qualquer fluxo contrário de dinheiro. Sendo transferências ‘a preço zero’, o preço final dos produtos não as reflecte, e por isso não pesam nas decisões de produção ou consumo, apesar de representarem verdadeiros custos ou benefícios sociais decorrentes da utilização privada dos recursos comuns.

No campo econômico, uma série de fatores da produção foi esquecida dos cálculos privados, produzindo diversas deseconomias, ou seja, “produtos não contabilizados na renda do empreendedor, trazendo efeitos negativos à sociedade – as externalidades negativas” (DERANI, 1997). Portanto, os efeitos nocivos da produção sobre o meio ambiente (aquecimento global, declínio da biodiversidade, poluição, etc.) são considerados externalidades negativas da produção. A pergunta que surge, então, é: como resolver a questão das externalidades geradas pelo sistema de produção? A resposta para esse questionamento pode ser fundamentada, principalmente, a partir de duas teorias: a) a teoria da correção do mercado, propugnada pelo economista inglês Arthur C. Pigou; e b) a teoria da extensão do mercado, defendida pelo economista inglês Ronald Coase, representante da Escola de Chicago e da Análise Econômica do Direito (AED).

A teoria de Pigou apresenta uma distinção entre deseconomias externas e economias externas. As deseconomias externas correspondem aos efeitos sociais danosos da produção privada, já as economias externas aos efeitos de aumento de bem-estar social da produção privada. Conforme Pigou, em ambos os casos o mercado não é capaz de transportar todas as informações necessárias para que os seus agentes façam uma alocação ótima de fatores. Gera-se, assim, uma falha de mercado com relação à percepção das externalidades. Nesse contexto, o

Estado deve intervir de duas formas: a) em caso de deseconomia externa (efeitos sociais negativos) mediante a introdução de um sistema de imposto; b) em caso de economia externa (efeitos sociais positivos) mediante a adoção de subvenções ou incentivos (DERANI, 1997, p. 108).

Montero (2011, p. 95) destaca algumas críticas comumente referidas em relação à teoria da correção do mercado de Pigou. De maneira ampla afirma-se que esta teoria desconsidera os custos derivados da intervenção estatal, bem como ignora as falhas próprias do Estado. Além disso, outros fatores dificultam a sua implementação, quais sejam: a) dificuldades administrativas; b) problemas relacionados com a informação necessária para definir o tipo impositivo; c) aplicação exclusiva de critérios de eficiência econômico-ambiental, desconsiderando questões de caráter distributivo ou de eficiência extra ambiental; e d) exclusão da existência simultânea de outras falhas do mercado.

De outra parte, a teoria da extensão do mercado parte do pressuposto de que tudo aquilo que não pertence a ninguém é usado por todos e cuidado por ninguém, motivo pelo qual Coase (1960) defende que tais bens devem ser tutelados pelos direitos de propriedade. Para o autor, a problemática ambiental está relacionada com o acesso livre aos bens ambientais, o que incentiva a exploração e o uso arbitrário dos bens, gerando as externalidades. Porém, diferentemente de Pigou, Coase considera que o problema das externalidades não deveria ser resolvido mediante a intervenção do Estado no mercado. Na sua visão, tal medida provocaria maiores distorções e a solução do problema, portanto, deveria ser de caráter mercantil.

Nesta concepção, a solução para as deseconomias encontra-se no estabelecimento de um sistema global de direitos de propriedade dos sujeitos privados, os quais negociam os seus interesses, buscando um acordo. Esta é a forma, segundo Coase (1960), de se alcançar uma internalização eficiente das externalidades, ou seja, os diversos atores envolvidos poderiam realizar trocas que produziriam um resultado eficiente e que eliminaria as externalidades. Por conseguinte, o papel do Estado seria apenas o de facilitar as trocas e fazer cumprir os acordos resultantes.

Montero (2011, p. 98) também apresenta uma série de críticas comumente relacionadas com a aplicação prática da teoria dos property rights de Coase, quais sejam: a) a existência de uma série de problemas éticos envolvidos na própria questão, os quais se relacionam com a

apropriação privada de bens ambientais e com a dificuldade de privatizá- los; b) o fato de que a teoria tende a gerar altos custos de transação, os quais se aproximam dos custos da degradação ambiental; e c) a não consideração da dimensão temporal dos problemas ambientais.

As propostas de ambas as teorias apresentam fragilidades relevantes, sendo que a principal delas consiste na tentativa de inserir o meio ambiente no contexto da lógica econômica sem considerar as especificidades e complexidades impostas pelo próprio meio ambiente. Quanto à perspectiva adotada tanto por Pigou, quanto por Coase, Derani (1997, p. 109-110) tece a seguinte crítica:

As teorias da extensão (Coase) e da correção (Pigou) do mercado não são, no seu plano básico, distantes uma da outra. Ambas buscam objetivos políticos, econômicos e ambientais, porém ambas apoiam-se num individualismo metodológico integrado por uma perspectiva econômica isolada, sem a devida flexibilização com os aspectos menos matemáticos da economia, o que dificilmente as retiram dos gráficos. A economia ambiental apenas mostra como se tratar com a natureza, a fim de que se retire dela um máximo de utilidade econômica privada, buscando integrar o meio ambiente na economia de mercado. Esta procura naufraga, porque a complexidade dos aspectos ecológicos neste processo não chega a ser considerada.

Não obstante, nos últimos anos outra expressão tem ganhado força no contexto internacional de discussão da problemática ambiental: trata- se da economia verde, a qual tem seus fundamentos na economia ambiental neoclássica. A expressão passa a ser referenciada em 1991 com a obra de Michael Jacobs (1996) intitulada The Green Economy. Para Jacobs (1996) tanto o enfoque neoclássico, quanto a economia ecológica não representam de forma adequada a problemática ambiental. Enquanto na economia ambiental neoclássica não há um método adequado para a compreensão entre a economia e o meio ambiente, a economia ecológica tem a tendência de desconsiderar o fato de que todos os processos econômicos, por mais que dependam dos aspectos biofísicos, estão organizados social e politicamente. Assim, para modificar o comportamento econômico, torna-se necessário prestar atenção a esse tipo de organização. Nesse sentido, Jacobs (1996, p. 18-19, tradução

livre) propõe uma economia socioecológica, a qual consiste em “[...] um conhecimento dos comportamentos e dos sistemas econômicos que incorpora seu caráter tanto biofísico, como sócio-político, no qual a distribuição fosse um aspecto importante da análise, e no qual se reconhecessem os fundamentos da análise económica baseada no valor”65.

Embora a obra de Jacobs (1996) tenha alcançado certa inserção nas discussões em torno da relação entre a economia e o meio ambiente, a notoriedade do termo ocorre principalmente a partir de 2010, quando o PNUMA passa a adotá-lo para designar uma economia capaz de melhorar o bem-estar humano, gerar a redução da desigualdade social e diminuir significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológica (PNUMA, 2011). A proposta do PNUMA (2011) elenca três características da economia verde: i) o uso de baixo carbono; ii) o incentivo à ecoeficiência no uso dos recursos naturais através do desenvolvimento tecnológico; iii) a inclusão social. Consequentemente, para obter êxito em suas funções, a economia verde deve apresentar baixas emissões de carbono, utilizar os recursos de forma eficiente e ser socialmente inclusiva.

Desse modo, o aumento da renda e a criação de empregos devem ocorrer a partir de investimentos públicos e privados destinados a reduzir as emissões de carbono e a contaminação, promover a eficiência, tanto energética, como de uso dos recursos e evitar a perda da diversidade biológica e dos serviços ecossistêmicos. Tais investimentos devem estar amparados pelo gasto público seletivo, por reformas políticas e mudanças na regulação. Por fim, de acordo com o PNUMA (2011, tradução livre):

O caminho para o desenvolvimento deve manter, melhorar e, onde seja necessário, reconstruir o capital natural como ativo econômico fundamental e fonte de benefícios públicos,

65 Texto original: “[...] un conocimiento de los comportamientos y los sistemas económicos que incorpora su carácter tanto biofísico como sociopolítico, en el que la distribución fuera un aspecto importante del análisis, y en el que se reconocieran fundamentos del análisis económico basados en el valor.”

especialmente para as pessoas menos favorecidas, cujo sustento e segurança dependam da natureza.66

.

Na visão do PNUMA (2011), a economia verde não constitui uma forma de obstáculo à criação de riqueza, nem de oportunidades laborais, pelo contrário, existem novos nichos a serem explorados os quais podem gerar novas riquezas e novos postos de trabalho. Contudo, esta proposta recebeu muitas críticas, principalmente por parte dos países em desenvolvimento, os quais passaram a compreender essa perspectiva como uma forma de imposição do mundo desenvolvido. Veiga (2012) explica que essa oposição criada ao slogan da economia verde decorre do entendimento de que ela seria responsável pela marginalização dos objetivos sociais, uma vez que diminuiria a importância do desenvolvimento, induziria a discriminação a importações provenientes do Sul, favoreceria indesejáveis condicionalidades nos arranjos de assistência ao desenvolvimento e afrontaria o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas.

Não obstante tais críticas, o tema da economia verde constituiu um dos pilares das discussões na Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, 2012). Este documento é explícito em sustentar que as políticas da economia verde devem promover um crescimento econômico sustentável e inclusivo, favorecer a inovação, as oportunidades, os benefícios e a capacitação para todos e garantir o respeito de todos os direitos humanos. Trata-se de um modelo baseado na teoria econômica neoclássica, como já exposto anteriormente, uma vez que tem por objetivo o crescimento econômico por meio do investimento em capital que permita o estoque de tecnologia e conhecimentos verdes. Por centrar-se em critérios de eficiência e apostar no atual modelo de crescimento econômico, tem sido considerada uma vertente econômica de sustentabilidade fraca, pois apenas internaliza a lógica ambiental no contexto da lógica econômica, desconsiderando os limites biofísicos do meio ambiente e os critérios de justiça ambiental (MONTERO, LEITE, 2012, p.24-25).

Na visão de Amazonas (2012), em que pese a existência de certa euforia em torno da ideia de uma economia verde, a qual tem sido entendida como uma manifestação da concretização dos preceitos do

66 Texto original: “El camino hacia el desarrollo debe mantener, mejorar y, donde sea necesario, reconstruir el capital natural como activo económico fundamental y fuente de beneficios públicos, especialmente para las personas desfavorecidas cuyo sustento y seguridad dependen de la naturaleza”.

desenvolvimento sustentável, ela constitui uma espécie de downgrade em relação àquele conceito. O termo desenvolvimento sustentável é multidimensional, uma vez que a expressão desenvolvimento depreende um conceito que é ao mesmo tempo social, político, ambiental, cultural e econômico. A economia verde, no entanto, reduz o desenvolvimento à economia, e o sustentável da dimensão ambiental ao “verde”. Na percepção do autor, portanto, em parte, a economia verde é um recuo em relação ao desenvolvimento sustentável.

Grande parte do conservadorismo da proposição de uma Economia Verde, e, portanto, do ceticismo que se tem frente a ela, está na crença depositada nas virtudes do progresso técnico e das forças de mercado em encontrar as soluções para os problemas ambientais e promover sua implementação. O crescente estabelecimento de “mercados verdes”, Produção mais Limpa (P+L) e ecoeficiência no uso de recursos renováveis e recicláveis, torna-se assim carro-chefe da visão de Economia Verde. Tal “otimismo tecnológico e de mercado”, todavia, encontra forte oposição da parte de certo “ceticismo ecológico e social”. (AMAZONAS, 2012, p. 34)

Verifica-se, desse modo, que a economia verde segue os preceitos gerais da economia ambiental neoclássica, podendo ser compreendida dentro daquele marco teórico. Não obstante, esta corrente de pensamento quanto à inter-relação economia e meio ambiente desconsidera a complexidade ecológica. Em sentido diverso, a economia ecológica busca fazer uma adaptação dos princípios e conceitos da ecologia aos estudos da inter-relação entre o homem e o meio ambiente. Nessa perspectiva, os processos econômicos devem ser conduzidos de acordo com as leis da natureza e seus ciclos (MONTIBELLER-FILHO, 2008). Nesta perspectiva, Martínez-Alier (1998, p. 9, tradução livre) expõe que:

A economia ecológica não recorre a uma escala única de valores expressa em um único numerário. Pelo contrário, a economia ecológica abarca a economia convencional neoclássica dos recursos e meio ambiente e vai além, ao incorporar

a avaliação física dos impactos ambientais da economia humana.67

A economia ecológica tem como precursores Georgescu-Roegen e Herman Daly. Não há uniformidade entre os autores dessa corrente, mas, de maneira geral, alguns elementos mostram-se comuns. Segundo tais autores, a economia tradicional está pautada na ideia de crescimento como alternativa para a erradicação da pobreza e a satisfação das necessidades humanas. Neste cenário, como já demonstrado, a variável ambiental não é sopesada e, por isso, o crescimento pode ser mantido de forma contínua, uma vez que a equação econômica não considera a entrada de recursos naturais e a saída de resíduos. Georgescu-Roegen (2008) expõe que esta perspectiva, ignora que a natureza também desempenha um papel relevante no processo econômico, bem como na formação do valor. O autor questiona a validade do fluxo circular da economia tradicional, o qual, na sua perspectiva, trata-se de uma ficção que serve, porém, às ideias de crescimento contínuo, infinito, sem considerar a escassez dos recursos naturais e a necessidade de reduzir o consumo e produzir menos resíduos.

A economia ecológica, por seu turno, “[...] analisa a estrutura e o