• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 A EDUCAÇÃO CATÓLICA E O CARISMA DE MADRE CLÉLIA

1.3 CARISMA, UM JEITO DE SER INSTITUTO DAS APÓSTOLAS DO SAGRADO

1.3.3 A Pastoral Escolar

1.3.3.2 Discurso religioso da Pastoral Escolar

Após o relato da experiência com os alunos, é necessário retornar à teoria. Itoz, Junqueira e Melo Neto (2016, p.128) descrevem a Escola em Pastoral:

Na educação básica, a Pastoral Escolar atua diretamente sobre as relações do indivíduo com o universo da escola. E nos espaços de vivências e de representações concretas de signos, a ação da pastoral atua com e sobre os sujeitos ao representar, de forma sistematizada, orientativa, lúdica e celebrativa, o que a identifica na sua identidade confessional e no carisma de uma instituição educativa católica. (ITOZ, JUNQUEIRA e MELO NETO 2016, p. 128).

A linguagem é um veículo de grande importância na área educacional como também nas demais áreas que têm o objetivo de transmitir uma mensagem com o uso das palavras. Saber usar a palavra é uma arte que se constrói com o uso de alguns meios para que a mensagem seja clara e compreensível ao público ouvinte. O processo dá-se por meio da organização de ideias e pensamentos que descrevem o signo, dando significado ao símbolo utilizado.

A teoria semiótica permite penetrar no próprio movimento interno das mensagens, no modo como elas são engendradas, nos procedimentos e recursos nela utilizados. Permite, também, captar seus vetores de referencialidade, não apenas a um contexto mais imediato, como também a um contexto estendido, “pois em todo processo de signos ficam marcas deixadas pela história, pelo nível de desenvolvimento das forças produtivas econômicas, pela técnica e pelo sujeito que as produz” (SANTAELLA, 2005, p. 168).

O discurso religioso geralmente faz uso da função expressiva, pois se utiliza de signos. Tarcisio J. Loro fala como a função expressiva da linguagem decorre:

A função expressiva da linguagem, centrada no destinador, tem como objetivo transmitir a realidade sob o ponto de vista do emissor. Assim sendo, vem marcada pela subjetividade, ou com a presença de emoções e anseios. Esta presença é flagrante no texto (ou discurso) pela utilização dos signos indicativos, pronominais e possessivos. Estes introduzem o destinador no texto (no diálogo), e manifestam a subjetividade do emissor de forma explícita e direta, na totalidade, sua ideologia e seu modo de agir (LORO, 2011, p. 65-66).

Por isso, a locução de um agente de pastoral não pode se reduzir a uma simples fala, mas precisa, antes de tudo, estabelecer e garantir a conexão entre o emissor e o receptor. A ajuda de recursos pedagógicos pode criar essa conexão quando, por exemplo, se faz o uso de imagens para acolher e compreender a mensagem. O Papa Francisco, ao falar sobre o anúncio do Evangelho na Evangelii Gaudium, exorta sobre como a mensagem deve ser transmitida e que o uso de recursos simples, mas bem pensados, contribuem na clareza do que se pretende falar, de modo que toque a realidade humana do ouvinte. Ele sugere que se use o recurso simbólico de imagens:

Um dos esforços mais necessários é aprender a usar imagens na pregação, isto é, falar por imagens. [...] Uma imagem apropriada pode levar a saborear a mensagem que se quer transmitir, desperta desejo e motiva a vontade na direção do Evangelho (EVANGELII GAUDIUM, 2013, n. 157).

A capacidade criativa da memória reside aí. É muito menos resgate e muito mais criação tendo como bases as experiências, valores, linguagens e signos que nos dizem algo no presente.

Na atividade realizada no Colégio Sagrado houve um retornar à importância de ele existir: Clélia Merloni, sendo a Madre, enviou as Irmãs ao Brasil, onde se tem grande parte das missões, inclusive esse Colégio. Falar de Clélia Merloni é propor um elo afetivo, criando-se no imaginário alguém que cuida, protege e que ensina a ter uma relação espiritual amorosa com o Coração de Jesus. Ela “criou o Colégio” e por isso, nesse espaço, têm experiências de amizade, de aprendizado, de desenvolvimento de habilidades. A imagem de Madre Clélia vai muito além de uma pessoa que fundou o Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, ela se tornou muito mais viva e presente no dia a dia das crianças dentro do ambiente escolar.

Pode-se imaginar que, por se alimentar do passado ou até por ser uma hipotética reconstrução do passado, a memória seja estática. Porém, ela se modifica ao longo do tempo e se rearticula conforme a situação e as relações que se estabelecem. A memória é história viva e vivida além de ser um fenômeno social vivo no instante de sua ação, permanecendo no tempo renovando-se. Estão, em jogo, os elementos inconscientes como o afeto, a censura, o hábito, entre outros, para lembrar e para esquecer. A memória não é uma simples gravação. Por esses motivos é que se pode afirmar que ela, a memória, está intimamente relacionada às emoções, às experiências vividas, aos valores e demais existências dos grupos.

Lembrar é um ato claramente relacionado com o coletivo. Dificilmente lembranças emergem fora das relações com os grupos e o interesse pela experiência do outro.

Quando a memória parte do interesse pelo outro e cria relações, então, permite aprendizagem e uma experiência própria e ímpar. Própria e ímpar, visto que as experiências são guiadas por todos os elementos internos que constituem a pessoa que o faz, bem como pela própria fase do desenvolvimento que traz diferentes evoluções de raciocínio, aprendizado, maturidade de emoções e histórico de outras experiências vivenciadas.

Neste capítulo, procuramos com um olhar do Magistério da Igreja Católica mostrar como a educação confessional, a partir do Concílio Vaticano II, desenvolve o seu múnus pastoral, e que a escola católica é lugar de evangelização. Desde o período colonial, a Igreja se preocupa com a evangelização e consequentemente com a educação. Por isso, instituições religiosas, para responderem às necessidades atuais da época, vieram ao Brasil. No final do século XIX as irmãs Apóstolas do Sagrado Coração também vieram. A princípio era para dar assistência aos imigrantes italianos, mas com o tempo, através do carisma de Madre Clélia, atuante na área educacional, fundou-se o Colégio Sagrado Coração de Jesus na zona oeste de São Paulo. No colégio, a Pastoral Escolar tem a responsabilidade de manter o carisma instucional vivo e atuante na comunidade educativa, realizando atividades espirituais, culturais e solidárias próprias para cada faixa etária, de modo a proporcionar experiências, que quando são vivenciadas em um ambiente que garante valores religiosos e carismáticos, como numa instituição confessional, tornam-se uma aprendizagem propícia ao encontro com o transcendente, especialmente no carisma professado, tornando-se uma experiência religiosa.

Para tanto, a fim de dar continuidade, nosso objeto de estudo, no Capítulo 2, passa a ser a experiência religiosa infantil, com crianças de três a seis anos de idade, no Colégio Sagrado Coração de Jesus – SP.