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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC-SP. Giuliane Ciniciato Gonçalves dos Santos

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Academic year: 2021

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Giuliane Ciniciato Gonçalves dos Santos

O DISCURSO RELIGIOSO DA PASTORAL ESCOLAR NO COLÉGIO

SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS-SP PARA AS CRIANÇAS DE TRÊS

A SEIS ANOS DE IDADE

MESTRADO EM CIÊNCIA DA RELIGIÃO

SÃO PAULO 2020

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Giuliane Ciniciato Gonçalves dos Santos

O DISCURSO RELIGIOSO DA PASTORAL ESCOLAR NO COLÉGIO

SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS-SP PARA AS CRIANÇAS DE TRÊS

A SEIS ANOS DE IDADE

MESTRADO EM CIÊNCIA DA RELIGIÃO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Ciência da Religião, na Área de Concentração “Educação Católica, Pastoral Escolar, Memória e Símbolo”, sob a orientação do Professor Doutor Ênio José da Costa Brito.

SÃO PAULO 2020

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Santos, Giuliane Ciniciato Gonçalves dos

O Discurso Religioso da Pastoral Escolar no Colégio Sagrado Coração de Jesus-SP para as Crianças de três a seis anos de idade / Giuliane Ciniciato Gonçalves dos Santos. -- São Paulo: [s.n.], 2020.

120 p.

Orientador: Prof. Dr. Ênio José da Costa Brito.

Dissertação (Mestrado em Ciência da Religião) -- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciência da Religião, 2020.

1. Escola Confessional. 2. Pastoral Escolar. 3. Experiência Religiosa. 4. Símbolo. 5. Lúdico. I. Brito, Prof. Dr. Ênio José da Costa. II. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciência da Religião. III. Título.

CDD

Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação de Mestrado por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura: ____________________________

Data: _______________

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O DISCURSO RELIGIOSO DA PASTORAL ESCOLAR NO COLÉGIO

SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS-SP PARA AS CRIANÇAS DE TRÊS

A SEIS ANOS DE IDADE

MESTRADO EM CIÊNCIA DA RELIGIÃO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Ciência da Religião, na Área de Concentração “Educação Católica, Pastoral Escolar, Memória e Símbolo”, sob a orientação do Professor Doutor Ênio José da Costa Brito.

Aprovada em: _____/_____/__________

Banca examinadora:

________________________________________

________________________________________

(5)

Dedico este Trabalho a Deus que, na sua Divina Providência me auxilia e sustenta; à minha família, que me apoia nas minhas escolhas; às Irmãs Apóstolas do Sagrado

Coração de Jesus que me

proporcionaram este estudo, para melhor servir ao Reino de Deus, à Educação Católica e a todos que enxergam nas crianças o potencial que elas trazem em si, e as ajudam a germinar na fé, na esperança e na caridade.

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O presente trabalho foi realizado com

apoio da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 99999.999999/9999-99. O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação São Paulo (FUNDASP).

This study was financed in part by the Coordenação de Aperferiçoamento de Pesoal de Nível Superior – Brasil

(CAPES) – Finance Code

99999.999999/9999-99.

This study was financed in part by the Fundação São Paulo (FUNDASP).

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Ao Sagrado Coração de Jesus, que em sua infinita misericórdia cuida de mim e me conduz em cada coisa que realizo e à Bem-aventurada Clélia Merloni, pela sua intercessão constante.

Ao Professor Doutor Ênio José da Costa Brito, que nas aulas mostrou como a Ciência da Religião é apaixonante e sempre me trouxe uma palavra de ânimo e confiança para dar continuidade na construção da minha pesquisa e ao Professor Doutor José J. Queiroz, que me orientou no início da pesquisa, e que, com a sua sabedoria ensinava de forma tão simples assuntos tão complexos.

Aos demais professores que me ensinaram a beleza da Ciência da Religião e contribuíram com a minha formação intelectual e humana.

À minha família que sempre me inspirou na busca do conhecimento e o seu aperfeiçoamento, pai, José e mãe, Terezinha; irmãos, Karina e Fabrício; cunhados, Sandra e Rodrigo; sobrinho, Nicolas. Ao lugar sagrado em que vivo: o Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus que me possibilitou estudar, me sustentando na fraternidade diária, nas orações e na alegria de mais uma conquista para poder servir melhor o Reino de Deus.

Às Irmãs Apóstolas: Ir. Fátima Morais que me apresentou o Programa de Ciência da Religião e sempre me motivou na busca do conhecimento, Superiora Provincial Ir. Márcia Cidreira que com carinho sempre me motivou a dar o meu melhor e a confiar no Coração de Jesus; Ir. Teresinha Vaz, Ir. Carina C. de Souza, Ir. Maria Inez da Costa e Ir. Fabiana Bergamin, superioras que tive nesse período de estudo e que me deram apoio e compreenderam as minhas ausências na comunidade e na missão; Ir. Maria Conceição Costa, diretora do CSCJ-SP, pela sua compreensão das minhas ausências na Pastoral Escolar; Ir. Vânia pela sua compreensão durante a minha ausência na pastoral do Unisagrado; Ir. Fernanda Rieger e Ir. Victória Queiroz, noviças, que hoje já são Irmãs e que me ajudaram na missão durante esse período. Ir. Fabiana Bergamin, Ir. Izaura Orgaz, Ir. Dijanira Dezan, Ir. Maria Inês Périco, Ir. Vânia C. de Oliveira e Ir. Caroline Ribeiro, Irmãs da minha comunidade atual, pelo apoio tão intenso, fraterno e carinhoso nos últimos meses. Às demais Irmãs Apóstolas, e foram muitas, que me apoiaram e rezaram pelo êxito deste Trabalho.

À equipe da Pastoral Escolar, Fabiane, Cesar, Marcos Vinícius e à equipe da Pastoral do Unisagrado, Marcos Aparecido, Diego e Thiago que se alegram com minhas buscas, sabendo compreender as minhas horas de estudo e pesquisa e que me concederam todo apoio e ajuda.

À amiga Flávia Arielo, ao amigo Thiago Freitas Pignatti, à minha coirmã e amiga Ir. Vânia Cristina de Oliveira e à Célia, pela bondade em partilhar conhecimento e material para maior enriquecimento. Vocês me mostraram a beleza do saber, quando é dom partilhado.

Aos educadores do Colégio Sagrado Coração de Jesus de São Paulo, por aceitarem com entusiasmo as atividades propostas pela Pastoral Escolar.

Às crianças e suas famílias que receberam em seus lares a Madre Clélia Peregrina e, com dedicação retornaram a ficha de atividades com lindas experiências espirituais ali registradas.

Aos que conheci na PUC-SP, que além do conhecimento, compartilhamos a vida, construindo belas amizades.

A todos que direta e indiretamente contribuíram comigo nesse período de estudo, me proporcionando sempre o melhor, a minha sincera gratidão.

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Trabalhemos juntos para que as crianças nos olhem sorrindo e mantenham um olhar límpido, cheio de alegria e esperança. (PAPA FRANCISCO, 2017).

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Escolar no Colégio Sagrado Coração de Jesus-SP para as Crianças de três a seis anos de idade, 120 p. Dissertação de Mestrado em Ciência da Religião.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. Ênio José da Costa Brito, São Paulo, 2020.

RESUMO

Tendo em vista os inúmeros estudos já publicados a respeito da educação católica, do ensino religioso ou do discurso religioso, bem como da importância do lúdico na educação de crianças, elegem-se, neste estudo, a análise e a constatação do discurso religioso utilizadas numa instituição de ensino católica confessional, Colégio Sagrado Coração de Jesus-SP, pela Pastoral Escolar com as crianças de três a seis anos de idade. Tomou-se como ponto de partida uma revisão de literatura, para melhor compreensão, sobre a educação católica e apresentou-se o carisma cleliano, que norteia a missão institucional do colégio. Na sequência, compreendeu-se a importância do lúdico e, utilizando-se de uma boneca – Clelinha –, observou-se a experiência religiosa vivida por essas crianças, originária no discurso religioso da Pastoral Escolar. Por fim, foi possível compreender que não se trata apenas de um discurso religioso que garante regras de vivência, mas de uma vivência do carisma que se traduz num discurso religioso pela Pastoral Escolar.

Palavras chave: Escola Confessional. Pastoral Escolar. Experiência Religiosa.

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Pastoral at Colégio Sagrado Coração de Jesus-SP for Children from three to six years of age, 120 p. Master's Dissertation in Science of Religion. Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, under the guidance of Prof. Dr. Ênio José da Costa Brito, São Paulo, 2020.

ABSTRACT

In view of the countless studies already published on Catholic education, religious teaching or religious discourse, as well as the importance of playfulness in the education of children, in this study, the analysis and verification of religious discourse used in a Catholic confessional teaching institution, Colégio Sagrado Coração de Jesus-SP, for School Pastoral Care with children from three to six years old. A literature review was taken as a starting point, for a better understanding, on Catholic education and the Clelian charism, which guides the institutional mission of the college, was presented. Then, it was understood the importance of playfulness and, using a doll - Clelinha -, it was observed the religious experience lived by these children, originating in the religious discourse of the School Pastoral. Finally, it was possible to understand that it is not just a religious discourse that guarantees rules of experience, but an experience of the charism that is translated into a religious discourse by the School Pastoral.

Keywords: Confessional School. School Pastoral. Religious Experience. Symbol. Ludic.

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Figura 1 - Clelinha iluminada ... 64

Figura 2 - Clelinha aclamada ... 65

Figura 3 - Clelinha protetora ... 67

Figura 4 - Clelinha interativa ... 74

Figura 5 - Clelinha inspiradora ... 75

Figura 6 - Clelinha participativa ... 75

Figura 7 - Clelinha companheira ... 88

Figura 8 - Clelinha sempre bem-vinda ... 88

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INTRODUÇÃO ... 12

CAPÍTULO 1 - A EDUCAÇÃO CATÓLICA E O CARISMA DE MADRE CLÉLIA ... 16

1.2 A PRESENÇA RELIGIOSA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ... 23

1.3 CARISMA, UM JEITO DE SER - INSTITUTO DAS APÓSTOLAS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS ... 26

1.3.1 A Sagrado - Rede de Educação ... 28

1.3.2 Colégio Sagrado Coração de Jesus-SP ... 30

1.3.3 A Pastoral Escolar ... 34

1.3.3.1 Escola em Pastoral ... 38

1.3.3.2 Discurso religioso da Pastoral Escolar ... 41

CAPÍTULO 2 - EXPERIÊNCIA RELIGIOSA INFANTIL ... 44

2.1 LINHAS GERAIS DO ENSINO RELIGIOSO ... 48

2.1.1 Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil ... 50

2.2 BRINCAR TORNA-SE MAIS IMAGINATIVO - SEGUNDA INFÂNCIA ... 56

2.2.1 A importância do imaginário ... 62

2.2.2 Do imaginário ao religioso ... 68

2.2.3 Brincar é constitutivo ... 71

CAPÍTULO 3 - ANÁLISES E DISCUSSÕES ... 78

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 91

REFERÊNCIAS ... 93

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INTRODUÇÃO

Costumamos pensar na criança como alguém que está apenas em um processo contínuo de aprendizagem, e talvez essa ideia nos impossibilite de vê-las como construtoras de suas histórias a partir de suas experiências: aquilo que “passa”, “acontece” e “toca” transformando algo. A experiência, nesse sentido, é o que mantém viva uma ideia, valor, conceito e a importância de alguma coisa ou pessoa. Esta dissertação propõe mostrar a relevância de um discurso adequado às crianças para que as possibilite vivenciar uma experiência religiosa. Tudo isso ocorre dentro do ambiente educacional, mais especificamente, numa escola confessional católica, em que a Pastoral Escolar realiza atividades acompanhadas de um discurso que assegura o carisma cleliano. Para este fim, vemos a escola como o Axis mundi que Mircea Eliade explica, ou seja, um espaço profano que recebe significado sagrado a partir da experiência religiosa da criança nesse ambiente.

Como consequência das reflexões assumidas, a inquietude que motivou a presente pesquisa foi: Como se dá o discurso religioso da Pastoral Escolar do Colégio Sagrado Coração de Jesus – SP com as crianças de três a seis anos de idade? Para tanto, o objetivo do presente estudo é compreender o discurso religioso da Pastoral Escolar e verificar como ele se dá no Colégio Sagrado Coração de Jesus – SP, uma escola católica confessional, gerada no carisma cleliano – carisma fundante recebido pela Bem-aventurada Clélia Merloni, fundadora do Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus (IASCJ), mantenedora do colégio. É importante ressaltar que compreender a figura de Madre Clélia é fundamental para o desenvolvimento desta pesquisa, visto que a própria fundadora se tornou objeto de estudo com as crianças do colégio no formato da “boneca Clelinha”, como poderá ser verificado no capítulo de análise da experiência religiosa.

Tratando-se de escola confessional, não se pretende nesta dissertação fazer proselitismo, mas valorizar a educação enquanto um direito inaliável da pessoa e que a Igreja católica, no desempenho de seu múnus educativo, preocupa-se com a formação integral da pessoa humana.

O primeiro capítulo desta dissertação traz uma perspectiva cristã e histórica sobre o desenrolar da Educação Católica no Brasil, destacando as orientações do Magistério da Igreja que têm norteado a educação.

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Quando se trata de educação religiosa confessional, a escola traz outra nobre missão que é a de apresentar o carisma, legado por um fundador ou por uma fundadora de sua mantenedora, o qual, normalmente, está alinhado aos princípios cristãos e busca maior vivência dos valores evangélicos num determinado aspecto.

A escola confessional traz como sua característica institucional o carisma fundante e empenha-se em perpetuá-lo no tempo e no espaço. É nesse âmbito que, ainda no primeiro capítulo, demosntra-se como o Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, por meio da Sagrado Rede de Educação, desenvolve a missão de educar. A partir disso, foi escolhida particularmente uma de suas unidades educacionais localizada em São Paulo, capital.

A escola católica tem um grande diferencial das escolas laicas, ou seja, além de trabalhar com o desenvolvimento humano intelectual, também se dedica com a missão de evangelizar, de acordo com o carisma que se dá pela Pastoral Escolar. A reflexão acerca do discurso religioso em escolas católicas confessionais é imperativa e necessária, uma vez que elas são detentoras e depositárias de um patrimônio cultural-religioso específico, o carisma, e de uma identidade própria, que se traduz em sua organização e na vivência de todos os agentes participantes do processo educacional. Sendo assim, a escola é, por excelência, um espaço de aprendizado, formação e informação, bem como um lugar de experiência por concatenar o conhecimento com a prática e a vida.

O segundo capítulo aborda de que modo se propicia a experiência religiosa dentro do ambiente escolar, mediante a utilização de símbolos e do lúdico, integrando conhecimento e vivência, e como proporcionar a experiência realizando o processo de hierofanização. Para tanto, é importante ressaltar que proporcionar a experiência religiosa não é dever do ensino religioso como componente curricular, mas da Pastoral Escolar, responsável pela evangelização e pela educação religiosa.

Dessa forma, o segundo capítulo discorre de como o Ensino Religioso tem a sua importância na formação humana do estudante, e que, embora a Base Nacional Comum Curricular não mencione explicitamente o Ensino Religioso para a Educação Infantil, expõe-se de que maneira subentende a importância do Ensino Religioso para esse segmento escolar. Décio Passos, 2007, p.40, nos ajuda a compreender que o Ensino Religioso deve ser entendido e inserido na escola para estudar sobre a religião em suas “expressões simbólicas e valorativas” e que esse componente curricular contribui na formação cidadã do aluno.

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A Pastoral Escolar possui tal múnus que se encontra até mesmo em seu radical semântico, derivado de pastoreio. O pastoreio representa a garantia e o zelo pela continuidade da vida – no caso, pela continuidade do carisma fundante que se desdobra nas missões, para esse desenrolar, dentre outros autores nos fundamentamos nos estudos do professor Sérgio Junqueira para contribuir na fundamentação de uma Pastoral Escolar que é responsável pela humanística dentro do ambiente educacional de acordo com o carisma.

A forma como a Pastoral Escolar organiza seu discurso religioso reflete-se nos subsídios que os alunos adquirem e que serão utilizados em sua experiência religiosa, dentro daquilo que Eliade conceitua como hierofania, utilizando-se do lúdico e do imaginário.

Nesse ínterim, além de Mircea Eliade, contribuem também para a fundamentação teórica do segundo capítulo, Johan Huizinga e Clifford Geertz.

Johan Huizinga contribui com o imaginário da criança através do lúdico, da brincadeira com um objeto significativo, nos mostrando que todas as pessoas são sujeitos brincantes por natureza, que temos tendência lúdica, sendo essa uma competência inata para brincar e jogar Homo Ludens.

E para tornar válida a experiência religiosa há uma grande importância em educar as crianças sob a linguagem simbólica. Nesse caso temos Clifford Geertz, que nos apresenta a concepção de cultura por meio dos símbolos, daquilo que cada coisa significa. Esses símbolos, ou partes de símbolos, têm em comum o fato de serem “formulações tangíveis de noções, abstrações da experiência fixada em formas perceptíveis, incorporações concretas de ideias, atitudes, julgamentos, saudades ou crenças” (GEERTZ, 2008, p.68).

Com esta pesquisa temos por hipótese mostrar como o discurso da Pastoral Educacional, especificamente sobre Madre Clélia, impacta na vida das crianças do Colégio Sagrado Coração de Jesus e a importância de uma escola em pastoral para que esse mesmo discurso fortaleça o imaginário infantil mediante o modo de expressarem a sua religiosidade.

Os métodos aqui utilizados se fundamentam na pesquisa de estudos empíricos da religião, por intermédio da análise de fichas de atividades infantis, que relatam por meio de desenho e escrita a experiência simbólica religiosa da criança. Assim, buscamos analisar o comportamento religioso das crianças perante a boneca, sendo representado pelo imaginário. Quanto à metodologia em si, foi feito

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um estudo bibliográfico e a análise de uma das atividades aplicadas pela Pastoral Escolar, para as crianças da Educação Infantil e primeiro ano do Ensino Fundamental, no período de novembro de 2016. Foram analisadas 127 fichas, que trabalharam em um dos principais símbolos religiosos do Colégio Sagrado Coração de Jesus: a imagem da fundadora Madre Clélia Merloni.

A estrutura do estudo segue a seguinte forma: em primeiro lugar, apresenta essa introdução e a intenção de constatação que motivou a pesquisa. Num segundo momento, apresenta uma revisão de literatura que elucida a educação católica e o carisma de Madre Clélia e que permite nortear a experiência realizada a respeito do discurso religioso no Colégio Sagrado Coração de Jesus-SP. Num terceiro momento, perpassa pelas linhas gerais do ensino religioso e pela importância da brincadeira como motivadora do imaginário na segunda infância e possibilitadora da experiência religiosa, além de apresentá-la como forma de vivência do discurso religioso, assumido numa educação católica confessional e verificada em atividades propostas às crianças de três a seis anos do referido Colégio. Apresenta, então, numa próxima seção, análises e discussões dos temas abordados anteriormente a respeito do ensino e do discurso religioso e, finalmente, manifesta as considerações finais mais relevantes e sua contribuição para o estado da arte.

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CAPÍTULO 1

A EDUCAÇÃO CATÓLICA E O CARISMA DE MADRE CLÉLIA

Educar é poder ensinar, transmitir conhecimento, formar, instruir. A Igreja Católica tem como principal sua característica apostólica e missionária de ensinar a verdade, compreendida pelo cristianismo. Por meio de diversas áreas sociais, a Igreja atua com o intuito de educar as pessoas na fé cristã. Desde os primórdios, a vida religiosa tem o seu papel atuante na ação evangelizadora da Igreja Católica. Atualizando a linguagem da época, nos diversos períodos da era cristã, famílias religiosas contribuíram na propagação da fé (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2000, n. 927, p.264). Essas famílias religiosas são ordens ou institutos de consagrados ou consagradas, de pessoas que não se casam para dedicar toda a sua vida a Deus num estilo próprio, o qual é denominado de carisma.

Este capítulo pretende mostrar como a Educação Católica se modela ao carisma de Madre Clélia Merloni, religiosa que fundou o Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, em1894, em Viareggio, na Itália, e que tem como parte fundamental a área educacional. Para tanto, será necessário retomar brevemente o papel educacional da Igreja no Brasil, o desenvolvimento e a importância da Rede Sagrado nessa conjuntura.

Partindo de pressupostos históricos concernentes à teologia cristã, há um reconhecimento simbólico de que os religiosos são, muitas vezes, os braços da Igreja que se estendem na sociedade e que, por meio de ações e projetos, se dispõe ao cuidado do ser humano. Nesse ínterim, a escola católica reafirma o seu lugar e sua importância: o cuidado com a pessoa em todas as suas dimensões - física, emocional, intelectual e espiritual. A escola confessional traz como sua característica institucional o carisma fundante e empenha-se em perpetuá-lo no tempo e no espaço.

Nesse contexto confessional e dentro do organograma da Escola Católica, a Pastoral Escolar desempenha o mesmo patamar de importância da coordenação pedagógica, e ainda mais: tem a responsabilidade de, nos diversos segmentos educacionais, manter acesa a chama do carisma recebido. Carisma, de acordo com o dicionário Michaelis (online, 2019), é “dom extraordinário de Deus concedido a pessoas ou grupo de pessoas com grande fé religiosa, para trabalhar em favor da comunidade”.

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A Pastoral tem a função de garantir o carisma fundante, o que Madre Clélia legou, a fim de que todos os profissionais que ali atuam, do gestor pedagógico ao porteiro, possam se sentir parte dele e parte do processo educacional que o tem por essência.

É preciso que cada um dos membros da Instituição seja um educador cleliano. Todos precisam garantir os valores que norteiam a missão educativa que é movida pelo carisma institucional. No caso do carisma cleliano, cada indivíduo é chamado a ensinar com o coração, ou seja, com ternura e amabilidade, o que inclui a correção, mostrando o que é certo naquilo que se refere à moral cristã, à cidadania e à ética.

É por intermédio do carisma das instituições que os religiosos cuidam de obras em nome da Igreja. O carisma, de certa maneira, define quais serão os tipos de ações que o grupo religioso correspondente irá desempenhar na Igreja e, consequentemente, na sociedade onde está inserido. Os estudos de Luís Alves e Sérgio Junqueira, (2002, p.144) mostram que,

os documentos da Igreja propõem uma educação libertadora, tendo em vista nova sociedade, onde haja diálogo, valores cristãos, compreensão entre as pessoas, formação integral e educação para o serviço na comunidade. É a promoção total do ser humano enquanto indivíduo, único e sujeito de sua história e enquanto grupo diferente e solidário com os outros.

Isso demonstra a importância e a relevância presentes dos documentos da Igreja. Dessa forma, analisaremos alguns desses documentos que norteiam a educação católica, dando ênfase naqueles que se referem à espiritualidade e ao papel da Pastoral da Educação.

1.1 ORIENTAÇÕES DO MAGISTÉRIO DA IGREJA PARA A EDUCAÇÃO

Para os cristãos católicos, o Magistério da Igreja está a serviço do povo de Deus. Ele serve para orientar e guiar a comunidade cristã na sua fé autêntica, conforme foram assimilando e interpretando, como verdade de fé os ensinamentos de Jesus Cristo.

No âmbito cristão, a evangelização está intimamente conectada à educação e ao encorajamento do ser humano. O múnus pastoral para a educação católica é regido pelo Magistério, que vem mostrar o principal exercício da escola católica: a evangelização. O Magistério estabelece propostas e diretrizes necessárias diante da responsabilidade de cuidado com o ser humano, tal qual o cristianismo, que tem

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como uma de suas principais características esse mesmo cuidado. Assim sendo, o Magistério exercido pela fé cristã se coloca atentamente às urgentes necessidades das épocas que ferem a pessoa ou que a coloca em risco.

Dentro dos diversos documentos que versam sobre a Educação Católica, existe o percurso a partir do Concílio Vaticano II, com ênfase sobre a visão acerca da realidade latino-americana, e também a partir do que a Congregação para a Educação Católica estabelece para a educação no mundo contemporâneo.

O Concílio Vaticano II, convocado pelo papa João XXIII e ocorrido entre os anos de 1961 e 1965, foi um dos maiores marcos históricos de renovação da Igreja católica. Teólogos e estudiosos propõem que este Concílio tenha sido a pedra fundamental para inúmeras mudanças de grande impacto no universo católico mundial, funcionando como que um trampolim para tomadas de decisões em muitas - senão todas - as comissões episcopais nacionais e continentais.

No período conciliar, a realidade educacional de diversas nações apresentava-se muito fragilizada. Poucas pessoas tinham a oportunidade de estudo e o número do analfabetismo era consideravelmente alto, fato que se tornou de grande preocupação para os padres conciliares. Esta realidade era palpável nas diversas dioceses, pois, além de serem centros evangelizadores, as paróquias funcionavam também como centros educacionais, visto que muitas igrejas faziam da sacristia e das salas pastorais espaços para o desenvolvimento do conhecimento intelectual por meio do estudo.

A instituição católica acredita que a formação intelectual colabora no conhecimento da verdade, já que,

uma via que não há de ser descurada na evangelização é a do ensino catequético. A inteligência nomeadamente a inteligência das crianças e a dos adolescentes, tem necessidade de aprender, mediante um sistemático ensino religioso, os dados fundamentais, o conteúdo vivo da verdade que Deus nos quis transmitir, e que a Igreja procurou exprimir de maneira cada vez mais rica, no decurso da sua história. Depois, que semelhante ensino deva ser ministrado para educar hábitos de vida religiosa e não para permanecer apenas intelectual, ninguém o negará. E fora de dúvida que o esforço de evangelização poderá tirar um grande proveito deste meio do ensino catequético, feito na igreja, ou nas escolas onde isso é possível, e sempre nos lares cristãos; isso, porém, se os catequistas dispuserem de textos apropriados e atualizados com prudência e com competência, sob a autoridade dos Bispos. Os métodos, obviamente, hão de ser adaptados à idade, à cultura e à capacidade das pessoas, procurando sempre fazer com que elas retenham na memória, na inteligência e no coração, aquelas verdades essenciais que deverão depois impregnar toda a sua vida. Importa, sobretudo, preparar bons catequistas, catequistas paroquiais, mestres e pais, que se demonstrem cuidadosos em se aperfeiçoar constantemente nesta arte superior, indispensável e exigente do ensino

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religioso, Além disso, sem minimamente negligenciar, seja em que aspecto for a formação religiosa das crianças, verifica-se que as condições do mundo atual tornam cada vez mais urgente o ensino catequético, sob a forma de um catecumenato, para numerosos jovens e adultos que, tocados pela graça, descobrem pouco a pouco o rosto de Cristo e experimentam a necessidade de a ele se entregar (PAPA PAULO VI, Evangelii Nuntiandi, n.44).

Conforme é possível verificar no exemplo acima, a Igreja entende que o estudo é um modo de instruir crianças e jovens, principalmente, na humanística, em aulas sobre ética e religião. Acredita-se, com isso, que a pessoa desenvolva bom convívio comunitário na sociedade, adquirindo e aprofundando tais conhecimentos que conduzem a práticas que humanizam, favorecendo as relações e o bem comum.

A importância dos documentos católicos

É salutar ressaltar que, ao privilegiar o exercício da busca pelo conhecimento, a Igreja Católica o considera como um patrimônio cultural transmitido de geração em geração. Ao ressaltar a educação como fator essencial à humanidade, o Concílio Vaticano II concebeu o documento Gravissimum Educationis (PAPA PAULO VI, 1965), direcionado especificamente ao tema da educação. Como o nome sugere, o tema da educação era urgente (“gravíssimo”), naquele momento, e suplicava por atenção e cuidado. Os bispos se dedicaram a olhar para a realidade educacional existente e, num sentido profético, olharam também para o futuro.

Esse documento, escrito há mais de 50 anos, fez emergir temas de importância consideráveis para a área educacional; não necessariamente apresenta respostas a todas as necessidades e realidades educacionais, mas fornece, principalmente, orientações significativas, enaltecendo a importância da evolução da ciência psicológica, pedagógica e outras que contribuem de modo saudável e harmônico no processo de desenvolvimento das qualidades físicas, morais e intelectuais das crianças e adolescentes, para formar cidadãos cristãos e que se dediquem ao serviço da sociedade, do bem comum.

Com o ímpeto de que todos encontrem o caminho da salvação, a Igreja faz da educação não apenas um compromisso, mas um dever. Assim descreve o ponto três da Gravissimum Educationis: “Por uma razão particular pertence à Igreja o dever de educar [...] porque tem o dever de anunciar a todos os homens o caminho da salvação”. O mesmo documento mostra que é responsabilidade da Igreja transmitir o conhecimento de quem é Jesus Cristo. A Igreja direciona seu olhar para os povos e culturas, de modo a desenvolver uma inculturação da mensagem evangélica através

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da formação catequética, como instrução que conduz à salvação, promovendo o bem da pessoa, da sociedade e a “edificação de um mundo mais configurado humanamente” (GE, 1965, n.3). Nesse contexto, a escola católica é considerada o local propício para que essa catequese seja efetuada.

A escola católica foi compreendida como a maneira de mediar a formação da pessoa em sua integridade, garantindo que por meio das faculdades intelectuais seja despertado o espírito crítico para aquilo que condiz moralmente com os preceitos cristãos, valorizando como patrimônio cultural a formação cristã adquirida.

Para que sejam realmente efetivas, as ações da escola católica precisam englobar, além dos educandos, também os educadores, assim como as famílias e todas as demais pessoas que fazem parte do vínculo educacional da escola. O Gravissimum Educationis evidencia o transcurso entre a instituição educacional e a formação de comunidade educacional, fator que ultrapassa a simples transmissão de um conteúdo, mas que compõe-se na promoção da vida cultural, cívica, religiosa, solidária e toda a comunidade humana (GE, 1965, n.5).

O CELAM (Conferência Episcopal Latino-Americano)1 de Medellín (1968) e os

demais CELAMs tiveram como abordagem principal a questão educacional. Segundo o Conselho, a educação é “um fator básico e decisivo no desenvolvimento do continente” (DMe., 1968, p.20). Tendo em vista a importância da temática educacional e sua relação estreita com a evangelização, esse ponto passou a ser abordado por todos os conseguintes CELAMs.

Ao contextualizar historicamente, faz-se necessário destacar que, apesar do Conselho de Medellín suceder o primeiro encontro, ocorrido em 1955, no Rio de Janeiro, o CELAM de Medellín ocorreu após o Concílio Vaticano II. Dessa forma, essa conferência traduziu, culturalmente, a realidade social latino-americana a partir dos apelos do CV II. Abordou-se sobre uma educação libertadora, voltada para os mais pobres, que transforma o educando em sujeito do seu próprio desenvolvimento.

Dentro desse contexto, para que a educação libertadora seja efetiva, seria preciso uma educação que se adequasse a múltiplos fatores, como aos novos tipos de sociedade (crescimento urbano e modernidade), à personalização das novas

1 O CELAM é um organismo da Igreja Católica fundado em 1955 pelo Papa Pio XII a pedido dos

bispos da América Latina e do Caribe. Assembleias gerais acontecem quando o Papa autoriza. Até o dado momento foram realizadas cinco. Geralmente, nessas assembleias, os Bispos analisam a vida da Igreja em seus territórios, descobrem aspectos positivos e negativos, identificam problemas comuns, e deliberam de comum acordo sobre as soluções e linhas de ação pastoral.

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gerações, à consciência da dignidade humana, à livre autodeterminação e ao sentido comunitário.

Levando em consideração a realidade de um número alto de analfabetos, o documento pede à Igreja que promova a educação de base, que não seja pautada apenas em alfabetizar, mas também em capacitar o homem para convertê-lo em agente consciente do seu desenvolvimento integral (DMe., 1968, p.24).

No ano de 1979, aconteceu a terceira CELAM, em Puebla, no México, a qual teve como referência máxima o debate sobre o ato da evangelização por meio da Igreja. É importante ressaltar que o contexto histórico-político de muitos países latino-americanos, nesse momento, era complexo e frágil, donde muitos se encontravam em meio a ditaduras e estados de exceção, como no caso do Brasil e Chile. Sendo assim, no que diz respeito à educação, surgiram, durante esse período, projetos pedagógicos que prezavam por um ensino ativo, crítico e social. É inserida nesse contexto, que o terceiro CELAM apontou para uma educação evangélico-libertadora trazendo presente a doutrina social da Igreja.

A escola católica possui, por essência, a missão de proclamar o Evangelho e ser um sinal de vida para aqueles que estão envolvidos com ela. Por meio de sua proposta pedagógica e também de sua estrutura, ela tem o intuito de promover uma educação que venha a contribuir para a conversão do ser humano total, ou seja, que proporcione ao estudante uma relação construtiva em valores humanos e cristãos consigo mesmo, com os outros, com o planeta e, consequentemente, desenvolva a busca interior pelo divino. Por esse motivo, foram muitos os alicerces dessa educação em favor da vida. A ética, a sobriedade, a cidadania e a esperança são alguns deles. Dado que nesse período, a educação desenvolveu uma forma mais humanizada.

É nesse ponto que se circunscrevem as bases discutidas e propostas pelos CELAMs, a partir de uma leitura humanizadora feita pelos bispos da América Latina, inspirados pela Evangelii Nuntiandi e pela Gaudium et spes. Suas propostas compreendem que a educação por finalidade é a humanização, ou seja, a pessoa é ajudada no processo de aprendizagem a desenvolver o pensamento e a liberdade.

O CELAM de Santo Domingo (1992) teve como objetivo o aprofundamento na nova evangelização, promoção humana e cultura cristã. Dentro dessas três perspectivas, o processo educativo também foi instigado a uma novidade por meio de uma “pedagogia experimental, participativa e transformadora” (DSD, 1992, n.

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119). Sob esse aspecto, a ênfase está centrada na figura do pobre e de sua necessidade educacional. Assim, a educação se torna a mediação metodológica para a evangelização da cultura que promove a educação cristã para a vida.

Já na CELAM de Aparecida, ocorrida no ano de 2007, os bispos apontam para a verdadeira “educação cristã” (DAp., 2007, n.332) uma educação que possa falar de Cristo. Partindo do pressuposto da diversidade religiosa presente em grande parte das escolas católicas, entende-se como necessário o cuidado na abordagem dos princípios cristãos, e esse cuidado é proposto nesse documento no que se refere à educação. Assim, o processo evangelizador dentro da escola precisa ser garantido pela Pastoral Escolar que, por sua vez, necessita estar vinculada aos demais segmentos.

A escola católica é chamada a uma profunda renovação. Devemos resgatar a identidade católica de nossos centros educativos por meio de um impulso missionário corajoso e audaz, de modo que chegue a ser uma opção profética plasmada em uma pastoral da educação participativa. Tais projetos devem promover a formação integral da pessoa, tendo seu fundamento em Cristo, com identidade eclesial e cultural, e com excelência acadêmica. Além disso, há de gerar solidariedade e caridade para com os mais pobres. O acompanhamento dos processos educativos, a participação dos pais de família neles e a formação de docentes, são tarefas prioritárias da pastoral educativa (DAp., 2007, n.337).

A pastoral da educação começa a ter visibilidade no seu empenho dentro da escola. Ela precisa estar vinculada às coordenações para que, de modo dinâmico e criativo, atue nos diversos segmentos e espaços educacionais. Esse é o “impulso missionário” que o DAp propõe para a educação, ressignificando e aprimorando a maneira pedagógico-evangelizadora da escola católica. Em primeiro lugar, com as novas exigências que se vai criando com a mudança global, com o avanço contínuo da tecnologia pode-se dar maior ênfase na aquisição de conhecimentos e habilidades e, consequentemente, cair em um reducionismo antropológico. Depois, as disciplinas, além de transmitir o conteúdo, precisam proporcionar a assimilação de valores e, ainda, a sociedade precisa reconhecer os pais como primeiros educadores, porque na visão cristã, essa responsabilidade de educar pertence primeiramente a eles. Ressignificando então a sua identidade religiosa cristã e depois aprimora, ao dar ênfase à pastoral da educação, demostrando que é por meio dela que ocorre todo o movimento interno da escola em direção à evangelização, desde a formação com os educadores, colaboradores, alunos e também com as famílias. A pastoral torna-se, portanto, o agir da Igreja promovendo

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a formação integral da pessoa na cultura a qual está inserida, sem perder a excelência acadêmica.

O percurso do desenvolvimento da educação católica na América Latina sempre se apoiou no Magistério que orienta, ilumina o caminho a ser percorrido, diante das diversas realidades educacionais vividas no momento, tendo sempre uma atenção e cuidado com a pessoa, de modo que o ensino humanize ainda mais o indivíduo e o conduza a uma vivência cristã, ética e de responsabilidade cívica.

1.2 A PRESENÇA RELIGIOSA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Como discorre a história, duas, das maiores heranças da monarquia portuguesa à colonização do território brasileiro, foram a língua e a religião. Assim sendo, o Brasil traz desde o descobrimento português em 1500 não apenas a influência da religião católica na formação e desenvolvimento da sociedade brasileira, mas toda uma carga de definição cultural que as religiões são capazes de fomentar.

A educação confessional tem como carisma fundante um modo próprio de ensinar e transmitir os valores humanos e cristãos. Desde sua origem, a Educação Católica procura desenvolver cidadãos que sejam corresponsáveis pelo bem comum. Além de toda a formação acadêmica e humana da criança e do adolescente, a escola confessional tornou-se, principalmente, um espaço de evangelização.

A partir do século XX, a escola se torna um direito de todos e dever do Estado e da família, conforme garante o artigo 205 da Constituição Federal de 1988,

a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Mas nem sempre funcionou dessa maneira. Por muito tempo, no Brasil, a garantia de educação não configurava como uma responsabilidade sumária do Estado, portanto, certos homens e mulheres, movidos por sua fé, dedicaram-se em educar crianças e jovens em terras brasileiras garantindo uma formação, ao mesmo tempo, intelectual, humana e espiritual.

Como já mencionado, o preâmbulo educacional no Brasil tem por base o cristianismo, trazido nas caravelas portuguesas. Sendo assim, é inevitável associar e

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entrelaçar o período colonial e a história da educação católica. Com as primeiras navegações vindas de Portugal, chegaram os franciscanos (Ordem Franciscana Menor) e alguns anos depois, os jesuítas (Companhia de Jesus). Moura (2000, p. 33) descreve como os jesuítas se dedicaram à educação de indígenas, ensinando-os a língua portuguesa. Depois, consequentemente, catequizavam e ensinavam a moral cristã, visto que aqui se depararam com costumes e hábitos indígenas pouco usuais à sociedade europeia cristã, como a poligamia e canibalismo.

Saviani (2011), para melhor compreensão da atuação dos religiosos na educação, descreve a educação católica no período colonial por meio de três etapas:

A primeira etapa corresponde ao período de 1549 a 1599, a segunda etapa corresponde ao período de 1599 a 1759, e a terceira e última etapa corresponde ao período de 1759 até o ano de 1808.

A primeira etapa é chamada de “período heróico”, compreendendo o movimento de chegada dos primeiros jesuítas ao Brasil. Esses religiosos tinham a atribuição de converter os gentios, tendo como instrumento fundamental a catequese. O marco final desse período se dá pela criação do Ratio Studiorum que ajustou a prática dos inacianos na educação dos povos da Colônia.

Já o segundo período é marcado pela consolidação dos jesuítas, enquanto Ordem missionária e sua hegemonia no campo da educação, não somente dos gentios, mas também dos filhos dos colonos e da elite colonial. A prática pedagógica nesse contexto esteve alicerçada no Ratio Studiorum que se configurou como instrumento regulador do ensino ministrado pelos inacianos.

O terceiro e último período é marcado pela expulsão dos jesuítas do Brasil e pelas reformas implementadas pelo Marquês de Pombal. Sob forte influência iluminista, as reformas pombalinas buscaram difundir os rudimentos elementares da ciência e das luzes tanto na metrópole como no além-mar. O marco final dessa etapa é sinalizado pela fuga da família real portuguesa para o Brasil, junto com a sua corte (SAVIANI, 2011 apud SILVA e AMORIM, 2017, p.186).

Durante o período colonial, as escolas eram cuidadas por religiosos, estando sempre vinculadas a uma Igreja, visto que nesse período não havia no Brasil escolas de ensino laico. A laicidade do Estado ocorreu, de fato, após a Proclamação da República, em 1889, fator presente na Constituição de 1890 e continuamente reforçado pela Constituição de 1988. Portanto, no final do período imperial as escolas estavam mais vinculadas à educação estatal e não apenas à confessional.

Os religiosos por sua vez, já não sendo mais financiados pelo Estado, precisaram gerir o modo como manteriam os colégios. Esse fato não foi um impedimento para que outras ordens e congregações religiosas viessem ao Brasil para atuar na área educacional. Moura (2000, p. 39, 54, 88-89) as enumera: Ordem de São Bento, Ordem do Carmo, Congregação do Oratório, Irmãs de São Vicente,

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Irmãs da Congregação de São José de Chambéry, Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, Sociedade de São Francisco de Sales, e ainda, padres seculares que criaram escolas em conjunto com a comunidade paroquial.

Essas congregações e outras foram gradativamente conquistando seus espaços educacionais em território nacional. No ano de 1900, chegaram da Itália as Irmãs Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus (RAIA, 2004).

Conforme consta no site oficial do Instituto,

em 1900, num ato de pioneirismo, fé, paixão e ousadia, as Apóstolas chegaram ao Brasil. A chegada proporcionou um período de maravilhosa expansão educacional e missionária para a Congregação, além de consolidação do seu carisma no mundo.

Uma das unidades educacionais dessa última congregação religiosa, objeto da pesquisa, foi fundada por Clélia Merloni no ano de 1894 (GORI, 2017). A Fundadora teve uma sensível percepção da realidade da época e dos apelos evangelizadores da Igreja.

Iniciou o instituto religioso de caráter apostólico, sendo a primeira obra no cuidado e formação de “órfãs, meninas pobres e necessitadas, através da assistência e da instrução para lhes oferecer um futuro melhor” (GORI, 2017. P. 55).

Do Diretório Manuscrito, da Bem-Aventurada Clélia Merloni, têm-se instruções práticas para as religiosas que atuariam na educação. Tais instruções também foram observadas pelas religiosas vindas ao Brasil, onde iniciaram sua atividade apostólica em São Paulo, em 1900, no Orfanato Cristóvão Colombo. No mesmo ano, em Santa Felicidade, Curitiba, Estado do Paraná chegaram mais Irmãs Apóstolas para atuarem numa escola para crianças e adolescentes, de famílias pobres. Grande parte das alunas era de filhas de imigrantes italianos. Clélia Merloni, em seu tempo, tinha em sua mente, claramente a missão das religiosas no campo educacional:

A educação da juventude é uma das principais obras de caridade a que se dedica a Congregação das Apóstolas Missionárias (DIRETÓRIO MANUSCRITO n.312, p.161).

[...]

Por isso, a Apóstola educadora que amplie, vivifique o árido ensinamento da moral, com as sublimes indicações dos Livros Sagrados, e naquilo que se refere ao desenvolvimento das faculdades intelectuais, e ao desenvolvimento do programa, deverá seguir as regras da Pedagogia, fazendo-se ajudar pelo próprio programa e de cada ensinamento, para elevar e fazer com que o coração e o pensamento das alunas cheguem a Deus, fazendo-as notar e admirar as manifestações da sua ternura onipotente, em tudo aquilo que a natureza mostra aos seus olhos, em tudo o que os acontecimentos da vida apresentam de misterioso, de triste e de alegre, em toda a mistura de miséria e sublimidade que é o homem, e

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resumindo, em todo o complexo das coisas criadas, que revelam tão claramente os atributos de Deus, mesmo quando eles são inutilmente, negados pelos ímpios, porque a própria razão humana o reconhece e clama por Ele (DIRETÓRIO MANUSCRITO n.315, p.163).

Embora em épocas diferentes, as instruções de Madre Clélia, ainda que não mais citadas na íntegra no Diretório Geral da Congregação, trazem o legado de que “Educar é uma obra de amor”, ou seja, tal missão exige coerência e testemunho, abertura e diálogo, serviço ao próximo, consciência de aprender sempre, ousadia e coragem para responder com excelência aos desafios que se apresentam a Educação.

1.3 CARISMA, UM JEITO DE SER - INSTITUTO DAS APÓSTOLAS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

O carisma de fundação de uma congregação religiosa é como a alma. Não dá apenas uma definição ou traz um significado para o grupo de religiosos. Dá vida e identidade para os religiosos, com estilo próprio, diferente de outras congregações religiosas. Essa identidade se exprime sob a forma de um determinado idioma espiritual, um jeito de ser e de agir, um conjunto de pessoas e relatos, uma tradição, vivências e memórias, integrando o rico patrimônio espiritual de uma congregação.

Assim se descreve o grupo de mulheres que atualizam, no hoje, a experiência que Clélia Merloni vivenciou no ano de 1894, sentindo-se impelida a fundar uma instituição em honra e glória ao Sagrado Coração de Jesus, propagando a devoção e o amor a Ele. As religiosas que fazem parte desse grupo intitulam-se Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus. Os propósitos que motivaram a fundadora são os mesmos que as motivam hoje no seu comportamento e estilo de ser, Ricoeur, 2007 apud Coqueiro e Santos, 2017, p. 175, nomeia a esse fato de ‘minhadade’, ou seja, “quando se busca a compreensão, enquanto ser no mundo e para o mundo, do que se viveu, do que se vive e da perspectiva de uma vivência plena.” Há, na memória do carisma, uma suavidade que envolve o presente com a mistura sensível do passado.

Nesse caso, pretende-se abordar a construção da memória de um carisma no espaço educacional e, como a Pastoral Educacional garante a continuidade dessa memória com propostas de atividades às crianças para a geração de um vínculo afetivo com o discurso religioso que a elas se dirigem.

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Compreendendo, primeiramente, que todas as ordens e congregações religiosas têm um carisma que define o jeito próprio de ser dos membros. Cada instituto tem seu próprio espírito, caráter, finalidade e tradição, e em concordância com eles, essa é a forma como crescem os religiosos com eles e sua união com Cristo.

O carisma não se mantém na história como se mantém um patrimônio de ideias, de valores, de experiências, somente porque seja possível contrastar com novas perspectivas e novas emergências. Mantém-se sim, como uma “graça viva”, cuja direção pertence ao Espírito Santo: começa com um evento de graça que envolve o carismático em um ardente caminho para seguir a Cristo e pode permanecer na história somente como uma graça que sempre se renova. (SICARI, 2002, p.32-33).

O Papa Francisco ressalta a importância dos carismas e reforça que os mesmos são dados pelo Espírito Santo, e por isso precisam ser colocados a serviço da Igreja, não fazendo desses uma propriedade particular:

O Espírito Santo enriquece toda a Igreja evangelizadora também com diferentes carismas. São dons para renovar e edificar a Igreja (grifo nosso). Não se trata de um patrimônio fechado, entregue a um grupo para que o guarde; mas são presentes do Espírito integrados no corpo eclesial, atraídos para o centro que é Cristo, de onde são canalizados em um impulso evangelizador. Um sinal claro da autenticidade de um carisma é a sua eclesialidade, a sua capacidade de se integrar harmoniosamente na vida do povo santo de Deus para o bem de todos. Uma verdadeira novidade suscitada pelo Espírito não precisa fazer sombra sobre outras espiritualidades e dons para se afirmar a si mesma. Quanto mais um carisma dirigir o seu olhar para o coração do Evangelho, tanto mais eclesial será o seu exercício. É na comunhão, mesmo que seja fadigosa, que um carisma se revela autêntico e misteriosamente fecundo. Se vive este desafio, a Igreja pode ser um modelo de paz para o mundo (EG, 2013, n. 131).

É por meio das obras da congregação religiosa que o carisma se torna perceptível e vai ganhando, aos poucos, visibilidade. A obra não é, em si, o carisma, mas sim um modo de expressá-la. Por esse motivo as escolas católicas têm um jeito próprio de ensinar cujo carisma é fonte inspiradora para atualizar o Evangelho na realidade na qual está inserida.

De forma geral, os religiosos cristãos assumem a educação como um campo missionário. Inserida nesse contexto, a Igreja da América Latina entende essa atuação como parte essencial da ação evangelizadora, comprometendo-se com a formação integral do ser humano. No Documento de Aparecida os bispos definem que,

a educação humaniza e personaliza o ser humano quando consegue que este desenvolva plenamente seu pensamento e sua liberdade, fazendo-o frutificar em hábitos de compreensão e em iniciativas de comunhão com a totalidade da ordem real. Desta maneira, o ser humano humaniza seu

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mundo, produz cultura, transforma a sociedade e constrói história. (DAp., 2007, n. 239).

Refletindo sobre o papel fundamental do carisma e sua relação intrínseca com a instituição educacional católica é que se propõe aqui a compreensão e estudo da Sagrado – Rede de Educação, principalmente para analisar como esse carisma é garantido mediante à sua aplicação humanística por meio da pastoral.

O Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus tem como carisma tornar o Coração de Jesus mais conhecido e amado em diversos campos de missão, inclusive na educação. Para que o carisma seja transmitido com intensidade, a Província Brasileira do Sagrado Coração e a Província Brasileira Clélia Merloni gerenciam toda a Rede de Educação Sagrado.

Dentro do Projeto Político Pedagógico (PPP), as diretrizes de gestão educacional da Rede Sagrado mostram como os “Eixos Estruturantes” da pastoral promovem e contribuem na formação da comunidade educativa, de modo que a escola seja uma “Escola em Pastoral”,

considerando que os Eixos Estruturantes da Pastoral - Teológico, Espiritual, Antropológico, Sociológico e Ético-moral estão profundamente articulados entre si, entende-se que, na dinâmica estrutural da Escola em Pastoral, o eixo antropológico prepara as condições para a recepção do teológico-espiritual e formula os anseios para a construção de uma relação social e democrática e digna. Enquanto o teológico espiritual dá sentido à pessoa e à vida humana vivida em sociedade, o sociológico questiona o ser humano, em sua dualidade individual-social, e o ético elabora e reflete sobre os valores e os critérios da ação e da práxis humana, propiciando a solidariedade e a efetiva fraternidade de tudo e de todos (PPP, 2016, p.17).

1.3.1 A Sagrado - Rede de Educação

A organização educacional do IASCJ é regida por uma equipe de religiosas e profissionais de diversas áreas, para que em todos os contextos culturais do território brasileiro se tenha uma mesma diretriz normativa de como o carisma cleliano precisa se tornar presente e manifesto na educação. Assim se constitui a Sagrado - Rede de Educação. Observa-se no site Institucional esse modo próprio de ser da instituição, mas sempre pautado no magistério,

como marco de uma história pautada em princípios humanistas e cristãos e com o compromisso de trabalhar uma pedagogia cleliana, a Sagrado - Rede de Educação nasce em 2011, integrando unidades educacionais em uma expressiva rede de educação católica.

Com uma prática pedagógica direcionada ao desenvolvimento humano, oferece ao aluno a capacidade de reflexão e domínio das habilidades do saber e do pensar, transformando-o em um ser que aprende e desenvolve com seu próprio conhecimento, utilizando não só a capacidade cognitiva, mas também o seu potencial criativo, talentos, sentimentos e sua intuição.

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Dessa forma, defende-se que a educação deve, necessariamente, passar pelo coração e tocar a vida. Hoje, são 28 unidades educacionais em todo o Brasil, construindo, diariamente, uma história de sucesso.

Contribuindo com a formação acadêmica, espiritual, moral, ética e humana de milhares de alunos, todas as unidades unem a tradição de sua história com a inovação de líderes e colaboradores.

Assim, a Sagrado - Rede de Educação representa uma marca de segurança, qualidade, transparência, confiança e, acima de tudo, amor ao Sagrado Coração de Jesus, pois é esse coração que norteia toda a ação educativa.

MISSÃO: Oferecer uma educação acadêmica e cristã, que assegure a formação de cidadãos reflexivos, autônomos, éticos, criativos, solidários e socialmente responsáveis.

VISÃO: Ser uma instituição educacional de excelência, reconhecida nos locais onde atua.

VALORES: Evangelho: Garante, à comunidade educativa, vivência da fé, da justiça, do respeito, do perdão, da fraternidade, da esperança, da sensibilidade e do amor a Deus e ao próximo.

Espiritualidade do Coração de Jesus: A partir do Carisma, legado pela Bem-Aventurada Clélia Merloni, nossa fundadora, revelamos Cristo à comunidade educativa, através de uma educação que passa pelo coração; cujo centro inspirador é a ternura, a compaixão e o infinito amor do Coração de Jesus.

Pedagogia Cleliana: A ação educativa, alicerçada nos princípios clelianos e na concepção humanista-cristã, oferece uma prática pedagógica que contempla integralmente o educando no desenvolvimento de suas capacidades: moral, ética, espiritual, intelectual, afetiva, social, cognitiva, cívica e ecológica.

Ser Presença: O testemunho dos educadores com presença atenta, acolhedora, firme e educativa: do olhar terno, cuidadoso e abrangente, fortalecendo os laços de confiança e amor recíproco. (Grifo nosso)

Toda essa estrutura da Sagrado - Rede de Educação se mostra nos diversos segmentos educacionais, unindo o carisma cleliano às muitas práticas científicas pertinentes à educação, como a ciência pedagógica, a psicológica, a neurocientífica e outras tantas que são essenciais para que ocorra o processo de aprendizagem e conhecimento de acordo com as particularidades de cada estudante.

Pedagogicamente, a didática para aplicar tais ciências é extremamente importante. No segmento da Educação Infantil na Rede, que é objeto desta pesquisa, o conhecimento e aprendizagem acontece por meio de interações e brincadeiras. Assim,

numa perspectiva de crescimento, a Educação Infantil compreende as interações com sujeitos e objetos do conhecimento em diferentes contextos e situações, que favorecem a ampliação do repertório cultural das crianças, potencializando a aprendizagem e o desenvolvimento, integrados às brincadeiras, pois é brincando que elas representam o mundo e simulam as relações existentes: imitando, repetindo, transformando e ampliando suas experiências.

Os diferentes campos de vivência enfatizam direitos, noções, habilidades, atitudes, valores e afetos que as crianças devem desenvolver até os cinco anos e colocam o pensar e o agir no centro do processo educativo, como fatores essenciais para a aquisição da identidade e autonomia, de acordo

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com cada faixa etária da Educação Infantil (SAGRADO REDE DE EDUCAÇÃO, on-line).

Para tanto, a Sagrado Rede de Educação faz parte de uma instituição mantenedora, o Instito das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, e se tratando de uma Rede de Escola Confessional, existe um duplo dinamismo, ou seja, o carisma fundante e o compromisso de perpetuá-lo no tempo e no espaço (ITOZ, JUNQUEIRA, MELO NETO, 2016), oferecendo uma educação de excelência nos campos humano, espiritual, social e acadêmico. A proposta desta pesquisa se pauta, então, na análise desse dinamismo no Segmento da Educação Infantil e primeiro ano do Ensino Fundamental, uma vez que na Rede a coordenação e orientação pedagógica desse último é a mesma do primeiro, focando, principalmente, nas práticas humanísticas que a Pastoral Educacional promove.

1.3.2 Colégio Sagrado Coração de Jesus-SP

O Colégio Sagrado Coração de Jesus, fundado aos 18 de fevereiro de 1937, faz parte de uma das 28 unidades educacionais da Sagrado - Rede de Educação, e contempla o sistema de educação do Infantil ao Ensino Médio.

Essa escola faz a sua história na região da zona oeste da capital paulistana e é reconhecida pela sua tradição em educar com base nos valores evangélicos e na espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus. Tradição nesse contexto se refere a uma cultura construída e compartilhada, entendida como modelos educativos, corpos consistentes de pensamento e de prática vinculados a determinados valores (FALSARELLA, 2018, p.624).

Toda essa história tem seu sentido ao relembrar quem foi Madre Clélia Merloni e os seus ideais ao fundar a Congregação das Irmãs Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus. Partindo dessa memória outras vão sendo formadas, o que dá sentido ao modo de ensinar, próprio das escolas da Sagrado - Rede de Educação. Relembrar quem foi Clélia Merloni, não significa contextualizar-se apenas a um fato histórico, é algo muito mais amplo, vai além do que se pode apalpar, pois do seu carisma entende-se que a aprendizagem precisa passar pelo coração, ou seja, o ensino não pode reduzir-se apenas ao conhecimento, mas precisa instigar a práticas que tornem o indivíduo mais humano. Assim, ressalta Le Goff:

A memória é um glorioso e admirável dom da natureza, através do qual reevocamos as coisas passadas; abraçamos as presentes e contemplamos

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as futuras, graças à sua semelhança com as passadas. (LE GOFF, 2013, p.414)

Com todo o avanço da tecnologia que o século XX trouxe, poderia pensar que a religião nesse contexto tornar-se-ia dispensável no século XXI uma vez que a tecnologia permite ao indivíduo entrar em contato com o mundo, ter em suas mãos o domínio do conhecimento, devido à velocidade com que chegam as informações. Nesse cenário, o indivíduo poderia mostrar um desinteresse pelas religiões ou práticas religiosas, para construírem seus próprios deuses por meio do poder que o uso das informações pode conceder. No entanto, observa-se que as religiões continuam sendo procuradas como um espaço interior de encontro com o transcendente, como se prova pelos templos religiosos sendo frequentados e as práticas e objetos religiosos sendo oferecidos em redes sociais. Como, também, no contexto educacional, para algumas famílias, a formação religiosa e espiritual de seus filhos é de relevante importância, tanto que escolas confessionais se tornam, em muitos locais, escolas de referência. Pais matriculam seus filhos em escolas confessionais pela proposta pedagógica e, também pelo carisma que forma as características próprias do ensinamento e da formação humana.

O jeito de ser do Colégio Sagrado dá forma à cultura escolar que permite a identificação dos mitos, crenças e valores, constituídos nesse seu tempo de existência.

Atualmente, as escolas particulares, inclusive as confessionais, para atender as demandas educacionais do atual período, investem em tecnologia, robótica, espaço maker, ensino bilíngue e outras inovações. Para uma escola confessional, esse tipo de investimento é necessário, pois o público atendido no momento presente é conhecido como geração alpha, ou seja, são denominados assim aqueles que nasceram após 2010, por nascerem em um período em que tudo está dentro do universo tecnológico e digital. Márcia R. Konrad et. al fala da geração alpha da seguinte maneira:

De fato, a interação com a tecnologia desde o nascimento é sua característica principal. Esse fator impulsiona as atividades cerebrais, fazendo com que o cérebro mude, tornando as crianças dessa geração mais inteligentes, mais capazes.

[...] o processo educacional dessa nova geração mostra que as crianças estão cada vez mais ativas, independentes e adaptadas, desde muito cedo, às diferentes tecnologias. (KONRAD et al, 2016, p.9).

Isso não significa que as crianças são movidas apenas pela tecnologia, ao contrário, a tecnologia proporciona maior conhecimento, mais informações, agilidade

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no raciocínio e com tudo isso as crianças continuam sendo atraídas pelo lúdico, pelo criar e construir, pelos brinquedos que as fazem aspirar a serem super-heróis, princesas, profissionais, a serem como “gente grande”. Diante desse panorama, a escola confessional também se atualiza e acompanha todo o tipo de novidade educacional, sem perder o foco de formar a pessoa de maneira humanística, por isso a Pastoral Escolar é indispensável.

A presença atuante da Pastoral em toda a escola acontece pela inserção que há no pedagógico, proporcionando formação para coordenadores, professores, colaboradores (em suas diversas funções e responsabilidades), famílias e alunos. A formação garantida pela educação em junção com a pastoral é uma maneira “ritual” (embora não seja ritualística) de proporcionar à comunidade educativa o pensar, o falar e o agir com esse dinamus que vem do carisma de Clélia Merloni, a fundadora.

Desse ‘ritual’ forma-se a tradição que caracteriza e diferencia o Colégio Sagrado de outros colégios, ainda que católicos. Cada um apresenta sua tradição de acordo com particulares valores e, para determinados públicos da sociedade, esses valores são vistos como garantia de ensino de qualidade.

Assim, muitas vezes as escolas católicas são reconhecidas como um lugar de tradição, possivelmente por trazer em sua essência a memória de valores pautados no cristianismo, e o cristianismo é uma religião de tradição na história da humanidade.

De acordo com Goody (1977a, p.35 apud Le Goff, 2013, p.391) “a acumulação de elementos na memória faz parte da vida cotidiana”, ou seja, eventos importantes registrados na memória não são escritos, eles são parte do dia a dia, como o fato de ir à escola. Estudar não significa que todo o conteúdo transmitido foi absorvido cem por cento pela memória. Embora sejam diversas situações vividas dentro do ambiente escolar, algo vai ser registrado na memória como uma experiência única nesse espaço. Pode ser uma música, um professor, o lanche, uma aula específica, os amigos, um cheiro, por fim, acontecimentos ou pessoas. Até mesmo um conjunto desses pode tornar o espaço escolar memorável, trazendo recordações imbuídas de sentimentos, mesmo que não se lembre de todas as aulas e/ou acontecimentos. Não importa! A escola se tornou um local de memória, porque toda memória é decorrente daquilo que se vive, que se pode experimentar e produz emoções ao ser recordado. Não necessariamente os eventos em si, mas também o local e, nesse caso, a escola.

Referências

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