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CONFERÊNCIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE

A sistematização do perfil sócio demográfico dos conselheiros do segmento de usuários presentes nas conferências municipais de saúde demonstrou que a maioria dos participantes era do sexo masculino, com idade acima de 50 anos e com ensino superior incompleto/completo. Quanto à situação trabalhista a maioria era composta de servidores públicos e aposentados, no seu primeiro mandato no conselho, indicados por sua entidade, que majoritariamente eram as associações de moradores. Dentre os

usuários interrogados, parte significativa ocupava cargo de direção na própria entidade, a qual se fazia representar também em outros conselhos. Metade dos conselheiros do segmento de usuários entrevistados recebeu curso de capacitação.

No que tange à variável gênero, em pesquisa realizada na conferência municipal de saúde Belo Horizonte, houve predomínio de conselheiros do segmento de usuários do sexo feminino, demonstrando a conquista das mulheres dessa arena política, diferentemente do que revela o estudo em questão, onde por razões culturais, o espaço de embate político da plenária da conferência apresenta-se formado em sua maioria por homens (Faria, Lins, Lobão, Cardoso, Petinelli, 2012).

A partir de análises sobre espaços participativos foi evidenciado dificuldade em encontrar pessoas disponíveis para participar, principalmente nas instâncias criadas pelo poder executivo, e para o risco de desmobilização de espaços criados espontaneamente pela sociedade civil (Andrade, Vaitsman, 2013). Nos últimos trinta anos os conselhos de política acrescidos de suas respectivas conferências à nível local, distrital, municipal e federal, cresceram vertiginosamente (Avritzer, 2009). No entanto, o rápido aumento do número de conselhos e de conferências sem o proporcional aumento de uma base participativa, tem implicado em alguns limites nessa forma de interação entre sociedade civil e governo (Andrade, Vaitsman, 2013), dado verificar-se dificuldade de composição desses espaços, bem como a repetição de organizações com assento em vários conselhos de política, inclusive a mesma pessoa compor vários conselhos ou várias organizações. Tal quadro impõe limites ao processo de representatividade de interesses coletivos diversos, uma vez que não contribui para a sublevação de atores historicamente excluídos dos processos de deliberação, sinalizando a inexistência de uma sociedade civil com histórico de participação e mobilização social, o que de fato ocorre especialmente em municípios pequenos (Paiva, Van Stralen, Costa, 2014).

A partir da análise dos dados foi possível inferir que os conselheiros do segmento de usuários apresentam relativo conhecimento sobre a relação entre os poderes públicos e sobre o papel do parlamentar, e um domínio maior sobre a importância da participação política do cidadão.

Os conselheiros muito embora não recebam ajuda de custo para participar das atividades do conselho, são assíduos nas reuniões e nas

atividades organizadas pelo conselho, justamente por compreenderem a importância da sua participação na política, como identificado acima. A metade referiu participar de comissões temáticas e 93% das conferências de saúde.

A relação dos conselheiros com a sua entidade de base vincula-se a mantê-la informada sobre os trabalhos do conselho, discutir com a sua entidade os assuntos debatidos no CMS, bem como receber sugestões da sua entidade para atuar no conselho e participar de reuniões da entidade para sua atuação no CMS, como exposto pela maioria dos conselheiros entrevistados, embora estivessem presentes nas conferências um pequeno número de representantes de usuários. Esse trânsito de informações, é que lhes confere a representatividade diante das entidades, pois ao levar as demandas das suas organizações de base aos conselhos e conferências e deixá-las a par das deliberações dos conselhos e propostas das conferências, o conselheiro passa a representar e defender os interesses do coletivo ao invés de interesses particulares (Faria, Ribeiro, 2011).

Os resultados indicam que a maioria dos conselheiros considerou a sua participação no conselho municipal de saúde importante (92,9%), produtiva (89,0%) e gratificante (96,0%). E poucas vezes ou nunca maçante (78,0%).

Tais achados revelam que embora o número de conselheiros representantes de usuários nas conferências municipais de saúde seja pequeno, revelaram nas suas falas serem atuantes e cientes da importância da sua participação nos conselhos e conferências, constatado por serem assíduos às reuniões do conselho, participar das conferências, fazerem parte das comissões temáticas e pela publicidade das deliberações e propostas nas suas organizações de base, revelando o vínculo que os conselheiros possuem com as suas bases de apoio.

Em outro estudo que analisou a percepção dos atores sociais nas conferências municipais de saúde concluiu-se que eles consideram as conferências como espaços públicos importantes e efetivos para a promoção da cidadania e da democracia, e como controle da sociedade sobre a gestão pública da saúde e a definição da agenda política no setor (Müller Neto, Artmann, 2014).

Em relação à opinião dos conselheiros sobre a geração de mudanças nas ações de saúde após as conferências de saúde, 57,2%, perceberam pouca ou nenhuma mudança. Fato este que se assemelha ao encontrado na literatura

onde alguns atores sociais questionam a efetividade das conferências municipais na gestão, na determinação das prioridades das políticas e planos municipais de saúde, já que as deliberações das conferências não têm caráter vinculativo, e seu estatuto de representação é objeto de disputa e diferentes interpretações por parte dos componentes da esfera pública sanitária. Advém daí a dificuldade em tornar efetiva no âmbito da gestão do SUS a determinação legal que afirma ser atribuição das conferências de saúde definir as diretrizes para a formulação das políticas de saúde (Müller Neto, Artmann, 2014; Müller Neto, Artmann, 2012).