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O conteúdo das oito entrevistas ou unidades de contexto inicial (u.c.i.) processado pelo software ALCESTE apresentou um divisão do corpus em 640 unidades de contexto elementar (u.c.e.), contendo 27896 palavras. Foram consideradas para fim de análise pelo programa 612 uce´s, sendo descartado o restante.

O quadro que se segue diz respeito às classes identificadas pelo programa condicionadas a um único eixo temáticos, bem como a relação entre as classes (a relação significativa é considerada a partir de R > ou = a 50%), seguido pelo número de u.c.e que compõe cada classe, pelas variáveis descritivas e apresenta ainda as palavras de maior associação com a referida classe.

Como verificado no dendograma (Figura 2), a análise lexical resultou na identificação de um eixo temático composto por quatro classes:

Figura 2 - Dendograma resultante da CHD do conteúdo das entrevistas com 8 presidentes dos conselhos municipais de saúde da RIDE-DF.

Os gráficos a seguir (Figuras 3 e 4) apresentam respectivamente a distribuição das u.c.e. e das palavras analisadas nas quatro classes, onde há claro predomínio de um maior número de u.c.e. e palavras na classe 1, seguido da classe 3.

Figura 3 - Distribuição das unidades de contexto elementar nas classes.

Classe 3 3se Classe 4 Classe 2 Classe 1 415 Unidades de classe 0% 50% 100% classe 1 classe 2 classe 3 classe 4 classe 1: 173 unidades ou 42,0% classe 2: 62 unidades ou 15,0% classe 3: 116 unidades ou 28,0% classe 4: 64 unidades ou 15,0%

Figura 4 - Número de palavras analisadas por classe.

A classe 1 (configurações para o funcionamento dos conselhos) apresentou 173 u.c.e., o que corresponde a 42,0% do total de u.c.e. do corpus e as variáveis descritivas significativas foram os conselheiros pertencerem ao segmento de trabalhador, ser do sexo feminino, ter ensino médio, e idade entre 30 e 39 anos e 50 e 59. 110 85 111 77 0 20 40 60 80 100 120

Figura 5 - Classificação ascendente hierárquica da classe 1: palavras que caracterizam a classe 1 com qui-quadrado.

A classe 1 trata do processo de escolha dos conselheiros por suas entidades/organizações de base, que na maioria dos casos ocorre por indicação. Outro ponto levantado é o processo de tomada de decisões, onde prevalecem as que tiveram metade mais um dos votos a favor, determinado por maioria simples. Entretanto, antes de se proceder a votação, é preciso que as reuniões tenham quórum mínimo (metade mais um dos conselheiros) para que a sessão plenária seja deliberativa.

(...) quanto ao processo de escolha dos conselheiros a própria entidade que indica, a gente manda a carta convidando e solicitando um ofício indicando quem será o titular e o suplente, mas é a própria instituição quem define, quem escolhe. (Sujeito 3)

(...) primeiro que para ter deliberação é preciso ter metade mais um senão a gente nem vota senão tiver essa metade absoluta a gente não vota. Tem dificuldade muito nisso porque marca reunião e não tem quórum, não deu, então não vota, transfere para próxima ou faz uma extraordinária, vai fazer a votação pelo plenário diante disso o que a maioria decidir é o que vai ficar. (Sujeito 6)

A classe 1 ainda apresenta a estrutura organizacional dos conselhos como sendo composta pelo presidente, vice-presidente, secretário administrativo, secretário executivo e os membros titulares e suplentes.

A estrutura organizacional do conselho é a presidência, o corpo administrativo que é o presidente, o secretário administrativo, o secretário executivo e o vice- presidente e vem os membros titulares e os membros suplentes. (Sujeito 1)

A classe 2 intitulada “fiscalização dos gastos públicos” agregou 62 u.c.e., correspondendo a 15,0% do total do corpus e as variáveis descritivas que mais representaram esta classe foram os conselheiros pertencerem ao segmento de usuário, serem do sexo masculino, ter o ensino superior e possuírem mais de 60 anos de idade.

Figura 6 - Classificação ascendente hierárquica da classe 2: palavras que caracterizam a classe 2 com qui-quadrado.

A classe 2 refere-se a fiscalização dos gastos em saúde pelo conselho, ministério público e tribunal de contas. Expressa também a dificuldade de acesso a documentos da secretária municipal de saúde para realização da fiscalização e da dificuldade de acesso ao ministério público frente a denúncias que exigem ações mediáticas.

(...) a gente precisava muito que o ministério público olhasse isso com mais afinco, com mais seriedade sobre o que é o conselho, o que são os recursos vindos do ministério da saúde e órgãos coligados para que a gente pudesse fiscalizar mais, (...). (Sujeito 8)

(...) o caso de funcionários que estão no município contratados, concursados, comissionados, a gente hoje está procurando em cada órgão verificar a presença desses funcionários que estão na folha, para conseguir essa folha a gente levou cerca de quase dois meses para eles enviarem a folha de pagamento com o nome do funcionário e órgão de lotação. (Sujeito 6)

(...) então a gente queria que essa dificuldade não existisse que o promotor estivesse naquele momento com mais atenção a esses recursos que chegam, as denúncias do conselho porque é um conselho que briga com um órgão que tem recurso próprio,(...). (Sujeito 8)

Emergiu das falas que compõem a classe 2 que a falta de dotação orçamentária dos conselhos limita a atuação dos conselheiros, uma vez que suas ações ficam dependentes da boa vontade do gestor. Retrata ainda o desvio de conduta do gestor, concretizada na apropriação indébita do dinheiro público.

(...) ora o gestor não quer saber muito, por isso que eu acho que deveria ter um recurso determinado para o uso do conselho se não gastou esse mês fica para o mês seguinte ou no fim do ano se destina o recurso para comprar um medicamento, (...) para que o conselho pudesse ter tranquilidade uma vez que e um órgão que não é remunerado, ninguém é remunerado. A gente não tem nem mesmo a liberdade de comprar aquilo que o conselho precisa proporcionar. (Sujeito 8)

(...) o secretário de saúde que saiu por último até com mala de dinheiro, ouvi dizer que trocou de carro e saiu por aí e deixou todo mundo sem pagar, isso eu sei que deixou, não pagou ninguém. (Sujeito 8)

A classe 2 demonstra ainda que os conselheiros tem dificuldade em fiscalizar os gastos públicos por não saberem distinguir uma dotação orçamentária, de um empenho ou uma nota de pagamento. E que seria benéfico ao funcionamento do conselho, se mediante dotação orçamentária, pudesse contratar um especialista ou perito no assunto para auxiliar os conselheiros na fiscalização da prestação de contas. Em contrapartida, há pensamento divergente em que peritos já bastam os existentes no tribunal de contas.

(...) saber distinguir o que é dotação orçamentária, o que é empenho, do que é nota de pagamento, o que é nota de liquidação e direcionar para a secretaria municipal de saúde, procurar o tesoureiro, e pedi para verificar essa documentação, (...). (Sujeito 1)

(...) existe o tribunal de contas que é um órgão especializado para avaliar a prestação de contas, então muitos conselheiros ficam se apegando aos gastos eu não vou me apegar a gastos eu só olho se foi gasto dentro do bloco de financiamento, (...). (Sujeito 4)

A classe 3 (caracterização da participação social) composta por 116 u.c.e., (28,0% do total de u.c.e. do corpus), apresentou como variáveis predominantes os conselheiros serem do segmento de gestor, do sexo masculino, com grau de escolaridade superior e idade entre 25 e 29 anos.

Figura 7 - Classificação ascendente hierárquica da classe 3: palavras que caracterizam a classe 3 com qui-quadrado.

A classe 3 relaciona-se com a motivação de ser conselheiro, pela crença do conselheiro em um ideal, seja ele de melhorar a saúde do seu município, de materializar as propostas oriundas do conselho, de mobilizar a comunidade para que ocorram mudanças, de concretizar o direito à saúde, de aprovar políticas públicas, seja ele de participar na elaboração de projetos.

(...) eu entendo é fundamental uma vez que as pessoas participam por acreditar em um ideal sem nenhuma remuneração do seu trabalho enfim só participam buscando a melhoria do atendimento à população do seu município. (Sujeito 4)

A participação social aqui posta é vista como um direito e refere-se à capacidade da população de participar do planejamento das ações em saúde dentro do conselho, o que lhe confere autonomia para autorizar ou não aplicação de verbas, bem como a execução de programas.

(...) na minha ótica a participação em saúde da sociedade é um direito uma vez que a sociedade ela pode reivindicar e provar a implantação das políticas públicas de saúde que busca atingir os objetivos daquela comunidade, (...). (Sujeito 4)

(...) eu tento buscar a população para participar, para tentar ali planejar as ações, buscando a prevenção e também resolver os problemas dentro do conselho porque dentro do conselho a gente tem autonomia de autorizar ou não o que a secretária de saúde vai fazer, a questão das verbas, se eles vão implantar algum programa, (...). (Sujeito 3)

Com fins de tornar permeável a participação social, caberia aos gestores municipais ouvir o conselho e colaborar na sua divulgação, enquanto aos gestores federal e estadual caberia cobrar dos gestores municipais o estímulo ao fortalecimento do controle social.

(...) eu acho que deveria haver uma participação maior do nível federal para o fortalecimento do conselho, a gente não está querendo que o poder decisório seja do conselho, mas a gente quer que se ouve o conselho antes da implantação e na elaboração de qualquer projeto, essa nova gestão que assumiu, não foi nada para o conselho ainda, (...). (Sujeito 4)

(...) nós temos um trabalho de divulgação árduo porque nosso conselho não é bem conhecido dentro do município acredito que com essa nova gestão possa

estar colaborando mesmo porque a nova resolução esta dando mais autonomia para o conselho (...). (Sujeito 7)

(...) eu acho que infelizmente os níveis acima não pressionam, aí acaba o conselho batendo muito de frente, acaba a gente ficando de certa forma antipático com relação aos gestores. Eu entendo que o governo federal deveria cobrar mais dos gestores com relação a certas implantações de programas no nível municipal. (Sujeito 4)

Do ponto de vista de um conselheiro seria salutar diminuir a ação partidária dentro dos conselhos, por este último possuir objetivos eleitoreiros. Entretanto, em sua fala a única organização que traz questionamentos fundamentados à discussão em plenária é o sindicado, justamente por ter pessoas com formação política. Por vezes o processo decisório pode ser influenciado pela qualidade da oratória dos membros do conselho, por isso é indicado que os conselheiros tenham acesso a capacitações ou formações, com a finalidade de que a discussão aconteça no mesmo nível.

(...) tentar fazer com que a ação política partidária diminuísse dentro das ações do conselho e o conselho cuidasse um pouco mais da área efetiva que é mediar o atendimento do cidadão. (Sujeito 1)

(...) A única organização que traz questionamento mais fundamentado, mas com uma visão política é o sindicato porque existem segmentos partidários e eles têm objetivos claros já foi percebido por mim em muitas reuniões que eles têm objetivos claros de travar a gestão existente para que eles assumam posteriormente, (...) (Sujeito 1)

(...) talvez seja o mais bonito ou o que falou melhor, enfim alguma coisa faz com, direcione aquele canal. Por isso que eu acho que a formação do conselheiro é fundamental para que toda discussão ela seja num nível só. (Sujeito 4)

(...) são raríssimos os conselheiros que conseguem pegar uma pasta de balancete e diagnosticar ali alguma falha realmente que comprometa a gestão, comumente eu observo bastante, existe bastante questionamento que não tem fundamento por falta de entendimento, falta de conhecimento técnico então os conselheiros eu acho deveriam ser melhor preparados para serem conselheiros. (Sujeito 1)

A classe 4 (qualificação das discussões) formada por 64 u.c.e., referente a 15,0% do total de u.c.e. do corpus, caracterizou-se pelas seguintes variáveis: conselheiros do segmento de trabalhadores, do sexo feminino, com grau de escolaridade superior incompleto, com idade entre 18 e 24 anos.

Figura 8 - Classificação ascendente hierárquica da classe 4: palavras que caracterizam a classe 4 com qui-quadrado.

A classe 4 aborda a importância de comissões dentro do conselho com a finalidade de qualificar às discussões, bem como da necessidade de assessoria jurídica para apreciação do relatório de prestação de contas, dentre outros documentos. E que é imprescindível que os conselheiros tenham acesso ao material de base com certa brevidade da reunião plenária, bem como se

preparem mediante pesquisa e estudo antes da tomada de decisão em uma reunião plenária, principalmente pela dificuldade que possuem quanto análise legal dos documentos encaminhados pela secretaria municipal de saúde.

(...) nós temos as comissões de finança que vão avaliar, a gente analisa muito as contas da secretária de saúde, temos a comissão do trabalho do PSF, que é aquela prestação de serviços dos PSF, (...). (Sujeito 5)

(...) às vezes vai no sábado que é o dia que o pessoal está mais em casa e faz essa divulgação. Então hoje nós temos duas comissões: de prestação de contas e de divulgação. (Sujeito 6)

(...) então alguns casos a gente procura essa assessoria jurídica que vai nos conduzir, (...), às vezes até de mostrar a lei, olha a lei é esta, então vocês vão estudar essa lei, vão questionar em cima dessa lei. (Sujeito 6)

(...) você não sabe, mas você vai pesquisar, você vai procurar quem sabe, aí eu falo para eles vocês podem me procurar, porque lá a gente tem internet, a gente pesquisa na internet, a gente tem o sindicato que ajuda muito a gente em relação as leis, porque eles têm uma assessoria jurídica, (Sujeito 6)

(...) principalmente a questão de leis igual tem leis de diretrizes orçamentarias, lei orçamentária anual, então quando a gente vai avaliar essa questão eles ficam muito confusos não adianta só uma comissão ir lá e dar o seu parecer, (...). (Sujeito 6)

(...) até eles reclamam que antes assinavam e nem sabiam o que estavam assinando, muitos deles falam, hoje eles querem saber, às vezes a gente explica três, quatro vezes, às vezes eu fico até cansada, porque eu repito muito a mesma coisa, (...). (Sujeito 6)

6.4

DISCUSSÃO DA PERCEPÇÃO DOS CONSELHEIROS DE