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CAPÍTULO 9. Resultados do Estudo Quantitativo

9.2. Estudos com Actores e Advogados

9.3.1. Discussão dos Estudos Psicométricos dos Instrumentos

Expression Regulation Questionnaire (ERQ)

Este estudo teve como objectivo avaliar as propriedades psicométricas do

Expression Regulation Questionnaire (Gross & John, 2003), em termos da sua validade

e fiabilidade, numa amostra de actores. No que diz respeito à validade factorial, os resultados obtidos permitem-nos considerar como aceitável a retenção de dois componentes, ambos congruentes relativamente ao conteúdo. O primeiro é constituído por itens que medem a reavaliação cognitiva, e o segundo por itens que estimam a supressão emocional. Esta distribuição factorial, embora em conformidade com a original (Gross & John, 2003), é distinta da adaptação portuguesa (Machado Vaz, 2009), onde o item 5 consta do segundo factor, não do primeiro. À excepção deste item, todos os outros apresentaram valores de saturação acima do ponto de referência definido por Floyd e Widaman (1995) de .35. Contudo, como o valor obtido neste item foi muito aproximado, optou-se por manter a composição factorial original.

Em termos de fiabilidade, à semelhança do estudo original, o primeiro factor (reavaliação cognitiva) demonstrou uma boa consistência interna, e o segundo (supressão emocional) registou um valor considerado fraco, um pouco abaixo do obtido por Gross e John (2003). Na presente amostra, os dois alpha de Cronbach foram superiores aos encontrados por Machado Vaz (2009). É possível aferir que este é um instrumento de medida com boa homogeneidade, e que permite a avaliação de ambas as estratégias de regulação emocional, em adultos portugueses. Os dados apresentados são congruentes com o estudo de validação, efectuado com uma amostra de estudantes universitários italianos, no qual a estrutura de duas componentes foi identificada em análise factorial confirmatória, ambas revelando boa consistência interna (Balzarotti et al., 2010).

A análise das propriedades psicométricas do instrumento foi replicada na amostra de advogados. Os resultados alcançados foram semelhantes aos dos actores e a composição factorial manteve-se. Os valores de consistência interna revelaram-se superiores.

151 Berkeley Expressivity Questionnaire (BEQ)

Para estudar as características psicométricas do Berkeley Expressivity

Questionnaire (Gross & John, 1995), procedeu-se à análise da validade e fiabilidade do

instrumento, na amostra de actores.

No que diz respeito à validade factorial, ao contrário da versão original composta por três factores, a solução apontou para a retenção de, apenas, dois. Alguns dos itens não se apresentavam distribuídos conforme a estrutura original, pelo que se procedeu a uma avaliação detalhada do seu conteúdo. A questão principal refere-se ao facto de os itens 10 (“Sou uma pessoa emocionalmente expressiva”) e 12 (“Por vezes sou incapaz de esconder os meus sentimentos, no entanto gostaria de o fazer”) surgirem incluídos no primeiro factor, enquanto no estudo original pertenciam a diferentes componentes. No estudo de Gross e John (1995), o item 10 apresentou a carga factorial mais elevada da componente “expressividade positiva”. Embora tenha sido considerado, pelos autores, como tendo conteúdo relativamente inespecífico, foi um excelente definidor do factor geral de expressividade, pertencente à estrutura unidimensional encontrada nas primeiras análises psicométricas realizadas por Gross e John (1995). Apoiados nesta visão, assumimos que a inclusão dos itens 10 e 12 no mesmo componente seria plausível e coerente em termos teóricos, uma vez que ambos retratam o “expressar as emoções” que, no nosso entender, se relaciona com a expressividade em geral. De acordo com Gross e John (1995, 1997), um sujeito emocionalmente expressivo é aquele que manifesta, comportamentalmente, os seus impulsos emocionais. Devido às suas características, alguns itens foram excluídos e a análise factorial refeita. A nova solução revelou a existência de dois componentes, com todos os itens a apresentar cargas factoriais acima do ponto de referência definido por Floyd e Widaman (1995), de .35. O primeiro factor corresponde, teoricamente, à expressividade geral (positiva ou negativa) e o segundo à força de impulso. A opção de agrupar a expressividade positiva e negativa num só factor foi fundamentada pelas primeiras análises psicométricas realizadas por Gross e John (1995). Os autores verificaram a existência de uma escala de expressividade total, representativa de uma dimensão geral e relativamente equilibrada quanto às emoções positivas e negativas. Mencionaram, ainda, que a composição e associações desta escala total podem convergir com o

Ambivalence Over-Emotional Expressiveness Questionnaire (AEQ) de King e Emmons

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Em termos de fiabilidade, os dois factores demonstraram valores de consistência interna aceites como razoáveis, semelhantes aos do estudo original. Os valores de alpha de Cronbach que utilizámos como referência são os da amostra A (Gross & John, 1995, p. 559) que, em termos de dimensão, é semelhante à da presente investigação.

A avaliação das propriedades psicométricas do instrumento foi refeita na amostra de advogados, onde os resultados obtidos diferiram dos encontrados nos actores. Da análise factorial foram excluídos todos os itens que, no estudo psicométrico anterior, demonstraram pouca qualidade. A solução final apontou para a retenção de duas componentes, sendo que nenhum dos itens apresentou saturações inferiores ao critério de referência. Os dois factores, com 5 itens cada, constituíram-se da seguinte forma: o primeiro corresponde, teoricamente, à força de impulso; e o segundo diz respeito à expressividade que, tal como nos actores, ficou integrada no mesmo componente, não se dividindo em positiva e negativa. No que respeita à consistência interna, os dois factores demonstraram valores considerados razoáveis, tendo sido superiores aos do estudo original.

Por ter sido testada numa amostra mais diversificada e de maior dimensão assumimos que, em estudos posteriores, a composição obtida nos actores é mais válida para ser aplicada à população portuguesa. Não obstante termos tomado esta decisão, os valores de consistência interna foram superiores na amostra dos advogados.

Satisfaction With Life Scale (SWLS)

O propósito deste estudo foi avaliar as características psicométricas da

Satisfaction With Life Scale (Diener et al., 1985). Para isso, analisámos a validade e

fiabilidade do instrumento, na amostra de actores. No que diz respeito à validade factorial, os resultados obtidos permitem-nos considerar aceitável a solução unifactorial composta pelos cinco itens. Quanto à fiabilidade, a consistência interna foi razoável, confirmando a robustez da escala. Este valor, inferior ao obtido no estudo original foi, no entanto, superior ao da validação portuguesa do instrumento (Neto et al., 1990). A avaliação das propriedades psicométricas do instrumento foi refeita com a amostra de advogados. A composição apresentou-se igualmente unifactorial, mas o valor de consistência interna da escala foi superior ao anteriormente encontrado na amostra de actores e no estudo original.

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