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CAPÍTULO 1. Emoção

1.4. Modelo da Expressividade Emocional

Gross e John (1995, 1997) tomaram por base teórica o Modelo Geral da Emoção (ver Ekman, 1972; Gross & Muñoz, 1995; Levenson, 1994; Plutchik, 1990) e propuseram uma abordagem multifacetada. De acordo com os autores, um sujeito emocionalmente expressivo é aquele que manifesta os seus impulsos emocionais comportamentalmente. Esta definição não é tão alargada quanto a de Friedman, Prince, Riggio, e DiMatteo (1980), que inclui o “desejo de excitar ou cativar outros” (p. 348), nem tão limitada que se restrinja a um canal específico de expressão (e.g., gestual) ou a uma emoção. Existem diversos pontos do processo gerador da emoção a partir dos quais se detectam diferenças individuais na expressividade emocional: a) as grandes variações no quotidiano dos sujeitos proporcionam inputs distintos ao programa emocional; b) resultando da avaliação do próprio, pode ser aumentada ou diminuída; c) as investigações sobre temperamento sugerem relevantes discrepâncias individuais, quer na activação de programas emocionais, quer nas resultantes tendências de resposta (Kagan & Snidman, 1991); e d) existem disparidades na modulação do output, ou seja, na tradução em comportamento de uma dada tendência de resposta emocional. Essa modulação pode ocorrer em conformidade com normas culturais referentes à expressão adequada de emoções, como controlar o riso dentro de uma igreja (ver Ekman, 1972), ou por razões pessoais, como inibir a expressão das emoções para não demonstrar fraqueza, por exemplo (Gross & John, 1997).

Para avaliar as diferenças individuais na expressividade emocional, os autores conceptualizaram-na enquanto traço estável e desenvolveram um questionário de auto- resposta para a medir: Berkeley Expressivity Questionnaire (BEQ; Gross & John, 1995). Constituído por 16 itens, foi elaborado para estudar a força global das tendências de resposta emocionais, medidas pela escala da força de impulso (FI), e o grau em que estas tendências são tipicamente expressas. Contudo, em vez de encontrarem apenas uma faceta representativa dos níveis típicos de modulação de comportamento, os autores detectaram duas: a expressividade negativa (EN) (grau no qual as tendências de resposta emocionais negativas são exteriorizadas), e a expressividade positiva (EP) (nível em que as tendências de resposta emocionais positivas se expressam) (ver King &

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Emmons, 1990). As três facetas do BEQ correlacionaram-se entre si. Ou seja, pessoas com fortes impulsos emocionais são mais propensas a expressar emoções, negativas ou positivas, e as que apresentam valores mais elevados na expressividade negativa provavelmente, também, revelam resultados altos na expressividade positiva (Gross & John, 1997; Fig. 2).

Figura 2. Relações Hipotéticas entre o Modelo Geral da Emoção5 e as Três Facetas do

BEQ (Gross & John, 1997)

De acordo com o modelo geral, descrito na Fig. 2, a emoção ocorre quando um

input, externo ou interno, é processado, desencadeando um “programa emocional” (e.g.,

tristeza). Uma vez activado, gera tendências de resposta (impulsos comportamentais, mudanças fisiológicas ou sentimentos subjectivos), que preparam o organismo para responder, adequadamente, ao meio ambiente. Dessas tendências pode resultar, ou não, um comportamento manifesto (Gross & John, 1995, 1997). O estudo de Gross e John (1997) confirmou diferenças entre géneros na expressividade, anteriormente verificadas por outros autores (Gross & John, 1995; Hall, 1979; LaFrance & Banaji, 1992; Shields, 1987). Nas três facetas do BEQ, as mulheres apresentaram valores mais elevados do que

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De referir que o modelo geral da formação e expressão da emoção (Fig. 2) consta, igualmente, em Gross e John (1995) e Gross e Munõz (1995), tendo sido adaptado pelos autores a partir de outros paradigmas (Ekman, 1972; Levenson, 1994; Plutchik, 1990).

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os homens (Gross & John, 1995, 1997). No que respeita à cultura, um estudo realizado por Gross e John (1995) chegou à conclusão que os Americanos Asiáticos revelavam menor expressividade, relativamente aos Afro-americanos, Caucasianos e Hispânicos. Um estudo recente (Lamantia, 2013), que utilizou o BEQ para testar a existência de dissemelhanças entre géneros na expressividade emocional, concluiu, similarmente, que as mulheres são mais expressivas e experienciam impulsos emocionais mais intensos do que os homens.

Detectam-se marcantes diferenças individuais na expressividade, nas tendências de resposta e no modo como esses impulsos são traduzidos. Niven, Totterdell, e Holman (2009) afirmam que, se o processo de regulação emocional era, tradicionalmente, analisado numa perspectiva intrapessoal, forma como o sujeito gere as suas emoções e estados de humor (Gross, 1998a, b), mais recentemente, valorizam-se os aspectos interpessoais, como o processo de influenciar os estados internos de outrém (Gianino & Tronick, 1988). Segundo Fiorentini (2013) os factores contextuais, o tipo de emoção que se expressa, os traços de personalidade e a concordância a estereótipos, femininos ou masculinos, aprendidos através do reforço social ao longo da vida (ver também Brody, 2000; Brody & Hall, 1993), parecem modular as dissemelhanças entre géneros na expressidade emocional. Este dado não é surpreendente, tendo em conta as funções comunicativas e motivacionais adaptativas que as emoções servem. As mulheres e os homens são socializados para terem diferentes motivos e objectivos, mas não podemos generalizar essas mesmas diferenças de género que ocorrem nos processos emocionais, uma vez que variam com a idade, a cultura e a história de vida, por exemplo (Brody & Hall, 1993).

Investigações mostraram que, tipicamente, as mulheres relatam experienciar e expressar mais as emoções do que os homens (Brebner, 2003; Brody & Hall, 1993; Feldman Barrett, Robin, Pietromonaco, & Eyssell, 1998; Lamantia, 2013; Maccoby & Jacklin, 1974), são mais hábeis no uso de sinais não-verbais relacionados com a emoção (Briton & Hall, 1995; Hall, 1978; McClure, 2000), na comunicação e no reconhecimento de estados de humor e comportamentos (Nolen-Hoeksema & Rusting, 1999) e sentem emoções positivas mais intensamente (Fujita, Diener, & Sandvik, 1991). O género feminino diz sentir e expressar mais felicidade, surpresa, vergonha, culpa, tristeza, medo e ansiedade (Brody & Hall, 1993; Feingold, 1994; Fischer, Rodriguez Mosquera, van Vianen, & Manstead, 2004; Grossman & Wood, 1993; Hess et al., 2000; LaFrance & Banaji, 1992; Plant, Hyde, Keltner, & Devine, 2000) do que o masculino,

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que relata vivenciar e expressar, mais intensamente, raiva (Fischer et al., 2004), orgulho (Brebner, 2003) e desprezo (Hess et al., 2000; Plant et al., 2000; Stapley & Haviland, 1989).

O movimento feminista, nos anos 60/70, é percursor do estereótipo das diferenças de género (Birnbaum, Nosanchuk, & Croll, 1980). O estereótipo transversal a homens e mulheres, jovens, adultos e séniores de diferentes origens culturais, é que o género masculino é menos emocional do que o feminino (Belk & Snell, 1986; Birnbaum et al., 1980; Feldman Barrett, Robin, Pietromonaco, & Eyssell, 1998; Heesacker et al., 1999; Hess et al., 2000; Timmers, Fischer, & Manstead, 2003). Esta crença é altamente pronunciada no que diz respeito à expressão emocional (Fabes & Martin, 1991; LaFrance & Banaji, 1992), mas desigual em relação à intensidade da experiência emocional (Fischer, 2000; Johnson & Shulman, 1988; Larsen & Diener, 1987; Plant et al., 2000; Robinson, Johnson, & Shields, 1998). A diferenciação entre experienciação e expressão emocional nem sempre é feita mas, quando é, os resultados são consistentes: os estereótipos são mais fortes para a expressão do que para a experienciação (Plant et al., 2000). Quando medidas em simultâneo, registam-se dissemelhanças na expressão facial mas não no auto-relato da vivência a um filme, por exemplo (Dunsmore, Her, Halberstadt, & Perez-Rivera, 2009; Kring & Gordon, 1998).