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CAPÍTULO 1. Emoção

1.5. Modelo de Processo de Regulação Emocional

De acordo com o Modelo de Processo de Regulação Emocional proposto por Gross (1998a,b), primeiro a regulação da emoção começa na avaliação das pistas internas e externas da emoção. Segundo, baseia-se na premissa de que as estratégias de regulação emocional podem ser diferenciadas ao longo da duração da sequência das respostas emocionais, e categorizadas tendo por base quando têm o seu primeiro impacto no processo gerador das emoções. Este pode ser dividido em duas fases, reguladas por cinco tipos de estratégias, quatro ligadas a uma fase, e uma quinta à restante. Em terceiro, e último lugar, o modelo desenvolveu instrumentos e desenhos experimentais que permitiram analisar as consequências da utilização das diferentes estratégias de regulação. Deste modo, engloba estratégias específicas, cognitivas ou comportamentais, de que os sujeitos dispõem para controlar as suas emoções (Gross, 1998a,b; Webb, Miles, & Sheeran, 2012). O uso do termo “estratégia” pode levar-nos a crer que os processos são conscientes e são-no muitas vezes. No entanto,

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frequentemente, tornam-se automáticos, pelo que o indivíduo não tem consciência, nem os utiliza intencionalmente (Gross & John, 2003).

Uma das fases da regulação emocional, a focada nos antecedentes (input), reporta-se ao que fazemos antes das tendências de resposta emocional serem completamente activadas e terem alterado o nosso comportamento e as respostas fisiológicas periféricas. Quatro das cinco estratégias do processo de regulação emocional pertencem a esta fase: a selecção da situação, que diz respeito à aproximação ou evitamento de pessoas, locais ou actividades, como forma de regular a emoção; a modificação da situação, que actua na própria situação, com o intuito de transformar o seu impacto emocional, criando novos eventos; o direccionamento da atenção, que ajuda o indivíduo a escolher, de entre vários, em que aspectos de um evento se quer focalizar e, deste modo, como este condiciona uma dada situação, a fim de influenciar as suas emoções (Gross & Thompson, 2007). O direccionamento da atenção pode, igualmente, ser considerado uma versão interna da selecção da situação e subdividir-se em duas estratégias: a distracção, que pode envolver uma alteração do foco interno (e.g., evocando pensamentos ou memórias inconsistentes com o estado emocional indesejável), e a concentração, que chama a atenção para características emocionais de uma situação. Passa a ter a designação de ruminação quando a atenção é, repetidamente, direccionada para um sentimento e para a sua consequência (Gross & Thompson, 2007). A quarta e última estratégia focada nos antecedentes é a mudança cognitiva, que se refere à preferência por um dos vários significados possíveis ligados à situação (Gross et al., 2006; Gross & Feldman Barrett, 2011; Gross & Thompson, 2007; John & Gross, 2004). Refere-se à modificação da situação com o objectivo de alterar o seu significado emocional, mudando a forma como pensa a situação ou a capacidade de gerir as suas exigências (Gross, 2014; Gross & Thompson, 2007). A mudança cognitiva pode ser aplicada a uma situação interna ou externa (e.g., esta entrevista é importante para saber mais sobre a empresa; estar entusiasmado para um jogo ajuda-me a jogar melhor, respectivamente) (Gross, 2014). É, com frequência, utilizada para diminuir as emoções negativas e aumentar as positivas (Samson & Gross, 2012).

A outra fase, a focada na resposta (output), diz respeito ao modo como agimos depois de a emoção ter sido espoletada, após as tendências de resposta terem sido geradas. Centra-se na modulação das respostas experienciais, comportamentais e fisiológicas (Gross, 2014; Gross & Feldman Barrett, 2011; Gross et al., 2006; John & Gross, 2004). A supressão emocional é uma das estratégias da modulação da resposta.

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As estratégias de regulação emocional podem surgir, concomitantemente, em múltiplos momentos do processo gerador da emoção. Assim, tendo em conta os seus objectivos, e na busca de uma mudança rápida, os indivíduos podem utilizar várias estratégias em simultâneo. Por exemplo, após um dia stressante, algumas pessoas decidem desligar o telemóvel, beber uma cerveja, ver o seu programa televisivo favorito, enquanto namoram com o seu parceiro (Gross, 2014). Este tipo de “miscelânea” de estratégias é frequente no quotidiano, contudo, em termos teóricos, é útil separá-las em “famílias” diferentes, conforme apresentado na Fig. 3.

Figura 3. Modelo de Processo de Regulação Emocional: a) componentes geradores de

emoção; b) estratégias focadas nos antecedentes vs. estratégias focadas na resposta; e c) cinco famílias de regulação emocional. As diferenças individuais na regulação emocional podem surgir em cinco pontos do processo gerador da emoção: 1) selecção da situação; 2) modificação da situação; 3) direccionamento da atenção; 4) mudança cognitiva; ou 5) modulação de respostas experienciais, comportamentais e fisiológicas. Aplicações concretas destas cinco famílias de estratégias de regulação emocional podem ser usadas para diminuir as emoções negativas (Gross, 1998b, 2007, 2014; John & Gross, 2007).

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Reavaliação Cognitiva e Supressão Emocional

Para além da análise geral da regulação emocional focada nos antecedentes e na resposta, este modelo pode, ainda, ser usado para fazer previsões mais específicas. Numa situação potencialmente stressante, as estratégias focadas nos antecedentes podem assumir a forma de reavaliação de modo a diminuir a sua relevância emocional (ver Lazarus, 1991; Scherer, 1984). Isso deverá reduzir o grau em que as tendências de resposta emocionais são activadas, conduzindo a uma menor intensidade da emoção aos níveis subjectivo, fisiológico e expressivo que, de outro modo, seriam evidentes (Gross, 1998a). Ao invés, as estratégias focadas na resposta devem visar as tendências de resposta produzidas enquanto a emoção estava em curso (e.g., a supressão enquanto inibição consciente da expressão da emoção). Deste modo, como os esforços de regulação se concentram, selectivamente, no comportamento, é expectável uma menor expressão das emoções (Gross, 1998a).

Mais do que estudar, em simultâneo, todos os tipos de regulação emocional, Gross e colaboradores (2006) elegeram um número reduzido, mas bem definido, de estratégias, focando-se em três critérios: 1) as mais comummente usadas no dia-a-dia; 2) as que permitem a manipulação experimental e a análise das diferenças individuais; e 3) o facto de a distinção entre as estratégias focadas nos antecedentes e na resposta ser um aspecto fulcral no Modelo de Processo de Regulação (Gross, 1998a,b). Nas suas investigações verificaram que só a reavaliação cognitiva e a supressão emocional reuniam tais condições. Ou seja, não obstante as múltiplas maneiras dos sujeitos regularem as suas emoções, as estratégias mais usuais são as acima indicadas (John & Gross, 2004).

A Reavaliação Cognitiva (RC) consiste na mudança como o sujeito pensa a situação potencialmente desencadeadora de emoções, com o fim de alterar o seu impacto emocional inicial (John & Gross, 2004). Como ocorre cedo no processo gerador da emoção, deverá ser capaz de modificar toda a sequência emocional, antes das tendências da resposta emocional terem sido totalmente activadas (Gross et al., 2006; John & Gross, 2004).

A Supressão Emocional (SE) é a inibição da expressão comportamental da emoção quando se está emocionalmente activado (Gross & Levenson, 1993). Estudos empíricos sugerem que a SE, uma vez que chega mais tarde no processo gerador, consome recursos cognitivos que poderiam ser utilizados para optimizar o desempenho

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em contextos sociais em que as emoções emergem (Gross et al., 2006; John & Gross, 2004).

Quer recorram, por hábito, a uma ou a outra estratégia, os indivíduos deviam percepcionar-se como tendo feito a escolha mais acertada (Gross & John, 2003). Todavia, tal nem sempre acontece. Especificando, não há correspondência rigorosa entre o uso habitual da SE e a satisfação por não verbalizar o que o indivíduo experiencia e, muito menos, com o sentir-se leal e congruente consigo e com os outros (Sheldon, Ryan, Rawsthorne, & Ilardi, 1997). Essa incoerência pode conduzir a estados emocionais negativos (Heuven, Bakker, Schaufeli, & Huisman, 2006). Mesmo quando os processos regulatórios da emoção trabalham co-activamente e se ajustam dinamicamente, Gross e Thompson (2007) acreditam que uma abordagem orientada para o processo trará uma melhor compreensão das causas, consequências e mecanismos de base que lhe estão subjacentes.