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Parte II – Estudo empírico

Capítulo 6 Apresentação e discussão dos resultados

6.5 Discussão dos resultados

Portanto, analisados e apresentados os resultados obtidos, facilmente se constata que a PW contribui positivamente para o desenvolvimento do ser humano com NEE e de acordo com os autores Glockler e Goebel (1996), esta tem efeitos positivos e estimula no jovem o desenvolvimento espiritual, como por exemplo viajar, conhecer novas áreas de conhecimento, estudo de obras de arte, entre outros. Pelo contrário, exigências autoritárias, proibições, punições impostas a crianças com ADPM têm um efeito castrador e paralisador.

A Casa Santa Isabel aplicou um currículo adaptado Waldorf, até 2012, e ia desde o 1.º ciclo até 9.º ano, e defendem a cada criança o direito da educação até aos 18 anos, independentemente, do certificado que for pretendido. E, como se verificou no depoimento das diversas entrevistas, é deveras interessante que numa classe estejam representadas as mais diversas capacidades e dificuldades, constituindo turmas heterogéneas, tal como se verifica na Casa Santa Isabel (Goebel & Glockler, 1996).

A primeira hipótese apresentada, refere que “O ambiente em que a aluna estava inserida antes da entrada na instituição influenciava negativamente o desenvolvimento físico-motor bem como as competências sociais, pessoais e intelectuais”. E os resultados obtidos permitem verificar que a aluna revelava, além de dificuldades ao nível físico e motor, e das competências sociais, pessoais e intelectuais, falta de autoestima, a nível cognitivo, motricidade global e relacionamentos interpessoais.

É de notar que o reconhecimento da condição de atraso de desenvolvimento é um critério de elegibilidade da criança na área de intervenção precoce em vários países, inclusive em Portugal (Silva & Albuquerque, 2011), sendo importante reconhecer todos estes fatores. Assim, desde logo, é enaltecida a importância da PW em crianças com

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ADPM, pelo que é natural que no ensino regular não sejam atendidas todas as suas necessidades. Esta patologia evidencia-se por um atraso significativo em vários domínios do desenvolvimento do ser humano, em particular, ao nível da linguagem, cognição, atividades de vida diária, motricidade, competências sociais, entre outros (Semedo, 2012). A hipótese 2 supõe que as dificuldades da aluna foram ultrapassadas com a introdução das metodologias PW, constatando-se uma homogeneidade nas respostas dos entrevistados, onde todos apontam as melhorias apresentadas por Maria face à atenção e concentração, autoconfiança, integração social e motricidade global e fina. Os resultados obtidos também vão ao encontro do que é apresentado na literatura, verificando-se que esta pedagogia contribui significativamente para o desenvolvimento de crianças com ADPM e discalculia, ao ter bem presente que o ser humano é um ser físico, anímico e espiritual, onde a educação não deve ter o objetivo único de ensinar, mas sim o de fazer com que ele cresça e complete sua maturidade orgânica de forma equilibrada, favorecendo o desenvolvimento harmónico, equilibrado e sadio do querer, sentir e pensar (Carvalho, 2008).

Como explica Steiner (2008, p. 21), é da responsabilidade dos professores que seguem esta base filosófica, a PW, adotar a postura de “veneração ante as possibilidades de desenvolvimento do que a criança, em sua bagagem anímico-espiritual, traz para o mundo”. O princípio educacional da PW “nasce do ideal de posicionar o ser humano no mundo de modo que ele possa desenvolver sua liberdade individual” (Steiner, 2008, p. 21). As metodologias e o currículo da PW procuram atender, em termos metodológicos e de conteúdo, às necessidades específicas das crianças e dos jovens, tendo em consideração as suas idades, tendo como prioridade última a promoção de cada indivíduo, recorrendo a estratégias muito diversas, que passam por atividades intelectuais, artísticas e práticas, enfatizando a arte e o apelo à criatividade, como explica Peres (2008). A importância que a integração das dimensões cognitiva, afetiva e volitiva comporta, é parte inerente à interpretação do próprio ser humano, pelo que

“(…) pesquisar empiricamente escolas Waldorf pode dar bom resultado, mas não sem o esforço pela compreensão da mentalidade ou cultura escolar que lhe serve de base, que por outro lado é caracterizada pela imagem antroposófica de homem, da qual certas intenções pedagógicas e métodos são derivados” (Randoll, 2007, p. 233).

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As hipóteses 3 e 4 referem que a “A aplicação da PW na aluna foi benéfica para a sua evolução, a nível pessoal como social” e, que “A PW contribuiu para melhorar nos problemas funcionais e na evolução e progressão dos resultados escolares da aluna”, respetivamente. Mediante os resultados obtidos, verificam-se que as duas hipóteses confirmam o que também é confirmado pela literatura: que o objetivo desta pedagogia é fornecer às crianças e jovens as bases para o seu desenvolvimento moral e exercício da liberdade, procurando ajudar cada um a atingir o seu "destino" e o seu melhor rendimento, onde ritmo, é a palavra-chave.

Verifica-se que Maria melhorou e evoluiu bastante e, uma vez mais, de acordo com os princípios da PW, todas as atividades e estratégias foram realizadas e delineadas de acordo com as principais dificuldades de Maria. A PW procura tornar as crianças mais autónomas e responsáveis, bem como respeitadoras da diversidade e da diferença, por meio de um currículo com atividades diversas: música, artes, além de materiais como jardinagem, técnicas agrícolas e horticultura (Steiner, 2001).

A quinta hipótese concebida, defende que a “A criança com NEE que usufrui da PW aprende com mais facilidade”, estando de acordo com o que vários autores demonstram.

A PW permite responder às dificuldades de crianças com NEE, pelo que a avaliação do desempenho escolar consiste na elaboração de textos descritivos, que falam da pessoa como um todo, abrangendo as capacidades intelectuais, sociais e emocionais, sendo, portanto, este mais um ponto onde a PW difere da escola de ensino regular, a qual visa na avaliação obter uma nota ou uma classificação final (Hofrichter, 2005 apud Peres, 2008). Esta valoriza o desenvolvimento, nas crianças e jovens, das qualidades e competências necessárias para que saibam lidar e florescer neste mundo de constantes mudanças, com criatividade, flexibilidade, responsabilidade e capacidade de questionar (Silva A. M., 2007).

Por fim, a última e sexta hipótese, “Se a Instituição receber Apoios do Ministério da Educação poderá melhorar a qualidade do trabalho e os objetivos que norteiam os seus princípios educativos”, é uma ideia também ela defendida pelos entrevistados, uma vez que atualmente a instituição já não beneficia de apoios do ME e teve sérias dificuldades para continuar no ativo e apoiar os alunos.

Tratando-se de uma instituição com uma missão tão importante e com um público igualmente especial, os apoios financeiros por parte do Estado adquirem grande relevância,

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pois este também deve ter um papel ativo e ajudar estas crianças. Como refere (Lanz, 2000), a PW é o maior movimento pedagógico do mundo, mas são poucas as crianças que têm tido pouco acesso a este método, pelo que sem apoios ainda menos crianças poderão usufruir dele.

Após todo este processo, é possível afirmar que a PW contribui significativamente para o desenvolvimento do ser humano com NEE, em particular, pois é este o caso, de crianças e jovens com ADPM e discalculia. É seu objetivo preparar o conhecimento de que apenas a capacidade de aprender durante toda a vida, pode levar ao pleno sentido de Ser Humano (Goebel & Glockler, 1996) e, contribuir para o desenvolvimento íntegro e total do ser humano, mediante as suas condições e potencialidades.

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