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Parte II – Estudo empírico

Capítulo 5 – Enquadramento metodológico

5.6. Opções metodológicas

Stake especifica que, por vezes, o estudo de caso aparece-nos pela frente e sentimo- nos como que obrigados a tomá-lo como objeto de estudo. Por exemplo, pode acontecer “quando um professor decide estudar um aluno em dificuldades, quando sentimos curiosidade por determinados procedimentos, ou quando decidimos avaliar um programa” (Stake, 2005, p. 16). Esta situação é o caso do presente trabalho em que se pretende analisar uma aluna específica, recorrendo à entrevista semiestruturada como o instrumento de recolha de informação e à análise de conteúdo como técnica de análise de informação e documentos.

A entrevista é um instrumento privilegiado nos estudos descritivos, com uma abordagem qualitativa, é uma interação entre dois (ou mais) “seres humanos com todas as suas incertezas” (Glesne & Peshkin, 1992, p. 63). A entrevista é uma técnica de recolha de informação cujo processo é a interrogação junto de pessoas com informação relevante, sobre a questão em análise. Permite também obter dados com mais profundidade e de forma mais flexível. Esta deve ser precedida de um guião (com categorias de análise, objetivos específicos) que permite através da interação com o sujeito inquirido, interpretar comportamentos, esclarecer atitudes, consciencializar opiniões e escolhas.

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Para Denzin (1989, p. 43) uma boa entrevista deve ser uma conversa, “uma troca entre duas pessoas”. Denzin (1989, p. 89) cita Douglas (1985), quando fala da “entrevista criativa”, na qual duas pessoas abertamente partilham as suas experiências uma com a outra, numa busca mútua de um melhor entendimento (Semedo, 2012, p. 43).

Deste modo, uma entrevista para ser elaborada corretamente não deve ser só um a perguntar e outro a responder, mas deve sim ser uma partilha e uma interação, assim é preciso ter em conta o tipo de pergunta (descritiva, explicativa). Outro aspeto importante é a necessidade de “esclarecer uma situação particular para chegar a uma íntima (i.e. em profundidade e em primeira mão) compreensão dessa situação” (Yin, 2005, p. 381 apud (Duarte, 2008, p. 116)).

Segundo Quivy e Campenhoudt (2005, p. 194) o método da entrevista permite um elevado “grau de profundidade dos elementos de análise” e a sua flexibilidade, por não ser tão diretiva, permite obter informações complementares. Além disso, permite, também, percecionar e analisar expressões físicas, que poderão contribuir para a interpretação adequada dos conteúdos mencionados.

Para os mesmos autores (Quivy & Campenhoudt, 2005), a entrevista é uma das técnicas ou métodos mais comuns na investigação empírica realizada pelas diferentes ciências humanas e sociais. Trata-se, ainda, de um método de análise textual utilizado quando existe um conjunto de questões abertas - tal como se apresenta no guião de entrevista no anexo A – e quando o método de recolhe da informação é a entrevista.

Neste sentido, Bogdan e Biklen (1994) afirmam que as entrevistas consistem numa conversa intencional, com o intuito de obter informação, algo que se pretende com o nosso estudo. Esta análise das entrevistas baseia-se na compreensão e na interpretação da informação qualitativa recolhida. Neste sentido, como referem os autores Bogdan e Biklen (1994, p. 255) “ao redigir uma investigação qualitativa deverá apresentar o seu ponto de vista, a sua análise, a sua explicação e a sua interpretação daquilo que os dados revelam”.

Nos métodos de recolha e análise de dados, socorremo-nos de entrevistas e consequentemente, da análise de conteúdo. Bardin (1979, p. 27) explica que

“A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Não se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as comunicações”.

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Para o mesmo autor (Bardin, 1979, p. 89), “as diferentes fases da análise de conteúdo (…) organizam-se em torno de três pólos cronológicos: a pré-análise; a exploração do material; e o tratamento dos resultados, inferência e interpretação”. A pré-análise consiste na fase da organização. Tem como objetivo sistematizar as ideias iniciais de forma a elaborar um esquema de desenvolvimento das operações sucessivas; esta fase abrange a escolha dos documentos a serem submetidos a análise, a formulação das hipóteses e objetivos e elaboração dos indicadores que fundamentam a interpretação; posteriormente segue-se então a exploração e análise do material e tratamento e interpretação dos resultados.

Yin (2002 apud Duarte, 2008) conclui que “o estudo de caso leva a fazer observação direta e a coligir dados em ambientes naturais” (…) “Como esforço de pesquisa, o estudo de caso contribui, de forma inigualável, para a compreensão que temos de fenómenos individuais, organizacionais, sociais e políticos”. Portanto, “como se trata de fenómenos sociais complexos, o estudo de caso permite uma investigação que permite preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real” (Duarte, 2008).

No que respeita as fases da conceção do estudo de caso, Yin (2005) descreve que inicialmente se deve “definir o caso que está a estudar”, pois

“ajuda enormemente a organizar o estudo de caso e essa escolha pode manter-se na medida em que se apoiou com literatura adequada e perguntas de pesquisa. Depois de coligir os primeiros dados, pode redefinir-se o “caso”, o que pode obrigar a rever a literatura de apoio e as perguntas” (Yin, 2005 apud Duarte, 2008).

Posteriormente, deve-se optar por um estudo singular de caso (single study). Por último, deve-se decidir usar ou não desenvolvimento teórico (theory development) para ajudar a selecionar o caso, desenvolver o protocolo de recolha de dados e organizar as estratégias iniciais de análise de dados. Yin sublinha o “desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e os dados” (Yin, 2002 apud (Duarte, 2008, p. 117)).

Para Stake (1994 apud (Duarte, 2008, p. 118)), “a seleção de pessoas, grupos ou lugares que vão constituir o caso é o passo mais crítico da pesquisa por estudo de caso”, segundo Bardin (1979) a análise de conteúdo compreende etapas cronológicas:

 A pré-análise;

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 O tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

A pré-análise é a fase da organização na qual se organiza o material a ser analisado com o objetivo de torná-lo operacional e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise. Neste trabalho, a única entrevista realizada, semiestruturada e gravada, foi transcrita, digitalizada e em forma de relatório, passada por um processo de organização. Para facilitar a exploração do material recolhido, os dados foram colocados num novo contexto construído com base nos objetivos da pesquisa. Foi criado um modelo de matriz, constituído por temas, categorias, subcategorias, indicadores/unidades de registo, elementos que visaram a categorização, e unidades de contexto que correspondem ao segmento da mensagem, cujas dimensões são importantes para que se possa compreender a significação exata das unidades de registo.

De acordo com Guerra (2006), não há um único tipo de análise de conteúdo, como não há apenas um tipo de entrevista. Assim, como no caso deste estudo, está um tipo de pesquisa em que foi feita uma análise tipológica defendida por Guerra (2006). Trata-se de uma operação básica da análise de conteúdo, que consiste em ordenar os materiais recolhidos, classificá-los segundo critérios pertinentes, encontrar as dimensões de semelhanças e diferenças, as variáveis mais frequentes e as particulares.

Douglas considera que “o investigador criativo reconhece a sua própria humanidade como o começo da compreensão de todos seres humanos” (Semedo, 2012, p. 63).

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