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Metodologia de investigação: o estudo de caso por análise qualitativa

Parte II – Estudo empírico

Capítulo 5 – Enquadramento metodológico

5.5. Metodologia de investigação: o estudo de caso por análise qualitativa

Formulado o problema, bem como as hipóteses e os objetivos norteadores do desenvolvimento prático do trabalho, torna-se fundamental perspetivar qual será o método mais adequado para atingir o proposto.

A presente investigação enquadra-se no paradigma da investigação qualitativa uma vez que assenta em cinco pressupostos principais, Bogdan e Biklen (1994) designadamente:

1. A fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo-se o investigador como instrumento principal;

2. A investigação é descritiva, ou seja, os dados recolhidos são em forma de palavras e imagens;

3. Os investigadores qualitativos abordam o mundo de forma minuciosa;

4. O investigador interessa-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos;

5. Os investigadores tendem a analisar os seus dados de forma indutiva; 6. O significado é de importância vital na abordagem qualitativa.

Por outras palavras, a abordagem qualitativa foi escolhida, por possibilitar uma visão sistémica do tema em estudo e um olhar mais profundo, que facilita a interpretação da complexidade das inter-relações sob diversos aspetos (Oliveira M. M., 2008).

A metodologia foi escolhida de acordo como as hipóteses e os objetivos definidos para a investigação, bem como do tipo de resultados que se espera e o tipo de análise que se pretende efetuar. Deste modo, o procedimento metodológico envolveu os seguintes

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instrumentos de acordo com o contexto: entrevista semiestruturada, pesquisa e análise documental.

Existem diversas definições relativamente aos métodos e técnicas de investigação. Para a autora Grawits (1993 apud Carmo & Ferreira, 1998) os métodos de investigação são vistos como um conjunto de operações que são realizadas para atingir um ou mais objetivos, um conjunto de normas que permitem um plano de trabalho em função de uma determinada finalidade.

A diferença entre a investigação quantitativa e qualitativa verifica-se e testa-se quando investigamos cientificamente no âmbito da educação, sendo um processo que busca a contribuição na explicação e compreensão dos fenómenos educativos. A análise de problemas educacionais implica lidar com um tecido humano imenso e complexo, que acarreta uma série de dificuldades relacionadas com o planeamento da investigação. A ação investigadora desta natureza tem dois preceitos que se ligam, por um lado, ao carácter científico, pautado pela sistematicidade e rigor e, por outro, ao carácter pedagógico, adequado ao objeto de estudo (Coutinho, 2005).

Portanto, numa área como a educação, a linha de investigação qualitativa torna-se uma orientação interessante perante determinados objetos de estudo, como é o caso do presente trabalho, já que se apresenta uma possibilidade de recolher certas informações, compreendendo melhor a complexidade dos fenómenos educativos.

Assim, a investigação qualitativa tem o seu fundamento no estudo dos fenómenos humanos, singularmente especificados pela atribuição de significados à realidade social que podem ser analisados prescindindo da quantificação. Esta linha de ação na investigação educacional revela-se muito pertinente, uma vez que a educação lida com identidades, e no seio das identidades há categorias que se pautam mais pela qualificação do que pela quantificação.

A investigação qualitativa tem origem na investigação sociológica e antropológica que nasceu do interesse pelo outro (Vidich & Lymans, 2000).

Para Bogdan e Biklen (1994) na investigação qualitativa a principal questão não é a de saber se os resultados são generalizáveis, mas se podem ser generalizados. Neste tipo de investigação, interessa a validade do trabalho, logo os dados recolhidos devem estar de acordo com aquilo que os indivíduos em causa dizem e fazem.

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No desenvolvimento deste estudo utilizou-se uma linha de investigação qualitativa, uma análise do contexto onde se desenvolvem os processos educativos (Arcas da Silva, 2006). Esta análise qualitativa é o método mais usado em psicologia e ciências da educação. Situando-se na vertente educativa, este estudo tem como objetivo aprofundar o conhecimento da realidade, baseando-se no âmbito do paradigma qualitativo pretendendo valorizar a compreensão do conhecimento prático, através da argumentação e das ações dos intervenientes.

Yin (1984), refere que este tipo de estratégia é mais indicado quando se pretende estudar questões do tipo “como” e “porquê”. O investigador não pretende controlar os acontecimentos; o problema a estudar é um fenómeno contemporâneo, num contexto da vida real. No contexto do paradigma interpretativo, o objeto de análise é formulado em termos de ação, que envolve “comportamento físico e ainda os significados que atribuem e aqueles que lhe atribuem o ator e aqueles que interagem com ele. O objeto da investigação social interpretativa é a ação e não o comportamento” (Erickson, 1986, p. 19).

A investigação qualitativa apresenta-se mais apropriada ao presente estudo, pois permite uma análise mais intensa e em profundidade das características do sujeito em análise, compreendendo melhor os significados que emergem da realidade, captando as lógicas do funcionamento dos modelos educativos e compreendendo igualmente como os intervenientes fundamentam as suas representações dos problemas e da realidade (Quivy & Campenhoudt, 2005).

De acordo com Semedo (2012, p. 61),

“Na análise documental: a análise de conteúdo; trata-se de uma técnica que tem, com frequência, uma função de complementaridade na investigação qualitativa, isto é, que é utilizada para «triangular» os dados obtidos através de uma ou duas outras técnicas. Diversos autores denominam triangulação o procedimento de validação instrumental efetuado por meio de uma confrontação dos dados obtidos a partir de várias técnicas”. O estudo de caso caracteriza-se pelo facto de reunir informações tão numerosas, como pormenorizadas de forma a abranger a totalidade da situação, por esta razão recorre a diversas técnicas de recolha de informação (observação, entrevista, documentos) (Bruyne, Herman, & Schoutheete, 1995).

O autor Stake (Stake, 2005, pp. 15-16) defende que o estudo de caso permite prestar atenção aos problemas concretos das nossas escolas, ou seja, “Os casos de interesse em educação são constituídos, na sua maioria, por pessoas e programas. (…) O caso pode ser

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um menino. Pode ser um grupo de alunos ou um determinado movimento de profissionais”. Neste sentido, “O caso é um sistema integrado. Não é necessário que as partes funcionem bem, os objetivos podem ser irracionais, mas é um sistema. Por isso, as pessoas e os programas constituem casos evidentes”.

Para Stake, ao proceder-se à seleção dos casos a estudar, é importante definir as características que parecem mais marcantes e encontrar os que reúnem essas características e outros sem essas características, para que haja variedade nos casos selecionados e se possam encontrar respostas àquelas perguntas. Assim, a interpretação leva os investigadores “a tirar conclusões a partir das suas observações e de outros dados, a que Erickson chamou assertions, uma forma de generalização” (Stake, 2005. P. 21). Portanto, o que está em causa num estudo de caso é o que “se aprende com um caso acerca de alguma classe de coisas” (Peshkin, 1998 apud Stake, 2005).