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CAPÍTULO 4 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4. Discussão dos Resultados

Danilo Miguel Lino da Conceição 50 4. Discussão dos Resultados

Este estudo debruçou-se sobre o trabalho da capacidade motora força, em crianças e jovens em idade escolar, procurando averiguar, mais concretamente, em que medida os professores de educação física conhecem e aplicam metodologias do treino de força nestas faixas etárias. Neste sentido, e por uma questão de sistematização da informação, a discussão dos resultados será realizada em função dos objetivos traçados para este estudo. Relativamente à importância que os professores de educação física atribuem ao treino de força com crianças e jovens, tendo por base as evidências da coleção de dados, podemos inferir que a maioria dos docentes inquiridos valoriza o treino desta capacidade motora com crianças e jovens, considerando-a importante ou muito importante.

De facto, os resultados apurados mostram-se em concerto com as posições críticas de vários autores consultados durante a elaboração desta investigação. (Cunha, 1996; Faigenbaum et al., 1999; Rodrigues, 2000; Faigenbaum et al., 2009; Marques, 2010a). Estes autores sugerem que o treino da força exerce efeitos positivos sobre crianças e jovens, contribuindo para um crescimento e um desenvolvimento harmonioso. Inclusive a comunidade médica (AAP, 2001) afirma que as crianças e jovens quando submetidos a um programa de treino adequado e a uma supervisão competente, podem aumentar a força muscular sem um significativo risco de lesão e com benefícios para a saúde. Para além disso vários estudos demonstram melhorias substanciais ao nível de ganhos de força muscular em crianças e jovens (Cunha,1996; Faigenbaum et al., 1996; Faigenbaum et al., 1999; Rodrigues, 2000; Fontoura et al., 2004; Ingle et al., 2006; Marques & González- Badillo, 2005; Braga, 2007; Santos & Janeira 2008 e Ferrão, 2010).

Relativamente à formação específica em metodologia do treino de força em crianças e jovens, a maioria dos professores inquiridos, afirmaram ter obtido informação e conhecimento durante a sua formação inicial, ou através de ações de formação que abordavam a metodologia da força com crianças e jovens. Deste modo, admitiram ter formação e conhecimento específico, no domínio de intervenção e desenvolvimento de metodologias de treino, que visassem condicionar e aperfeiçoar esta capacidade motora em crianças e jovens.

De facto, estas duas questões, formação e conhecimentos, parecem-nos indissociáveis já que uma formação adequada permite a aquisição de conhecimentos corretos e o trabalho da força com crianças e jovens assenta num conjunto de pressupostos que é necessário considerar. Só assim será possível assegurar a viabilidade do treino, que se quer corretamente orientado e com recurso a metodologias adequadas. Como refere Marques (1995, p. 212) “a questão não é mais se ou não treinar, mas como e o que treinar”.

Danilo Miguel Lino da Conceição 51 Nos estudos analisados (Cunha,1996; Faigenbaum et al., 1996; Faigenbaum et al., 1999; Rodrigues, 2000; Fontoura et al., 2004; Ingle et al, 2006; Marques & González-Badillo, 2005; Braga, 2007; Santos & Janeira 2008 e Ferrão, 2010), está patente que a efetividade do treino da força depende da adequação do programa de treino e da orientação do mesmo. A National Strength and Conditioning Association (Faigenbaum et al., 2009), afirma que as crianças e jovens, quando submetidos a um programa de treino adequado e a uma supervisão competente, podem aumentar a força muscular sem um significativo risco de lesão e com benefícios para a saúde.

No que se refere à abordagem do treino da força com crianças e jovens, todos os respondentes consideraram que a força nestas faixas etárias, deve ser trabalhada multilateralmente, com recurso a exercícios diversificados e ricos em solicitações motoras. Esta opção, é fundamentada por diversos estudiosos na área do trabalho da força com crianças e jovens. Costal et al. (2008), refere que os treinos devem ser multidisciplinares, diversificados e ricos em solicitações motoras aditando assim qualidade ao treino, ao passo que o treino unilateral consiste numa exigência, ao atleta, de inúmeras repetições de gestos motores específicos e unilaterais, potencializando uma especialização precoce, uma adaptação estereotipada e de pouca ou nenhuma plasticidade. O treino unilateral assegura melhorias rápidas de rendimento devido a rápidas adaptações, mas de pouca durabilidade, podendo posteriormente conduzir a lesões por sobre uso ou sobre treino.

Ainda Ré (2011), aconselha programas estruturados de treino, recomendando uma grande diversificação dos movimentos. Desta forma, evitamos os problemas potenciais, elencados, anteriormente, como também eliminamos a monotonia e favorecemos uma maior motivação e empenhamento das crianças e jovens no processo de treino.

No que se refere à forma como as crianças ou os jovens devem, numa primeira fase, exercitar a força, observa-se que praticamente todos os inquiridos incluem nas suas escolhas, exercícios com o próprio peso corporal.

De facto Weineck (2005), considera que o treino de força mais adequado para as crianças parece ser o que utiliza o peso corporal. Também Rhea (2009), citado por Greco, (2010), considera que no treino de força usando o peso do corpo, emprega-se uma variedade de movimentos para desafiar o sistema neuromuscular.

Para Raposo (2005), numa etapa inicial, deve-se começar a estimular o desenvolvimento da força recorrendo aos exercícios que têm por base o peso do próprio corpo (auto-carga), tais como saltar, lançar, trepar, empurrar, tração, etc.; de seguida, e só depois, devemos propor exercícios realizados com resistências externas ligeiras, como são os casos das bolas medicinais, do trabalho a pares, dos sacos de areia, dos pesos livres

Danilo Miguel Lino da Conceição 52 ligeiros, etc. e por último, deverá recorrer-se à utilização de exercícios que permitam o aumento progressivo das cargas de trabalho, como são os casos do treino em máquinas de musculação e com halteres, permitindo um controlo mais aprofundado das intensidades do trabalho realizado.

De salientar que a realização de exercício calisténicos implica que a criança execute os movimentos de acordo com o padrão de movimento tecnicamente adequado à ação/tarefa motora a desenvolver, de forma a permitir que a assimilação e integração do gesto seja a mais eficaz possível, como também favorecer uma melhor coordenação das ações cognitivas, neuronais e mecânicas subjacentes à contração muscular.

No que se refere às formas de manifestação de força que devem ser privilegiadas no treino com crianças e jovens, a opinião dos inquiridos foi bastante divergente, tendo essencialmente apontado a força resistente e a força rápida, como aquelas que deveriam ser mais e melhor trabalhadas nestas idades. De salientar que grande parte dos inquiridos consideraram que se devia privilegiar a força resistente, surgindo em segundo lugar, o treino combinado de força resistente e força explosiva e por último, com pouca expressividade, surge a opinião que se deve privilegiar a força máxima no treino com crianças e jovens.

De acordo com Costal et al. (2008) e Raposo (2005), ao treinar-se a força nestas faixas etárias, deverá ser considerado que o trabalho deve ser sempre feito da força geral para a específica, privilegiado a força resistência, depois a força explosiva e só por último força máxima. Considera-se ainda que estes resultados vão ao encontro da lógica/normalidade, pois segundo a análise realizada aos Programas Nacionais de Educação Física (DEB 1991; DEB, 1998; DEB, 2001; Jacinto et al, 2001), a força resistente e a força rápida devem ser desenvolvidos nas aulas de educação física.

Relativamente à dinâmica da carga (volume versus intensidade), a maioria dos inquiridos concorda que nestas idades, se deve privilegiar em detrimento da intensidade o volume de treino. Nesta linha de pensamento Marques (2010), refere que o volume de treino deve ser favorecido face à intensidade, uma vez que esta componente do treino é mais difícil de controlar do que o volume, acrescentando ainda, que a intensidade de trabalho mal calculada pode ser muito mais prejudicial para o rendimento do jovem atleta do que o volume de treino. Faigenbaum et al. (1999), consideraram que a força muscular e a resistência muscular podem ser melhoradas durante a infância, sendo mais favorável a utilização programas de treino com cargas moderadas, que possibilitem à criança e ao jovem realizar um maior número de repetições, não sobrecarregando a estrutura musculo esquelética e neuronal da criança. Costal et al. (2008), acrescentam que nesta fase o volume de treino deverá ser baixo, acompanhado também por uma baixa intensidade.

Danilo Miguel Lino da Conceição 53 No que se refere aos benefícios do trabalho de força com crianças e jovens, foi possível apurar que a grande maioria dos inquiridos reconhece que o treino desta capacidade motora poderá trazer benefícios. De facto, os resultados estão em consonância com as posições críticas de vários autores. Marques (2010a), considera que não pode ser ignorado que um bom desenvolvimento muscular, para além do contributo decisivo para o aumento da performance desportiva, cumpre uma importante função de proteção dos pontos fracos do aparelho locomotor, reforçando-o e fortalecendo-o. Importa ainda salientar que Oliveira et al. (2003), Faigenbaum (2007) e Costal et al. (2008), expõem diversos benefícios que o treino da força poderá trazer em crianças e jovens.

Como nos elucida Faigenbaum (2007), o treino da força nos jovens pode trazer benefícios ao nível do aumento da força e potência muscular, resistência muscular localizada, aumento da massa óssea, aptidão cardiorrespiratória, composição corporal, desempenho motor e desportivo e pode melhorar o perfil lipídico no sangue. Para além disso, sugere que o treino desta capacidade motora melhora a saúde mental e o bem-estar, estimulando uma atitude mais positiva para atividade física durante a vida. A par dos benefícios alistados ao nível da saúde física e mental podemos afirmar, tomando como referência os estudos desenvolvidos em contexto escolar por Cunha (1996), Rodrigues (2000) e Ferrão (2010), que um programa de treino bem orientado poderá trazer ganhos bastante significativos ao nível do desempenho da força muscular.

Em relação à forma como é organizado o treino de força nas aulas de educação física, as respostas são variadas, já que as posições da maioria dos inquiridos dividem-se entre “trabalhar a força de forma sistemática e contínua” ou “trabalhar a força de forma ocasional ao longo do ano letivo”. No que se refere ao tempo despendido para o treino desta capacidade motora, este varia, fundamentalmente, entre as 4 e 8 horas por ano letivo, mais de 15 horas e entre as 9 e 14 horas, ao longo dos três períodos letivos.

Dos estudos analisados, no âmbito da aplicação do treino da força com crianças ou jovens (Cunha,1996; Faigenbaum et al., 1996; Faigenbaum et al., 1999; Rodrigues, 2000; Fontoura et al., 2004; Ingle et al., 2006; Marques & González-Badillo, 2005; Braga, 2007; Santos & Janeira 2008 e Ferrão, 2010), apesar de apresentarem divergências em alguns prossupostos metodológicos, em todos eles está patente a preocupação para sistematizar o treino da força tendo em linha de conta os períodos de treino e os modelos de treino utilizados, nunca esquecendo aspetos extremamente importantes como a idade e/ou a maturação biológica, o sexo, o volume, a intensidade e a duração do treino, pois deles dependem a real efetividade do treino. Um outro aspeto que deve ser considerado ao programar o treino da força, são os períodos de destreino, já que alguns estudos (Rodrigues, 2000; Faigenbaum et al., 1999), sugerem que períodos sem treino específico de

Danilo Miguel Lino da Conceição 54 força podem levar a perdas substanciais ao nível desta capacidade motora. Este declínio do nível de força pode mesmo chegar a valores similares aos iniciais. No entanto Ferrão (2010), concluiu que, após um período de destreino os níveis de força perdidos são mais rapidamente recuperáveis.

Ora, todos estes aspetos quando considerados, repercutem-se positivamente no treino e consequentemente no desenvolvimento desta capacidade motora nas crianças e jovens. Parecendo-nos então evidente, que não será possível obter ganhos consideráveis de força com os alunos, se não for realizado um trabalho organizado, metódico e continuo.

No tocante às formas de organização escolhidas para o trabalho da força com os alunos, a opção mais selecionada pelos inquiridos foi claramente circuito por estações. No entanto vários professores incluíram, para além do trabalho em circuito, o trabalho individual e/ou em grupo. De facto, a literatura sugere que com crianças e jovens, a forma de organização privilegiada para levar a cabo o treino da força em contexto escolar, será o trabalho em circuito. Raposo (2005), sugere que o treino em circuito apresenta um conjunto de vantagens pedagógicas que o tornam um método importante para o desenvolvimento da força de resistência geral e específica nos escalões etários mais jovens em contexto escolar, referindo como aspetos positivos: a sua riqueza nas possibilidades de organização; a possibilidade de desenvolvimento, combinado ou isolado, dos diferentes tipos de força; a mobilização multilateral dos diversos grupos musculares; a possibilidade de enquadramento de um grande número de atletas; a participação ativa na aprendizagem dos companheiros; o facto de permitir a utilização de diferentes espaços, exercícios e materiais auxiliares. No entanto, considera que é necessário que se respeitem três princípios metodológicos fundamentais: a alternância dos grupos musculares (de forma a poder evitar o aparecimento precoce da fadiga localizada), o carácter coletivo, o carácter lúdico e agonístico que se relacionam muito bem com a motivação e a dinâmica da carga para o desenvolvimento efetivo das respetivas capacidades.

Quando procurámos averiguar sobre os motivos que levam os professores de educação física a desvalorizar o desenvolvimento da capacidade motora força, em contexto de aula, verificámos que evocam um conjunto diverso de fatores: (i) desconhecimento dos pressupostos metodológicos inerentes à implementação, (ii) elevado número de conteúdos a lecionar (exigências programáticas), (iii) escassez de tempo, (iv) entenderem como atividade não prioritária, (v) falta de condições de trabalho e por último (vi) desinteresse por parte dos alunos. De facto, possuir uma base sólida com conhecimentos estruturados acerca dos pressupostos metodológicos inerentes ao trabalho da capacidade motora força com crianças e jovens, é essencial para desenvolver um bom programa de treino, sem riscos para a saúde dos alunos. Faigenbaum (2007), indica que as evidências científicas

Danilo Miguel Lino da Conceição 55 corroboradas por impressões clínicas, sugerem que o exercício da força pode ser seguro e eficaz para crianças e adolescentes desde que sejam seguidas diretrizes de treino apropriadas às idades.

Do mesmo modo, julgamos fundamental que se desmistifique o pressuposto que treinar força em crianças e jovens é ineficaz, pouco seguro e acarreta prejuízos para o jovem. De acordo com diferentes autores e organismos (AAP, 2001; Marques & González- Badillo, 2005; Braga, 2007; Santos & Janeira 2008 e Ferrão, 2010; Faigenbaum et al., 2009), o treino de força nas crianças e jovens traz benefícios para a saúde bem como ganhos motores observáveis, desde que haja formação qualificada e adequada dos técnicos e supervisores do exercício, e que as diretrizes e orientações para prescrição dos exercícios de treino de força, em crianças e jovens, sejam observadas de forma ético/deontologia e implementadas metodologicamente de forma correta. Também em relação tempo despendido para o treino desta capacidade motora, podemos verificar, de acordo com os estudos de Cunha (1996) e Braga (2007), que não será necessário despender muito tempo para exercitar esta capacidade motora com os jovens, desde que o programa de treino seja corretamente programado e orientado.

De acordo com os resultados obtidos, constatámos não existirem diferenças significativas em relação ao conhecimento que os professores consideram possuir, relativamente às metodologias, para o desenvolvimento da capacidade motora força, com crianças e jovens em contexto escolar, quando comparados por grupo disciplinar. Do mesmo modo, não existiram diferenças estatisticamente significativas, entre os professores de diferentes grupos disciplinares que aplicaram metodologias de força com crianças e jovens. Podemos deduzir que, o grupo disciplinar para o qual os professores têm formação específica, não influencia no grau conhecimentos nem na aplicabilidade de metodologias para o desenvolvimento da capacidade motora força com crianças e jovens, em contexto escolar.

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