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Os dados obtidos nas entrevistas trazem importantes reflexões para as questões relativas ao equilíbrio entre vida profissional, vida familiar e vida pessoal. Verifica-se que, de acordo com o entendimento das entrevistadas, o equilíbrio entre carreira e vida pessoal e vida familiar tem sido alvo de busca permanente, mas é dinâmico e não algo que se mantém inalterado.

Greenhaus, Collins e Shaw (2003) propõem que a avaliação do grau de equilíbrio entre a vida profissional e vida pessoal e familiar pode ser representado sob forma de saldos: positivo ou negativo.

Ao serem questionadas sobre a percepção de equilíbrio entre as vidas profissional, familiar e pessoal, todas as respondentes apontaram que há algumas interferências, a maioria se referindo ao transbordamento da vida profissional para a vida familiar.

Essas interferências, ainda que vistas como de baixa intensidade, ocorrem principalmente no que se refere às atividades domésticas e, secundariamente, aos cuidados necessários com os filhos. Um grupo expressivo, de cerca de sete, afirmaram que vida familiar ou pessoal nunca as impediu de ter a energia necessária para executar as atividades profissionais. Apenas uma disse que sempre há interferência da vida familiar no desempenho no trabalho.

No grupo pesquisado, algumas mulheres que apresentaram maior percepção de equilíbrio têm em comum o fato de poderem contar com pessoas para auxiliarem na execução das tarefas, tanto do trabalho, quanto do ambiente doméstico. Assim, conseguem administrar melhor o tempo dedicado a cada esfera da vida.

Um outro grupo que, por questões principalmente financeiras, não tem pessoas suficientes auxiliando, demonstra maior dificuldade em alcançar o equilíbrio. O ponto comum aos dois grupos é que, independentemente de terem ou não auxiliares, a percepção é de que o saldo de equilíbrio oscila entre positivo e negativo.

Em relação à junção das informações fornecidas sobre as três dimensões de equilíbrio (tempo, envolvimento, satisfação) em forma de saldos, positivo ou negativo, conforme proposto por Greenhaus, Collins e Shaw (2003), as empreendedoras consideram o saldo mais positivo do que negativo. Apesar, contudo, das ponderações em relação ao tempo escasso para atender todas as áreas de forma igualitária.

Todas as entrevistadas, ao notarem saldo positivo de engajamento, percebem também que as esferas da vida estão sendo conduzidas de maneira satisfatória, o que propicia a elas a sensação de realização. Os resultados encontrados por Strobino (2014) apresentando pesquisa realizada por Quental e Wetzel (2002) dizem que as mulheres têm um profundo amor por seus negócios e que, mesmo reconhecendo a ocorrência de transbordamento da área profissional para a pessoal e familiar, encontram satisfação em suas atividades profissionais.

Para algumas entrevistadas, o trabalho é parte integrante da vida pessoal. Quando se afastam da vida profissional em decorrência de demanda da vida familiar, por exemplo, sentem necessidade de retomarem o trabalho com maior intensidade. Cherlin (2001) aborda também o aspecto bem-estar e a satisfação da mulher ao exercer atividades produtivas. O que é corroborado por Possati e Dias (2002), para os quais o transitar simultaneamente entre os espaços públicos e privados pode constituir fator enriquecedor e, não, de estresse e culpa, também nestas afirmativas pode-se encontrar confirmação com base nos depoimentos.

Ao buscar identificar com quais estratégias propostas por Tiedge (2004) as mulheres empreendedoras mais se identificavam, as dimensões que obtiveram maior destaque estão localizadas na dimensão “planejamento e administração do tempo”, seguida da dimensão “multitarefa”. Tais escolhas reforçam a ideia de que o equilíbrio entre vida profissional, pessoal e familiar se torna possível quando o tempo é bem administrado, permitindo contemplar cada área da vida bem como as diversas tarefas executadas pelas mulheres empreendedoras. Somente a dimensão estratégica “supermulher” não foi apontada pelas entrevistadas como uma estratégia possível para se alcançar o equilíbrio.

Apesar de dedicarem mais tempo à vida profissional, as mulheres entrevistadas dizem que é mais difícil sanar questões referentes à gestão do empreendimento em comparação com as questões relacionadas ao equilíbrio na vida pessoal e familiar. Para elas, a família é compreensiva, demanda pouco em relação ao trabalho ou estão, de alguma maneira, envolvidas com a atividade empreendedora. Essas observações vão de encontro às afirmativas de Codo, Sampaio, Hitami (1993), quando enfatizam que mulheres empreendedoras tendem a valorizar, tanto a realização profissional, quanto a realização pessoal, o que inclui a maternidade, o relacionamento afetivo estável, com ressalvas para a questão relacionada ao tempo dedicado a si mesmas.

Os principais tipos de conflitos mais comumente enfrentados por elas na interface entre carreira e vida pessoal e familiar são encontrados na administração do tempo, na necessidade de delegar tarefas e na dificuldade em encontrar pessoas capacitadas para realizarem atividades de maneira a atender às expectativas de qualidade. Os autores Quental, Wetzel (2002), com base em pesquisa realizada com mulheres que praticam atividades empreendedoras no Estado do Rio de Janeiro, reforçam a possibilidade que as mulheres que optam pela carreira empreendedora têm de melhor administrar o tempo em relação às demandas. A atividade empreendedora em si pressupõe maior flexibilidade e maior grau de autonomia. Significa ter horário de trabalho flexível e poder conciliar as diversas demandas.

Kilimnik (2013) realizou pesquisas com 25 docentes de áreas diversas, em transição de carreira para o empreendedorismo, de universidades públicas e privadas, com idades entre 33 a 66 anos. A pesquisa se baseou nas dimensões propostas por Duberley (2010). Os levantamentos buscavam compreender as seguintes dimensões:

1. motivos para transição ao empreendedorismo;

2. formas de inserção no empreendedorismo e estratégias de carreira; 3. desafios e dificuldades da transição;

4. competências requeridas para atuar como empreendedor;

5. scripts de carreira no que se refere à atividade empreendedora e estratégias para inserção no empreendedorismo;

6. imagens e metáforas associadas à transição e à carreira empreendedora;

7. influência de fatores contextuais no sucesso da transição (diferentes instituições – ciência, universidade, governo, família, instituições de financiamento, mundo

empresarial);

8. comparação entre os mundos: o acadêmico e o de negócios;

9. qualidade de vida no trabalho e equilíbrio entre a vida pessoal/familiar e a vida profissional (ou carreira).

Ao tratar da análise da dimensão nove, relacionada à qualidade de vida no trabalho e equilíbrio entre a vida pessoal, familiar e profissional, 70% dos entrevistados se mostraram satisfeitos com o exercício de suas atividades empreendedoras e com a continuidade da carreira acadêmica, o que pode ser equivalente à dimensão multitarefa apontada pelas mulheres empreendedoras, que se mostraram igualmente satisfeitas.

Entretanto, assim como as mulheres empreendedoras, 50% dos entrevistados de Kilimnik (2013) apontaram que gostariam de ter mais tempo para se dedicarem a outras atividades e que, em decorrência de intenso trabalho, a vida familiar tem sido comprometida uma vez que a vida profissional é priorizada.

Assim, os modos de engajamento propostos por Tiedge (2004) no que se refere à função de empreendedora e nas funções referentes à gestão da vida pessoal e familiar podem ser confirmados nos levantamentos realizados com base nas dimensões propostas por Duberley (2010). Os dois têm em comum o entendimento de que, para se sentirem plenamente satisfeitos, há a necessidade da melhor administração do tempo bem como a necessidade de se engajarem de maneira equilibrada, tanto na vida profissional, quanto nas vidas pessoal e familiar.