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O equilíbrio entre vida profissional, vida familiar e vida pessoal

3. sociais capacidade de construir e manter relacionamentos de confiança com

2.9 O equilíbrio entre vida profissional, vida familiar e vida pessoal

Aparentemente, a questão do equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal reflete uma incompatibilidade entre as demandas do papel do trabalho e as demandas do papel da família. Os mais frequentes fatores motivadores de desequilíbrio são tempo (dificulta a participação integral em outras atividades), interferência entre uma atividade em outra (gerando sintomas de natureza psicológica, como ansiedade, fadiga e irritabilidade) e a interferência excessiva do trabalho na família ou interferência da família no trabalho (pode gerar efeitos adversos nas relações dos indivíduos com seus cônjuges e na qualidade da vida familiar) (QUENTAL e WETZEL, 2002).

Quental e Wetzel (2002), levando em conta essas observações, citou Wilensky apud Sumer e Knight (2001) que apresentam três hipóteses formuladas com o objetivo de explicar a relação entre as esferas trabalho e família. São elas: 1. extravasamento (spillover) – no extravasamento da satisfação em um domínio da vida irá causar satisfação ou insatisfação em outros; 2. compensação - compensação ocorre quando as pessoas respondem às condições insatisfatórias de um dos domínios envolvendo-se mais no outro; 3. segmentação - enfatiza a separação dessas esferas da vida. Trabalho e família são distintos e não se relacionam.

De acordo com Greenhaus, Collins e Shaw (2003), o termo equilíbrio entre trabalho e família é popularmente utilizado. Algumas vezes como substantivo (quando utilizado para se alcançar o equilíbrio), como verbo (para equilibrar demandas do trabalho e da família) ou adjetivo (como em uma vida equilibrada). Destaca ainda que muitas vezes a busca pelo equilíbrio está relacionada à redução de tarefas do trabalho a fim de destinar mais tempo a família. Parte-se do pressuposto de que o indivíduo deseja uma vida equilibrada. Todavia, o conceito de equilíbrio ainda não passou por aprofundada avaliação. Assim, as definições sobre as relações entre trabalho e família tendem a não mencionar o termo equilíbrio trabalho-família ou,

quando mencionam equilíbrio, não o definem explicitamente. Em relação a equilíbrio, o que se percebe é que se faz necessário torná-lo construto a fim de possibilitar melhor entendimento. Não obstante, as definições de equilíbrio não são inteiramente consistentes com o outro, a medida de equilíbrio é problemática, e o impacto do equilíbrio trabalho-família no bem-estar individual não foi firmemente estabelecida.

O termo equilíbrio ainda não deve ser considerado um marco de relação entre trabalho e família, por não especificar em quais condições ou experiências os papéis desempenhados no âmbito profissional e no âmbito familiar têm relação de causalidade em relação ao outro. Percebe-se que o equilíbrio reflete a maneira como o indivíduo se orienta em relação às tarefas e o nível hierárquico de importância onde cada uma está estabelecida. O autor sugere então definir equilíbrio como ''[...] a tendência de se tornar totalmente engajado no desempenho de cada tarefa em um sistema total, para se aproximar de cada uma com atitude de atenção e cuidado” (GREENHAUS, COLLINS e SHAW, 2003, p. 512).

Outros autores citados por Greenhaus, Collins e Shaw (2003) trazem conceituações como onde viver uma vida equilibrada é '' [...] alcançar experiências satisfatórias em todos os domínios da vida e, para isso, requer recursos pessoais, tais como energia, tempo e compromisso para ser bem distribuída entre domínios'' (KIRCHMEYER, 2000, p. 81), ou ainda a definição sobre equilíbrio trabalho-família como ''[...]

satisfação e bom funcionamento no trabalho e em casa, com um mínimo de conflito '' (CLARK, 2000, p. 349). Há um elemento comum nessas definições: a noção de engajamento e de igualdade entre experiências na função de trabalho e experiências no papel da família.

Assim, Greenhaus, Collins e Shaw (2003) propõem dividir o engajamento para cada papel em dois elementos: de tempo e envolvimento psicológico e propõe três componentes para se verificar a questão do equilíbrio entre trabalho e família: 1. equilíbrio de tempo; 2. equilíbrio de envolvimento; 3. equilíbrio de satisfação. A finalidade é representar equilíbrio em forma de saldos, positivo ou negativo, dependendo do nível de tempo, envolvimento ou satisfação despendidos para cada componente. Acredita-se que indivíduos que investem um montante considerável de

envolvimento psicológico em seus papéis e distribuem esse envolvimento de maneira igualitária entre os papéis profissionais e familiares apresentam equilíbrio de envolvimento positivo. Esse saldo positivo pode vir a contribuir de maneira favorável na qualidade da vida, proporcionando equilíbrio de satisfação. O estado de desequilíbrio pode refletir diferenças consideráveis no elemento tempo e no nível de envolvimento com a família, podendo produzir conflito trabalho-família, estresse e redução da qualidade de vida.

O engajamento proposto por Greenhaus, Collins e Shaw (2003) é referência para estudos (QUENTAL, WETZEL, 2002, citadas por STROBINO e TEIXEIRA 2014). Os estudos dessas autoras demonstram que a dimensão tempo para as mulheres empreendedoras é fator importante na busca pelo equilíbrio. O fato de poderem atender as demandas da vida familiar ou pessoal minimiza os sentimentos de culpa por não poderem estar com sua família, principalmente filhos, na maior parte do tempo. A flexibilidade de horário é determinante para a satisfação.

As autoras também analisaram os componentes equilíbrio de satisfação e equilíbrio de envolvimento. E observaram que as empreendedoras brasileiras demonstram satisfação com o sucesso, tanto da empresa, quanto dos indivíduos envolvidos com o empreendimento. Quanto ao alto envolvimento das mulheres empreendedoras com o trabalho, as pesquisadas demonstraram que é necessário criar uma estrutura de apoio para as atividades diárias como empregadas domésticas e babás entre outros. As maiores demandas estão no âmbito familiar, principalmente dos filhos pequenos.

Lindo et al.(2007) analisam a conciliação entre a vida profissional e a vida familiar das empreendedoras e reflete sobre o papel da mulher na sociedade, sendo que a principal delas está relacionada à capacidade de conciliação entre ao diversas atividades. Ao verificar as indicações de literatura especializada, que sugere que variáveis como gênero, idade, estado civil e classe social, moldam a relação entre carreira e família.

Os autores indicam que algumas características específicas das atividades exercidas pelas empreendedoras também se constituem em variáveis adicionais que influenciam essa relação. Lindo et al. (2007) apontam que uma características das mulheres empreendedoras tende a não se referirem a conflitos, mas a situações práticas que precisam ser administradas. A flexibilização de horário, outro fator tido como importante na vida das empreendedoras. O gosto pelo que fazem e a independência financeira proporcionam-lhes grande satisfação e as ajudam a superar dificuldades e assumir plenamente as responsabilidades inerentes ao negócio.

Strobino e Teixeira (2014), apresentando pesquisa realizada por Quental e Wetzel (2002), sugerem que ter o próprio negócio foi percebido pelas mulheres como uma opção de carreira que conduzia a um maior equilíbrio entre as atividades trabalho e família. A pesquisa teve como objetivo estudar o equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal para mulheres brasileiras que praticam atividades empreendedoras. Foram realizadas sete entrevistas com representantes do grupo pesquisado. Para essas entrevistadas, o empreendedorismo poderia oferecer certas características de trabalho, como autonomia e horário flexível que, na percepção feminina, deveriam conduzir ao equilíbrio. Mesmo reconhecendo que, em função da liberdade e a flexibilidade de trabalho, transbordamentos da área profissional para a área pessoal poderiam acontecer e serem desencadeadores de conflitos, todas as sete participantes da pesquisa relataram satisfação com o que faziam e que não desejavam outra profissão naquele momento, demonstrando, segundo palavras das autoras, um profundo amor por seus negócios. Tais observações são compatíveis, tanto com as alegações de Greenhaus, Collins e Shaw (2003), como as proposições de Lindo et al. (2007), pois abrangem os componentes tempo, envolvimento e satisfação (STROBINO e TEIXEIRA, 2014).

A seguir, será apresentada metodologia utilizada nesta dissertação, ao final da qual serão apresentadas as dimensões de análise da pesquisa elaboradas de referenciais de referenciais de Greenhaus, Collins e Shaw (2003), Oliveira, Cavazotte e Paciello (2013), Tiedge (2004), Greenhaus, Collins e Shaw (2003), apresentados no presente capítulo.