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Discussão dos resultados

No documento danielpereiraalves (páginas 96-98)

Grupo 2 – Fronteira de Sintagma Fonológico (FSF)

4.4.4. Discussão dos resultados

Os dados acústicos das duas condições de fronteira (FPP e FSF) foram submetidos a dois tipos de análise, uma sintagmática, a fim de se verificar a existência de pistas capazes de sinalizar a transição entre as sílabas dentro de uma mesma condição de fronteira e uma análise paradigmática, em que as sílabas de FPP foram examinadas em contraste com as suas correlatas em FSF, com o objetivo de se constatar em que medida as duas condições de fronteira eram diferentes uma da outra.

A nossa hipótese parte da ideia de que os ouvintes são sensíveis aos vários tipos de informação prosódica e são capazes de identificar diferenças de duração, F0 e intensidade. Estudos mostram que o ouvido humano é capaz de captar variações acústicas muito pequenas, inclusive de duração (Noteboom & Doodeman, 1980; Bovet & Rossi, 1978). Isso posto, havendo diferenças acústicas significativas entre os dois tipos de fronteira, pode-se prever que a reação comportamental dos ouvintes será distinta em cada condição e, na ausência de tais diferenças, espera-se um padrão de reação homogêneo.

A análise paradigmática revelou que FPP e FSF são marcadamente distintas. Em todos os parâmetros investigados (duração; F0 mínima, máxima e média; intensidade mínima, máxima e média), houve diferenças estatisticamente significativas para as comparações Sil1. vs. Sil.1 e Sil.3 vs. Sil.3. Diferenças também foram encontradas para a comparação Sil.2 vs. Sil.2, com exceção dos parâmetros de duração, F0 mínima e intensidade média. Tendo em mente a sensibilidade dos ouvintes a diferenças acústicas e a hipótese de que informações prosódicas atuam no processamento lexical, a nossa previsão é, portanto, que FPP e FSF tenham diferentes pesos no acesso a itens lexicais.

Foi importante verificar, ainda, se as sílabas no interior de cada condição apresentam variações acústicas entre elas capazes de sinalizar a transição entre as sílabas e, consequentemente, entre as fronteiras investigadas. A análise sintagmática revelou padrões diferentes para a transição silábica em cada condição de fronteira. Em FSF, as variações constatadas são muito mais nítidas do que em FPP.

A análise sintagmática conduzida para a condição FPP indicou não haver variação significativa, entre as silabas imediatamente vizinhas à fronteira (Sil.1 vs. Sil.2), de F0 e duração. O único parâmetro que apresentou diferença significativa nesse contexto foi a intensidade (mínima, média e máxima).

Na comparação entre tônicas (Sil.1 vs. Sil.3), constatou-se diferença significativa apenas para intensidade máxima e duração. Contudo, como já discutido anteriormente, o

alongamento da Sil.3 nesse caso não é uma marca da palavra prosódica, mas sim devido à presença de um sintagma fonológico logo após o adjetivo [o gol ω final] ϕ.

Para a condição FSF, por outro lado, a análise sintagmática revelou diferenças significativas entre a Sil.1 e a Sil.2 nos parâmetros duração, F0 (mínima, máxima e média) e intensidade (máxima e média). Também na comparação entre Sil.1 e Sil.3, observou-se significância estatística para as diferenças de duração, F0 (mínima e média) e intensidade (máxima e média).

Isso nos permite supor que caso FPP seja utilizada pelos ouvintes como pista para o acesso lexical, a intensidade seria o principal candidato a parâmetro acústico relevante para a restrição do acesso lexical. Caso contrário, pode-se supor que a intensidade não é uma pista robusta o suficiente para interferir na restrição do processamento lexical.

Enquanto as sílabas imediatamente vizinhas à fronteira se diferem apenas com base em informação de intensidade na condição FPP, quando ocorrem em FSF, não só a intensidade como também pistas duracionais e de F0 marcam a transição entre tais sílabas. Nesse sentido, FSF conta com um maior número de informações acústicas relevantes para a indicação de fronteira e tem, pois, mais chances de ser utilizada como pista na restrição do acesso lexical.

Os nossos resultados vão ao encontro de diversos trabalhos, dentre os quais se ressalta o de Moraes e Abraçado (2004). Estes últimos salientam que a acentuação tem um importante papel na delimitação de agrupamentos de sintagmas fonológicos, atuando de duas formas: ou por um reforço prosódico sobre a tônica da palavra localizada no final do sintagma ou por uma desacentuação da palavra situada no interior do sintagma. As duas estratégias podem, ainda, ocorrer em conjunto.

Considerando a transição entre as sílabas situadas imediatamente à fronteira (Sil.1 vs. Sil.2), os resultados para FPP mostraram que, com exceção da intensidade, nenhum outro parâmetro revelou efeito significativo para a sinalização deste tipo de fronteira. Por outro lado, os resultados para FSF revelaram que não só a intensidade foi significativa, como também os parâmetros de duração e frequência fundamental.

Enquanto na FSF o monossílabo tônico gol (Sil.1) está situado no final do sintagma fonológico [que o gol] ϕ [ficou marcado] ϕ, na FPP, ele se encontra em posição medial [o gol ω final] ϕ. Tendo em vista a afirmação de Moraes e Abraçado (2004), gol em FSF estaria, portanto, no contexto em que receberia um reforço acentual e gol em FPP, no contexto em que estaria suscetível a desacentuação.

Se levarmos em conta que a duração é considerada o principal parâmetro para o fenômeno da acentuação em Português (MASSINI-CAGLIARI & CAGLIARI, 2005), fica claro, em nossos dados, que na condição em que o monossílabo ocorreu em FSF, ele recebeu um reforço acentual, caracterizado pelo alongamento da tônica. Quando em FPP, ele possivelmente sofreu uma desacentuação, visto que sua duração foi visivelmente menor e não se revelou uma pista transicional significativa para sinalização de fronteira.

As informações de Frequência Fundamental são mais uma evidência a favor dessa hipótese. Nos estudos realizados por Moraes e Abraçado (2004) em sentenças do PB, verificou-se que a modulação de F0 sobre a tônica e possíveis postônicas tem um importante papel na atribuição desse reforço prosódico. Mais uma vez, nossos dados vêm confirmar as evidências elencadas na literatura. Como já dito, gol em FSF apresentou um efeito significativo da F0 como pista para transição de fronteira, enquanto em FPP, tal efeito não foi constatado.

No documento danielpereiraalves (páginas 96-98)