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Experimento 2: Fronteira De Sintagma Fonológico (FSF)

No documento danielpereiraalves (páginas 113-117)

Grupo 2 – Fronteira de Sintagma Fonológico (FSF)

5. ATIVIDADES EXPERIMENTAIS

5.2. Experimento 2: Fronteira De Sintagma Fonológico (FSF)

Hipótese

Nossa hipótese é que, como no francês, as fronteiras de sintagma fonológico seriam exploradas on-line por falantes adultos do PB para restringir o acesso lexical. Diversos estudos apontam a importância das pistas desse tipo de fronteira no processamento lexical e sintático (CHRISTOPHE et al., 2004; MILLOTE et al., 2004; SILVA & NAME, 2009) e acreditamos que sejam também importantes para a identificação de itens lexicais e inibição de itens competidores no PB, ao contrário do que ocorre com fronteiras de palavra prosódica, que não se revelaram pistas robustas para inibir a ativação das palavras candidatas (cf. seção anterior).

Previsão

Se a informação acústica em fronteira de sintagma fonológico é capaz de inibir o efeito da ambiguidade local, esperamos que não haja diferença significativa quanto à média dos tempos de reação entre a condição ambígua e a não ambígua.

Caso seja constatado um efeito positivo da FSF, logo os parâmetros acústicos de duração e F0 (mínima, média e máxima) terão um importante papel nesse processo, pois revelaram diferença significativa entre Sil.1 e Sil.2 nesse tipo de fronteira (cf. capítulo 3). Nesse caso, a FSF e, mais especificamente, os parâmetros acústicos que a caracterizam, podem ser considerados uma pista importante na restrição do acesso lexical.

5.2.1. Método

Participantes

Quatorze falantes nativos do PB participaram desta atividade experimental. Três sujeitos adicionais foram excluídos das análises finais: dois por apresentarem tempos de reação muito lentos em comparação com a média e um por responder à tarefa apenas em dois eventos (trials).

Material e procedimento

Dez pares de sentenças experimentais foram construídos seguindo os mesmos critérios do experimento 1. No entanto, a ambiguidade lexical, antes presente no interior de um

sintagma fonológico (entre palavras prosódicas), agora está superposta à sua fronteira. Em cada par, um membro era uma sentença teste e outro membro uma controle.

A sentença de teste continha um sintagma com ambiguidade local, tal como [...gol] ɸ [ficou marcado], em que a sequencia golfe, por corresponder a uma palavra possível no PB, concorre com gol para ativação. A sentença controle, por outro lado, continha um sintagma sem ambiguidade local, como [...gol] ɸ [será anulado], em que não havia palavra concorrente, uma vez que nenhuma palavra PB começa com a sequencia *['gows ...].

(32) Condição Teste:

O jornalista disse [que o gol] ɸ [ficou marcado] ɸ na história do futebol. (golfe)

(33) Condição Controle:

O jornalista disse [que o gol] ɸ [será anulado] ɸ por decisão do juiz. (*go[w]s...)

Em cada par, a sentença teste tinha o mesmo preâmbulo e a mesma palavra-alvo que sua respectiva controle, como pode ser visto no par de sentenças acima, que apresenta o preâmbulo "o jornalista disse que o gol" e a palavra-alvo "gol" em ambas as sentenças. A análise acústica da palavra-alvo revelou uma diferença marginalmente significativa entre a média de duração do alvo na sentença teste (281,0ms) e na sentença controle (315,6ms): t(9)=2.18; p=.06. Quando se analisa a duração da vogal, por outro lado, não há diferença significativa de duração (Controle: 155,9ms vs. Teste:167,6ms; t(9)=1.5; p=0.17).

Tal como no primeiro experimento, havia trinta sentenças distratoras: dez contendo a palavra-alvo pedida, dez com uma das palavras contendo uma sílaba interna homófona à palavra-alvo (alvo: BAR, sílaba homófona: "emBARcar") e dez não contendo a palavra-alvo nem sílaba homófona a ela. Em todas as sentenças, experimentais e distratoras, a palavra-alvo era sempre um dos seguintes monossílabos tônicos: "bar, fã, fé, gol, lã, pá, pó, ré, sal, rã". Uma lista exaustiva dos estímulos utilizados pode ser consultada no apêndice B (p.129).

Foram construídos dois blocos com 40 sentenças cada um, sendo 30 distratoras e 10 experimentais. Cada bloco conta com cinco sentenças teste e com cinco sentenças controle, distribuídas de modo que cada membro de um determinado par estivesse em um bloco diferente. Testando os participantes em blocos diferentes, evitamos que eles tivessem acesso a duas sentenças com mesmo preâmbulo, o que poderia tornar previsível a palavra-alvo, interferindo nos tempos de reação.

Todo o procedimento experimental deste segundo experimento é igual ao utilizado no primeiro.

5.2.2. Resultados e discussão

O gráfico 15 mostra a média dos tempos de reação nas condições teste [...gol] ɸ [ficou...] e controle [...gol] ɸ [será...]. As sentenças teste continham uma ambiguidade lexical local sobre a fronteira entre dois sintagmas fonológicos e as sentenças controle não continham tal ambiguidade.

Gráfico 15: Média dos tempos de reação nas condições teste (ambígua) e controle (não ambígua) em Fronteira de Sintagma Fonológico.

Constatou-se uma diferença de 31ms entre a média dos tempos de reação entre as duas condições (ambígua vs. não ambígua). A média na condição ambígua foi 6.24% maior do que a média na condição não ambígua, diferença essa que não se revelou estatisticamente significativa (528ms. vs. 497ms, t(13)=1.27, p=0.23). Tal resultado revela que não houve efeito significativo da ambiguidade local na Condição Fronteira de Sintagma Fonológico. A palavra-alvo foi mais facilmente identificada nessa condição do que na condição Fronteira de Palavra Prosódica. Portanto, a presença de uma palavra potencialmente competidora

528 497 300 350 400 450 500 550 Teste Controle Condição Teste Condição Controle Média dos Tempos de reação (ms)

Médi

a

(m

perpassando a fronteira de sintagmas fonológicos não interferiu substancialmente no acesso à palavra-alvo, ao contrário de quando o competidor se encontrava sobre a fronteira de palavras prosódicas.

Desse modo, é possível inferir que as variações acústicas encontradas entre Sil.1 e Sil.2 para os parâmetros de duração de frequência fundamental (mínima, máxima e média) atuaram na restrição do acesso lexical. Os resultados aqui apresentados não permitem uma análise de cada um desses parâmetros em separado, para se determinar o peso de cada um nesse processo. Entretanto, independente de esses fatores terem atuado em conjunto ou de um deles ter se sobressaído ao outro na inibição de itens competidores, a consideração mais importante para os propósitos deste trabalho é que os dados acústicos que compõem as fronteiras entre sintagmas fonológicos são relevantes a ponto de influenciar o curso do processamento lexical.

No documento danielpereiraalves (páginas 113-117)