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5 ELEMENTOS DO DISCURSO POLÍTICO E DO DISCURSO

5.3 DISCUSSÕES DE RESULTADOS

A proposta inicial deste trabalho era identificar os elementos e técnicas persuasivas, comuns à publicidade, que influenciam a produção e a divulgação do discurso político nas redes sociais. Para isso, utilizamos como referência os discursos governamentais de Marcelo Déda, online e offline, cujas análises iniciais já trouxeram uma série de questionamentos a esta pesquisa, como, por exemplo: “De que modo o discurso de MD era produzido e divulgado na rede social Twitter, objetivando atrair um grande e diversificado público, promovendo uma ampla repercussão de ideias?” (RODRIGUES, 2016, p. 16). Esta foi a pergunta norteadora que direcionou este estudo e que, portanto, não poderia ficar sem resposta. O resultado final da investigação que realizamos possibilitou a compreensão de que todo discurso é produto de um processo que compreende uma complexa rede, feita por enunciadores, interlocutores, ditos, não-ditos, interdiscursos (MAINGUENEAU, 2006), argumentos e de diversos outros elementos verbais e extraverbais que merecem ser estudados a fundo. Nesse aspecto, os resultados desta pesquisa confirmam a hipótese sugerida inicialmente e demonstram que os discursos de Marcelo Déda não eram construídos apenas por sequências frasais ou raciocínios lógicos, mas sim, por uma complexa rede de propósitos e sentidos.

A identificação dos elementos persuasivos deste estudo, que compuseram as categorias de análise aqui apresentadas (esquema aristotélico e estrutura circular de narração;

ethos do sujeito; associação de ideias; argumentação; escolha lexical; funções de linguagem;

apelo à autoridade; repetição; formação discursiva religiosa), foi fundamental para a compreensão do fenômeno investigado. Nesse sentido, a imagem construída do ex- governador Marcelo Déda, como referência em discursos políticos, passou também a ser relacionada à imagem de um excelente estrategista em comunicação pública. O post abaixo reforça essa identificação e a admiração que o público tinha por seus discursos, assim como, demonstra o orgulho que Déda tinha em ser referenciado por essa qualidade. Isso pode ser identificado pelo fato de ele mesmo ter agradecido e retuitado o elogio, de forma a compartilhar a mensagem para todos os seguidores da sua página.

Post 12 – Tweet e retweet de MD sobre elogio ao seu discurso, em 2013.

Fonte: Twitter (2015)

O ethos discursivo de MD - de uma autoridade pública; líder de esquerda; democrático; sergipano; religioso; diverso; humano -, foi identificado em todos os seus discursos: tanto nos pronunciamentos offline, quanto nas suas postagens no Twitter. A própria descrição que ele fez na sua página principal da rede, conforme demonstrada na figura abaixo, remete a esse ethos discursivo.

Print 2 – Página principal do Twitter de MD, em 2013.

No perfil da sua página ele se autodescreveu como sendo um “Governador de Sergipe (PT). Nascido em S. Dias, em 1960, advogado, e flamenguista. Casado com Eliane, 05 filhos” (DÉDA, 2013). Ou seja, a primeira visão que os interlocutores tinham no seu Twitter já fazia uma referência ao seu ethos discursivo que eles iram seguir nessa plataforma. Mas, para construir a imagem pretendida e despertar a atenção do público em relação a seus discursos e

tweets, MD recorria a um série de estratégias de linguagem, a exemplo do uso uma

estruturação aristotélica e circular; da técnica de associação de ideias ligadas, na maioria das vezes, a argumentos demonstrativos e deliberativos; da utilização de funções de linguagem, especialmente as emotivas, conativas e poéticas; do uso da repetição, para fins de memorização de ideias; das formações religiosas; do apelo à autoridade, sempre referindo-se às instâncias máximas de lideranças políticas (Obama, Lula, Dilma Rousseff, por exemplo), de pensamento (Aristóteles, Max Weber etc) e de humanidade (Nelson Mandela e figuras religiosas, por exemplo).

Um dos resultados mais instigantes desta pesquisa refere-se ao cuidado que MD tinha ao fazer as escolhas lexicais para os seus discursos. Mesmo preservando a imagem de uma autoridade humana e acessível à população e de adequar sua linguagem ao meio de comunicação utilizado para o seu pronunciamento (online ou offline), Marcelo Déda não permitia com que as palavras (e os seus respectivos sentidos) depusessem contra a sua imagem. Em solenidades, por exemplo, ele seguia o protocolo oficial dos discursos formais exigido para esse tipo de evento, mas o fazia por meio de uma escolha lexical que despertasse a atenção e envolvesse a plateia para com a mensagem pretendida. Para isso, ele utilizava palavras relacionadas às expectativas e aos sentimentos humanos que são senso comum em toda a sociedade, a exemplo de “mudança”, “esperança”, “amor”, “respeito”, “luta”, “conquista”, “futuro” etc. Já, na plataforma Twitter, Déda adequava sua comunicação à linguagem coloquial característica da rede - utilizando gírias, abreviaturas, vocativos populares, indexadores etc – mas evitava a postagem de palavras erradas ou muito populares – o que ratifica o seu ethos de autoridade pública e de referência em discursos políticos. A sequência de tweets abaixo demonstra essa característica, quando ele assume que cometeu um erro de português em uma de suas postagens:

Post 13 – Tweets de MD sobre erro de português cometido no Twitter, em 2013.

Fonte: Twitter (2016)

Na sequência acima, MD repete a mensagem de desculpa pelo erro cometido e, no encerramento, aproveita para fazer um comentário a respeito da fase em que estava vivendo, em relação ao tratamento do câncer. Essa mesclagem de informações se complementam, reforçando o seu ethos discursivo, de um sujeito social e humano. Neste caso, cabe o dito popular de que, independente de quem seja e para quem se destine um discurso, “errar é sempre humano”.

Por fim, os resultados desta pesquisa demonstram que, além de utilizar técnicas e elementos persuasivos similares ao da publicidade na produção e divulgação dos seus discursos, Déda tinha um propósito discursivo e, possivelmente, de vida: ser eternizado. Essa interpretação é evidenciada tanto nos pronunciamentos transcritos, quanto nas postagens analisadas. Contudo, a análise desse material confirma a intenção na construção de um sujeito discursivo que, em vida, preparava a sua imagem pós-morte, para ser lembrado como um herói, uma referência política, um líder inesquecível, um homem respeitável e memorável.