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5 ELEMENTOS DO DISCURSO POLÍTICO E DO DISCURSO

5.2 RESULTADOS DA ANÁLISE DOS DISCURSOS DE MARCELO DÉDA

5.2.5 Inauguração da Ponte Gilberto Amado

Localizada sobre o Rio Piauí, a Ponte Gilberto Amado foi construída para ligar os municípios de Estância e Indiaroba, em Sergipe. A obra foi realizada pelo governo do estado em parceria com o governo federal, e a cerimônia de inauguração foi realizada no dia 29 de janeiro de 2013. Na ocasião, estavam presentes inúmeras autoridades públicas, incluindo o então ministro das Minas e Energias, Edson Lobão, e da presidente do Brasil – Dilma Rousseff.

Foto 11 – Solenidade de inauguração da Ponte Gilberto Amado Foto: Marcos Rodrigues/ASN (2013)

De acordo com os protocolos cerimoniais, antes de iniciar um pronunciamento, o chefe do executivo estadual deve primeiramente cumprimentar a maior autoridade pública presente ou representada na solenidade. Neste caso, a própria Dilma Rousseff. No entanto, contrariando às expectativas, Marcelo Déda iniciou o seu discurso de um modo mais pessoal e diferente do tradicional, conforme indicado abaixo:

Presidenta Dilma, permita-me que a primeira palavra do discurso propriamente dito, seja endereçada não a uma autoridade terrena, este e um ato de governos, esse e um ato republicano e a república e laica o governo do estado e laico, mas o ser humano que governa o estado tem o dever e a obrigação de agradecer a Deus por ter me permitido estar aqui hoje, vivo com saúde e alegria, pra entregar uma obra que, quatro meses atrás descobri minha doença e achei que não entregaria. (DÉDA, 2013)

Para analisar o trecho acima é essencial considerar o contexto da enunciação: naquele período, o ex-governador enfrentava uma difícil luta contra o câncer. Desse modo e conforme já apresentado nesta pesquisa, no capítulo sobre o estudo biográfico de Marcelo Déda, seus discursos em 2013 foram marcados pela emoção. Contudo, Déda optou por iniciar esta solenidade com um discurso religioso, cujos traços são evidenciados no uso da expressão “autoridade terrena” e das palavras “laico” e “Deus”. Posteriormente, Déda dá

prosseguimento a sua narrativa fazendo associações de ideias ligadas à obra em questão: a Ponte Gilberto Amado. Segue o trecho:

Caríssima presidenta Dilma, como toda ponte, a Ponte Gilberto Amado liga dois pontos, a ponte é uma obra de arte da engenharia humana, que tem a vocação da união, o homem que construiu muros pra separar os castelos, o homem que ergueu fortificações para fazer a guerra, também aprendeu a fazer pontes para aproximar as pessoas. Na ponta de toda ponte há uma chegada é uma partida, há uma história diferente da outra, quis Deus, quis o trabalho do presidente Lula na administração de quem essa obra se iniciou é a quem quero agradecer do fundo do coração pela parceria constante que do mesmo modo que vossa excelência sempre manteve com o Estado de Sergipe e pela amizade imorredoura se dedica a este modesto sergipano. [...] essa ponte, além de ligar pessoas, ela é um monumento que liga dois nomes que edificaram um novo destino pra esse país. O nome de Luís Inácio e o nome de Dilma Rousseff, um nome de um presidente e a sua sucessora, um homem e uma mulher, um operário e uma economista, um brasileiro e uma brasileira, unidos pelo amor ao Brasil e guardiões do projeto que está resgatando a dignidade do povo brasileiro. (DÉDA, 2013)

Verificamos que Déda faz essas associações por meio das palavras “pontos”, “obra”, “engenharia”, “união”, “construção” e “fortificações” - que sugerem uma relação de contiguidade com o tema principal. E, também, nas comparações entre “união e guerra”, “separar e aproximar” e “chegada e partida” – que indicam contraste, dando uma conotação política de que a ponte é o resultado de esforços e alianças governistas. E para legitimar essa relação, Déda consagra os dois maiores líderes nacionais do seu partido – o presidente do PT e a presidente do Brasil - como idealizadores dessa grande obra. Ressalta-se também que essas referências associativas, além de possibilitarem a repetição de ideias sem redundância, reforçam o conceito principal do discurso em todas as etapas narrativas. Isso dá coerência ao pronunciamento e o torna mais agradável e compreensível para o público. Em relação ao apelo à autoridade realizado neste pronunciamento, destaca-se que, além de este recurso dar credibilidade à mensagem (neste caso, a iniciativa da obra), ele vincula o autor à referência utilizada na autoria. Neste caso, vincula Déda aos líderes do PT, na idealização da obra. Esse apelo também foi repercutido pelo ex-governador em sua página do Twitter, conforme demonstrado na sequência abaixo:

Post 6 - Tweets de MD sobre a Ponte Gilberto Amado, em 2013.

Fonte: Twitter (2015)

Na continuidade do seu discurso de inauguração da Ponte Gilberto Amado, Déda fazendo um apelo à autoridade, agora, prestando uma homenagem à presidente Dilma Rousseff, por meio de uma paráfrase à poesia de Fernando Pessoa. Segue o respectivo trecho:

Bendita mulher brasileira, que hoje não oferece mais lágrimas, pra tornar salgado o mar, como ensinou Fernando Pessoa, quanto do teu sal o mar português, eram aquelas mulheres que choravam, porque as mulheres estavam naquela época fora da liderança política, da liderança empresarial e de grandes acontecimentos. Hoje, no Brasil moderno, uma mulher está se encarregando, não de diminuir o sal do Atlântico, mas em fazer mais doce, o rio da vida de cada homem e de cada mulher brasileira, pela construção de um novo país. Que alegria, presidenta, tê-lo aqui em Sergipe. (DÉDA, 2013)

O trecho acima utiliza a repetição de palavras e associações que destacam o perfil de força da mulher moderna. A exemplo disso, são citadas as ideias que se relacionam por contiguidade - “lágrimas, rio e mar” – e por contraste - “choro e liderança”; e “sal e doce”. A respeito da menção ao poeta Fernando Pessoa, destaca-se que toda a campanha publicitária de inauguração da respectiva ponte teve como inspiração a poesia citada acima. Esta informação foi repassada pela secretária de Comunicação Social da época, Eloisa Galdino, que mencionou que a sugestão pela escolha do conceito criativo da campanha – “unindo o nosso povo a um novo tempo” - foi dada por Marcelo Déda. Abaixo, o ex-governador dá

continuidade ao seu pronunciamento, reforçando este conceito e envolvendo a plateia por meio do uso da função de linguagem poética – caracterizada pela expressividade.

[...] eu dizia a Valmor, diga ao escritório que precisamos de uma ponte, que não rivalize com a beleza de um dos mais belos lugares do planeta terra, que é esse litoral Sul de Sergipe e esse pedaço de litoral da Bahia. Me faça um projeto, onde a ponte tenha a sua solidez necessária, mas onde o seu traço sobrevoe, sem competir com que não pode ter competição, que é a obra da natureza, que ao invés de ser uma ponte pesada que ofenda a beleza natural, seja como um discreto traço de lápis num texto de um poema que a gente gosta, apenas pra destacar o verso, mas sem correr o risco de esconde-lo da vista, é esse traço presidenta, que se ergue o majestoso sobre o rio Piauí que depois vai se abraçar com rio Real e se entregar em sacrifício as águas do Atlântico. Então, além da beleza, além das pessoas que vão se comunicar melhor entre os dois lados da ponte, quero que por ela passe milhares de empregos na área de turismo pro povo de Sergipe e pro povo da região Sul, quero que essa ponte tenha como carga principal, o transporte do progresso da paz e do desenvolvimento pro povo do Estado de Sergipe. (DÉDA, 2013)

A função poética está inscrita no trecho acima por meio de palavras e expressões que se referem à intensa beleza da região sobrepondo-se à força da ponte. Essa comparação pode ser identificada na expressão “[...] discreto traço de lápis num texto de um poema que a gente gosta, apenas para destacar o verso [...]” (DÉDA, 2013). Destacamos ainda que, na transcrição acima, Marcelo Déda encerra a defesa do seu discurso retomando a ideia de que a ponte é uma obra importante porque leva pessoas de um lugar para outro. E, se antes ele fazia esta ligação semântica sob o ponto de vista da política, neste trecho ele humaniza o seu discurso, referindo-se aos benefícios futuros da população. Deste modo, o ex-governador utiliza argumentos demonstrativos - a exemplo de “solidez necessária”, “traço discreto”, “beleza da natureza”, “majestoso Rio Piauí” – seguidos de uma série de argumentos deliberativos - a exemplo de “comunicação”, “milhares de empregos”, “turismo”, “progresso da paz e do desenvolvimento para o povo”. As palavras utilizadas para descrever a obra foram as mesmas reproduzidas na divulgação da inauguração da Ponte, no Twitter de Marcelo Déda. Desse modo, o ex-governador conseguia reforçar o mesmo conceito da mensagem divulgada na campanha e pronunciamento oficial. Segue o post que demonstra essa unidade comunicacional:

Post 7 - Tweet de MD sobre a Ponte Gilberto Amado, em 2013.

Fonte: Twitter (2015)

Após a inauguração da obra, o ex-governador deu sustentação ao seu discurso por meio de retweets positivos das postagens dos seus seguidores sobre a Ponte Gilberto Amado. Segue abaixo um exemplo desta ação:

Post 8 - Retweet de MD sobre a Ponte Gilberto Amado

Fonte: Twitter (2015)

Este recurso de repetição de mensagens é muito utilizado também para reforçar campanhas publicitárias nas mídias digitais, pois possibilita a multiplicação da informação por meio da coprodução dos conteúdo divulgados. Tendo em vista que os seguidores nas redes sociais postam e compartilham informações com as quais se identificam, o alcance e a

visibilidade das mensagens repetidas nessas plataformas tornam-se muito maiores e, portanto, utilizadas com bastante frequência.