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Discussões sobre a disciplinaridade, interdisciplinaridade e transversalidade

Aparentemente, existe um consenso, por parte dos grupos de coordenadores, administradores e professores da região Centro-Oeste, de que a Educação Am- biental deva ser trabalhada na forma interdisciplinar, utilizando o meio ambiente como Tema Transversal às tradicionais disciplinas. Entretanto, foi constatado que, em dois municípios pesquisados, ocorreu a existência da Educação Ambiental como disciplina obrigatória no currículo do ensino fundamental das redes municipais, e também em algumas escolas da rede privada, tanto em Mato Grosso, quanto em Mato Grosso do Sul.

Em um dos municípios pesquisados de Mato Grosso do Sul, a disciplina Educação Ambiental foi incorporada ao currículo do ensino fundamental, em 1995, fruto de uma lei municipal aprovada em 1993, contrariando o consolidado consenso internacional de desenvolvê-la na Educação formal, somente através de enfoque interdisciplinar. Segundo os professores entrevistados, essa disciplina foi extinta em 2006, em função da indicação do MEC de trabalhar o tema meio ambiente de for- ma transversal, em todas as disciplinas do currículo.

Entretanto, uma diretora de escola defendeu a manutenção da Educação Am- biental como disciplina obrigatória, sobretudo em municípios que reúnem recursos naturais de grande importância e beleza. A diretora justifica sua idéia, afirmando que o encargo para os demais professores é muito grande, revelando desconheci- mento e dificuldades em trabalhar com os conteúdos previstos para a Educação Ambiental. Ao mesmo tempo reconhece que sua implementação, juntamente com ações educativas fora da escola, minimiza vários problemas ambientais na cidade, como, por exemplo, a prática de queimadas em terrenos baldios.

169 Da mesma forma, em um dos municípios-alvo da pesquisa em Mato Grosso, foram obtidas informações de que, durante quatro anos, o currículo das escolas de ensino fundamental manteve uma disciplina específica de Educação Ambiental, o que perdurou até o ano de 2005. Somente em 2006, o tema começou a ser apresen- tado de forma transversal.

É possível afirmar que, no geral, em conversa com os professores, perce- bem-se pouquíssimas iniciativas interdisciplinares de Educação Ambiental. Pre- valecem as abordagens individuais fomentadas pelos conteúdos curriculares. Há um grande desconhecimento do corpo docente sobre o que seja Educação Am- biental e como fazê-la.

Relato de experiência

Os resíduos sólidos são relatados como o maior problema ambiental, pelos sujeitos entrevistados. Alguns funcionários responsáveis pela limpeza dos recintos escolares reclamam do comportamento dos alunos que jogam muito lixo no chão e sujam as paredes. Há inclusive, observação de funcionários sobre a inexistência de projetos e/ou ações para minimizar o problema.

Percebeu-se a prática de incineração de lixo em algumas escolas, realizadas em seu próprio recinto. Outras apontam para a necessidade de fazer um trabalho de separação dos resíduos. Também cogitam a possibilidade de desenvolver trabalhos no entorno da escola, para mobilizar os pais dos alunos e moradores do bairro em torno da temática. Há exemplo de escola que promove, todas as sextas-feiras, um mutirão de limpeza, envolvendo todos os alunos.

Em um dos municípios de Mato Grosso do Sul, todas as escolas encontram- se estruturadas para a coleta seletiva dos resíduos sólidos, entretanto, tal prática ainda não se efetivou, embora as condições sejam favoráveis para tal.

Há uma escola de Mato Grosso do Sul, em outro município, que organiza o destino dos resíduos sólidos. Os orgânicos são jogados numa fossa e o restante do material é coletado por funcionários de uma grande propriedade rural, de 86 mil hectares, considerada importante parceira. Nessa fazenda, os resíduos são se- parados e depois vendidos. O que não é aproveitado na separação é incinerado na própria fazenda. Porém, a escola nada recebe em troca por esta ação ambiental.

Outra escola de Mato Grosso do Sul possui brinquedoteca, ou seja, uma sala com brinquedos, feitos por meio da reciclagem e do reaproveitamento de resíduos

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sólidos: quebra-cabeças, mini-cadeiras de caixas de leite, carrinhos e vaie-vem de garrafas pets etc., utilizados pelos alunos da Educação Infantil.

Em Mato Grosso há uma escola que realiza trabalhos relacionados ao tema lixo, dando ênfase à reutilização e coleta seletiva. Em 2005, realizou-se oficinas de reciclagem de papéis e papelão, produzindo representações de animais da região. A mesma escola realiza campanhas de conscientização sobre o problema do lixo domiciliar deixado nas ruas do entorno e dos bairros vizinhos.

Em relação à preocupação com a nutrição dos educandos, destaca-se um mu- nicípio de Mato Grosso do Sul, onde prevalece uma lei municipal que proíbe a comercialização de doces e frituras nas cantinas escolares.

Dentre as práticas pedagógicas constatadas nas instituições pesquisadas da região Centro-Oeste, pode ser destacado um projeto desenvolvido por uma escola de Mato Grosso do Sul, em parceria com uma universidade pública, tendo como temática principal o avanço do processo erosivo na zona urbana da cidade. A uni- versidade envolvida ofereceu capacitação para os professores da escola, visando à formação continuada para experiências interdisciplinares em Educação Ambiental.

Houve a realização de um amplo trabalho, com orientações para usarem o processo erosivo como recurso pedagógico. Os resultados desta capacitação propor- cionaram o envolvimento de várias áreas do conhecimento, e resultou em um relato de experiências publicado em uma revista.

Para mostrar à comunidade o problema do Buracão, também apelidado de Titanic – uma voçoroca com aproximadamente seis quilômetros de extensão – fo- ram realizadas atividades diversas, como uma peça de teatro encenada dentro da voçoroca e uma festa, visando a incentivar a população a conhecer o problema. Até mesmo o cemitério da cidade já está sendo atingido. É possível, inclusive, visualizar o lençol freático, de tão profunda que é a cratera.