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A escola selecionada para a realização de observação mais específica em tor- no das práticas de Educação Ambiental foi a Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira.

Essa instituição de ensino foi fundada em 1996, com o objetivo de se consti- tuir num grande Centro de Referência em Educação Ambiental, promovendo e ir- radiando práticas educativas inovadoras e dirigidas à promoção da sustentabilidade ambiental da localidade onde foi implantada.

Localizada na ilha de Caratateua, a 40 quilômetros de Belém, ocupa uma área de 120 mil metros quadrados de floresta, atende aproximadamente 2.300 alunos de Caratateua e de outras três ilhas da cidade, com oferta de Educação Infantil, Edu- cação Fundamental e Educação Média Profissional, para a formação de técnicos em meio ambiente. O curso técnico encontra-se organizado em quatro módulos: Ciência do Meio Ambiente, Fauna, Flora e Ecoturismo.

Em se tratando especificamente da questão ambiental, a Escola Bosque desen- volve diversos projetos, como o da horta escolar, por meio de uma parceria com empre- sas. Outro projeto desenvolvido é o de Plantas Medicinais, cujo objetivo é o de alertar as pessoas para o cuidado com a natureza, pois, a partir do momento que se está des- truindo a floresta, está-se perdendo também o que se tem de medicinal naquela flora. Com isso, estimula-se a conhecer melhor a planta, suas utilidades, e ao mes- mo tempo gerar nos sujeitos a preocupação quanto aos cuidados que devem ter com sua saúde, bem como a perceberem a importância da natureza para a conservação da saúde humana.

O espaço físico da Escola Bosque é bem conservado, apresentando poucos riscos e manchas nas paredes das salas de aula. Estas são ventiladas e iluminadas, com as carteiras limpas e adequadas às crianças, de acordo com suas idades.

A Escola Bosque possui espaços e projetos de articulação intercurricular or- ganizados para dar suporte à proposta pedagógica da escola, que tem como eixo de articulação a Educação Ambiental desenvolvida em todas as disciplinas integrantes do currículo escolar, todo ele voltado à compreensão das relações entre sujeitos hu- manos – natureza – cultura – trabalho.

Os espaços e estruturas educadores da Escola Bosque são a Praça da Leitura e da Brincadeira, que envolve uma biblioteca com excelente acervo, uma brinquedo- teca, uma videoteca; os laboratórios de Informática com mais de 40 equipamentos

111 de excelente qualidade e atualidade; de Biologia, contendo coleções biológicas, e um herbário; e o de reciclagem, onde são realizadas as atividades de reciclagem de papel. Esses espaços são dispostos de modo a atenderem todas as turmas da escola comatividades de Educação Ambiental.

Outro espaço que mereceu especial atenção durante a pesquisa foi a horta, que ocupa um terreno de 50 metros de comprimento por sete metros. de largura. É acompanhada por técnicos e todos os professores da escola têm acesso a ela com seus alunos, onde recebem aulas práticas sobre como plantar e cuidar de verduras e hortaliças. Toda a produção da horta escolar é destinada à alimentação das crianças da escola.

A escola possui ainda um auditório com espaço amplo e bem equipado, onde são realizados seminários, palestras, apresentações com grupos de danças, dentre outros; alojamentos; refeitório amplo, bem arejado, com as instalações bem higienizadas.

A cozinha é espaçosa e bem iluminada. A merendeira nos informou que a merenda é acompanhada por uma nutricionista da Fundação Municipal de Alimen- tação Escolar (FMAE) e por uma pessoa da escola, que acompanha o manuseio e preparo dos alimentos.

Foto 1: Escola Bosque do Amapá

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De forma geral, a escola é limpa; possui lixeiras espalhadas estrategicamente pelos caminhos que conduzem aos diversos espaços que integram a instituição. O lixo é recolhido diariamente pela coleta da prefeitura.

A escola possui uma arquitetura muito bonita e foi construída no meio de um bosque com muitas árvores nativas da região. Sua estrutura está bem conservada e se molda harmonicamente com a paisagem à sua volta.

A partir das entrevistas realizadas com os alunos, professores, funcionários e pais de alunos, foi possível perceber o orgulho que eles têm de fazer parte da histó- ria e dos trabalhos pedagógicos da Escola Bosque.

Para os alunos, a escola representa um local muito bom para estudar, pois oferece diversas atividades, das quais podem participar. Sentem-se estimulados a aprender e a par- ticipar das oficinas de dança, de música e de outras atividades desenvolvidas pela escola.

De acordo com seus relatos, eles mantêm boa relação com os professores e com a direção escolar. Além disso, falaram sobre os cursos que a escola promove para a comunidade local, a qual participa efetivamente dos mesmos.

Os professores entrevistados também reafirmaram essa visão. De acordo com suas falas, a Escola Bosque promove muita discussão sobre a Educação Ambiental. Esta perpassa todo o currículo escolar, não como disciplina, mas como filosofia de vida em seu Projeto Político Pedagógico.

Uma das professoras entrevistadas, falou que a questão do desenvolvimento sustentável e da Amazônia com sua rica biodiversidade precisa ser mais discutida.

Outra professora acredita que, no imaginário da comunidade local, ter um filho estudando na Escola Bosque é ter status, é ser valorizado, porque a escola é referência educacional, tanto na questão do ensino quanto na sua estrutura física. Nas suas palavras: “A escola é realmente prazerosa de se estudar e trabalhar”.

Para outra professora entrevistada, a escola é um local muito bom para traba- lhar, pois tem um ambiente natural que ajuda a relaxar. Esta professora falou sobre o projeto de reciclagem de papel, realizado com os alunos no laboratório de Quími- ca. Há uma coleta de papel nas salas de aula, cada dia é levada uma turma.

Lá, primeiro faz-se uma sensibilização com os alunos sobre a impor- tância da reciclagem para a natureza. Depois, passa-se para a confecção do papel, de embalagens, cartões, etc. Posteriormente, é feita uma exposição dos trabalhos dos alunos.

113 Uma das funcionárias entrevistadas, que foi aluna da escola, falou que é mui- to bom trabalhar na Escola Bosque por desenvolver muitos projetos e estimular a participação da comunidade no espaço escolar.

A experiência de Educação Ambiental da Escola Bosque de Belém ilustra para a pesquisa uma tentativa de trabalho na área de Educação Ambiental, que nasce da preocupação com a conservação ambiental de uma ilha nas proximidades da capital do estado Uma escola que se apresenta ao poder público como proposta da comuni- dade, e que a partir dessa origem histórica passa a desenvolver suas ações educativas. A realização das observações na Escola Bosque possibilitou-nos a percepção de que é possível dizer e fazer Educação Ambiental, e que esse dizer e fazer não estão isentos de contradições, mas nutrem-se delas para continuar.

A história vivida pelos alunos/alunas, professores/professoras, senhoras/se- nhores da comunidade, na Escola Bosque da Ilha de Caratateua, nas proximidades de Belém do Pará – para onde eles vão aprender e ensinar, ouvir e falar e construir o dia-a-dia de seus projetos –, é a história da possibilidade de se fazer uma nova Educação no País, uma Educação que é ambiental.