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Em Mato Grosso do Sul, foi constatada boa aceitação pela pesquisa nas es- colas dos municípios do interior, inclusive com a colaboração do poder público dos municípios de Costa Rica e Ivinhema. Já, na capital, Campo Grande, a receptivida- de foi significativamente diferente. Nesta cidade, com exceção das escolas rurais, a maioria não valorizou a visita dos pesquisadores deste projeto. Houve certa resistên- cia em algumas escolas, quase sempre justificada pela escassez de tempo, protelando assim, o processo de levantamento de dados.

Os pesquisadores não sentiram diferenças, com relação à receptividade da pesquisa, nas escolas da capital e do interior.

Relação escola particular/escola pública

Foram observadas, durante a execução do projeto, diferenças acentuadas em relação às escolas das redes estaduais e redes municipais. Nos estados de Mato Gros- so e Mato Grosso do Sul, em todas as cidades pesquisadas, as escolas municipais apresentaram melhor estado de conservação (espaço físico mais limpo, organizado e equipado) do que as escolas das redes estaduais.

Situação similar foi observada em Mato Grosso. Em termos de organização e padrão estético-estrutural, as escolas da rede municipal apresentam-se, no geral, bem conservadas, contando com ótima estrutura física. Algumas possuem pinturas

165 decorativas de representações de animais e paisagens do Pantanal, além de persona- gens da literatura infantil.

Algumas prefeituras disponibilizam informações sobre a estrutura física e re- cursos materiais, como computadores e bibliotecas.

Em relação às escolas estaduais, percebem-se instituições com estrutura física mais degradada pelo tempo de existência e algumas reformadas recentemente.

Em Mato Grosso, os pesquisadores afirmam que poucas escolas da rede estadual possuem horta e cardápio de merenda. Parecem menos assistidas que as escolas municipais. Este fato, talvez, se deva à proximidade física entre as instituições de ensino e os órgãos responsáveis por suas gestões – as secretarias de Educação.

Em relação ao funcionamento de bibliotecas nas escolas estaduais, os pesqui- sadores apontaram para a existência de acervos interessantes, mas que o acesso não tem sido favorecido porque, no geral, são destinados para a função de bibliotecários aqueles professores que contraíram problemas de saúde, sendo afastados das salas de aula e encostados nas bibliotecas.

Também foi percebida maior heterogeneidade por parte do alunado das escolas das redes estaduais, comparada com o público atendido pelas redes municipais.

O poder público municipal também se faz mais presente, inclusive no inte- rior existe a figura do coordenador geral que traça as ações e projetos das escolas em cada rede municipal.

A merenda escolar das escolas municipais costuma ser mais diversificada e atraente para os alunos. Em um município pesquisado de Mato Grosso do Sul, por exemplo, a rede municipal possui um cardápio padronizado para todas as escolas, com supervisão de nutricionista e composições variadas em cada dia da semana. Enquanto que, em algumas escolas da rede estadual, a merenda chega a se limitar a bolachas ou canjica.

Entretanto, os pesquisadores perceberam que, apesar de menos assistidas, as escolas da rede estadual de Mato Grosso do Sul costumam apresentar uma relação muito mais próxima com a comunidade, inclusive com a abertura de seus espaços físicos – em finais de semana (as quadras esportivas são as mais citadas) e em outros momentos – para a realização de festas populares e eventos, em geral, organizados pelas comunidades.

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Sobre as escolas privadas, evidenciou-se que não há participação efetiva nos programas e ações oriundos do poder público. Os motivos se baseiam nas diferenças ideológicas, assim como na alegação da falta de investimento, por parte dos poderes públicos e privados, para cobrir despesas com os custos da liberação de professores advindos de escolas da rede privada, quando da oferta de programas de capacitação.

Uma escola privada de grande porte de Mato Grosso do Sul, por exemplo, por meio de seu representante, alegou a não participação desta instituição nos eventos e programas promovidos pelo Ministério de Educação e Ministério do Meio Am- biente, em função de considerar essas ações inconsistentes. Sobretudo por não apre- sentarem continuidade, serem voltadas às práticas e às necessidades momentâneas, e não promoverem uma reflexão crítica do modelo de sociedade e de homem.

Algumas contradições

A realidade verificada pelo projeto revela muitas ações que não são conside- radas, pelos agentes das escolas, como ações de Educação Ambiental. Constatou-se que as contradições revelam-se com mais intensidade através dos funcionários, dos alunos e de outras pessoas não ligadas à gestão das escolas.

Percebe-se claramente, em instituições de ensino de Mato Grosso do Sul, a prática de corte de árvores (Figura 1) e de desperdício de água – quando da lavação de calçadas e/ou através da presença de torneiras quebradas ou mal reguladas – em escolas que dizem que fazem Educação Ambiental.

Em uma das escolas visitadas, foi detectada a presença de um cartaz alusivo aos problemas de desperdício de água, disposto próximo a um bebedouro com visí- vel vazamento de água.

Também foi apontada pelos pesquisadores, como um problema recorrente, a incineração de lixo nas dependências das escolas.

Por outro lado, mesmo não havendo iniciativas contínuas de Educação Am- biental, a temática ambiental está sempre presente na alma das escolas, ou seja, há sempre murais, cartazes alusivos ao ambiente natural, com ênfase no Pantanal, que nem sempre são assimiladas como potenciais para a realização de atividades educa- tivas São vistas, apenas, como meras ilustrações decorativas.

Com relação à compreensão do que seja Educação Ambiental, podemos pon- tuar como exemplo, um caso em Mato Grosso do Sul, em que a direção da escola

167 admitiu que a Educação Ambiental fosse trabalhada apenas nos conteúdos curri- culares. Porém, foi constatado que as atividades de Educação Ambiental vão muito além do relatado. Esta escola recebeu um prêmio pela construção de maquete sobre o uso adequado de energia elétrica, promovido pelo Programa Nacional de Conser- vação de Energia Elétrica (Procel).

Isso demonstra uma atuação interdisciplinar, visto que a construção desse tipo de maquete requer conhecimentos de várias áreas e tem estreita relação com a questão ambiental. Além disso, essa mesma escola possui uma horta – com boa variedade de legumes e verduras, utilizados na merenda escolar – que também serve como recurso pedagógico para alguns professores.

Também em Mato Grosso do Sul há um significativo trabalho de Educa- ção Ambiental, desenvolvido desde 2003, que se trata de um projeto de plantio de mudas típicas do Cerrado, nas margens do rio Sucuriú, onde acontece intenso processo de assoreamento. O rio Sucuriú passa perto da escola que desenvolve esse trabalho. Os alunos fizeram o plantio e também se envolveram no acompanhamen- to do desenvolvimento da vegetação cultivada, procurando usar a atividade como reflexão para temas ambientais em aulas de campo, tendo como foco principal o assoreamento de um rio.

Nesse mesmo município, em uma escola rural, de região agrícola, a realidade apresenta uma contradição cruel. Ao mesmo tempo em que são percebidas práticas de Educação Ambiental, como o plantio de árvores, com a devida identificação de cada uma delas, com a organização das atividades de cuidados com o desenvolvi- mento dessas plantas – realizadas pelos alunos sob a coordenação de professores –, constata-se, também, a convivência das pessoas dessa comunidade com sistemáticas práticas de pulverização de agrotóxicos.

Situando-se no interior de uma região agrícola, a escola convive com essa ameaça. A pulverização de agrotóxicos é realizada nas plantações presentes em todo o entorno da escola e pelas estradas empoeiradas que as crianças percorrem todos os dias.

Um dos professores chegou a relatar que, atualmente, não há tanto problema porque a plantação vizinha à escola é de milho, que não exige muito agrotóxico, en- quanto que, em 2004, quando foi plantado algodão, os aviões chegavam a pulverizar as lavouras durante as aulas. Havia muito barulho e o ar ficava contaminado. A es- cola precisou entrar em contato com as fazendas para pedir que a pulverização fosse feita apenas à noite, quando não há aula. O pedido foi atendido, mas o problema não foi abordado junto aos alunos.

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Percebeu-se um grande conformismo por parte dos professores e diri- gentes da escola sobre essa questão da utilização intensa de agrotóxicos na re- gião. Parece que todos já se acostumaram com as pulverizações e não buscam tipo algum de discussão sobre o assunto. Inclusive as empresas agropecuárias da região, responsáveis pela situação, apresentam-se como parceiras da escola, apoiando festas e outras atividades. A presença dessas empresas do agrone- gócio nesa escola é muito mais visível na quadra de esportes, cujas paredes estampam campanhas publicitárias, inclusive de multinacionais do ramo de insumos agrícolas.

Discussões sobre a disciplinaridade, interdisciplinaridade