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5 CAPÍTULO I – DECOMPOSIÇÃO E LIBERAÇÃO DE NITROGÊNIO EM

5.6 Conclusões

6.5.1 Disponibilidade de N em função da qualidade de resíduos

Os resultados demonstram haver grande variabilidade na dinâmica do N mineral do solo logo após o manejo das diferentes culturas de cobertura, tanto nos tratamentos sem aplicação de N (Figura 8ab) quanto naqueles onde houve aplicação de N fertilizante (Figura 8cd). Provavelmente, estes resultados estejam relacionados às transformações microbianas decorrentes da cinética de decomposição de cada tipo resíduo (ver Capítulo I), aliado à disponibilidade de água e temperatura do solo (SÁ, 1996). Na maioria dos solos, a quantidade e a qualidade dos resíduos aportados são os principais fatores que controlam as taxas e os padrões de mineralização e imobilização (ROBERTSON; GROFFMAN, 2007).

Na Figura 8 é possível identificar diferença no padrão de disponibilidade de N no solo entre os anos avaliados. Em 2003/04, sem aplicação de N fertilizante, os teores variaram de 25 a 95 kg ha-1 de N (Figura 8a) e em 2004/05 os teores encontrados foram de apenas 11 a 48

kg ha-1 de N (Figura 8b). De outubro a março de 2003/04, houve precipitações que totalizaram 511 mm a mais em relação a 2004 (Figura 9), proporcionando oscilações no conteúdo de água do solo, desfavoráveis à decomposição microbiana, com redução dos processos metabólicos dos microorganismos responsáveis pela mineralização (PARTON et al., 2007). Segundo Robertson; Groffman (2007), quando a umidade e a temperatura são favoráveis, o aumento do aporte de resíduos orgânicos aumenta as taxas de atividade e o potencial para elevadas taxas de mineralização e imobilização. Entretanto, Cabrera et al. (2005) colocam que o ciclo de secamento e umedecimento do solo causam maior efeito no processo de decomposição de resíduos em superfície do que quando incorporados e são, provavelmente, responsáveis pela redução da taxa decomposição e mineralização de N. Assim, provavelmente, as condições climáticas foram responsáveis pela menor variação na disponibilidade de N observadas em 2004, embora a tendência tenha se mantido em relação a 2003.

Figura 8 – N mineral (N-NO3- + N-NH4+) no solo durante o ciclo do milho, na camada de 0 a 20 cm, em função das culturas de cobertura sem aplicação de N (a e b) e com aplicação de 120 kg ha-1 de N (c e d). As barras verticais indicam a Diferença Mínima Significativa (DMS) pelo teste Tukey (p<0,05).

É possível observar ainda que o comportamento do N mineral no solo ocorreu com oscilação acentuada ao longo do ciclo de desenvolvimento do milho, influenciado

a) b)

basicamente pelo aporte de resíduos ao solo e pela aplicação de N fertilizante. O padrão de oscilação do N mineral pode ser comparando ao padrão de crescimento microbiano, em que o aumento ou redução da oferta de fonte de carbono passível de decomposição proporciona momentos de mineralização (morte de microorganismos) ou de intensa imobilização (multiplicação de microrganismos).

Out Nov Dez Jan Fev Mar

0 100 200 300 400 500 T em pe ra tu ra ( ºC ) Pr ec ip ita çã o (m m ) Precipitação em 2003 Precipitação em 2004 0 5 10 15 20 25 30 Temperatura em 2003 Temperatura em 2004 Meses

Figura 9 – Precipitação pluviométrica mensal e temperatura média mensal durante os anos de 2003 e 2004. Informações obtidas da Estação Metereológica da UFSM, Santa Maria, RS.

Neste sentido, em 2003/04, o período compreendido entre 30 a 40 dias após o manejo foi o momento de menor disponibilidade de N mineral no solo, provavelmente associado ao pico de maior crescimento da população microbiana e com o esgotamento do compartimento mais decomponível dos resíduos (ver Capítulo I), principalmente com o aporte de resíduos de alta relação C/N, como a aveia preta (Figura 8ac).

Em 2004/05, esse momento foi mais tardio ocorrendo entre 40 e 50 dias, provavelmente em função das condições climáticas menos favoráveis ao processo de decomposição (Figura 8bd). Este resultado evidencia a sazonalidade da disponibilidade de N no solo entre anos e durante o ciclo da cultura do milho, indicando que parâmetros em tempo real, como, por exemplo, a coloração das plantas de milho poderia ser capaz de indicar a quantidade e o momento mais adequado para aplicação de N (ARGENTA; SILVA, 2003). Ressalva-se ainda que a rapidez com que essas oscilações ocorreram pode ser um dos motivos

da dificuldade de se utilizar o N mineral como um parâmetro na recomendação da adubação nitrogenada em regiões tropicais e subtropicais (RAMBO et al., 2004).

Quanto ao aporte de resíduos, em ambas as safras, destacam-se os elevados teores iniciais de N mineral do solo proporcionados pelos resíduos da ervilhaca. Com 10 a 15 dias após o manejo de resíduos, foi possível alcançar até 90 kg ha-1 de N na camada de 20 cm em 2003/04 e próximo a 40 kg ha-1 de N em 2004/05 sem aplicação de fertilizante. Neste mesmo período, o tratamento com resíduos de aveia preta apresentava apenas 45 kg ha-1 de N em 2003/04 e próximo a 15 kg ha-1 de N em 2004/05. Esse resultado concorda com Aita; Giacomini (2003), pois evidencia o maior aporte inicial de N pelos resíduos da ervilhaca logo após o manejo e também corrobora com o processo de imobilização de N por resíduos com maior relação C/N citado por Vargas et al. (2005).

Quando adicionado fertilizante mineral (120 kg ha-1 de N), observou-se incremento na disponibilidade de N mineral no solo poucos dias após a aplicação, seguido de um decréscimo acentuado, principalmente nos tratamentos com aporte de resíduos (Figura 8cd). As oscilações de disponibilidade são ainda mais acentuadas quando comparadas a não aplicação de N, possivelmente ocasionadas pela absorção de N pelo milho e/ou pelo processo de imobilização microbiana, havendo a possibilidade de perdas de N por lixiviação, nitrificação ou volatilização, mas não quantificadas neste trabalho.

A imobilização e posterior liberação de N por resíduos de maior relação C/N é observada em 2003, em que próximo aos 100 dias após o manejo das culturas de cobertura, o tratamento com aveia preta apresentou aumento no teor de N mineral no solo, quando comparado aos demais tratamentos, principalmente ao tratamento referência (Figura 8c). Este fato evidencia o possível processo de re-mineralização de parte do N imobilizado no período inicial de decomposição citado por SÁ (1996) e estudado posteriormente por BASSO (1999) e SANTI et al. (2003).