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5 CAPÍTULO I – DECOMPOSIÇÃO E LIBERAÇÃO DE NITROGÊNIO EM

7.3 Introdução

Sob condições naturais, o aporte de N ao solo pode ocorrer através da fixação biológica de leguminosas, pela decomposição de resíduos animais e vegetais ou pelas precipitações anuais. A maior parte do N do solo fica armazenada na matéria orgânica do solo na forma orgânica, que é relativamente estável e não diretamente disponível às plantas (CAMARGO, 1999). Embora uma porção do N da matéria orgânica possa se tornar disponível através do processo de mineralização realizada pelos microrganismos do solo, a quantidade liberada é variável ao longo do tempo e dependente das práticas de manejo e das condições ambientais. Além disso, a liberação é normalmente muito lenta para satisfazer a necessidade da cultura do milho em crescimento, considerando que somente 2 a 3% (10 a 90 kg ha-1) do N total presente no solo são disponibilizados anualmente (BELOW, 2002). Dessa forma, há necessidade de aumentar a disponibilidade de N através da decomposição de resíduos orgânicos ou de fertilizantes nitrogenados complementares, visando aumentar a produtividade de milho.

Tradicionalmente, os resíduos orgânicos, principalmente as leguminosas, eram incorporados ao solo pelo método convencional de cultivo antes da semeadura das culturas comerciais, visando à imediata liberação dos nutrientes acumulados na fitomassa (REEVES, 1994). Entretanto, com a crescente ênfase ao manejo dos resíduos em superfície através do Sistema Plantio Direto (SPD), como meio de reduzir o processo erosivo, os sistemas de manejo foram gradualmente conduzidos a um uso cada vez mais frequente de culturas de cobertura de solo sem incorporação dos resíduos.

A utilização de leguminosas em sucessões e rotações de culturas, objetivando a melhoria da fertilidade do solo e o incremento na produtividade agrícola, é uma prática relativamente antiga (REEVES, 1994). Segundo PÖTTKER; ROMAN (1994), MITCHELL; TELL (1977) estão entre os pioneiros a reportar a superioridade das leguminosas em relação às gramíneas na produtividade do milho em sucessão no SPD. Estes mesmos autores relatam que o milho após centeio necessitou 112 kg ha-1 de N para atingir a mesma produção do milho sucedido pela ervilhaca.

A utilização de gramíneas (aveia preta, trigo ou azevém) para a formação da cobertura de solo no inverno, sendo o principal benefício ao solo, advindo destas culturas o controle da erosão, sempre representou grande parte das áreas cultivadas desde a implantação do SPD no Rio Grande do Sul (PÖTTKER; ROMAN, 1994) e ainda hoje é uma realidade no Estado (INDICAÇÕES..., 2006). Mas, embora na literatura sejam citadas inúmeras vantagens do

cultivo da aveia preta como cultura de cobertura (DEBARBA; AMADO, 1997; BAYER; MIELNICZUK, 1997; MIELNICZUK, 1998; SPAGNOLLO, 2000; AMADO et al., 2000), a contribuição das gramíneas, em relação ao aporte de N é, quantitativamente menor que a das espécies leguminosas. Porém, alguns autores observam que, quando o requerimento de N é atendido, a aveia preta possui elevada capacidade de extração e acumulação de N na planta, superando valores de 90 kg ha-1. Assim, ainda que limitada, poderia ser uma fonte de N para as culturas cultivadas em sucessão, porque, segundo Heinzmann (1985) e Sá (1996), a maior liberação deste nutriente pode coincidir com os períodos de grande demanda quantitativa de N pelo milho. Entretanto, Amado et al. (2003), avaliando a decomposição de resíduos em solos com baixa capacidade de fornecimento de N, relataram que a aveia preta, com alta relação C/N, liberou apenas 20% do N total presente na fitomassa nas primeiras quatro semanas após o manejo, período de menor demanda pela cultura do milho, mas importante para a definição da produtividade (NOVAIS, 1974; COELHO; FRANÇA, 1995; FANCELLI; DOURADO NETO, 1996; YAMADA; ABDALLA, 2000; GARCIA, 2005; SILVA et al., 2006).

Esse assincronismo entre a liberação de N da aveia e a demanda inicial do milho indica que estes resíduos têm pequena possibilidade de atender a demanda inicial da cultura do milho. Dessa forma, invariavelmente, evidencia-se que a utilização de gramíneas antecedendo o milho requer a utilização de uma fonte externa de N (adubação orgânica ou química), para que esta cultura alcance uma produção satisfatória, mas ainda aquém dos resultados encontrados sobre resíduos de leguminosas (SILVA et al., 2006).

Na região Sul do Brasil há vários trabalhos relacionando o uso de culturas de cobertura com a produtividade do milho no SPD (PÖTTKER; ROMAN, 1994; TEIXEIRA et al., 1994; AITA et al., 1994; DA ROS; AITA, 1996; SÁ, 1996; AMADO, 1997; HEINRICHS et al., 2001; AMADO, 2002; CERETTA et al., 2002). Amado et al. (1999), ao trabalhar com sistemas de cultura sobre resíduos de ervilhaca, reportaram um incremento de 82% na produtividade de milho em relação ao sistema aveia/milho, enquanto que Andrada et al. (2000) encontraram uma diferença de produtividade em torno de 2,2 Mg ha-1 em favor da sucessão ervilhaca/milho, quando comparada com a sucessão aveia/milho e pousio/milho. Na média de dois anos, foi necessário aplicar 150 kg ha-1 de N no milho em sucessão à aveia preta para alcançar a produção de grãos obtida com 60 kg ha-1 de N na sucessão

ervilhaca/milho.

Estes trabalhos evidenciam os efeitos positivos da ervilhaca sobre a produção de grãos de milho e demonstram que é possível recomendar a utilização desta leguminosa como fonte de N ao milho. No entanto, a produção de fitomassa desta leguminosa é variável e

influenciada pelas condições climáticas, edáficas e fitossanitárias (CALEGARI et al., 1993). Por isso, segundo Holderbaum et al. (1990), seria importante considerar a quantidade de matéria seca produzida, a qual está ligada diretamente ao aporte de N ao solo, para uma recomendação mais precisa.

A estratégia de utilização de elevados aportes de resíduos ao solo, associados ao SPD, representa a base do desenvolvimento de uma agricultura que valoriza os processos biológicos, considerando-os como componentes essenciais para alcançar a sustentabilidade no agroecossistema. Porém, constata-se a necessidade de investigações da influência da quantidade e qualidade dos resíduos, quando combinados com aplicação de N fertilizante sobre a eficiência da adubação nitrogenada e na produtividade de milho. Neste contexto, este trabalho teve como objetivo avaliar o uso de diferentes quantidades de resíduos culturais de inverno aportados ao solo, combinados com doses de N na absorção de N e na produtividade de milho sob SPD.