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5 CAPÍTULO I – DECOMPOSIÇÃO E LIBERAÇÃO DE NITROGÊNIO EM

7.5 Resultados e Discussão

7.5.3 Nitrogênio absorvido pelo milho

Na Figura 12 observa-se a maior absorção de N no florescimento da safra de milho de 2003/04 em relação à safra 2004/05 na sucessão com ervilhaca e tratamento sem resíduos. Neste último, houve uma redução de 35 kg ha-1 na quantidade absorvida no florescimento na

última safra comparada com a primeira. Já, para a ervilhaca, esta redução foi na média de 30 kg ha-1. Nos resíduos de nabo forrageiro, a absorção foi semelhante em ambas as safras. Na aveia preta, a média de N absorvido na safra 2004/05 foi semelhante ao nível de 3 Mg ha-1 de MS na safra 2003/04 e superior aos demais níveis.

A ervilhaca se destacou no suprimento de N ao milho, sendo que na safra com maior disponibilidade hídrica (2003/04), a diferença de N acumulado no florescimento alcançou 40 kg ha-1 em relação ao nabo forrageiro e 55 kg ha-1 em relação à aveia preta com nível 3 Mg ha-1 de MS, enquanto que, na safra com menor disponibilidade hídrica, a diferença da ervilhaca e o nabo forrageiro foi reduzida para 10 kg ha-1 e 30 kg ha-1 em relação à aveia (Figura 12). Diferenças significativas na acumulação de N pelo milho foram obtidas por Basso; Ceretta (2000), durante três anos, em função das épocas de aplicação de N. Os autores ressaltam que, em anos nos quais não ocorreu excesso de chuva, a aplicação de N em pré- semeadura favoreceu a acumulação de N, devido provavelmente à diminuição do efeito da imobilização microbiana, especialmente no início do desenvolvimento do milho. Os resultados sugerem que o aproveitamento do N liberado pelos resíduos foi fortemente influenciado pela disponibilidade hídrica.

O efeito dos níveis de resíduos, em termo de quantidade crescente do mesmo tipo de resíduo, só foi significativo na safra de 2003/04, com a cultura da aveia preta, onde o aporte de 9 Mg ha-1 de MS promoveu uma redução de N absorvido (Figura 12a). Os demais resultados não apresentam diferenças estatísticas em relação à quantidade de resíduo aportado ao solo (Figura 12b).

Ervilhaca Nabo forrageiro Aveia preta 0 40 60 80 100 120 140 160 Safra 2003/04 ab b a ns ns N acumulado no pendoamento (kg ha-1) 9 Mg MS ha-1 6 Mg MS ha-1 3 Mg MS ha-1 - - - Sem resíduos Ervilhaca Nabo forrageiro Aveia preta 0 40 60 80 100 120 140 160 ns ns ns Safra 2004/05 N acumulado no pendoamento (kg ha-1 )

Figura 12 – N acumulado médio no florescimento de milho de cada cultura de cobertura dentro de cada nível de resíduo aportado ao solo na safra 2003/04 (a) e 2004/05 (b). Médias de todas as doses de N e as médias não seguidas pela mesma letra minúscula entre colunas de diferente cor diferem pelo teste de Tukey

(p<0,05). ns = não significativo.

Entretanto, pode se observar a menor absorção de N nos tratamentos com aveia preta, quando comparado ao tratamento sem resíduos, exceto com aplicação de 180 kg ha-1 N fertilizante (Figura 13). A menor absorção provavelmente deve estar associada à predominância de processo de imobilização em relação à mineralização de N. Segundo Vargas; Scholles (1998), a maior imobilização microbiana ocorre nas camadas superficiais do

b) a)

solo sob SPD, podendo ser suficientemente elevada para, isoladamente, afetar a absorção de N pelas plantas. 0 60 120 180 -90 -60 -30 0 30 60 90 Sem resíduos D os es d e ni tr og ên io ( kg h a -1 ) N acumulado no florescimento (kg ha-1) Aveia preta Nabo forrageiro Ervilhaca

Figura 13 – Diferença do N acumulado até o florescimento no milho cultivado sob resíduos de culturas de cobertura em relação ao tratamento sem aporte de resíduos ao solo, associado a dose de N em cobertura. Médias dos níveis de resíduos em 2003 e 2004.

No ano com elevada disponibilidade hídrica, verificou-se que o solo descoberto foi capaz de suprir 105 kg ha-1 de N ao milho, sugerindo que a umidade favoreceu a mineralização do N da forma orgânica, o desenvolvimento radicular do milho e o mecanismo de fluxo de massa, principal mecanismo de suprimento de N as plantas. Neste caso, os adubos verdes aveia preta e nabo forrageiro promoveram imobilização de N. Já, no segundo ano, o suprimento de N do solo foi menor (70 kg ha-1), havendo neste caso a aveia preta produzido efeito neutro na absorção de N, enquanto o nabo forrageiro e a ervilhaca foram fontes de N ao milho. A maior imobilização de N está coerente com o valor da relação C/N. Já a ervilhaca, em ambos os anos, foi uma fonte de N ao milho.

Indiretamente, quanto maior a relação C/N dos resíduos, menor foi a absorção de N pela cultura do milho até o florescimento (Figura 14), provavelmente associado à competição por N das plantas com os microrganismos. Aita (1997) cita que resíduos com relações C/N superiores a 25 têm a tendência a imobilizar N e inferiores a 25 podem liberar. No entanto, é

difícil estabelecer um ponto de equilíbrio entre mineralização e imobilização, mas pode-se afirmar que resíduos com menor relação C/N imobilizam menores quantidades de N, havendo reflexos diretos na absorção de N pelas plantas.

Figura 14 – Relação entre o N absorvido até o florescimento do milho e a relação C/N dos resíduos das culturas de cobertura antecessoras. Médias das doses de N.

Na Figura 15, é apresentada a relação entre o N acumulado até o florescimento e a produtividade de milho, sendo possível identificar que a quantidade total de N absorvida pelo milho foi determinante para a máxima produtividade alcançada. A partir da equação quadrática ajustada, pode-se concluir que a cada kg de N acumulado até o florescimento ocorreu um aumento de, aproximadamente, 40 kg ha-1 de grãos. Sá (1996), estudando o efeito do parcelamento da adubação nitrogenada na semeadura e em cobertura nas doses de 0, 30 e 60 kg ha-1 de N em 3 diferentes regiões do Estado do Paraná, relata que a produtividade de grãos foi significativamente afetada pelas doses de N na semeadura, independente do local. A dose de 30 kg ha-1 de N, no sulco de semeadura, proporcionou o resultado equivalente à dose de 120 kg ha-1 de N em cobertura. O mesmo autor coloca que o retorno de kg de milho por kg de N aplicado na semeadura foi de 31 a 90 kg, enquanto que, a aplicação em cobertura proporcionou um ganho de até 30 kg.

Assim, para alcançar produtividade de milho superior a 9 Mg ha-1, foi necessário acumular, aproximadamente, 150 kg ha-1 de N até o florescimento. Neste caso, só foi possível

alcançar tal quantidade na sucessão ervilhaca/milho, sugerindo que os resíduos de ervilhaca, além de fornecer N, podem favorecer a absorção de N, potencializando ainda mais a produtividade de milho. Isso reforça o pressuposto de que as elevadas quantidades de N disponibilizadas pela rápida decomposição dos resíduos de ervilhaca, no início do desenvolvimento milho, aumentam a concentração de N mineral do solo e podem ser um fator essencial no aumento da produtividade do milho (ver Capítulo II). Derivando-se a equação quadrática, obtêm-se o Ponto de Máxima Absorção (PMabs) de 335 kg ha-1 de N, valor o qual

indica que o milho, nas condições deste experimento, ainda poderia aumentar em 17% sua produtividade (atingir 11856 kg ha-1), se tivesse absorvido mais N.

Figura 15 – Relação entre o N acumulado até o florescimento e a produtividade de milho. Média de 2003 e 2004, totalizando 80 observações.