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2 FORMAÇÃO E CONSTITUIÇÃO DAS PAISAGENS AMBIENTAIS

2.4 Distinções citadinas amazônicas conferidas por amazônidas

Vários fatos reclamam uma valorização mais ampla da ambiência urbana, que no contexto atual se dá como regra nas cidades deterioradas (YÁZIGI, 2006). Essa característica também se reproduz em terras amazônicas, independente de localização e processo de ocupação.

Caldeirão de diferentes origens, o processo de ocupação da Amazônia mescla uma característica comum. Formada por amazônidas descendentes de brancos e índios, resultando no caboclo ou mameluco, compartilham características comuns a quem nasce e vive na região (FARIAS, 2011).

Esses diferentes povos que já habitavam a região com os que foram atraídos para essa nova frente de ocupação buscaram, em diferentes atividades econômicas, a forma de ocupar e desenvolver a região.

Becker (2005) diz que as profundas mudanças estruturais que ocorreram na Amazônia nas últimas décadas do século XX têm no projeto de integração nacional o start que desencadeou consequências positivas e negativas do ponto de vista socioambiental. A autora destaca que nesse período:

Uma grande modificação estrutural ocorreu no povoamento regional que se localizou ao longo das rodovias e não mais ao longo da rede fluvial, como no passado, e no crescimento demográfico, sobretudo urbano. Processou-se na região uma penosa mobilidade espacial, com forte migração e contínua expropriação da terra e, assim, ligada a um processo de urbanização. Em vista disso, a Amazônia teve a maior taxa de crescimento urbano no país nas últimas décadas (BECKER, 2005, p. 18).

A inserção de Roraima nesse cenário está pautada por evolução similar à dinâmica da região Amazônica. Silva (2007) destaca que Roraima tem sua estrutura urbana organizada por Boa Vista, apresentando-se com interações predominantemente locais, ocorrendo fluxos direcionados quase sempre para sua capital, fruto da dependência de rede rodoviária focada na capital.

Desde o processo de construção da principal rodovia que liga Roraima às demais localidades da Amazônia, a BR 174 foi e continua sendo palco de conflitos, principalmente com a população nativa. A interrupção do fluxo de veículos durante o período noturno pelos índios Waimiri Atroari não parece estar próxima de ser solucionada.

No que se refere ao ambiente urbano de Boa Vista, a relação entre uso e ocupação, em face à dinâmica organizacional, gerou mudanças na configuração espacial com reflexos

socioambientais evidentes. Consequência da alteração nas relações existentes, a necessidade de congregar novos ordenamentos de uso e ocupação do solo urbano, constitui-se como importante fator de determinação e localização dos equipamentos e serviços, consequentemente refletindo na questão dos resíduos gerados (VERAS, 2009).

No seu processo de ocupação e de crescimento populacional, há um incremento das atividades econômicas, potencializando uma nova dinâmica do uso do solo que começa a se efetivar na região:

[...] essa nova realidade está associada a uma rede de atores que definem essa estrutura através de ações. Rede de atores sociais inerentes à realidade brasileira que são rastreados como potenciais e que contribuem na construção dessa nova hierarquia urbana nacional com sérios contrastes (SILVA, 2007, p. 264).

A política institucional veiculada ao meio ambiente no estado de Roraima data de 1974. Logo, a preocupação das entidades e órgãos ambientalistas do Estado como um todo tem como alvo primordial o desmatamento, as queimadas, o extrativismo, a poluição atmosférica e a poluição dos rios e seus afluentes, proveniente do mercúrio utilizado nos garimpos, cujos danos ambientais, em ampla escala, são iminentes. Oliveira e Morato (2014) dizem que caracterizar ambientes com fragilidade ambiental, em uma política de ordenamento territorial é de fundamental importância, na medida em que:

[...]se estabelecem padrões de vulnerabilidades ambientais, decorrentes do uso irregular e atividades que favorecem impactos diretos ao meio ambiente como depósitos de lixos, lançamento de efluentes, compactação do solo e alteração na cobertura vegetal (OLIVEIRA E MORATO. p. 27)

Iniciativas no tocante ao desenvolvimento sustentável e ações voltadas à sustentabilidade urbana foram sugeridas como propostas para todo o Estado de Roraima, mas até o momento, pouco têm contribuído para resolver a problemática que envolve os RSU gerados.

Já em 2012 foi discutida a implantação do primeiro Ecoestado do mundo, inciativa que tinha como propósito transformar a região em um verdadeiro exemplo de sustentabilidade. Fruto da parceria da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Fundação do Astronauta Marcos Pontes, de fato, não se registrou nenhuma propositura eficaz e sistemática implementada no Estado de Roraima.

Em relação às iniciativas para a cidade de Boa Vista, no ano de 2015 o executivo municipal comunicou que estaria aderindo ao chamado Programa Cidades Sustentáveis, se

comprometendo a adotar uma série de práticas eficientes voltadas à melhoria da qualidade de vida da população, desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente.

Considerando as duas iniciativas relatadas, Ecoestado e Cidades Sustentáveis, são concebidas a partir de estabelecimentos de premissas ambientais condizentes à temática ambiental pertinente. Nesse raciocínio, há de se constatar que a prática não se efetiva pela constatação das evidências verificadas.

A paisagem urbana como parâmetro e diagnóstico retrata explicitamente que o ordenamento de ações no sentido de estabelecer efeitos aceitáveis por e pela gestão dos RSU gerados na cidade se contrapõe com os parâmetros aceitáveis. Constatados pela prática em lidar com os materiais do pós-consumo, a política de gestão para com o chamado Aterro Sanitário (lixão) da cidade de Boa Vista, tanto no aspecto ambiental como no social, está distante em se fazer valer o ideal.

3 REPRESENTAÇÕES DA POLÍTICA AMBIENTAL E A CULTURA DO