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2 FORMAÇÃO E CONSTITUIÇÃO DAS PAISAGENS AMBIENTAIS

2.3 Operações mediadas no ambiente urbano

“SOS: Sete Igarapés Urbanos de Boa Vista” – Roraima8 “Poluição nos Igarapés de Boa Vista” – Roraima9

As intervenções no ambiente urbano, mediadas por entendimentos que não estão em sintonia com a adequada prática ambiental, se evidenciam em outros recursos naturais da capital Boa Vista.

Embrenhados no ambiente urbano local, uma série de lagoas e igarapés, caraterísticos dessa porção amazônica, mantêm relação homem/ambiente confusa, considerando parâmetros ambientais normativos. Com ações governamentais pautadas na tubulação e canalização de vários de seus igarapés urbanos, estes se encaminham para uma agonizante retirada da vida.

Percebe-se que politicas públicas pautadas na recuperação de áreas degradadas e do estabelecimento de interação sustentável entre moradores do entorno estão por demais ausentes. Como consequência, tem-se o agravamento da problemática, tanto pela não efetivação de ações mitigadoras, como também pela não valorização dos recursos como importantes para a cidade, transformando essas lagoas e igarapés em canais degradados, poluídos e fétidos.

A base conceitual em que os geógrafos entendem a relação sociedade-natureza se aprimora e corrobora dentro desta perspectiva científica. Verdum (2005, p. 1) diz que essa aproximação com os referenciais construídos pelas ciências sociais ajuda a trilhar um caminho para alterar as bases de compreensão da relação homem/natureza, bem como as dinâmicas sociais.

Nesse contexto de crise ambiental, a gestão dos espaços urbanos e em outros cenários de atuação do capital são reflexos de demandas que Santos (2009) denomina de crise

8 Disponível em: <http://sosriosdobrasil.blogspot.com.br/>. Acesso em: 23 mar. 2011. 9 Disponível em: <http://saneamento.blogpost.com.br>. Acesso em: 16 nov. 2011.

ambiental do mundo globalizado. Portanto, a dinâmica dos espaços urbanos supõe uma adaptação permanente das formas e das normas. O autor diz que as formas geográficas contemporâneas compreendem:

[...] objetos modernos – ou pós-modernos – vão do infinitamente pequeno, como os microssistemas, ao extremamente grande, como, por exemplo, as grandes hidrelétricas e as grandes cidades, dois objetos enormes cuja presença tem um papel de aceleração das relações predatórias entre o homem e o meio, impondo mudanças radicais à natureza (SANTOS, 2009, p. 252).

Santos (2009) ainda diz que um conjunto de normatização e legislação é inserido no contexto social, que a serviço da otimização mercadológica é inundado de normas jurídicas, financeiras e técnicas, adaptadas às necessidades do mercado.

Essas normas são criadas em diferentes níveis geográficos e políticos, mas as normas globais, induzidas por organismos supranacionais e pelo mercado, tendem a configurar as demais. E as normas de mercado tendem a configurar as normas públicas. Assim, graças à competitividade, a tendência atual ao uso das técnicas e à implantação dos respectivos objetos, tende a ser ainda mais anárquica do que antes (SANTOS, 2009, p. 253).

No entanto, mesmo com a grande produção científica e pesquisas científicas nas mais diversas áreas do conhecimento, não se vislumbra o rompimento do processo de desenvolvimento tradicional das cidades (SILVA; WERLE, 2007).

Medidas isoladas não são o bastante para enfrentar os desafios ambientais do século XXI, sendo preciso formular uma política sistematizada e integrada, dando conta de todos os impactos decorrentes das atividades econômicas e sociais (CURI, 2011).

De fato, então, nasce, segundo a autora, o que se pode definir como o Sistema de Gestão Ambiental - SGA: “Conceito que designa um conjunto de ações administrativas e operacionais que visam a evitar ou mitigar os efeitos negativos sobre a natureza” (CURI, 2011, p. 116).

A autora ainda destaca que essas ações tenderiam a iniciar em soluções pontuais evoluindo para sistemas complexos, abrangendo desde as atividades laborais e de prevenção, até sistemas mais elaborados com abordagens distintas, controle de poluição, de sustentabilidade e proteção da natureza (CURI, 2011).

Campos (2004) diz que se torna de fundamental importância trazer para a discussão mecanismos que possam minimizar esses impactos perversos à sociedade. Assim:

Os impactos ambientais causados pela urbanização envolvem muitos aspectos, o que torna difícil uma exata classificação e identificação dos mesmos, pois cada município tem uma característica, e seria praticamente impossível elaborar um levantamento que não deixasse de fora algum item peculiar de uma região (CAMPOS, 2004, p. 48).

Verdum (2005) destaca que na perspectiva das dinâmicas que se estabelece a relação sociedade-natureza, os geógrafos são confrontados a certos desafios. Assim, reforçam- se as considerações de Verdum (2005, p. 2),

[...] identificar que a degradação ambiental no meio rural e urbano traz a marca de nossas opções no passado, tanto do desconhecimento que se tinha das dinâmicas da natureza e dos desdobramentos das intervenções sociais nessas dinâmicas, como no que se refere ao cinismo e à ganância produtiva;

[...] reconhecer o grau de estabilidade e o potencial geoecológico dos ambientes, isto é, os limites de tolerância que, quando ultrapassados alteram sua dinâmica, tornando a degradação gerada irreversível em 25 anos, ao se considerar o período de surgimento de uma nova geração.

Assim, o papel do geógrafo ganha importância na medida em que os processos de identificação e mitigação de problemas ambientais estão na ordem do dia, demandando uma série de análises e entendimentos que subsidiem as formulações técnicas hora propostas na sociedade.

As práticas intervencionistas e os novos padrões de planejamento urbano são reflexos do comportamento urbano das cidades no século XXI.

O grande crescimento urbano no cenário brasileiro, ocorrido a partir da década de 70, atraiu para os centros urbanos uma massa de pessoas em busca de emprego e melhores condições de vida. Por outro lado, o processo de mecanização e desenvolvimento das agroindústrias no campo intensifica o êxodo rural, instaurando no Brasil um cenário de grandes conflitos e contrastes nas diversas regiões de seu território (SILVA; WERLE, 2007, p. 32).

A necessidade de prevenir demandas urbanas, resultado desse crescimento acelerado, serve como planejamento de ações que, no presente, propiciaram menor tempo de construção e custo social. Silva e Werle (2007) destacam o custo cada vez mais elevado para as recorrentes remediações a serem efetivadas no espaço urbano.

Deste modo, o que se verifica é uma realidade bastante drástica de exclusão e segregação espacial e social nas cidades de forma geral. Diante desse quadro nascem às novas e possíveis respostas como meio de esquadrinhar um processo de desenvolvimento equilibrado com o meio ambiente (SILVA; WERLE, 2007).