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2 FORMAÇÃO E CONSTITUIÇÃO DAS PAISAGENS AMBIENTAIS

2.2 Paisagem ambiental urbana: os cenários manifestos

A multiplicidade em possiblidades e perspectivas interpretativas inerentes à dinâmica da paisagem é um dos combustíveis que alimentam a investigação científica. Apesar de que, em alguns momentos históricos e conjunturais, o termo seja pretexto de questionamentos, esse conceito chave da investigação geográfica segue como instrumento para a compreensão das interações humanas no espaço.

A partir do começo da década de 80, geógrafos físicos e também biólogos descreverem um campo denominado de ecologia da paisagem (landscape ecology), e o termo ‘paisagem’ seria definido de modo abrangente, quase sinônimo de espaço geográfico ou área (SOUZA, 2013).

Tradicionalmente, os geógrafos a diferenciam entre a paisagem natural e a paisagem humanizada ou cultural (SCHIER, 2003).

De modo geral, o estudo da paisagem exige um enfoque, do qual se pretende fazer uma avaliação definindo o conjunto dos elementos envolvidos, a escala a ser considerada e a temporalidade na paisagem. Enfim, trata-se da apresentação do objeto em seu contexto geográfico e histórico, levando em conta a configuração social e os processos naturais e humanos (SCHIER, 2003, p. 2).

Na ciência geográfica, Souza (2013) diz que as variáveis inerentes às paisagens não seriam problema e não se prestariam a certas dubiedades ou confusões. Nesse sentido, o conceito visto no âmbito da pesquisa socioespacial tem tradicionalmente um escopo mais específico ligado primordialmente ao espaço abarcado pela visão de um observador.

Nesse entendimento, Santos afirma que:

Em realidade, a paisagem compreende dois elementos: 1. Os objetos naturais, que não são obra do homem nem jamais foram tocados por ele. 2. Os objetos sociais, testemunhas do trabalho humano no passado, como no presente (SANTOS, 2009, pp. 53, 54).

A realidade da alteração na paisagem no urbano de Boa Vista concebe essa característica. Cada vez que a sociedade transcende um processo de transformação seja na política, no sistema econômico com reflexo nas relações sociais, há interferências complexas na dinâmica da paisagem (Figura 3. A, B e C).

Figura 3 – Evolução da expansão urbana da cidade de Boa Vista entre os anos de 1920, 1940 e 1950 respectivamente.

Fonte: Pavani e Moura (2006).

A relação do espaço com a paisagem se transforma para se adaptar a essas novas demandas e necessidades impostas pela dinâmica social (SANTOS, 2009). A paisagem seria então:

Considerada em um ponto determinado no tempo, uma paisagem representa diferentes momentos do desenvolvimento de uma sociedade. A paisagem é o resultado de uma acumulação de tempos. Para cada lugar, cada porção do espaço, essa acumulação é diferente: os objetos não mudam no mesmo lapso de tempo, na mesma velocidade ou na mesma direção (SANTOS, 2009, p 54).

Não se pode compreender a paisagem em sua totalidade, sem considerar as inúmeras variáveis que permeiam sua construção e dinâmica. Provavelmente o conceito de paisagem merece ser analisado de forma ampla, sublinhando todas as potencialidades de interpretação oferecidas pelos aspectos subjetivos da paisagem (SOUZA, 2013).

Praticamente todas as localidades da superfície da Terra encontram-se impregnadas da ação humana. Formando um rico e complexo conjunto de paisagens, têm na sua diferenciação, tanto as construções próprias da natureza quanto as resultantes da produção

social, a partir da interação, conflituosa ou não, entre sociedade e natureza (MENDONÇA, 2006). Logo, essas relações consideradas por contextos históricos culturais se edificaram por premissas, ora harmônicas, ora antagônicas dos interesses preponderantes. O autor reforça a ideia.

Os problemas socioambientais urbanos são eivados de alta complexidade, particularmente nas grandes cidades. A solução para os mesmos constitui um enorme desafio aos cientistas, técnicos, políticos, gestores e citadinos em geral, posto que as repercussões negativas dos mesmos sobre uma parcela cada vez maior de pessoas configura uma ameaça permanente. Tomada ao longo da história a partir de posições fragmentadas, desconexas, distintas, e muitas vezes contraditórias, a cidade e o espaço urbano configuram hoje um rico cenário de investigação científico técnica, ao mesmo tempo em que constituem uma excelente oportunidade para o avanço do conhecimento científico (MENDONÇA, 2009, p. 06).

Pelegrini (2006) descreve que as relações entre a natureza e sociedade, desde os primórdios, vêm sendo entendidas por intermédio de uma série de análises. Essas são compreendidas como diferenciações que celebram as singularidades do prodígio humano frente aos desígnios da natureza, suscitando polêmicas e tendendo ao afastamento do homem desses espaços. Esse novo entendimento, segundo a autora, advém da:

[...] emergência de uma consciência preservacionista na esfera ambiental se consolidou na década de 1980, mas essa mobilização não partiu do Estado como ocorreu com o patrimônio histórico durante a Revolução Francesa, no século XVIII. Pelo contrário, o movimento em prol do direito e da proteção ao meio ambiente se irradiou através da comunidade científica e acabou difundido entre organizações não-governamentais que passaram a reivindicar melhor “qualidade de vida” no planeta (PELEGRINI, 2006, p. 4).

Não só a questão ambiental deve ser considerada, pois Santos (2008) ressalta que a acentuada especialização de tarefas no território, caracterizada por uma vasta tipologia das produções, tanto a mais sutil quanto a necessária essas são um dado puramente técnico: toda produção é técnica, mas é também socioeconômica.

De tal modo, o entendimento dos aspectos relacionados à política, à economia, ao social, cultural e comportamental interferem na boa prática almejada. Ou seja, haverá uma constante e permanente busca de explicações inerentes à constante transformação da paisagem ambiental urbana da cidade de Boa Vista. (Figura 4).

Figura 4 – Paisagem ambiental urbana da cidade de Boa Vista na atualidade

Fonte: Disponível em:

<http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1672891>. Acesso em: 10 jan. 2018.

Esse desafio é fruto de inúmeros fatores. Em princípio, o próprio traçado urbano não marcou o processo de evolução de seu perímetro urbano. Mesmo tendo sido idealizado em dois momentos históricos distantes, não foi oferecida a sequência idealizada. O crescimento em direção à zona oeste da cidade é característica da evolução urbana atual.

Na medida em que diversos atores se colocam também como indutores do processo de expansão e alteração da paisagem urbana, agentes indutores da especulação imobiliária têm forte atuação da dinâmica boa-vistense. A estruturação de equipamentos urbanos, frutos das novas demandas populacionais ativas determinam e influenciam a dinâmica urbana.

Somados a essa perspectiva, os equívocos e conflitos não estão plenamente sedimentados. A problemática ou as problemáticas urbanas resultantes da dinâmica socioespacial e política caminham no sentido de induzir determinadas praticas contrárias a uma prática sustentável.

A própria relação com o seu principal curso d’agua, o Rio Branco exemplifica esse entendimento. Por décadas, a relação urbano/rio se efetivou de forma intensa, tanto no sentido de lhe atribuir principal via de acesso a outros núcleos urbanos, até a função primordial na captação de água para o consumo urbano. Não obstante a retirada de materiais a serem empregados na construção civil como a areia e a argila, bem como uso de suas margens para a produção agrícola estabelecem relações destoadas das virtudes relacionadas à

sustentabilidade e do almejado comportamento sustentável.

Reverter à situação decorre em estabelecer prioridades. Diagnosticar as limitações às políticas públicas para a problemática existente pode ser o início de proposituras a uma governança urbana satisfatória e que agregue subsídios no sentido de interromper com a prática tradicional de lidar com a questão.