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CAPÍTULO 2: ANÚNCIOS COMERCIAIS QUALIDADE VISUAL DO AMBIENTE E LEGIBILIDADE

2.2 A QUALIDADE VISUAL DO AMBIENTE E OS ANÚNCIOS COMERCIAIS

2.2.2 Processo de apreensão e de avaliação da qualidade visual pelo indivíduo

2.2.2.4 Distintos grupos de usuários

Neste estudo a análise e a comparação dos modos de percepção e de avaliação da qualidade visual do ambiente por distintos grupos de usuários se faz necessária à medida que os centros de comércio configuram áreas freqüentadas por diversos tipos de indivíduos. Partindo do pressuposto que o ambiente, para não interferir negativamente na qualidade de vida do indivíduo, tem de possuir uma aparência percebida como agradável, é necessário identificar as diferenças e os pontos em comum entre as avaliações estéticas de diferentes usuários. Essa preocupação se faz relevante, à medida que se intenciona utilizar os resultados científicos à fundamentação de normas urbanísticas, as quais visem atender os níveis de satisfação de diferentes categorias de indivíduos (Stamps, 2000, p.114; Lynch, 1997, p.8; Scheer e Preiser, 1994).

Constata-se que distintos fatores inerentes ao observador interferem nos processos de cognição, dentre os quais se destacam: os valores sociais e culturais (Bartuska e Young, 1994, p.60; Lang apud Nasar, 1988, p.23), as necessidades, relacionadas ao estilo de vida e aos interesses profissionais (Nasar, 1998, p.28; Lynch, 1997, p. 8) e as experiências passadas (Golledge e Stimsom, 1997, p.197; Passini, 1992, p.p 61-62; Lang, 1974, p.90). Em um estudo desenvolvido por Nasar (1988, p.303), no qual ele investiga o grau de agradabilidade do indivíduo frente a cenas comerciais, foi considerado relevante comparar as preferências dos proprietários de estabelecimentos comerciais, que trabalham em suas lojas, com as dos consumidores. Nasar (1988, p.303) considerou relevante, como aspecto influenciador às respostas avaliativas, os interesses profissionais e os de consumo. Com base nisso, neste estudo é definido, à avaliação da aparência das cenas selecionadas, quatro grupos de indivíduos, dentre os quais três se diferenciam em virtude de interesses profissionais e um se destaca por constituir-se por qualquer indivíduo que freqüente a área investigada caminhado. As categorias de indivíduos analisadas são:

1. Os arquitetos e urbanistas, os quais constituem o grupo, muitas vezes, responsável pelas novas inserções na malha urbana, bem como por alterações e reformas em prédios, atuando, desse modo, decisivamente na composição da paisagem.

2. Os publicitários, os quais constituem a categoria que, em muitos casos, planeja e é responsável pela colocação de determinados anúncios comerciais no meio urbano.

3. Os comerciantes, que, neste estudo, se referem aos proprietários de estabelecimentos comerciais, os quais, além de, em muitos casos, direcionar as decisões dos arquitetos e urbanistas e dos publicitários em função de seus interesses quando se trata de intervenções em seus estabelecimentos, são freqüentemente responsáveis pela colocação de anúncios comerciais e por alterações nas construções sem que haja o acompanhamento de um profissional (arquiteto e/ou publicitário).

4. Os consumidores, os quais são expostos aos estímulos visuais resultantes das interferências, das categorias acima, sobre a aparência do espaço urbano.

Existe uma tendência que indivíduos que pertençam a um mesmo grupo, por exemplo, profissional, sócio-econômico ou cultural, tenham percepções ambientais similares. Kant (1791, apud Stamps, 2000, p.114) categoriza essa situação como senso comum, especificamente em relação a julgamentos estéticos similares por determinados grupos de indivíduos. Lynch (1997, p.8) enfatiza que, embora cada indivíduo crie e assuma sua imagem mental do ambiente, é comum haver um consenso substancial entre membros de um mesmo grupo, bem como, em alguns casos, entre categorias distintas.

Contudo, embora um estudo desenvolvido por Stamps (1999, apud Stamps, 2000, p.114) constate uma tendência em haver consensos que abranjam gamas diferentes de pessoas e lugares, muitos estudos revelam diferenças entre as avaliações ambientais realizadas por arquitetos e urbanistas e por pessoas relacionadas a outras áreas profissionais (Kaplan apud Garling e Evans, 1991, p.29; Devlin e Kang, 1990, Nasar, 1989, Groat, 1982, Lee, 1982, apud Nasar 1998, p.28). Essas diferenças podem ser parcialmente explicadas pelo fato da importância atribuída a uma configuração formal ser afetada pelas motivações do observador, as quais podem variar entre indivíduos de distintos grupos (Lang apud Nasar, 1988, p.p.19-20).

Logo, considerando que podem existir divergências entre as percepções estéticas dos diferentes grupos de usuários dos centros de comércio quanto à avaliação da qualidade

visual das cenas, a seguinte hipótese é investigada neste estudo: há divergências entre as percepções estéticas dos grupos de usuários quanto à avaliação da qualidade visual das cenas. Também, pretende-se identificar os seguintes aspectos: (a) o grau de divergência e de similaridade entre os distintos grupos quanto às suas percepções estéticas relativas às cenas, (b) o nível de agradabilidade dos distintos grupos com as cenas, (c) as características físicas dos anúncios comerciais e das construções, que influenciam as percepções estéticas dos grupos de usuários, sendo ressaltado as divergências e as similaridades entre tais grupos.

Outro aspecto considerado neste estudo que pode interferir sobre as respostas avaliativas é a faixa etária do indivíduo (Lynch, 1997, p.8). Para que ocorra a adequada apreensão e avaliação da qualidade visual dos lugares é necessário o desenvolvimento do aparelho perceptivo do indivíduo, o qual ocorre na idade adulta (Kohlsdorf, 1996, p.p.21-49). Desse modo, tendo em vista esse pressuposto e a partir das faixas etárias definidas por Thiel (1997, p.323), as quais são descritas na tabela 1, tem-se subsídio à determinação da idade mínima considerada neste estudo: essa corresponde a 18 anos, já que se refere à idade mínima para um indivíduo ser categorizado como adulto. Este aspecto é adotado como um critério de exclusão, ou seja, indivíduos que não possuam esse limite etário não fazem parte da amostra.

Tabela 1: Faixas etárias definidas por Thiel (1997)

FAIXA ETÁRIA DESCRIÇÃO

Acima de 65 Idosos De 30 a 65 Adultos De 18 a 30 Adultos jovens De 13 a 18 Adolescentes De 5 a 13 Crianças De 0 a 5 Bebês

2.2.3 Os impactos dos anúncios comerciais sobre a qualidade visual dos