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A questão de distribuição geográfica dos cerra- dos é fascinante. Baseado principalmente nas inves- tigações pessoais sobre a fauna apícola da região, são reconhecidas quatro categorias de distribuições das vespas sociais. Estas são:

. Amplamente distribuídas

Certas espécies de marimbondos que ocorrem no Brasil central possuem amplas distribuições geográ- ficas (Richards 978). Polistes carnifex e P. canadensis se distribuem desde o Arizona nos Estados Unidos até o sul do Brasil. Polistes erythrocephalus, P. versicolor,

Stelopolybia multipicta, Parachartergus fraternus, Protopoly-

bia sedula e Brachygastra lecheguana, Polybia emaciata e

P. occidentalis se encontram desde a América central até o Brasil. Muitas destas espécies ocorrem do México e América Central até Argentina. Várias delas encon- tram-se em vários tipos de habitat, são ativas como adultos durante o ano inteiro, e são mais generalistas em termos de dieta e com nichos mais amplos.

. Principalmente restritas às savanas

Membros deste grupo ocorrem dos pampas do Sul até à Caatinga e são comuns nos cerrados. São ativas como adultos principalmente durante a época chuvosa e são mais especialistas visitando flores das plantas do cerrado. Protonecterina sylveirae é uma espécie típica das regiões secas com vegetação aberta desde Argentina e Paraguai até Ceará.

. Principalmente restritas às florestas

Certas espécies são restritas às florestas e raramente encontradas fora das matas de galeria. Outras nidificam nas matas e visitam flores nas áreas de vegetação aberta.

. Restritas aos cerrados

Algumas espécies como Polistes davillae, P. satan,

Mischocyttarus campestris, M. goyanus, M. mattogrosso-

ensis e M. melanoxanthus são restritas às regiões de altitude ao redor de Brasília, em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Possivelmente algumas são endêmicas. Estas incluem Mischocyttarus campestris e M. giffordi, que são conhecidas somente do Distrito Federal, e as quatro cujas descrições ainda não são publicadas.

Áreas críticas

O problema na tentativa de identificar áreas críticas é que os dados são insuficientes para fazer uma avaliação confiável sobre os locais. Entretanto, como muitas das espécies de Mischocyttarus são restritas a florestas tropicais é provável que a maioria dos novos registros de espécies conhecidas e coletas de espécies novas seriam nas matas ciliares.

A recolonização e extinção freqüente de espécies

A hipótese “não-equilíbrio” de Hubbell (979) procurou explicar a alta diversidade de espécies de árvores nas florestas tropicais. Entretanto, um estudo sobre arvores da floresta primaria levaria séculos. O autor considera importante levar estes resultados em mente quando tenta interpretar as análises zoogeográ- ficas de outros grupos taxonómicos. Os fenômenos de extinção local e recolonização são bem conhecidos em comunidades sucessionais (desde Cowles 899) e sua importância no que diz respeito à biota em ilhas foi enfatizada por Macarthur e Wilson (967). Entre- tanto, é difícil coletar informações sobre este assunto em florestas. A justificativa principal para fornecer informações para este encontro sobre este grupo taxonómico é a interpretação das informações sobre a recolonização e extinção freqüente de espécies ao longo de tempo.

Um inventário de longo prazo das vespas sociais neotropicais foi utilizado para avaliar a hipótese de não equilíbrio (Raw), isto é a recolonização e extinção freqüente e de espécies ao longo do tempo. O estudo foi feito no vale da Cabeça de Veado, km ao sul do centro de Brasília (5º 5’ S; 8º 5’ W). Em 9 censos conduzidos a cada dois ou três anos durante  anos, 5 espécies de vespas sociais foram registradas em um área de 8ha perto de Brasília. O número médio de es- pécies registrado por ano foi 7, (de 5 a 9). Cinco espécies estavam presentes em cada censo, enquanto mais 0 a  compõem se um total de 0 espécies. Destas últimas, seis ocorreram em poucos censos con- secutivos e  desapareceram e reapareceram em um total de 8 ocasiões. A alta taxa de mudança (de ¼ a ½ das espécies desapareceram de um levantamento ao próximo) mostra que o sistema está aberto, a riqueza das espécies dos locais vizinhos e a disponibilidade das vespas para recolonizar um local.

A sugestão é que a classificação da comunidade inteira de vespas como determinística ou estocástica simplifica demais a situação porque a comunidade contém espécies dos dois tipos. O agrupamento das vespas como espécies da floresta, da borda de floresta e da savana sugere que cada subgrupo compõe-se larga-

mente ou totalmente de uma “comunidade controlada pelas fundadoras” [founder-controlled community] na qual nenhuma espécies é dominante, seus nichos são semelhantes ou idênticos e todos os membros do subgrupo estabelecem sua presença em uma “loteria competitiva” (Sale 977, 979, Begon et al. 996: 8-

8). As espécies ocupam espaços quando estejam disponíveis e qualquer espécie pode ocupar qualquer espaço indiferente de qual das espécies venha a desocu- pá-lo. A riqueza de espécies no local é mantida alta por causa da grande riqueza de espécies nos locais ao redor de onde os recrutas vêm (Sale e Douglas 98).

Tabela 33. Listas das 139 espécies de vespas sociais registradas da região dos cerrados (Richards 1978, Raw http://www.unb.br/zoo/, dados pessoais).

As distribuições geográficas são: G = grande; A = Amazônia; C = cerrados; E = endêmica; S = sulista. Os tipos de vegetação são: F - floresta; M = margem; S = savana.

Vespa BA DF GO+TO MA MG MT+MS PA RO Cerra- Habitat Distribuição

dos geográfica

Polistes

carnifex (F)       M, S G

major Palisot de Beauvois    M G

paraguayensis Bertoni   S brevifissus Richards        M canadensis (L)       M G erythrocephalus Latreille       M, S ferreri de Saussure      M, S goeldii (Ducke)     F A lanio (F)        S satan Bequaert     S C versicolor (Olivier)         M G bicolor Lepeletier     F A b. billardieri F   S b. biglumoides Ducke    s  s S b. ruficornis de Saussure s s  s s s S cinerascens de Saussure       M davillae Richards    S C geminatus Fox       S melanosoma de Saussure    niger Brèthes   occipitalis Ducke    F A pacificus F      rufiventris Ducke    subsericeus de Saussure        S testaceicolor Bequaert     M A thoracicus Fox      F Mischocyttarus drewseni de Saussure        M G gynandromorphus Richards   labiatus (F)     M matogrossoensis Zikán    S C

8 rotundicollis (Cameron)         F G tomentosus Zikán     F annulatus Richards    F artifex (Ducke)   c. cerberus Ducke   M c. styx Richards    s M giffordi Raw   F E melanoxanthus Richards     M

surinamensis (de Saussure)     M A

tertius Richards   F tricolor Richards    undulatus (Ducke)   atramentarius Zikán    frontalis (Fox)    funerulus Zikán  F goyanus Zikán     M C

injucundus (de Saussure) ?     M

latior (Fox)     M

metathoracicus (de Saussure)   

campestris Raw  S E cassanunga (Ihering)     M chapadae (Fox)   C f. flavicornis Zikán      M marginatus (Fox)     S C collarellus Richards   omicron Richards   punctatus (Ducke)    foveatus Richards    lecointei (Ducke)   M A new sp. Raw MS   F E Pseudopolybia

compressa (de Saussure)     F

difficilis (Ducke)    F

vespiceps (de Saussure)         M,S G

Chartergellus

communis Richards 1 1 1 1 1 1 M C

Parachartergus

Vespa BA DF GO+TO MA MG MT+MS PA RO Cerra- Habitat Distribuição

dos geográfica

fraternus (Gribodo)        F, M G

lenkoi Richards  

pseudapicalis Willink      F

smithii (de Saussure)       M

Leipomeles dorsata (F) 1 1 1 1 F G Marimbonda albogrisea Richards 1 1 C Angiopolybia pallens (Lepeletier)         F G paraensis (Spinola)     F A Stelopolybia angulata (F)       F angulicollis (Spinola)    F cajennensis (F)      F A flavipennis (Ducke)       F fulvofasciata (Degeer)      F hamiltoni Richards    F hyalinipennis Richards MS    F lobipleura Richards   F multipicta (Haliday)      F myrmecophila (Ducke)      F G pallipes (Olivier)         F testacea (F)      F

vicina (de Saussure)        F S

Apoica

arborea (de Saussure)      F G

flavissima Van der Vecht       F G

gelida Van der Vecht    

pallens (F)       S G pallida (Olivier)      F strigata Richards     G thoracica du Buysson        F G Protopolybia chartergoides (Gribodo)       M

exigua (de Saussure)          M, S

Vespa BA DF GO+TO MA MG MT+MS PA RO Cerra- Habitat Distribuição

dos geográfica

86

sedula (de Saussure)         M

Charterginus fulvus Fox 1 1 1 1 1 M Polybia liliacea (F)        F striata (F)       F jurinei         M rejecta (F)          F, M bifasciata      quadricincta       M bistriata (F)       erythrothorax Richards      fastidiosuscula de Saussure       M

flavifrons hecuba Richards        M

occidentalis (Olivier)          M, S G

paulista von Ihering      M S

p. playcephala Richards    p. sylvestris Richards s s r. ruficeps Schrottky      M, S r. xanthops Richards   s s M scrobalis Richards      M, S scutellaris (White)      dimidiata (Olivier)          F, M G emaciata Ducke        M singularis Ducke      affinis du Buysson     chrysothorax (Lichtenstein         M gorytoides Fox   ignobilis (Haliday)          F, M G micans Ducke     sericea (Olivier)          S G tinctipennis Fox       F, M Protonectarina

sylveirae (de Saussure)       S

Brachygastra

albula Richards   

augusti (de Saussure)       S

bilineolata Spinola     M

lecheguana (Latreille)         S G

Vespa BA DF GO+TO MA MG MT+MS PA RO Cerra- Habitat Distribuição

dos geográfica

moebiana (de Saussure)      S

scutellaris (F)       M

smithii (de Saussure)    M

Chartergus chartarius (Olivier)     M globiventris (Olivier)      M metanotalis Richards     M Epipona quadrituberculata (Gribodo)      M G tatua (Gribodo)       M G Clypearia angustior Ducke    M humeralis Richards   F Occipitalia

new species 1 Raw MS 1 1 M

Metapolybia cingulata (F)       F, M servilis Richards ms     F suffusa (Fox)     M Synoeca surinama (L) 1 1 1 1 1 1 1 1 1 M G Resumo Polistes    5  8 6   Mischocyttarus   9  6   5  Pseudopolybia         Chartegellus       Parachartergus          Leipomeles     Marimbonda   Angiopolybia         Stelopolybia   6 5 5  0 7  Apoica     7 6  7 Protopolybia          Charterginus      Polybia  7 9  7 6 0  6 Protonectarina       Brachygastra      7 5  7 Chartergus      

Vespa BA DF GO+TO MA MG MT+MS PA RO Cerra- Habitat Distribuição

dos geográfica

88 Epipona       Clypearia     Occipitalia   Metapolybia        Synoeca          Total 9 6 75  55 8 87 7 9

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