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Inventário e riqueza de invertebrados no Cerrado

Braulio Dias (99) apresentou uma estimativa da ordem de 0.000 espécies, distribuídas por 5 filos e 89 classes, para a biota da região dos cerra- dos brasileiros. Para os invertebrados, de Porifera a artrópodos, o número é de cerca de 67 mil espécies correspondendo a 0% de toda a biota.

Apesar dos problemas levantados anteriormen- te, há alguns inventários para uns poucos grupos de insetos, especialmente Lepidoptera e insetos sociais. Existem, também, vários levantamentos locais para outros grupos de invertebrados. As informações sobre riqueza de espécies nestes grupos estão muito dispersas na literatura e a maior parte está presente em revisões taxonômicas.

Annelida - Oligochaeta

Já foram assinaladas 5 espécies de minhocas para a região do Mato Grosso e Rondônia. Pelo menos 0 dessas espécies ocorrem na região de cerrado (Righi 990). Muitas espécies de minhocas ocorrem em mais de uma região do mundo e são chamadas de espécies peregrinas (Righi, 990). Phoretina hawayana originária da Índia e Malásia, parece estar substituindo gradual- mente uma espécie da região de cerrado, Pontoscolex

sp. (Alho & Martins 995). O minhocuçu (Glossoscolex

sp.), abundante na região calcária de Minas Gerais, vem sendo fortemente explorada comercialmente.

Onychophora

Os onicóforos são um antigo grupo de inverte- brados, chamados de “elo perdido” entre os anelídeos e os artrópodos, e apresentam distribuição restrita e disjunta (Monge-Najera 996). A Estação Ecológica do Tripuí em Ouro Preto (MG), com 7ha, foi criada em 978 com o objetivo de proteger populações de

Peripatus acacioi. A estação está nos limites da Floresta Atlântica e do Cerrado e inclui áreas mata mesófila, cerrado, brejos permanentes e de sucessão secundária (Pedralli & Guimarães-Neto 997). Peripatus acacioi (Marcus & Marcus 955) é uma das espécies de in- vertebrados presentes na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. Uma popu- lação de onicóforos foi encontrada na região da Usina Hidroelétrica do rio Manso (Chapada dos Guimarães, MT) por A. Sebben e C. Schwartz (com. pes.), porém ainda não identificada.

Arachnida

Na área da APA Gama-Cabeça de Veado (DF) foram obtidas  espécies de aranhas de teia (entre 50-00cm alt.) e  espécies de aranhas no folhedo, resultando em um total de 6 espécies de 6 famílias (Dall’Aglio 99). Além das espécies listadas, foram registradas outras três espécies de aranhas para a região de cerrado (Lucas et al. 98, Levi & Eickstedt 989).

Coletas com armadilhas do tipo alçapão, em diferentes fisionomias vegetais do DF, já resultaram em 9 espécies de 0 famílias de aranhas cursoriais (Luz & Motta 996, Motta, com. pes.), sendo Lycosidae (8 spp.), Ctenidae (6 spp.) e Theraphosidae (6 spp.) as mais comuns. Motta acrescentou, ainda, informações sobre a fauna de escorpiões na região de cerrado. De  espécies presentes em áreas abertas, pelo menos 7 ocorrem em cerrado. Algumas têm ampla distribuição, como Ananteris balzani e Bothiurus araguayae e duas espécies foram introduzidas em ambientes urbanos da região - Tityus bahiensis e T. serrulatus (Lourenço 980).

Crustacea - Copepoda

Os copépodos (crustáceos) são um compo- nente importante de toda a fauna de invertebrados aquáticos e invadem também muitos habitats úmidos semi-terrestres. Os copépodos de vida livre são qua- litativamente importantes em ambientes planctônicos,

bênticos e subterrâneos. Eles têm uma importante função ecológica de agrupar bactérias e material vegetal em pacotes (seus próprios corpos) facilmente dispo- níveis para os peixes o que provavelmente aumenta a eficiência das cadeias alimentares aquáticas. Os copé- podos são também qualitativamente significantes, já que o conhecimento de suas distribuições geográficas e diversidade em comunidades fornecem informa- ções sobre biogeografia, ecologia, monitoramento de ecossistemas e outros aspectos de interesse para os esforços de conservação. Muitas espécies parasitam peixes e invertebrados aquáticos e outras podem ser úteis no controle biológico de mosquitos transmissores de doenças.

O Cerrado e o Pantanal brasileiros são dois biomas distintos e, de acordo com as informações disponíveis atualmente, suas faunas de copépodos refletem estas diferenças.

Existem poucos lagos naturais no Cerrado, e são muito modificados pela atividade humana. Entretanto, existe um rico conjunto de ambientes aquáticos que incluem rios e riachos, lagoas efêmeras e nascentes, vários tipos de ambientes brejosos como os buritizais e veredas em terras baixas e os campos úmidos nas baixadas que freqüentemente incluem os murundus, além de riachos subterrâneos nas cavernas calcárias da Província Espeleológica Bambuí nos Estados de Goiás, Minas Gerais e Bahia. Devido à precipitação anual relativamente alta, o nível de água tende a permanecer próximo à superfície durante a maior parte do ano e muitos ambientes úmidos ou brejosos são perenes, mantendo as características estáveis.

A assembléia de copépodos planctônicos é típica em muitas regiões tropicais, isto é, existem relativamente poucas espécies e estas têm uma ampla distribuição (Reid 99a,b). Em contraste, os solos hidromórficos do cerrado, especialmente os solos alta- mente orgânicos dos campos úmidos e dos murundus, suportam um rico conjunto de pequenos invertebrados aquáticos. As mais de 50 espécies de copépodos do cerrado, muitas das quais ainda não descritas, incluem uma alta proporção de espécies endêmicas (Reid 98, 99a, b). Várias das espécies descritas são conhe- cidas de apenas um ou de poucos locais no cerrado. Exemplos são Attheyella (Delachauxiella) broiensis e A. (D.) yemanjae, duas espécies do extremo Norte de distribuição da fauna do Sul das terras do Gondwana na América do Sul, e Canthocamptus (Bryocamptus)

campaneri, o único membro conhecido do grupo de espécies Bryocamptus na América do Sul (Reid 99c). As únicas espécies conhecidas do gênero de ciclopóides

Ponticyclops e do gênero de harpactioides Murunducaris foram descritas de um campo úmido na Fazenda Água

Limpa da Universidade de Brasília, DF (Reid 987, 99d). Apenas neste pequeno campo úmido foram encontradas mais de 0 espécies, o que é considerado como recorde mundial para riqueza de espécies de copépodos continentais em um único tipo de habitat.

Em contraste com as espécies de regiões tem- peradas, os copépodos tropicais bênticos e aqueles associados a substratos tendem a ter uma distribuição geográfica limitada. Se os padrões de distribuição de outros invertebrados aquáticos forem semelhantes aos dos copépodos, é importante a preservação, nos trópicos, de uma extensiva série de pequenos locais. Se apenas uns poucos exemplos de ambientes diferentes são preservados, existe um risco de perda das espécies que apresentam distribuições geográficas restritas (Reid 99e).

O Pantanal com suas inundações fortemente cíclicas, apesar de manter um conjunto imensamente diverso de plantas aquáticas e de outros grupos, parece não abrigar uma assembléia diversa de copépodos. A maioria das espécies parece ser planctônica ou epi- bêntica nas lagoas de água doce (baías), lagoas salinas (salinas) e nos diques, e a representação de espécies verdadeiramente bênticas ou infauna parece ser peque- na (Reid & Moreno 990). Esta impressão, baseada em apenas poucas amostras, é reforçada por amostragens a longo prazo em habitats lênticos e lóticos ao longo do Alto Rio Paraná, imediatamente abaixo do Pantanal. Neste local a diversidade de copépodos planctônicos é baixa, em contraste com a fauna rica em espécies do Médio Paraná, na Argentina (Lansac-Toha et al. 997). Certamente existem copépodos endêmicos, como o calanóide Argyrodiaptomus nhumirim recentemente descrito proveniente do Sul do Pantanal que parece ocorrer apenas em baías sem peixes (Reid 997). En- tretanto, o Pantanal devido às mudanças anuais extre- mas no nível da água e a intensa predação por peixes planctívoros, pode ser um ambiente pouco hospitaleiro para copépodos. Uma situação bastante similar apa- rentemente ocorre nos Everglades da Flórida onde, também, ocorrem relativamente poucas espécies que são generalistas e amplamente distribuídas (Reid 99, J. W. Reid & W. F. Loftus, dados não publicados).

O aumento de informações sobre a meiofauna de ambientes brejosos leva às seguintes considera- ções:

a) a presença dessa rica meiofauna de copépodos que é composta por uma excepcional proporção de espécies endêmicas levanta um interesse especial para a assembléia de espécies dos campos úmidos.

b) a fauna e a flora dos campos úmidos em áreas mais extensas da região de cerrado do Brasil central

6 continuam pouco estudadas. Esses campos ocupam uma pequena porção da área total, mas provavelmente fornecem um refúgio crítico e corredores de migração para espécies endêmicas de plantas e de invertebrados aquáticos. A drenagem para o uso agrícola dessas áreas vem sendo aumentada intensamente. Assim, a preser- vação de uma proporção significativa desses habitats deve receber prioridade na estratégia de conservação para a região de cerrado.