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Lacunas do conhecimento sobre a diversidade fúngica (micodiversidade)

IX – Riqueza florística e diversidade em localidades em diferentes sistemas de

X. Lacunas do conhecimento sobre a diversidade fúngica (micodiversidade)

do Cerrado. Dianese, José Carmine



Os fungos compõem a segunda maior fração da biodiversidade, sendo superados em número de espécies apenas pelos insetos. Estimativas recentes (Hawksworth, 99) sustentam a hipótese de que existem  milhão e meio de espécies fúngicas. Esta cifra é exponencialmente superior ao conjunto de todos os demais microorganismos (bactérias -0.000 espé- cies, algas microscópicas menos de 60.000 espécies, micoplasmas, vírus - 0.000 espécies, viróides, etc.) somados às 70.000 espécies de plantas vasculares.

Esse número (.500.000 espécies de fungos) baseia-se em dados conservadores gerados a partir de estatísticas resultantes de observações da incidência de fungos sobre plantas em condições de clima temperado (Inglaterra), onde ocorrem seis espécies diferentes de fungos por espécies de plantas. Os dados não levaram em conta o grande número de saprófitas do solo e matéria orgânica e nem fungos associados a animais.

Para clima tropical a expectativa é bem maior que o dobro, sendo que, por exemplo, Salacia crassifo-

lia, Tabebuia ochracea e Mauritia vinifera (= M. flexuosa) estão associados a 7,0 e 5 espécies fúngicas res- pectivamente (Dianese et al, 997; Chaves & Dianese, 998 - não publicado).

Como dados recentes mostram a ocorrência de aproximadamente 6.00 espécies de plantas no cerrado, conclui-se (usando a proporção de seis espécies fúngicas por espécies de plantas) que, no mí- nimo, existem 8.00 espécies de fungos associadas à vegetação do cerrado. Apenas para se tomar uma idéia de importância de se conhecer a diversidade fúngica (micodiversidade) do cerrado, sem detalhar a impor- tância dos fungos como alimento, fontes industriais de enzimas e outras moléculas, fabricação de queijos e molhos, indústria cervejeira e de fermentação em ge- ral, controle biológico de insetos e doenças de plantas etc., basta lembrar que a indústria de antibióticos de origem microbiana gera um faturamento anual de  bilhões de dólares. Além disso, apenas um produto de origem fúngica - a ciclosporina, o qual foi o fator único e decisivo a permitir o uso extensivo do transplante de órgãos, permite a produção de um faturamento anual de um bilhão de dólares.

A grande lacuna no conhecimento dos fungos de cerrado está no fato de que, escritas e validamente publicadas, existem hoje apenas 900 espécies de fungos associadas a plantas em toda a região.

Uma das razões dessa grande carência está na falta de especialista em taxonomia de fungos no país, apesar de se conhecer menos de % das espécies pre- sentes no cerrado, cifra inferior a % estimado para todo o globo (Hawksworth et al, 995). Comparando- se com as plantas do cerrado onde provavelmente 90% das espécies já foram descritas, a situação dos fungos configura-se alarmante quando se analisa a carência

 quase absoluta da área de micologia. Cabe lembrar que entre 967 e 99 o trabalho de descrição da diversidade fúngica do cerrado foi paralisado com a morte de A. B. Batista e a aposentadoria de Ahmés Pinto Viégas.

Uma revisão sobre biodiversidade dos fungos do cerrado foi publicada (Dianese, J.C., Medeiros, R. B.& Santos. L.T.P., 997. In: Hyde, K. Biodiversity of Tropical Microfungi. Hong Konk Univ. Press, H. kong. Pq: 67-7).

Na Coleção Micológica de referência (Herbário Micológico) da Universidade de Brasília, iniciada em 99, estão depositados 5.000 espécimens de fungos do Cerrado, a grande maioria com identificação parcial. Todos os acessos estão contidos em bancos de dados programado em Microsoft Access. Este material está sendo paulatinamente estudado e nos próximos anos deverá permitir um diagnóstico parcial da distribuição de fungos no cerrado.

Para um aprofundamento do conhecimento dos fungos que ocorrem no Cerrado, sugere-se as seguintes localidades como prioritárias para futuras coletas:

Cerrados da Bahia, Norte do Mato Grosso, Estados de Tocantins, Norte de Minas, Diamantina e outras regiões importantes em termos de endemismos vegetais, Sul do Piauí, savanas amazônicas, Norte de Goiás, reservas estaduais e privadas disseminadas pelo cerrado.

Como ações prioritárias para a conservação da diversidade fúngica, propõe-se:

. Os dados disponíveis na Universidade de Brasília permitem a elaboração de mapas mostrando a distribuição geográficas dos fungos associados a plantas do cerrado, principalmente com base em pesquisas realizadas a partir de 99. Apesar de tratar-se de uma distribuição baseada, na maioria dos casos, em identifi- cações em nível de gênero, trata-se de uma primeira aproximação válida por cobrir coletas extensivas em cerrados s.s. que incluem todo o Distrito Federal, com levantamentos intensivos na Reserva Ecologica de Água Emendadas, Parque Nacional de Brasília, Reserva do Roncador - IBGE e Fazenda Água Limpa - UnB; várias regiões de Minas Gerais (Triângulo Mineiro, Campos das Vertentes, Vale do Urucuia, Paracatú e Serra do Cipó): Goiás (Sudoeste, Cristalina, Padre Bernardo, Planaltina de Goiás; Mato Grosso do Sul (região de Campo Grande), Piauí (Sul do Piauí até cercanias de Campo Maior); Maranhão (Imperatriz, Grajaú até Bal- sas, via Estreito, de volta a Imperatriz). Além disso,

foram feitas coletas intensivas nos seguintes Parques Nacionais: Brasília, Serra do Cipó, Chapada dos Vea- deiros, Chapada dos Guimarães, Grande Sertão Veredas, e Emas.

Assim, propõe-se a elaboração de ma- pas que conterão também todos os dados referentes a coletas iniciadas por Ernest Ule no final do século XIX até a primeira década do século XX, todos os fungos descritos a partir de material obtido por Ezechias P. Heringer e de estudos por Augusto Chaves Batista e Ahmém Pinto Viégas, além das coletas de americanos (Hennen, Holway e outros) e europeus, realizados a partir da década de 0.

Estes mapas poderão ser gerados pelos micó- logos da Universidade de Brasília.

. Tendo em vista a extrema carência de es- pecialistas em taxonomia de fungos é imprescindível incluir-se prioritariamente no CNPq para área de Microbiologia, uma cota significativa de bolsas para estimular a formação de tais especialistas.

. Como a grande maioria das espécies fúngicas podem ser cultivadas, é necessário a implantação, a médio prazo, de coleção de culturas, mantidas a tempe- raturas inferiores a -0 C, ou em N líquido, capazes de conservar ex situ fração importante da micodiversidade do Cerrado. Esta coleção poderá constituir-se em uma Coleção Nacional de Culturas Fúngicas, à semelhança de outras existentes nos Estados Unidos, Europa e Japão. Fungos da Amazônia e Mata Atlântica poderiam ser incorporados tornando a Coleção Nacional um instrumento estratégico para o desenvolvimento da engenharia genética e biotecnologia em geral.

Cabe lembrar que os grandes laboratórios farmacêuticos mantém coleções de microorganismos que atingem cifras da ordem de 00 a 500 mil culturas, sendo que as coleções oficiais européias (Bélgica, In- glaterra, Holanda) contem entre 0 e 5 mil espécies fúngicas armazenadas. Esta tarefa seria muito bem loca- lizada no CENARGEN – EMBRAPA, órgão voltado para a genética e biotecnologia e responsável pela guarda de valioso germoplasma vegetal e animal.

. Recomendar ao MEC (CAPES) e CNPq o for- talecimento dos centros de pós-graduação do país que possam contribuir com o treinamento de especialistas em taxonomia de fungos.

5. Torna-se necessário obter suporte financeiro e de pessoal para coletar em áreas ainda não cobertas, sendo de todo importante cobrir aquelas consideradas críticas do ponto de vista da preservação da própria vegetação, pois os fungos dependem das plantas, sendo esta interação altamente específicas.

6. A coleta de fungos sobre espécies de plantas endêmicas do cerrado e ameaçadas de extinção é uma providência que deve ser tomada com urgência.

7. Expandir as coletas para Mata de Galeria, através de esforço já iniciado com o PROBIO - Mata de Galeria liderado por José Felipe Ribeiro, onde está envolvida a equipe de Micologia da Unb.

XI - Integridade da cobertura vegetal