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Segundo Leontiev (2001), a brincadeira modifica-se de acordo com a idade e o desenvolvimento da criança, assim há diferenças entre a brincadeira pré-escolar e a escolar ou a dos adultos. É necessário conhecer as especificidades dos traços de cada momento do desenvolvimento das brincadeiras, para compor um estudo mais detalhado e profundo sobre o jogo.

Os jogos têm diferenças quanto aos conteúdos e quanto a suas origens. Assim há jogos que se desenvolvem e são temporários, são de um caráter mais individual, são casuais e não se repetem. Há também aqueles que conservam a tradição e vem ao longo dos anos mantendo os seus princípios, mesmo que se alterem as regras e o jeito da ação, um exemplo é o jogo da amarelinha, pular corda, cabra-cega, etc. Há jogos de tradição mais curta, são criados por um grupo e se estabelecem por um tempo restrito, depois a tendência é desaparecerem.

Os jogos infantis existem de formas diversificadas, abordaremos as formas mais difundidas, utilizadas pelas autoras soviéticas Jukovskaia (1990) e Zhukóvskaia (1982).

Na primeira forma de jogo a criança irá reproduzir um fenômeno que tenha suscitado seu interesse, o mesmo envolve o papel representado, as ações das pessoas com objetos, a operação com os objetos, a forma de uso praticada de acordo com a cultura da sociedade. A criança é, assim, o maquinista, o aviador, o veterinário, o médico, a enfermeira. Conforme Usova (apud ELKONIN, 1998), o material é que determina o tema do jogo, sendo que mais tarde ocorre o contrário, ou seja, as crianças atribuem ao material a função que desejam. Compõe-se de uma forma mais generalizada de ação lúdica, não há conteúdo e argumento no jogo, ou seja, ações interpretativas. É observado principalmente nas crianças de idade pré- escolar, mas também é praticado pelas crianças maiores.

Outra forma de jogo é o jogo de papéis ou protagonizado. É o jogo inventado pelas próprias crianças, sendo praticado pelas crianças mais velhas. Nesses jogos as crianças substituem os brinquedos e preferem interpretar. Em todo jogo protagonizado há regras que ficam implícitas no papel. No jogo do faz-de-conta, as crianças buscam a relação entre o que desejam e a realidade, os adultos são os modelos da ação, na qual a criança irá representar os seus papéis, sua personalidade. Espelha-se naqueles a quem admira, que lhe provoque emotivamente, desempenhando seu trabalho, sua profissão, as situações nas quais as ações por eles realizadas se desenvolvem.

A criança imita, reconstrói criativamente as ações e os movimentos da pessoa que ficaram em sua memória, desenvolvendo um argumento ou ação interpretativa e conteúdo no jogo. As crianças mais velhas preocupam-se não só com a escolha do papel a ser protagonizado, mas também com a representação perfeita desses.

A terceira forma de jogo tem a característica de reproduzir os fenômenos do mundo em imagens de forma concreta como, por exemplo, por meio de materiais como desenhos, maquetes ou construções, modelagens. São jogos criativos utilizados no processo educativo como forma de aprendizagem. As crianças ao representarem os fenômenos, reproduzem a partir de sua percepção, criam. A forma do objeto absorve a criança, conduzindo-a ao jogo criativo.

A quarta forma de jogo é a do jogo-trabalho. Nele as crianças pré-escolares ao executarem a atividade do jogo trabalham na elaboração dos materiais necessários ao jogo: por exemplo, com materiais reciclados que serão usados na elaboração de jogos com maquetes ou de construção.

A quinta forma de jogo é o de construção com argumento. Neste jogo há uma organização especial do processo pedagógico, de modo que seja garantida e desenvolvida a independência como também a imaginação e os interesses das crianças. Necessita de uma programação do conteúdo educativo para instruir sobre certos conhecimentos, habilidades e hábitos ou um tipo de conduta social, tornando, ao mesmo tempo, simples e agradável a atividade; porém, deverá surgir a partir do próprio interesse, das idéias e iniciativa das crianças. Por exemplo: o tema viagem é de interesse das crianças e aparece freqüentemente no círculo infantil com qualquer forma de transporte, pode servir, por exemplo, para educar ações que sejam orientadas com objetivo de se aprender as normas de conduta. As crianças aprendem a socializar o espaço e a respeitarem a vontade dos outros colegas. Em troca do veículo de apenas dois lugares, a educadora sugere a construção de um veículo espaçoso onde todas as crianças do grupo possam viajar juntas, socializando o espaço e as aprendizagens conjuntamente.

No jogo de construção ocorre uma relação próxima do conteúdo com o tema cognitivo ou aquele imaginado. Nesse, o interesse pela atividade nas crianças é visível porque há um conteúdo, um anseio por alcançar o objetivo, bem como o interesse pelas relações do grupo de crianças entre si. Este jogo cria uma estabilidade na atividade lúdica que é capaz de contribuir na capacidade de atenção, concentração da criança e orientação para um objetivo, levando o argumento do jogo ao resultado dentro de uma lógica. Em outras palavras, as ações se dirigem à elaboração juntamente com a reflexão do que seja necessário para executar sistematicamente a atividade e levá-la a sua meta, e, de acordo com a necessidade, elaborar novas habilidades com a ajuda dos adultos. Sobre estas considerações a respeito desse tipo de atividade lúdica, escreve Zhukóvskaia (1982, p. 35):

Estas conclusiones evidenciam que el proceso de formación de un objetivo (A. N. Leontiev) en la actividad la edad preescolar está condicionado, en gran medida, por aquellas organizaciones del proceso pedagógico, en el cual, conjuntamente con la comunicación de los conocimientos, se crean en el juego las condiciones para la aplicación de estos conocimientos y habilidades. Esto conduce al incremento del conocimiento, de la habilidad de crear, y al enriquecimiento de los sentimientos.

É, portanto, necessária uma sistematização do conhecimento do mundo que rodeia a criança, dos fenômenos da vida social, para criar condições para que esta possa refletir e aplicar os conhecimentos e habilidades. Com as crianças maiores é possível desenvolver jogos de conteúdo ideológico, desenvolvendo um plano de ação com o material temático.

Leontiev (2001) considera os jogos didáticos como limítrofes, jogos de transição da pré-escola para a escola. São jogos didáticos: jogos de dramatização, jogos esportivos e de improvisação.

Esses jogos necessitam da compreensão das crianças acerca de objetivos e das regras, por essa razão só surgem depois do desenvolvimento dos jogos com objetivo. Jogos didáticos não são sinônimos de exercícios pré-escolares, mas são jogos por meio dos quais se desenvolvem certas operações cognitivas que serão requisitadas nas atividades escolares posteriormente. Eles não ocorrem em decorrência da brincadeira, mas em função de todo o desenvolvimento psíquico anterior da criança. Eles têm importância no aspecto particularmente relacionado ao desenvolvimento das operações intelectuais na fase pré- escolar da criança. Todavia, não tem significância como condição imprescindível no desenvolvimento psíquico da criança pré-escolar.

Os jogos dramatizados já são uma espécie de atividade pré-estética, não operam mais de forma generalizada na imitação de papéis e na reprodução das atividades humanas. Na dramatização, há a preocupação com a representação perfeita do conteúdo expresso no papel, cujo motivo é envolver emocionalmente os que assistem.