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3. Revisão de literatura

3.3. Divulgação e características da empresa

Os estudos existentes relacionam a divulgação voluntária de informações com várias características da empresa (tabela 5), tais como: a estrutura de capital, o custo de capital, o governo das sociedades, o grau de endividamento, o tamanho da empresa, a relação com os

stakeholders, a relevância dos activos intangíveis e a complexidade do mercado (Cohen et al.,

2004; Bertomeu et al., 2006; Gillan, 2006; Al-Akra et al., 2010; Boesso e Kumar, 2007). As características da empresa podem influenciar a sua política de divulgação. Bertomeu et al. (2011) desenvolveu um modelo de financiamento que interliga a estrutura de capital, a política de divulgação voluntária e o custo de capital de uma empresa. Uma vez que, segundo o autor, é intuitivo que existe uma relação entre a estrutura de capital e a política de divulgação da empresa, devido aos problemas de agência é expectável que os gestores escolham a política de divulgação de maneira a maximizar as percepções do mercado sobre o valor da empresa diminuindo, assim, o custo de capital. Este, o custo de capital para os proprietários de uma empresa, é a taxa de juro que lhes é paga por investirem nessa empresa (Modigliani e Miller, 1958).

A separação entre fornecedores de capital e as pessoas que gerem o capital existente nas empresas de capital aberto cria a procura por estruturas de governo das sociedades (Gillan, 2006). Os estudos sobre governo das sociedades têm aumentado drasticamente na última década (Gillan, 2006).

Gillan (2006) confirma que a definição de governo das sociedades é subjectiva, fazendo um levantamento das definições existentes na literatura. Segundo Gillan (2006), Zingales (1998) vê os sistemas de governo das sociedades como um conjunto complexo de restrições; já Shleifer e Vishny (1997) definem o governo das sociedades como os meios pelos quais os fornecedores de financiamento das empresas se asseguram que vão obter o retorno sobre o seu investimento e Gillan e Starks (1998) apresentam-no como o sistema de leis e regras que controlam as operações nas empresas.

Cohen et al. (2004) fizeram uma revisão da pesquisa já efectuada sobre governo das sociedades e o seu impacto na qualidade da informação financeira. Apresentam a garantia da qualidade do processo de informação financeira como uma das principais funções do governo das sociedades.

Hoitash et al. (2009) estudaram a associação entre governo das sociedades e a divulgação de fraquezas no controlo interno através dos relatórios financeiros. Associaram as características

do conselho geral e da comissão de auditoria e concluíram que o tamanho da comissão de auditoria não está associado com as divulgações de fraquezas do controlo interno. O conselho geral influencia a eficácia do reporte do controlo interno nos relatórios financeiros, embora não esteja tão envolvido como a comissão de auditoria.

Barako et al. (2006) investigaram até que ponto os atributos de governo das sociedades, estrutura de propriedade e características da empresa influenciam as práticas de divulgação voluntárias das empresas.

Contrariamente ao estudo de Hoitash et al. (2009), os resultados de Barako et al. (2006) indicam que a presença de uma comissão de auditoria é um factor fortemente associado com o nível de divulgação voluntário. Barako et al. (2006) conclui também que a proporção de não- executivos na administração é um factor negativamente associado ao grau de divulgação voluntária.

As empresas que divulgam mais informações voluntariamente são as grandes empresas e as com elevado grau de endividamento (Hossain et al., 1995; Barako et al., 2006; Al-Akra et al., 2010). Para Hossain et al. (1995) o tamanho da empresa é a variável que mais contribui para explicar a variação do nível de divulgação voluntária de informação.

Al-Akra et al. (2010) estudou o impacto da privatização das empresas no grau de divulgação voluntária de informação. Concluíram que a privatização tem uma influência positiva no grau de divulgação voluntária, ou seja, a propriedade privada é considerada mais eficiente no que toca a governo das sociedades. Todavia, os pontos fracos do governo das sociedades têm sido associados à má qualidade da informação financeira, à manipulação e à fraude (Cohen et al., 2004).

Outro estudo conclui que a estrutura de liderança, a liquidez, a rentabilidade e a empresa de auditoria não têm uma influência significativa sobre o nível de divulgação voluntária das empresas (Barako et al., 2006). Contudo, no estudo de Al-Akra et al. (2010) a liquidez e o auditor demonstraram ser negativamente correlacionados com a divulgação voluntária e Cohen et al. (2004) referem que o auditor externo tem um importante papel na monitorização da qualidade da informação financeira.

Hossain et al. (1995) chegaram à conclusão que as empresas que estão cotadas na bolsa local e numa bolsa estrangeira divulgam mais informação voluntariamente aos utilizadores de informação financeira locais do que as empresas que estão cotadas apenas na bolsa local.

E Boesso e Kumar (2007) chegaram à conclusão de que, além das necessidades de informação dos investidores, a relação da gestão com os stakeholders, a relevância dos activos intangíveis e a complexidade do mercado afectam as divulgações voluntárias de informações13.

13

Os autores referem-se aos factores que afectam as divulgações como drivers.

Tabela 5 Estudos sobre as características das empresas e a divulgação de informações

Autores Tipo de Estudo / Teoria Subjacente

Amostra Principais conclusões

Hossain et al. (1995)

Empírico / Teoria da Agência

Empresas cotadas na

New Zealand Stock Exchange

O tamanho da empresa, a cotação estrangeira e a alavancagem estão significativamente relacionados com o grau de divulgação voluntária;

As empresas cotadas simultaneamente na bolsa local e numa bolsa estrangeira tendem a divulgar mais informação que as que apenas estão cotadas na bolsa local.

Cohen et al.

(2004)

Revisão de literatura / Teoria da Agência, Teoria Institucional

- O governo das sociedades tem como principal

função garantir a qualidade do processo de informação financeira;

O auditor externo tem um papel importante na qualidade da informação financeira.

Barako et al. (2006) Empírico / Teoria da Agência Empresas cotadas no Quénia

A extensão da divulgação voluntária é influenciada por atributos de governo das sociedades, estrutura de propriedade e características da empresa;

As empresas que divulgam mais informações são as grandes empresas e as com elevado grau de endividamento;

A estrutura de liderança, a liquidez, a rentabilidade e a empresa de auditoria não têm uma influência significativa sobre o nível de divulgação.

Gillan (2006) Revisão de literatura / Teoria da Agência

- A definição de governo das sociedades é

subjectiva;

Nas empresas de capital aberto há uma procura por estruturas de governo das sociedades devido à separação que existe entre fornecedores de capital e aqueles que gerem o capital. Boesso e Kumar (2007) Empírico / Teoria da Legitimidade, Teoria dos Stakeholders, Teoria da Agência, Teoria da Sinalização, Teoria dos Custos Políticos, Teoria dos Custos de Propriedade

Empresas da Itália e dos Estados Unidos da América

O volume e a qualidade das divulgações voluntárias de informações são afectados por necessidades de informação dos investidores,

gestão com enfase nos stakeholders,

relevância dos activos intangíveis e

complexidade do mercado. Hoitash et al. (2009) Empírico / Teoria da Agência Empresas da base de dados AuditAnalytics

A comissão de auditoria não está associado com as divulgações. Al-Akra et al. (2010) Empírico / Teoria da Agência, Teoria da Sinalização, Teoria do Mercado de Capitais

Empresas da Jordânia A privatização tem influenciado positivamente

o grau de divulgação voluntária;

O tamanho da empresa e o sector são

significativamente relacionados com as

práticas de divulgação voluntária;

A liquidez e o auditor são negativamente correlacionados com a divulgação voluntária.

Bertomeu et al. (2011)

Teórico / Teoria da Agência

- A política de divulgação da empresa e as suas

escolhas de estrutura de capital afectam o custo do capital;