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2. Enquadramento teórico

2.3. O grau de qualidade da divulgação voluntária de informação

Nobre (2003) refere que muitos dos estudos sobre o relato financeiro aludem à qualidade da informação que as empresas divulgam.

A qualidade da informação financeira tem recebido várias críticas devido ao tumulto de escândalos contabilísticos que têm sido descobertos actualmente (Klai e Omri, 2011). Todavia, a definição do conceito de qualidade da divulgação de informação não é consensual (Nobre, 2003; Cohen et al., 2004; Domingos, 2010). Por exemplo, Cohen et al. (2004) comenta que alguns investigadores em vez de definirem a qualidade da informação financeira reúnem factores como a gestão de resultados, reformulações financeiras e fraude que são obstáculos à existência de relatórios financeiros de alta qualidade, e utilizam a presença desses factores como evidência de que o processo de relato financeiro tem rupturas.

As mudanças na envolvente organizacional trazem novos desafios para os preparadores das divulgações de informações financeiras, como seja a redução do tempo para tornar acessível informação com alta qualidade, criando valor (Magro, 2006). Estas mudanças levam a que sejam necessárias melhorias para a criação de um sistema de reporte que auxilie na criação de valor a longo prazo. Um dos desafios que necessita de ser resolvido, segundo o estudo de Tilley et al. (2011), é o facto de as empresas valorizarem a quantidade e não a qualidade. Todavia, como já foi referido, não é fácil definir a qualidade das divulgações e da informação. Barako et al. (2006) apresenta a ideia de que as divulgações são abstractas e que não possuem características inerentes pelas quais se possa determinar a sua intensidade ou qualidade. Gavin (2003) menciona a subjectividade do conceito ao referir que as qualidades que os utilizadores atribuem a um bom relatório financeiro diferem de pessoa para pessoa. Por sua vez Hoitash et

al. (2009) apresentam uma variedade de estudos que defendem que a presença de especialistas

de contabilidade financeira na comissão de auditoria influencia a qualidade da informação financeira.

Numa perspectiva mais académica, a qualidade da divulgação para alguns investigadores na área da contabilidade é medida pelo retorno do capital, uma vez que as empresas que são

consideradas pelo mercado como tendo uma alta qualidade nas suas divulgações têm um menor custo de emissão de dívida (Sengupta, 1998).

A qualidade dos relatórios financeiros está a ser imputada aos profissionais dos serviços financeiros; no entanto, muitas vezes, são as próprias empresas que têm desenvolvido estruturas complexas e pouco transparentes (Gavin, 2003). Algumas partes do sistema de contabilidade das empresas fazem conscientemente um relato financeiro que prejudica a qualidade dos reportes financeiros. No entanto, segundo Gavin (2003), é apenas uma questão de tempo até serem identificados os intervenientes que provocam essas deficiências no processo de relato financeiro.

Heflin et al. (2000) e Nobre11 (2003) apresentam a qualidade da informação como um factor útil para a liquidez dos mercados de capitais, uma vez que ao divulgar a informação há uma diminuição da assimetria de informação melhorando a tomada de decisão dos investidores e aumentando a sua probabilidade de fazer transacções com bons resultados para os mesmos. Como referido em pontos anteriores, a informação financeira serve como base para decisões de investimento dos participantes do mercado de capitais, devendo ser de boa qualidade para que as decisões sejam acertadas (Klai e Omri, 2011). Por consequência, Levitt (1998:81) afirma que “a qualidade é o maior atractivo para os investidores”12.

Deste modo, a divulgação de qualidade necessita de normas contabilísticas de qualidade que transmitam confiança e credibilidade no relatório financeiro perante os investidores (Levitt, 1998). Uma vez que os mercados financeiros necessitam de confiança para se desenvolverem, Levitt (1998) acredita que o sucesso dos mercados de capitais está directamente dependente da qualidade do sistema de contabilidade e divulgação.

Na literatura são apresentados vários factores que os autores acreditam contribuírem para a qualidade do reporte financeiro, tais como: factores que derivam do governo das sociedades, a qualidade das normas contabilísticas, a estrutura da propriedade ou o sector de actividade (Cohen et al., 2004; Rodrigues et al., 2005; Myring e Shortridge, 2010; Klai e Omri, 2011). Em confirmação das falhas existentes e do papel do governo das sociedades na qualidade das divulgações, Klai e Omri (2011) sugerem que os escândalos financeiros que têm surgido reforçam a necessidade de existência de estruturas de governação das empresas que melhorem a relevância das informações que são divulgadas nos relatórios financeiros, havendo autores

11 O autor designa os factores como determinantes. 12

que associam a governação das sociedades à qualidade da informação. O governo das sociedades subsiste para garantir a integridade do processo de informação financeira, monitorizando as actividades da empresa (Cohen et al., 2004). Neste contexto Cohen et al. (2004) apresentam o conceito de “mosaico” do governo das sociedades, que definem como as interacções entre os vários actores que afectam o governo das sociedades (figura 3).

Myring e Shortridge (2010) aludem aos analistas financeiros que dependem de demonstrações financeiras para medir a qualidade das divulgações financeiras; quando as informações são de boa qualidade a necessidade do analista para obter informações de fontes externas à empresa deve diminuir. Os autores concluem que bons relatórios financeiros devem resultar num maior consenso nas previsões dos analistas.

Outros autores chegaram à conclusão de que a qualidade da informação aumenta com a percentagem de administradores externos e outros destacam que o tamanho do conselho de administração pode ser associado a uma boa qualidade dos relatórios financeiros (Beekes et

al., 2004; Bushman et al., 2004; Karamanou e Vafeas, 2005; Klai e Omri, 2011). Figura 3 “Mosaico” do governo das sociedades e qualidade do reporte

financeiro

Os auditores externos são também uma peça importante no governo das sociedades para monitorização da qualidade da informação financeira e dos gestores, garantindo a integridade dos relatórios financeiros (Cohen et al., 2004; Myring e Shortridge, 2010).

Segundo Klai e Omri (2011), outros autores têm realizado estudos sobre governo das sociedades, que têm demonstrado que a estrutura da propriedade pode afectar a qualidade de informação financeira. Quando a empresa é controlada pelo Estado ou pelas instituições financeiras a divulgação de informação financeira feita pelas mesmas está associada a boa qualidade, insinuando que o controlo pelo Estado ou pelas instituições financeiras é um mecanismo de governação eficaz (Klai e Omri, 2011).

No entanto, existem outros factores que não derivam directamente do governo das sociedades. Mueller (2000) e Domingos (2010) apresentam uma série de factores que podem influenciar a qualidade da informação financeira, tais como a qualidade das normas contabilísticas, o governo da sociedade ou o sistema legal.

Já Choi (1999), mencionado por Rodrigues et al. (2005), conclui que o tipo de sector de actividade das empresas está significativamente relacionado com a qualidade (e quantidade) da informação divulgada. Domingos (2010) refere que as divulgações obrigatórias e a percepção do impacto ambiental das empresas, onde é esperado que as empresas com um grande impacto ambiental façam uma maior divulgação de informação, revelam a existência de variedade na qualidade e quantidade de informação divulgada em função do sector de actividade.

Em Portugal, na protecção dos investimentos dos intervenientes do mercado, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) tem como objectivo a integridade e transparência do mercado, colocando o dever de informar com qualidade como base da eficiência e segurança do mercado (Rodrigues et al., 2005; Subtil, 2008).