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3. Revisão de literatura

3.5. Práticas globais

Os países diferem em muitos aspectos, incluindo os regimes políticos e jurídicos, desenvolvimento institucional, corrupção e cultura (Villiers e Staden, 2006; Boesso e Kumar, 2007; Chen e Bouvain, 2009; Bushman e Landsman, 2010). Daí que, os estudos realizados sobre divulgação de informação, para além de focarem variados temas, têm uma dispersão geográfica que alcança cinco continentes, como apresentado de seguida (tabela 7).

No continente americano, os Estados Unidos da América (EUA) são o país mais estudado (Skinner, 1994; Boesso e Kumar, 2007; Kumar et al., 2008; Chen e Bouvain, 2009).

O mercado de capitais nos EUA é bastante desenvolvido, fazendo com que o capital das empresas seja disperso e que a divulgação de informações das empresas aí cotadas seja direccionada a um vasto público (Chen e Bouvain, 2009). O tamanho e o sector de actividade parecem ser um factor importante nas divulgações voluntárias das empresas nos EUA (Boesso e Kumar, 2007). A cultura das empresas cotadas nos EUA que são de origem asiática afecta em pequeno nível as divulgações voluntárias feitas por essas empresas nos EUA (Kumar et

al., 2008). As empresas americanas divulgam notícias negativas, para evitar que as grandes

surpresas negativas resultem em acções judiciais e para manter as boas relações com os investidores (Skinner, 1994).

As divulgações de informações de forma voluntária podem estar interligadas com questões políticas, considerando por exemplo o facto de as divulgações sobre questões ambientais nos

Tabela 7 Estudos consoante o país da amostra analisada

Continente País Autores

América EUA Skinner (1994); Kumar et al. (2008); Chen e Bouvain (2009)

Europa

Portugal Branco e Rodrigues (2008)

Reino Unido Boesso e Kumar (2007); Chen e Bouvain (2009) Alemanha Chen e Bouvain (2009)

Itália Boesso e Kumar (2007) Espanha Acerete et al. (2011)

Ásia

Arábia Saudita Al-Razeen e Karbhari (2004) Jordânia Al-Akra et al. (2010)

África

Quénia Barako et al. (2006) África do Sul Villiers e Staden (2006)

Oceânia

Nova Zelândia Hossain et al. (1995)

Austrália Kent e Ung (2003); Chen e Bouvain (2009)

EUA serem relativamente baixas, sendo este um país que não subscreveu o acordo de Quioto reflectem a imagem política dos EUA (Chen e Bouvain, 2009).

Além disso, existem evidências de que os gestores divulgam boas notícias sobre as empresas para distinguir as empresas que fazem um bom trabalho das que o fazem menos bem (Skinner, 1994).

No entanto, ao estudar a qualidade das divulgações voluntárias nos EUA, os investigadores não encontraram factores significativamente explicativos (Boesso e Kumar, 2007).

No continente europeu foram estudadas empresas de Portugal, Espanha, Itália, Reino Unido e Alemanha (Boesso e Kumar, 2007; Branco e Rodrigues, 2008; Chen e Bouvain, 2009; Acerete et al., 2011).

Em Portugal o meio de divulgação de informações principal é o relatório anual, em detrimento da internet (Branco e Rodrigues, 2008). As empresas portuguesas que têm maior visibilidade preocupam-se em divulgar informações sobre responsabilidade social que lhes ajude a criar uma imagem positiva perante os stakeholders (Branco e Rodrigues, 2008). Em comparação com os factores que influenciam as políticas de comunicação nas empresas de países com mercados de capitais mais desenvolvidos, os que afectam as empresas portuguesas não apresentam uma diferença significativa (Branco e Rodrigues, 2008).

As empresas do Reino Unido têm o capital mais disperso do que as empresas alemãs, tendo de satisfazer as necessidades de informação de um público maior (Chen e Bouvain, 2009). Por exemplo, os consumidores no Reino Unido têm uma forte consciencialização para questões éticas e as empresas optam por destacar questões nos relatórios de responsabilidade social que digam respeito aos clientes e aos fornecedores (Chen e Bouvain, 2009).

Em Itália o tamanho da empresa e o sector são factores que influenciam as divulgações voluntárias de informação (Boesso e Kumar, 2007). A qualidade das divulgações das empresas italianas é afectada pelo envolvimento da empresa com os stakeholders e pela sua necessidade de gestão de intangíveis, podendo concluir-se que as empresas italianas que gerem activos intangíveis proporcionam mais informações quantitativas, não financeiras e prospectivas (Boesso e Kumar, 2007).

Nas empresas concessionárias das auto-estradas espanholas a informação divulgada atinge um nível mínimo de qualidade na informação ambiental e um nível baixo de divulgação dos elementos exigidos pelas normas (Acerete et al., 2011).

No continente asiático há estudos com empresas de dois países, Jordânia e Arábia Saudita (Al-Razeen e Karbhari, 2004; Al-Akra et al., 2010). Na Arábia Saudita há uma correlação positiva e significativa entre a divulgação obrigatória e divulgação voluntária (Al-Razeen e Karbhari, 2004). Na Jordânia, a privatização das empresas estudadas influenciou positivamente a divulgação voluntária, salientando que a propriedade privada parece revelar- se como sinal de um melhor governo das sociedades (Al-Akra et al., 2010).

No continente africano, os investigadores utilizaram amostras do Quénia e da África do Sul (Barako et al., 2006; Villiers e Staden, 2006). No entanto, na literatura existem poucos estudos com foco no continente africano (Villiers e Staden, 2006). No Quénia o tamanho da empresa é um factor importante na política de divulgação de informação da empresa (Barako

et al., 2006). Na África do Sul a publicação de informação geral e específica aumentou

durante um tempo; no entanto, após um período inicial, diminuiu (Villiers e Staden, 2006). Os gestores parecem considerar as divulgações gerais menos ameaçadoras do que as divulgações específicas e justificam a diminuição das divulgações de informações sobre o ambiente com a falta de requisitos legais (Villiers e Staden, 2006).

Na Oceânia foram investigadas empresas da Austrália e da Nova Zelândia (Hossain et al., 1995; Kent e Ung, 2003; Chen e Bouvain, 2009). A Nova Zelândia, após um colapso na bolsa em 1987, teve um aumento de normas de contabilidade passando a ter um ambiente de regulamentação mais rigoroso (Hossain et al., 1995). As empresas na Nova Zelândia desenvolveram as divulgações voluntárias de informações como meio de atracção para os investidores (Hossain et al., 1995). Na Austrália o capital das empresas é disperso, fazendo com que as empresas tenham de divulgar informações que satisfaçam as necessidades de um vasto número de stakeholders (Chen e Bouvain, 2009). As empresas da Nova Zelândia que estão simultaneamente cotadas em várias bolsas de valores mobiliários tendem a divulgar mais do que as que apenas estão cotadas na bolsa de valores da Nova Zelândia (Hossain et al., 1995).

O tamanho da empresa é uma variável importante na explicação da variação do nível de divulgação na Nova Zelândia, onde o estudo chegou à conclusão de que as empresas maiores divulgam mais do que as empresas pequenas (Hossain et al., 1995). Esta é uma característica que também mostrou ser influente nas empresas australianas, onde as empresas maiores (que são associadas a serem menos voláteis) divulgam mais do que as empresas menores (mais voláteis) (Kent e Ung, 2003).