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Do candidato ao termo: perscrutando linhas de concordância à luz da teoria

CAPÍTULO 2: Metodologia e Apresentação dos Resultados

2.11 Do candidato ao termo: perscrutando linhas de concordância à luz da teoria

principalmente o programa Concord89, da suíte WordSmith Tools 3.0, como motor de busca dos candidatos constantes da relação, um a cada vez.

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88 Copiei e colei o resultado na planilha 3, onde já estava a relação dos itens comuns e dos supostamente

exclusivos.

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Escolhi o WST por estar mais habituada a ele; porém os outros programas, com exceção do ZExtractor, também disponibilizam concordanciadores.

Dessa forma, tanto foi possível observar, pelo cotexto (e, quando necessário, pela análise no texto em que figurava) se o candidato per se designava um conceito da área — caso em que se conformava um termo simples — quanto se com seu(s) coocorrente(s) outro conceito emergia, formando um termo complexo. Assim, mesmo se isoladamente o nódulo (palavra de busca) já indicara um conceito da (sub)especialidade sob estudo, como ocorreu com biópsia, ao transformá-lo em uma expressão de busca, agregando-lhe o(s), até então90, coocorrentes(s) — em geral, mas nem sempre, os mais frequentes —, tal como cirúrgica, pude, à luz da teoria, verificar se, juntos (biópsia cirúrgica), engendravam outro conceito, ainda que este mantivesse com o primeiro alguma relação de semelhança: nesse caso, o primeiro termo é o genérico (biópsia = hiperônimo), enquanto o segundo corresponde a um tipo do primeiro (biópsia cirúrgica = hipônimo).

Cabe dizer também que, algumas vezes, o próprio coocorrente, sozinho, indicou tratar-se de um termo: o candidato hormonioterapia, por exemplo, além de corresponder a um conceito da área, teve, entre seus coocorrentes, ―ooforectomia‖ e ―imunoterapia‖. Nos dois casos, ao serem submetidas ao concordanciador (vide programa no item 1, na página seguinte) como palavra de busca (nódulo), ambas revelaram ser também um termo da (sub)área pela referência a um conceito dentro desta.

Antes de trilhar, em detalhes, o caminho percorrido para exame dos candidatos, creio ser pertinente especificar todos os critérios dos quais me servi para cunhar um candidato de

termo: o primeiro deles, que já foi explicitado acima por ser fulcral na atribuição do estatuto de termo, foi a designação de um conceito da área de especialidade sob análise; além desse, do qual não se pode prescindir, outros, de matiz linguística — imprevisibilidade semântica (vide exemplo no capítulo 1, nota 21) — e advindos dos postulados da Linguística de Corpus — coocorrência (grau de lexicalização)91, uso e frequência de uso, foram levados a cabo92 (BARROS, 2007, p. 42-50).

Vale frisar, ainda, que a existência de uma definição pode significar um indício de que o candidato seja um termo em potencial, pois, nela, traços conceituais, tais como __________________

90

Digo ―até então‖, pois, como outrora explicado (nota 86), colocação é uma característica linguística cuja comprovação é feita por meio de medidas estatísticas de associação que, até o momento narrado acima, não tinham sido empregadas (vide capítulo 5, seção 5.1.1). Para relação de candidatos verdadeiro-positivos e respectivo(s) coocorrente(s) que se revelou (aram) termo(s) complexo(s), vide quadro 5 em Apêndice B.

91 Vide comprovação estatística pelas medidas de associação explicitadas no capítulo 5, seção 5.1.1.

92 Sempre em adição ao primeiro de todos os princípios: designar um conceito. Além disso, nem todos foram

empregados simultaneamente — preenchida a primeira de todas as condições (designação de conceito) as demais serviram como mais um sinal comprobatório.

materialidade, finalidade, funcionamento etc. costumam ser explicitados (AUBERT, 2001, p. 68-9).

Mais uma vez, na tentativa de explicar melhor todos esses procedimentos de reconhecimento terminológico, julguei apropriado dividi-los em etapas:

1. submeti o candidato a termo ao Concord para poder analisá-lo (tomo como exemplo o candidato ―hormonioterapia‖, comum às quatro listas geradas pelos programas analisados): programa WST> Tools> Concord> File> Start. A seguinte tela, denominada ―Getting Started‖, foi aberta (figura 49):

Figura 49: janela ―Getting Started‖, do WST 3.0

2. Nela, cliquei em ―Choose Texts Now‖. A jenela ―Choose Texts‖ foi aberta (figura 50, abaixo), para que eu selecionasse os textos do corpus. Acionei o botão ―All‖, no canto inferior direito, abaixo da barra de rolagem. Todos os arquivos referentes ao

corpus de estudo foram selecionados (310). Para finalizar, cliquei em ―OK‖.

Figura 50: janela ―Choose Texts‖ (WST 3.0) onde devem ser selecionados os arquivos do corpus que será investigado.

3. O programa retornou à janela ―Getting Started‖ para que a palavra de busca (specify Search-Word) fosse escolhida (figura 49).

3.1 Ao clicar nesse botão, mais uma janela, como mostra a figura 51, foi exibida, para que a(s) palavra(s) de busca fosse(m) determinada(s) (Search Word or

Phrase), assim como a(s) palavra(s) de contexto (que não julguei necessário especificar) e o horizonte (Context Word[s] & Context Search

Horizons), que, embora esteja marcado com duas palavras à esquerda (2L) e duas à direita (2R), só é levado em consideração pelo programa quando a(s) palavra(s) de contexto é/são especificada(s).

Figura 51: janela ―Concordance Settings‖ (WST 3.0) em que é possível determinar a(s) palavra(s) de busca, de contexto e o horizonte.

4. Na sequência, acionei o botão ―Go Now‖ para que o processamento das linhas de concordância fosse iniciado. Ao final, obtive 115 linhas de concordância da palavra ―hormonioterapia‖ (figura 52, abaixo).

Figura 52: linhas de concordância da palavra de busca ―hormonioterapia‖ (em amarelo) (Concord, WST 3.0).

5. Ao percorrer as linhas de concordância, é possível perceber que ―hormonioterapia‖, isoladamente, pode ser considerada um termo da (Onco)mastologia, pois não só possui ―um valor singularmente específico‖ (CABRÉ, 1999, p. 124), como também teve definida sua finalidade (figura 52, linha azul) — pista que tende a revelar um termo. (BARROS, 2004, p. 103)

6. Posteriormente, passei a observar os coocorrentes do termo ―hormonioterapia‖. Como se tratava de mais de cem linhas, cliquei no ícone da opção ―Show Collocates‖ (círculo vermelho na figura 52, na página anterior), a fim de facilitar a visualização (figura 53).

Figura 53: janela com alguns dos coocorrentes de ―hormonioterapia‖ e as respectivas informações estatísticas93 (Concord, WST 3.0)

A janela apresentou uma lista de coocorrentes (colocados)94, dentre os quais quatro mereceram destaque: ―adjuvante‖ e ―neoadjuvante‖, do ponto de vista frequencial, bem como ―ooforectomia‖ e ―imunoterapia‖, estas sob o prisma conceitual95. Como os dois primeiros eram adjetivos, processei cada um deles

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As catorze colunas que são exibidas na janela correspondem, da esquerda para direita, a: N (número referente à quantidade de colocados listados por ordem frequencial); Word (colocado); Total (soma de todas as ocorrências da palavra como colocado do nódulo); Left (quantidade de vezes que o colocado apareceu à esquerda do nódulo); Right (quantidade de vezes que o colocado apareceu à direita do nódulo); L4, L3, L2, L1 (apontam a quantidade de vezes que o colocado se encontra na quarta, terceira, segunda e primeira posição, respectivamente, à esquerda do nódulo); * (corresponde ao nódulo, ou seja, à palavra de busca); R1, R2, R3, R4 (apontam a quantidade de vezes que o colocado se encontra na primeira, segunda, terceira e quarta posição, respectivamente, à direita do nódulo).

94 Por motivos de operacionalidade, devido à grande quantidade de dados que dispunha para analisar e dos quais

não queria abrir mão, no sentido de optar pela observação somente daqueles mais frequentes, busquei por coocorrentes partindo de palavras plenas de conteúdo, como ―adjuvante‖, em detrimento das palavras gramaticais (de, que, a etc.) que, comumente, encabeçam a lista frequencial de colocados.

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Refiro-me à carga conceitual dos coocorrentes baseada no fato de prefixos, sufixos e radicais greco-latinos comporem a nomenclatura médica de forma geral (ALVES, 2006); (DELVIZIO; BARROS, 2008). Neste

corpus, mostraram-se produtivos, do ponto de vista da formação de palavras, o sufixo (-ectomia e -oma), e os radicais (terapia) e (grafia), todos de origem grega. Além disso, as siglas também responderam por boa parte dos termos encontrados.

no Concord em conjunto com ―hormonioterapia‖.

6.1 Dessa forma, foi possível descobrir que ―hormonioterapia‖ formava

com esses coocorrentes uma unidade de sentido e de forma da (Onco)mastologia ao designar um conceito específico dentro desta.

Ficou demonstrado também que, isoladamente, as expressões

―adjuvante‖ e ―neoadjuvante‖ não indicariam um conceito particular

da (sub)especialidade, ao contrário do que acontece quando em conjunto com ―horminioterapia‖, posto que especificam o significado desta, gerando um termo complexo. (BARROS, 2007, p. 43)

6.2 Em seguida, submeti os outros dois coocorrentes ao Concord:

―ooforectomia‖ e ―imunoterapia‖. Como são substantivos, verifiquei-os primeiramente de forma isolada para descobrir se, por si só, designavam um

conceito da (sub)área em questão (figuras 54 e 55). As figuras abaixo destacam as definições de ambos. Por meio delas, foi possível observar que

tanto uma quanto a outra faziam referência a um conceito da (sub)área. Já eram, eram, portanto, termos simples. Entretanto, restava saber, ainda, se junto de alguns de seus coocorrentes, esses conceitos expandiam-se ou não.

Figura 54: definição para a palavra de busca ―ooforectomia‖ (Concord, WST 3.0)

Figura 55: definição para a palavra de busca ―imunoterapia‖ (Concord, WST 3.0)

As figuras 57 e 58 exibem as telas com parte dos coocorrentes dos dois.

Figura 56: coocorrentes da palavra de busca ―ooforectomia‖ (Concord, WST 3.0)

Figura 57: coocorrentes da palavra de busca ―imunoterapia‖ (Concord, WST 3.0)

6.3 A figura 56 dá uma amostra de que o coocorrente ―profilática‖, à 1.ª direita de ―ooforectomia‖, forma com ela uma combinação, o que é comprovado na figura 58 abaixo. Já ―imunoterapia‖ esgota-se em si (figura 57).

6.4 Sendo assim, ―ooforectomia‖ forma um termo complexo com ―profilática‖, na medida que esta a modifica, acrescentando-lhe um sentido singular no discurso da (Onco)mastologia (relação determinante/determinado)96.

Para cada um dos itens da relação de candidatos97, foram realizados os procedimentos descritos nos itens de 1 a 6.498, ao fim dos quais foi possível selecionar, dentre aqueles reconhecidos como termo, os de relevância maior99,tanto no sentido de oferecer um panorama geral da (sub)especialidade, quanto no intuito de atender às necessidades do tipo de usuário contemplado como público-alvo.

Antes de prosseguir, porém, julgo ser pertinente dar um exemplo contrário, ou seja, de um candidato que não se mostrou termo da área, caso da expressão ―benignidade‖.

Em linhas gerais, trata-se da condição não invasiva de um tumor, o que descaracteriza o câncer como doença degenerativa. ―Benignidade‖ pode, portanto, ter representatividade conceitual dentro da nomenclatura da Mastologia, que trata de toda sorte de moléstias relacionadas à mama, mas não especificamente na (Onco)mastologia, que se volta ao câncer de mama.

É importante esclarecer que possuir um valor conceitual específico na (Onco)mastologia não significa dizer que só foram considerados termos aqueles ―nascidos‖ com a (sub)área, como ―mastectomia‖, mas também aqueles que, embora tenham origem em áreas conexas, tais como ―biópsia‖ (Patologia) e ―gene‖ (Genética) — só para citar alguns — mostram produtividade (maneabilidade) linguístico-conceitual na configuração da (sub)especialidade em questão.

Posto isso, exponho, na tabela 6, na página seguinte, o total de candidatos comuns entre todos os programas e exclusivos de cada um, seguido dos candidatos verdadeiro-positivos (termos) encontrados entre os comuns, assim como a contagem dos verdadeiro-positivos entre os candidatos exclusivos trazidos por cada ferramenta.

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96 Esse procedimento, que prevê a cirurgia para retirada preventiva de ovários, parece trazer benefícios para

certos tipos de câncer de mama, uma vez que os hormônios ovarianos estão envolvidos na gênese do câncer de mama (BERGMANN, 2000).Há estudos (GEBRIM et al., 2006) que descrevem 50% de redução de câncer de mama quando a ooforectomia profilática é realizada na pré-menopausa.

97Com exceção daqueles que, apesar de não constarem da lista (ou porque não atingiram o valor de corte

frequencial ou porque não integravam a lista dos candidatos comuns nem exclusivos, mas que, por figurarem na condição de coocorrente de candidatos da lista e demonstrarem relevância frequencial e/ou conceitual, foram submetidos ao critério de designação de conceito, ao qual atenderam plenamente e, por isso, foram incorporados à lista de termos (vide item 6 desta seção e quadro 5 em Apêndice B).

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Iniciei pelos substantivos, pois essa era a classe gramatical predominante na lista dos candidatos a termo.

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Total de candidatos CORPÓGRAFO WST E-TERMOS ZEXTRACTOR comuns 728 728 728 728 exclusivos 12 241 705 51 verdadeiro-positivos entre os comuns 203 203 203 203 verdadeiro-positivos entre os exclusivos 1 8 4 0

Tabela 6: contagem de candidatos comuns entre os programas e exclusivos de cada um, sobre os quais foram contabilizados os candidatos verdadeiro-positivos.

Na tabela 7, abaixo, apresento a contagem geral e a porcentagem dos verdadeiro- positivos e falso-positivos (não-termos)por programa100 sobre a soma de candidatos comuns entre todos e exclusivos101 de cada um.

Convém explicar que, como parti de unigramas (uma lexia) e a maioria dos termos são complexos (duas ou mais lexias), contei como candidatos verdadeiro-positivos cada um dos elementos integrantes do termo complexo que estava presente na lista ou dos comuns ou dos exclusivos. Por exemplo: embora isoladamente os candidatos ―membrana‖ e ―basal‖ não se constituam termos da área per se, como deram origem a um termo complexo, ―membrana basal‖, foram contabilizados, cada um, como verdadeiro-positivos. Isso porque, ainda que somente por ―membrana‖ ou só por ―basal‖ eu conseguisse chegar à

Candidatos CORPÓGRAFO WST E-TERMOS ZEXTRACTOR

verdadeiro-positivos (27,56%) 204 (21,77%) 211 (14,44%) 207 (26,05%) 203 falso-positivos (72, 43%) 536 (78,22%) 758 (85,55%) 1.226 (73,94%) 576 Total de candidatos (comuns + exclusivos) 740 (728 + 12) 969 (728 + 241) 1.433 (728 + 705) 779 (728 + 51) Tabela 7: contagem de candidatos verdadeiro-positivos e falso-positivos por programa sobre o total resultante da soma de candidatos comuns com exclusivos. ______________

100 Sinalizo que somente os candidatos disponíveis entre os comuns e exclusivos por programa foram

classificados como verdadeiro-positivos ou falso-positivos, pois foi a partir desse recorte que realizei toda a análise desta pesquisa, inclusive para elaborar o glossário. Ademais, vale salientar que não fiz a contagem dos candidatos verdadeiro-negativos (aqueles que não são termos e , por isso, os programas não listaram) nem dos falso-negativos (termos que os programas deveriam trazer como candidatos, mas silenciaram), pois não parti de uma lista prévia de termos a fim de fazer uso do corpus de estudo apenas para testar a ocorrência destes. Como dito no capítulo 1, subseção 1.3.2, esta pesquisa foi dirigida por corpus (corpus-driven), o que significa que tomei o corpus de estudo como ponto de partida para encontrar os termos em uso na (Onco)mastologia.

101

Para acesso às listas dos candidatos comuns entre todos os programas, supostamente exclusivos e de fato exclusivos de cada um, vide Apêndice A.

―membrana basal‖ via linha de concordância, os programas trouxeram-me as duas opções; logo, julguei por bem considerar cada qual como acerto.

No Apêndice B (quadro 5) apresento a relação de termos resultantes por meio dos candidatos verdadeiro-positivos comuns entre todos os programas e exclusivos de cada um, acrescidos de alguns dos coocorrentes. Como será possível notar, os termos simples originam- se do candidato verdadeiro-positivo per se ou de seu coocorrente que, ao ser submetido à condição de nódulo devido a ―indícios‖ conceituais, como constituição por morfemas eruditos, apresentação em sigla e/ou frequência, demonstrou ser termo também ao designar um conceito da (sub)área. Os complexos formaram uma unidade conceitual pelo agrupamento do nódulo com o respectivo coocorrente (à direita e/ou à esquerda) com base na posição deste em relação àquele (vide subitens de 6.1 a 6.4 desta seção).

Os ―indícios‖ conceituais a que fiz referência no parágrafo anterior dizem respeito às propriedades semânticas de sufixos (-ectomia,-oma) e radicais (terapia, grafia) eruditos de origem grega que, em conjunto com outros morfemas de natureza similar (oofor-) ou latina (ultra-), por exemplo, nomeiam frequentemente processos nas ciências médicas em geral — e nesta pesquisa em particular — por meio de derivação e composição: ooforectomia, carcinoma, hormonioterapia, tomossínte, entre tantos outros. Para Delvizio; Barros (2008, p. 1409), ―na terminologia médica é comum que a estrutura morfológica do termo deixe transparecer traços do fenômeno designado‖. Por isso, vali-me também desses recursos linguísticos como ―pista‖ para encontrar os termos da (Onco)mastologia, além dos outros critérios já descritos.