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Pode-se considerar o Direito do Desenvolvimento um ramo do Direito Internacional Público, apesar de que já foi considerado, por alguns autores, como parte do Direito Internacional Econômico. É um ramo do direito relativamente novo, vez que ainda não completou cinco décadas de estudos. Sua finalidade precípua é permitir o desenvolvimento 16 de todos os Estados.

Interessante notar que paralelamente à evolução dos conceitos de progresso e desenvolvimento, em que o primeiro expressa os números da economia e o segundo o nível de desenvolvimento humano, passa-se simultaneamente a considerar o Direito Internacional do Desenvolvimento como parte integrante do DIP, mais especificamente no âmbito do Direito Internacional dos Direitos Humanos. Essa mudança, sem sombra de dúvidas, fortaleceu a sua fundamentação, fragilizada por séculos de embates entre jusnaturalistas e positivistas.

Assim, apesar de ambos designarem quase a mesma coisa, há uma sutil diferença entre direito do desenvolvimento e direito ao desenvolvimento: enquanto o primeiro se refere a ramo do direito, o segundo, mais do que um direito subjetivo, se caracteriza como um princípio de luta contra a pobreza e o subdesenvolvimento.

A expressão “direito ao desenvolvimento”, apesar de mais recente, passou a predominar, sendo atribuída ao senegalês Keba M‟Baye, que a utilizou pela primeira vez em

16 A partir de estudos de Amartya Sen e Mahbub ul Haq, criou-se o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede níveis de educação, saúde, alimentação e outros, indo muito mais além do que simples índices que aferem o crescimento econômico.

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1971, por ocasião de uma conferência no Instituto Internacional de Direitos Humanos em Estrasburgo, na França.

As fontes principais do direito ao desenvolvimento são os tratados e resoluções das organizações internacionais, principalmente da ONU, os costumes e os princípios gerais do direito, e, mais recentemente, como veremos a seguir, os direitos humanos.

Da mesma forma como se deu a substituição do omisso Estado Liberal para o atuante Estado Social no âmbito interno da grande maioria dos países, a cooperação ligada ao desenvolvimento passou, a partir do século XX, segundo Maria Manuela M. Silva (1996, p. 47), de “cooperação jurídica e política” para uma mais abrangente e efetiva ação, a qual denominou de “cooperação econômica e social”. A partir daí, nasce uma nova imagem do sistema jurídico ligada ao desenvolvimento internacional, forjada em função das desigualdades econômicas e sociais entre diferentes Estados. Sem dúvidas, a cooperação entre os Estados em todos os aspectos é a chave da concretização do direito ao desenvolvimento e eliminação das barreiras que constantemente desafiam o desenvolvimento.

Somente a partir década de sessenta do século passado, a matéria direito do desenvolvimento passou a ser objeto de posicionamentos doutrinários. Na verdade essa expressão “Direito Internacional do Desenvolvimento” era do desconhecimento quase que geral da comunidade global.

Dessa forma, sem qualquer resquício de nacionalismo, mas por uma questão de justiça é de reconhecer-se o pioneirismo do brasileiro Haroldo Valladão (cf. RUBIO, 1975, p. 5), que no ensaio denominado Democratização e Socialização do Direito Internacional, apresentado em Paris, em 1962, pela primeira vez trouxe o tema à discussão pública.

Aliás, como prova cabal dessa mudança, o inesquecível Celso Albuquerque de Mello (1993, p. 27) nos mostra o exato momento dessa evolução:

A inclusão do direito ao desenvolvimento nos direitos do homem foi feita pela Assembléia Geral da ONU em uma resolução de 1979. Em 1980, o mesmo órgão em outra resolução estabelece que “o processo de desenvolvimento deve assegurar o respeito à dignidade humana. O objetivo final do desenvolvimento é o aumento constante do bem-estar da população inteira com base em sua plena participação no processo de desenvolvimento e de uma repartição justa dos benefícios que dele decorrem”.

Todavia, segundo Cançado Trindade (1999, p. 277), somente a partir da Declaração das Nações Unidas de 1986, através da Resolução n. 41/128, de 4 de dezembro de 1986, “passou-se a considerar que os sujeitos ativos ou beneficiários do direito ao desenvolvimento são os seres humanos e os povos, e os sujeitos passivos são os responsáveis pela realização

daquele direito, com ênfase especial nas obrigações atribuídas aos Estados, individual e coletivamente.”

O artigo 1º da supramencionada Resolução infere que esses direitos “são indivisíveis e interdependentes, e cada um deles deve ser considerado no contexto do todo”, além do que, no artigo nono, afirmou-se tratar-se de “um direito humano inalienável, em virtude do qual toda pessoa e todos os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político, a ele contribuir e dele desfrutar, no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam ser plenamente realizados”.

Posteriormente, várias outras Conferências, como as do Rio de Janeiro (1992), Viena (1993), do Cairo (1994), Copenhague e Beijing (1995) e Istambul (1996), além de outras seguintes, referiram-se expressamente ao direito ao desenvolvimento como um direito humano.

A partir da Agenda 21, formulou-se uma programação ainda mais sólida, vez que se conjuga a sustentabilidade desse desenvolvimento à cooperação, à solidariedade e a proteção ao meio ambiente, vetores que poderão levar à sua efetivação. Trata-se de uma iniciativa da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU que, a partir da Conferência do Rio de Janeiro de 1992, a conhecida ECO-92, concebeu um novo padrão de desenvolvimento, ao conciliar métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica, tanto por parte de organizações da sociedade civil como dos Estados.

Plasmava-se aí, de forma ainda mais concreta, a fundamentação do direito ao desenvolvimento, surgida no ordenamento internacional e incorporada aos sistemas jurídicos nacionais, positivadas pela via da ratificação por parte dos países signatários, com suporte da prevalente tese monista17.