• Nenhum resultado encontrado

Outras tentativas de fomento ao desenvolvimento

4 A DEFENSORIA PÚBLICA, O MEIO AMBIENTE E AS AÇÕES CIVIS PÚBLICAS NA

4.2 Outras tentativas de fomento ao desenvolvimento

Após o colapso econômico amazônico, advindo com a queda vertiginosa dos preços internacionais da borracha e da crescente produção do látex em escala industrial na Malásia, novas ações governamentais para o desenvolvimento da Amazônia iniciaram pela edição da Lei n.º 2.542-A, de 5 de janeiro de 1912, por iniciativa do então presidente Hermes da Fonseca, que elaborou um plano de indução econômica da Amazônia, apesar de não se lograr pleno êxito operacional com o plano.

A exploração da borracha na Amazônia teria uma segunda chance, a partir de 1927, com o crescimento vertiginoso da demanda por pneumáticos no mundo, em especial nos Estados Unidos, o que justificou a Ford Motor Company a investir na produção do látex na América Latina.

Primeiramente, foi adquirida uma grande área de terras na localidade denominada Belterra, no Pará, local que passou a ser conhecido como Fordlândia, próximo de Santarém, local de onde partiu o contrabando das sementes, aproximadamente 50 anos antes.

Apesar dos enormes investimentos, todavia, a experiência fracassou por conta do desconhecimento do meio ambiente local, da mão de obra com pouca qualificação e a baixa produtividade das plantações pelas pragas, o que levou ao encerramento precoce das atividades em 1941, pelo próprio filho do legendário Henry Ford, em plena Segunda Guerra Mundial.

Pouco depois disso, por meio do presidente Getúlio Vargas, novo incentivo foi tentado na ação que ficou conhecida como a conscientização política nacional por intermédio de investimentos na Amazônia. Seu anúncio deu-se por um discurso proferido em Manaus, no ano de 1946, logo após o final da Segunda Guerra Mundial. O “Discurso do Rio Amazonas” assim descrito por Walléria Alves (2009), a partir de quando o deputado amazonense Leopoldo Péres propôs a emenda à Constituição, que se transformou no artigo 199 da Constituição Federal de 1946, obrigando a União a executar o plano de valorização econômica da Amazônia, com recursos provenientes de 3% (três por cento) da receita tributária durante um período mínimo de vinte anos. Em 1953, esse mandamento legal foi disciplinado, assim como a criação, pela Lei n.º 1.806, da Amazônia Legal.

Felizmente, o Estado do Amazonas, passado o choque com o declínio da era áurea da borracha e dessas tentativas incipientes de desenvolvimento, restou contemplado pelos militares do golpe de Estado de 1964, com o modelo desenvolvimentista denominado inicialmente de Zona Franca de Manaus, ora Polo Industrial de Manaus, que se iniciou como

98

um porto livre de impostos de importação e se transformou em um projeto de substituição gradativa dos produtos importados que passaram a ser produzidos localmente dentro de um denominado Processo Produtivo Básico (PPB), que anualmente eleva o índice de nacionalização do produto fabricado até a completa produção por meio de componentes nacionais, como o exemplo do polo de duas rodas, onde a maioria das motocicletas já atingiu o nível ideal próximo de 100% (cem por cento).

Com o avanço do modelo e o consequente crescimento, principalmente da produção de eletroeletrônicos, entre outros, constatou-se uma pressão menor sobre a floresta, se comparado aos demais Estados, mercê da manutenção contínua e crescente de mão de obra utilizada no seu parque industrial.

Adiante, em tópico próprio, será abordado, com mais detalhes, os indicadores socioeconômicos e os efeitos do modelo Zona Franca de Manaus sobre a floresta.

Mas, por outro lado, a migração de população oriunda do interior dos Estados vizinhos, especialmente do Pará e do Maranhão, tem tornando insuficiente a infraestrutura das áreas de saúde, educação e serviços básicos, antes previstos e programados para atender à população local.

Esse fato histórico nos remete há um século e meio antes, quando, em 1848, Karl Marx e Friedrich Engels, teóricos do socialismo, aparentemente anteviram esse fenômeno ao afirmarem: “A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou grandes centros urbanos; aumentou prodigiosamente a população das cidades em relação à dos campos e, com isso, arrancou uma grande parte da população do embrutecimento da vida rural” (2002, p. 44).

Para se avaliar o inchaço populacional da cidade de Manaus, esta passou de 300 mil em 1970 para mais do que quintuplicar para 1.709.010 habitantes em 2008, segundo o IBGE (D.O.U. de 29.8.2008).

Essa busca desenfreada pelo Eldorado do emprego tem revelado um lado preocupante – a ocupação desordenada dos espaços pelas constantes invasões de terras, tendo sido noticiado por periódico de Manaus um número de oito invasões somente no período dos feriados da Semana da Pátria do ano de 2009.

Desenhado esse panorama, complementado com as informações geográficas e socioeconômicas que virão a seguir, como poderá, efetivamente, participar a Defensoria Pública do Estado do Amazonas no esforço global de proteção ao meio ambiente com seu limitado número de defensores públicos lotados no interior do Estado e com um orçamento que não representa sequer 10% (dez por cento) dos recursos destinados ao Poder Judiciário?

Em que medida poderá a legitimação propiciada pela Lei Federal n.º 11.448, de 15.1.2007, elevar a colaboração da instituição na defesa do meio ambiente, vez que agora está apta a ingressar com as ações civis públicas?

Qual o impacto dessas ações em direção a uma sadia qualidade de vida e do mínimo existencial, ambientalmente falando?

Resta-nos ponderar se estaríamos repetindo, hoje, os fatos históricos que levaram à exclusão social à maioria da população de baixa renda como o ocorrido na era áurea da borracha.

Espera-se que este trabalho lance luzes a respeito das indagações antes levantadas e ao final permita ao leitor elaborar suas próprias conclusões sobre tão atual e ao mesmo tempo intrigante tema.